{"id":1782,"date":"2016-07-29T02:04:39","date_gmt":"2016-07-29T05:04:39","guid":{"rendered":"http:\/\/redesina.com.br\/?p=1782"},"modified":"2017-12-18T04:05:30","modified_gmt":"2017-12-18T07:05:30","slug":"entrevista-claire-alice-jean","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/redesina.com.br\/entrevista-claire-alice-jean\/","title":{"rendered":"ENTREVISTA: CLAIRE ALICE JEAN"},"content":{"rendered":"

Por Melina Guterres da REDE SINA<\/em><\/p>\n

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“Minha sina \u00e9 estar junto da terra, me conectar com ela de alguma forma, dialogar com o que ela nos prov\u00ea, e isso pode ser feito por infinitas ferramentas e formas diferentes.
\nHoje fa\u00e7o isso esteticamente, pretendendo passar as pessoas a consci\u00eancia da import\u00e2ncia de preserva\u00e7\u00e3o do nosso planeta.” – Claire Alice Jean –<\/p>\n<\/blockquote>\n

“Uma pessoa livre, vivo o presente com intensidade procurando n\u00e3o deixar as oportunidades escapar, deixando o vento me levar de maneira org\u00e2nica . Um pouco anti-social me sentindo melhor no sil\u00eancio da natureza”, assim se define a artista e fot\u00f3grafa Claire Jean (Fran\u00e7a- FRA, radicada no Brasil h\u00e1 mais de 30 anos). Bacharel em Bioqu\u00edmica pela Universit\u00e9 de Strasbourg na Fran\u00e7a (1976), com diploma BTS Arts Plastiques (1985). Seu trabalho com a fotografia teve inicio em 2003 onde usou de diversas t\u00e9cnicas de cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica: arranjos florais com natureza morta, batik, pintura, escultura, cer\u00e2mica, decora\u00e7\u00e3o. \u00a0Sobre o processo de descoberta da arte, ela afirma:\u00a0“Eu sempre gostei de artes gr\u00e1ficas, de desenhos, de est\u00e9tica, portanto a paix\u00e3o pela fotografia come\u00e7ou como essa transi\u00e7\u00e3o, numa terapia para superar uma fase dif\u00edcil da minha vida, justamente onde o papel da ci\u00eancia e bioqu\u00edmica era triviais, a arte veio trazer o et\u00e9reo necess\u00e1rio.”\u00a0<\/em><\/span><\/p>\n

\"Claire
Claire Alice Jean.
Foto de Ana Taemi<\/figcaption><\/figure>\n

De l\u00e1 at\u00e9 2011 conviveu e fotografou a comunidade ind\u00edgena Potiguara, em Ba\u00eda da Trai\u00e7\u00e3o (PB), com \u00eanfase na pluralidade cultural das manifesta\u00e7\u00f5es art\u00edsticas que se inserem nos rituais ind\u00edgenas daquela comunidade. Paralelamente, com a fotografia trabalhou para o modelo Bruno Santos (2004) e os artistas Celene Sit\u00f4nio (2005), Maria dos Mares (2009\/2010) e outros. Em 2010 iniciou trabalhos com o Coletivo Perform\u00e1tico Projeto Salamandra, mesmo ano em que tamb\u00e9m iniciou trabalhos com o Teatro Oficina Uzina Uzona.<\/span><\/p>\n

Para ela,\u00a0“a obra ao fim \u00e9 uma provoca\u00e7\u00e3o, pra quem \u00e9 fotografado, pra o p\u00fablico e inclusive pra mim”<\/em>, diz.<\/p>\n

Mas foi em 2005, depois da experi\u00eancia com as comunidades ind\u00edgenas, que iniciou o seu trabalho com pintura corporal integrando o <\/span>corpo\u00a0\u00e0 natureza, “ora em processo de am\u00e1lgama, ora em polaridade”<\/em>, diz. \u00a0<\/span><\/p>\n

“Meu trato com o feminino \u00e9 atrav\u00e9s da natureza, ela me traz muita delicadeza, tamb\u00e9m agressividade e brutalidade, tal como as personalidades das mulheres. Ela sim, \u00e9 a grande m\u00e3e feminina, os corpos s\u00e3o frutos dela, m\u00e3e terra. N\u00e3o tenho predile\u00e7\u00e3o por fotografar masculino ou feminino. Cada corpo tem suas caracter\u00edsticas expressivas. J\u00e1 fotografei corpos masculinos de extrema delicadeza e express\u00e3o, n\u00e3o h\u00e1 essa distin\u00e7\u00e3o, cada ser \u00e9 \u00fanico.”<\/em>, afirma em entrevista \u00e0 Rede Sina.<\/p>\n

O resultado de todas essas experi\u00eancias voc\u00ea pode conferir na galeria ap\u00f3s a entrevista, assim como pr\u00eamios, exposi\u00e7\u00f5es e publica\u00e7\u00f5es da artista.\u00a0<\/span><\/p>\n

REDE SINA: De que maneira a bioqu\u00edmica se conecta com a artista? Quando come\u00e7a a sua paix\u00e3o pela fotografia?\"_CJ_0999HR\"<\/strong><\/span><\/p>\n

CJ: A bioqu\u00edmica ou a ci\u00eancia em geral n\u00e3o est\u00e3o evoluindo no mesmo plano que a cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica, e \u00e9 provavelmente essa diferen\u00e7a que traz a fecundidade da conex\u00e3o. A arte necessita do combust\u00edvel que o mundo cient\u00edfico oferece. No entanto, o artista e o cientista lidam com o processo criativo. Eu sempre gostei de artes gr\u00e1ficas, de desenhos, de est\u00e9tica, portanto a paix\u00e3o pela fotografia come\u00e7ou como essa transi\u00e7\u00e3o, numa terapia para superar uma fase dif\u00edcil da minha vida, justamente onde o papel da ci\u00eancia e bioqu\u00edmica era triviais, a arte veio trazer o et\u00e9reo necess\u00e1rio. Portanto acredito nessa simbiose, mesmo que estejam em diferentes lugares do tempo e espa\u00e7o. Talvez tenha sido essa mudan\u00e7a bioqu\u00edmica que se passou no meu corpo que permitiu o novo olhar para trabalhar minha arte. Ou talvez tenha simplesmente ganhado \u00edmpeto pra trabalhar de forma mais ousada os desejos que existiam em mim.<\/p>\n

REDE SINA:Quando e como iniciou a cria\u00e7\u00e3o da arte com a fotografia?\"_CJ_0170<\/span><\/strong><\/p>\n

CJ: Comecei h\u00e1 15 anos j\u00e1 com a era digital, fotografando tudo, aprendendo praticando e lendo. O estilo art\u00edstico veio naturalmente com a necessidade de criar combinando os dois elementos que eu gosto, o corpo humano e a natureza dando \u00eanfase a ambos. Os corpos pintados revelam a beleza da natureza com varias formas e texturas. A sublima\u00e7\u00e3o entre os dois procura a sensibilidade com a natureza, evidenciando nossa integra\u00e7\u00e3o que por vezes parece esquecida.<\/p>\n

REDE SINA:Algu\u00e9m lhe inspira?<\/strong><\/span><\/p>\n

\"_CJ_3593HR\"CJ: S\u00e3o muitos as pessoas que nutrem minha alma, artistas como Arno Rafael Minkkinen, Mario Cravo Neto, Gian Paolo Barbieri, Misha Gordin para citar alguns conhecidos mas a inspira\u00e7\u00e3o vem de todos os lados, das pinturas, do cinema, das poesias, da observa\u00e7\u00e3o no dia a dia.<\/p>\n

REDE SINA: De que maneira fotografar o cotidiano interfere no seu trabalho de cria\u00e7\u00e3o?
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CJ: Fotografar \u00e9 um exerc\u00edcio constante. A observa\u00e7\u00e3o e a pr\u00e1tica ensinam. O cotidiano \u00e9 um espa\u00e7o de cria\u00e7\u00e3o, as id\u00e9ias est\u00e3o em todos os lugares, a qualquer momento. Precisamos estar abertos a experimenta\u00e7\u00f5es e treinar a criatividade.<\/p>\n

REDE SINA:\u00c9 poss\u00edvel uma defini\u00e7\u00e3o do que voc\u00ea busca atrav\u00e9s da lente?\"_JEA3480HR\"<\/strong><\/span><\/p>\n

CJ: Ver com novos olhos, criar uma est\u00e9tica, unir o real e a imagina\u00e7\u00e3o, o objetivo e o subjetivo, captar a ess\u00eancia do momento criado.<\/p>\n

REDE SINA: Como gostaria de tocar o outro (aquele que v\u00ea a foto)?<\/strong><\/span><\/p>\n

CJ: Penso que a foto tem que seduzir, emocionar e ativar uma reflex\u00e3o. Eu trabalho essencialmente com o respeito ao modelo(s) em quest\u00e3o, como ele lidam com seu corpo, sua hist\u00f3ria e desejos, tal qual o lugar que escolhemos e os elementos que est\u00e3o os nosso redor, tudo isso, gosto que seja espont\u00e2neo e livre, mas tamb\u00e9m h\u00e1 sess\u00f5es onde justamente o modelo \u00e9 uma pessoa mais quer planejar e sistematizar o ensaio, ai tudo bem, trabalhamos assim. A composi\u00e7\u00e3o fotogr\u00e1fica \u00e9 resultado disso. H\u00e1 casos em que a est\u00e9tica prevalece e pode n\u00e3o haver um tema especifico, mas sempre a integra\u00e7\u00e3o em harmonia com a natureza. A obra ao fim \u00e9 uma provoca\u00e7\u00e3o, pra quem \u00e9 fotografado, pra o p\u00fablico e inclusive pra mim.<\/p>\n

REDE SINA: A delicadeza com a representa\u00e7\u00e3o do feminino nasce de uma causa?\"_CJ_6576HR\"<\/strong><\/span><\/p>\n

CJ: Meu trato com o feminino \u00e9 atrav\u00e9s da natureza, ela me traz muita delicadeza, tamb\u00e9m agressividade e brutalidade, tal como as personalidades das mulheres. Ela sim, \u00e9 a grande m\u00e3e feminina, os corpos s\u00e3o frutos dela, m\u00e3e terra. N\u00e3o tenho predile\u00e7\u00e3o por fotografar masculino ou feminino. Cada corpo tem suas caracter\u00edsticas expressivas. J\u00e1 fotografei corpos masculinos de extrema delicadeza e express\u00e3o, n\u00e3o h\u00e1 essa distin\u00e7\u00e3o, cada ser \u00e9 \u00fanico.<\/p>\n

REDE SINA: De onde nascem as ideias?<\/span><\/strong><\/p>\n

CJ: \u00c9 tudo muito intuitivo, instant\u00e2neo. O lugar me inspira no momento por conta \"_CJ_4128de uma luz que me encanta, a forma de um galho, tronco, rocha, algum material org\u00e2nico encontrado no local, at\u00e9 mesmo esqueletos. O corpo despido vai sendo transformado, carregado das energias do local. \u00c0s vezes eu j\u00e1 saio com um conceito definido que pode surgir do cotidiano, da observa\u00e7\u00e3o, do estudo de outras artes, mas quase sempre tem espa\u00e7o para a espontaneidade, aproveitando o que a natureza oferece naquele momento. Afinal na natureza tem muitas vari\u00e1veis que n\u00e3o dependem de n\u00f3s, assim sendo a flexibilidade de a\u00e7\u00e3o \u00e9 primordial. Eu respeito tamb\u00e9m as ideias dos modelos que muitas vezes fazem poses e apresentam ideias diante da c\u00e2mera .<\/p>\n

REDE SINA: O que voc\u00ea considera sua sina?<\/span><\/strong><\/p>\n

CJ: Minha sina \u00e9 estar junto da terra, me conectar com ela de alguma forma, dialogar com o que ela nos prov\u00ea, e isso pode ser feito por infinitas ferramentas e formas diferentes. \"_CJ_1851Hoje fa\u00e7o isso esteticamente, pretendendo passar as pessoas a consci\u00eancia da import\u00e2ncia de preserva\u00e7\u00e3o do nosso planeta.<\/p>\n

REDE SINA: Os projetos possuem patrocinadores? Como \u00e9 a comercializa\u00e7\u00e3o?<\/span><\/strong><\/p>\n

CJ: N\u00e3o tem patrocinadores, nem comercializa\u00e7\u00e3o, tem paix\u00e3o e muito gosto por isso. E ainda assim, a fotografia me abre portas e me apresenta pessoas fant\u00e1sticas por todos lugares.<\/p>\n

REDE SINA: Como s\u00e3o realizadas essas produ\u00e7\u00f5es? As pinturas na pele s\u00e3o todas suas? Possui equipe? Quanto tempo leva em m\u00e9dia para cada uma estar pronta para ser registrada? Como seleciona os modelos?<\/strong><\/span><\/p>\n

CJ: O mais dif\u00edcil para realizar os projetos \u00e9 de achar loca\u00e7\u00f5es na natureza de acesso f\u00e1cil e com privacidade para poder trabalhar com tranq\u00fcilidade e seguran\u00e7a. N\u00e3o tenho equipe e geralmente estou sozinha com os modelos que s\u00e3o volunt\u00e1rios. N\u00e3o escolho os modelos, eu recebo muitos pedidos de pessoas comuns querendo participar dessa arte e todos s\u00e3o bem-vindos, n\u00e3o fa\u00e7o distin\u00e7\u00e3o de g\u00eanero, de idade ou forma f\u00edsica. O \u00fanico requisito \u00e9 de se sentir a vontade com o corpo. N\u00e3o consigo atender todos, por dificuldade de conciliar viagem, agenda, aqueles que me ajudam na produ\u00e7\u00e3o e organiza\u00e7\u00e3o s\u00e3o favorecidos. \"_CJ_3257HR\"Uma vez decidido o lugar do ensaio, depois de caminhar longas trilhas carregando o material, eu come\u00e7o a pintar o corpo. Raramente tem algu\u00e9m para me ajudar nesta tarefa, mas o processo \u00e9 bem simples e r\u00e1pido, gosto de trabalhar com texturas. Eu nunca uso flash, gosto da luz natural o que limita os hor\u00e1rios para ensaiar, ideal \u00e9 entre 5 e 6h quando o sol nasce, ou no mesmo hor\u00e1rio do entardecer, quando se p\u00f5e. Tem que calcular o tempo do deslocamento, da produ\u00e7\u00e3o da pintura e arranjos para ficar pronto para fotografar nesses momentos especiais. Me sinto ferramenta dessa natureza m\u00e1gica, e de lindos encontros com seres \u00edmpares, a cargo de trazer \u00e0 tona essa composi\u00e7\u00e3o, do \u00e2mago de todos elementos que ali est\u00e3o, que nem mesmo sabem o despertar que carregam em si.<\/p>\n

REDE SINA: Quais os planos para 2016 e 2017?<\/span><\/strong><\/p>\n

CJ: Aprimorar o estilo, achar novas id\u00e9ias, novos desafios e continuar a produzir com prazer e a mesma paix\u00e3o, sempre feliz em vivenciar novas hist\u00f3rias com pessoas que surgem na minha vida e enriquecem esse esp\u00edrito de liberdade. Um desafio recente foi fotografar um grupo de 50 naturistas, pintando e dirigindo-os para as fotos. Nunca tinha trabalhado com tanta gente ao mesmo tempo. \"_CJ_1382Ter\u00e1 uma exposi\u00e7\u00e3o do evento em breve que visa a promover o naturismo. Eventos semelhantes j\u00e1 est\u00e3o se planejando.<\/p>\n

Eu espero tamb\u00e9m ter a possibilidade de viajar para Bol\u00edvia e Chile para experimentar novos conceitos, m\u00e1s tem muito espa\u00e7o para oportunidades que v\u00e3o me guiar.<\/p>\n

Em setembro fui convidada a expor no Paraty em Foco, e tenho outro projeto de exposi\u00e7\u00e3o em Recife na galeria de arte da casa cultural Villa Ritinha que deve inaugurar no final do ano.<\/p>\n

REDE SINA: Uma dica para quem come\u00e7a a fotografia?<\/strong><\/span><\/p>\n

CJ: Fotografe o que voc\u00ea gosta e use sua pr\u00f3pria paix\u00e3o como ponto de partida. Ser apaixonado \u00e9 essencial. N\u00e3o espere por inspira\u00e7\u00e3o porque as melhores id\u00e9ias muitas vezes acontecem durante o processo. Insista, porque n\u00e3o \u00e9 sempre que aquele momento m\u00e1gico acontece e que tudo se encaixa. Fique em contato com a fotografia, estude obras de mestres, esteja todos os dias se relacionando com a fotografia.<\/p>\n

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Veja todas e mais na galeria:<\/p>\n

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