{"id":14289,"date":"2021-04-28T20:17:06","date_gmt":"2021-04-28T23:17:06","guid":{"rendered":"https:\/\/redesina.com.br\/?p=14289"},"modified":"2021-04-28T22:13:48","modified_gmt":"2021-04-29T01:13:48","slug":"o-deserto-azul-da-criatividade-por-bartira-bejarano-campos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/redesina.com.br\/o-deserto-azul-da-criatividade-por-bartira-bejarano-campos\/","title":{"rendered":"\u201cO DESERTO AZUL DA CRIATIVIDADE\u201d por Bartira Bejarano Campos"},"content":{"rendered":"
Artigo escrito em junho de 2017 para o Programa de P\u00f3s-Gradua\u00e7\u00e3o em Meios e Processos audiovisuais da Escola de Comunica\u00e7\u00e3o e Artes da Universidade de S\u00e3o Paulo.<\/em><\/h6>\n

\"\"<\/p><\/blockquote>\n

Bartira Bejarano Campos \u00e9 roteirista e pesquisadora, mestre em Audiovisual pela ECA-USP. Produz conte\u00fado para TV e WEB, j\u00e1 escreveu para canais como GNT, TV Cultura, SBT e Globoplay. Seu trabalho inclui projetos de fic\u00e7\u00e3o, n\u00e3o-fic\u00e7\u00e3o, documentais e institucionais. Nasceu em S\u00e3o Paulo em 1983, \u00e9 formada em Comunica\u00e7\u00e3o Social em Multimeios na PUC-SP, e em seu mestrado especializou-se <\/strong>em roteiro, percorrendo seus processos criativos.<\/strong><\/h5>\nO DESERTO AZUL DA CRIATIVIDADE<\/a>\n

 <\/p>\n

Dia 12 de maio, quarta-feira, \u00e0s 19h tem live de lan\u00e7amento do livro “Sala de Roteiro” da autora na Rede Sina. Em breve mais informa\u00e7\u00f5es.\u00a0<\/strong><\/p><\/blockquote>\n

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ARTIGO:<\/strong><\/p>\n

\u201cO DESERTO AZUL DA CRIATIVIDADE\u201d por Bartira Bejarano Campos<\/strong><\/p>\n

Resumo:<\/strong> Diante da complexidade do conceito de criatividade, a monografia busca apresentar defini\u00e7\u00f5es que melhor ilustram os processos de cria\u00e7\u00e3o em contextos colaborativos, como as recentes Salas de Roteiristas para s\u00e9ries televisivas, \u00e0 luz da ideia de rede l\u00edquida de Steven Johnson. Para tanto, abordaremos sobretudo o sistema modelo<\/em> formulado por Mihalyi Csikszentmihalyi, ao propor que a criatividade surge em virtude de um processo dial\u00e9tico entre indiv\u00edduos<\/em> de talento, \u00e1reas<\/em> do conhecimento e pr\u00e1ticas, e campos<\/em> de ju\u00edzes instru\u00eddos.<\/p>\n

Palavras-chave:<\/strong> Criatividade, sala de roteiristas, cria\u00e7\u00e3o colaborativa, processo de cria\u00e7\u00e3o, s\u00e9ries televisivas.<\/p>\n

\u00c9 chamado de deserto azul<\/em> o trecho do oceano pac\u00edfico que se estende entre a \u00c1sia e as Am\u00e9ricas. A defini\u00e7\u00e3o \u00e9 clara, s\u00e3o milhares e milhares de quil\u00f4metros de mar aberto onde s\u00f3 se v\u00ea \u00e1gua azul, n\u00e3o h\u00e1 profundidade suficiente para ancorar, n\u00e3o h\u00e1 terra \u00e0 vista, portanto, n\u00e3o h\u00e1 nenhuma ilha ou continente para aportar[1]<\/span><\/a>. Quase que n\u00e3o importam mais as mar\u00e9s, os ventos, as ondula\u00e7\u00f5es e as correntes mar\u00edtimas. A sensa\u00e7\u00e3o de quem por l\u00e1 navega \u00e9 de estar sempre \u00e0 deriva, na superf\u00edcie de um deserto salgado e mole, castigado pelo sol. Ocorre que, no interior deste deserto, algumas esp\u00e9cies sobrevivem \u00e0 falta de nutrientes e um mundo misterioso e pouco explorado encontra-se oculto nas profundezas do mar.<\/p>\n

Metaforicamente, quem estuda a criatividade passa a navegar \u00e1guas profundas, e, a cada trecho busca jogar sua \u00e2ncora em alguma terra firme, busca se encontrar em meio ao oceano de conceitos e propostas. Mesmo que certos mapas apontem dire\u00e7\u00f5es promissoras, o marinheiro n\u00e3o pode se esquecer do que h\u00e1 submerso, aquele mundo que por diversas vezes foge de seu conhecimento de navega\u00e7\u00e3o. N\u00e3o se trata de dizer que os estudos sobre criatividade s\u00e3o inconsistentes. O que se permite refletir \u00e9 que tais estudos habitam diferentes lugares e apontam ideias divergentes que por vezes se colidem e dizem respeito aos mais variados contextos e \u00e1reas.<\/p>\n

Falar em criatividade \u00e9 falar muitas l\u00ednguas, \u00e9 dialogar com muitas culturas, \u00e9 perder-se e achar-se em conceitos e defini\u00e7\u00f5es que permeiam a busca por compreender o nascimento de novas ideias, a g\u00eanese, o indiv\u00edduo criativo e seu processo do criar. Falar em criatividade \u00e9 falar de um estudo interdisciplinar, que, al\u00e9m de estar enraizado na psicologia, tamb\u00e9m encontra-se na epistemologia e na sociologia (BODEN, 1999). Diante da criatividade est\u00e1 um mar de defini\u00e7\u00f5es, e dentro de um indiv\u00edduo criativo tamb\u00e9m habita um mar de conex\u00f5es e ideias inovadoras.<\/p>\n

Met\u00e1foras \u00e0 parte, Margareth Boden em seu livro \u201cDimens\u00f5es da Criatividade\u201d (1999, p.204) diz que a criatividade denota a capacidade de uma pessoa para produzir ideias, concep\u00e7\u00f5es, inven\u00e7\u00f5es ou produtos art\u00edsticos novos ou originais, que s\u00e3o aceitos pelos especialistas como tendo valor cient\u00edfico, est\u00e9tico, social ou t\u00e9cnico. Dentro desta defini\u00e7\u00e3o, a criatividade somente existe mediante aceita\u00e7\u00e3o de especialistas e \u00e9 justamente este o ponto de partida do estudo sobre criatividade proposto pelo psic\u00f3logo h\u00fangaro Mihaly Csikszentmihalyi, em seu livro \u201cCreativity: Flow ante the Psychology of Discovery and Invention\u201d (1997). Csikszentmihalyi aponta que sempre a primeira quest\u00e3o que um autor coloca \u00e9 o que \u00e9 a criatividade?<\/em>, mas, para ele, a pergunta correta seria onde est\u00e1 a criatividade?. <\/em>A criatividade n\u00e3o ocorre dentro da cabe\u00e7a de uma pessoa, mas sim em uma intera\u00e7\u00e3o entre os pensamentos desta pessoa e seu contexto social. Boden concorda:<\/p>\n

Quem quiser entender os fen\u00f4menos da criatividade n\u00e3o pode simplesmente focalizar o indiv\u00edduo \u2013 c\u00e9rebro deste, a personalidade daquela, as motiva\u00e7\u00f5es daqueles. Ao inv\u00e9s disso, \u00e9 preciso ampliar o foco para incluir um estudo da \u00e1rea em que o indiv\u00edduo criativo opera e dos procedimentos utilizados para emitir julgamentos de originalidade e qualidade. (BODEN, 1999, p. 152)<\/em><\/p>\n

Ideias criativas desaparecem se n\u00e3o houver um receptor que a registre e a implemente. Segundo este ponto de vista, a criatividade resulta da intera\u00e7\u00e3o entre cultura, pessoa e campo de atua\u00e7\u00e3o (CSIKSZENTMIHALYI, 1997). Portanto, o autor prop\u00f5e que a criatividade somente pode ser vista e observada em inter-rela\u00e7\u00f5es de um sistema entre tr\u00eas principais partes: Pessoa, \u00e1rea e campo<\/em>, o que ele denomina Sistema Modelo[2]<\/strong><\/span><\/a><\/em>. A pessoa<\/em> est\u00e1 inserida em uma \u00e1rea<\/em> de atua\u00e7\u00e3o, que por sua vez encontra-se dentro de um contexto maior, um campo<\/em>.<\/p>\n

Por campo<\/em>, entendemos ser um lugar, ou algu\u00e9m, uma entidade ou \u00f3rg\u00e3o que reconhece a cria\u00e7\u00e3o desenvolvida pela pessoa. Este lugar \u00e9 espec\u00edfico de determinada \u00e1rea. O Sistema Modelo reconhece que, de fato, a criatividade n\u00e3o pode estar separada de seu reconhecimento. A pessoa criativa precisa convencer o campo que sua ideia \u00e9 v\u00e1lida, \u00e9 inovadora (CSIKSZENTMIHALYI, 1997).<\/p>\n

Por \u00e1rea<\/em>, entendemos como o conjunto de regras, de t\u00e9cnicas de um determinado of\u00edcio, seus m\u00e9todos, suas formas e seu conhecimento simb\u00f3lico.<\/p>\n

J\u00e1 a pessoa<\/em> que cria dentro desta \u00e1rea especifica conhece suas regras e seus m\u00e9todos. Esta pessoa usa seu dom\u00ednio dentro de uma \u00e1rea de atua\u00e7\u00e3o, dentro de um determinado campo composto por profissionais gabaritados capazes de julgar a sua inven\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

E \u00e9 por uma conex\u00e3o insepar\u00e1vel que a criatividade deve, em \u00faltima an\u00e1lise, ser vista n\u00e3o como algo que ocorre dentro de uma pessoa, mas dentro de um sistema (CSIKSZENTMIHALYI, 1997).<\/p>\n

O Sistema Modelo pode ser ilustrado da seguinte maneira:<\/p>\n

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Figura 1: Csikszentmihalyi\u2019s Creative<\/em> System Model<\/em><\/p>\n

Sendo assim, a pessoa<\/em> n\u00e3o pode ser criativa estando fora de sua \u00e1rea<\/em>. Mas mesmo inserida dentro de sua \u00e1rea, a criatividade s\u00f3 se manifesta com o reconhecimento e legitima\u00e7\u00e3o do campo<\/em>. (CSIKSZENTMIHALYI, 1997, p.29)<\/p>\n

Os indiv\u00edduos n\u00e3o s\u00e3o criativos (ou s\u00e3o n\u00e3o-criativos) em geral; eles s\u00e3o criativos em campos especiais de realiza\u00e7\u00e3o, e \u00e9 necess\u00e1rio que adquiram especializa\u00e7\u00e3o nesses campos antes de poderem executar trabalhos criativos importantes. (BODEN, 1999, p.151)<\/em><\/p>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Diante de um mar de conceitos acerca da criatividade, ancoraremos onde nos \u00e9 mais adequado quando estamos inseridos no processo de cria\u00e7\u00e3o colaborativa de roteiros audiovisuais para s\u00e9ries de televis\u00e3o, as denominadas Writer\u2019s Room<\/em>, no Brasil, Sala de Roteiristas. Antes de esclarecermos do que se trata especificamente este fen\u00f4meno de escrita, iremos contextualiz\u00e1-lo dentro do Sistema Modelo de Csikszentmihalyi.<\/p>\n

O roteirista<\/em> \u00e9 uma pessoa criativa, seu of\u00edcio \u00e9 criar personagens, imaginar cenas, desenvolver os di\u00e1logos, elaborar as tramas, as sub-tramas e construir todo um universo fict\u00edcio. Este roteirista<\/em> s\u00f3 \u00e9 reconhecidamente uma pessoa criativa pois domina as t\u00e9cnicas de escrita, m\u00e9todos e a linguagem audiovisual. O roteirista somente cria dentro de sua \u00e1rea com suas regras. Esta \u00e1rea pode ser ilustrada pela Sala de Roteiristas, um modelo de cria\u00e7\u00e3o que possui seu pr\u00f3prio processo, regras, hierarquia, formatos, desenvolvimento de ideias e metodologia de trabalho. A Sala est\u00e1 inserida em um campo maior, que \u00e9 o da m\u00eddia de difus\u00e3o com seus executivos, patrocinadores, ag\u00eancia reguladora[3]<\/span><\/a>, produtores e audi\u00eancia. Este campo ser\u00e1 incumbido de julgar e validar os roteiros da s\u00e9rie, criados pelo roteirista dentro da Sala, e, assim, lev\u00e1-los adiante para a produ\u00e7\u00e3o da s\u00e9rie.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Figura 2: Sistema Modelo adaptado<\/em><\/p>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 \u00c9 pertinente aplicar o Sistema Modelo dentro deste contexto de criatividade baseado em t\u00e9cnicas de cria\u00e7\u00e3o colaborativa. Em uma Sala de Roteiristas, um indiv\u00edduo criativo s\u00f3 o \u00e9<\/em> pois faz parte de um sistema que engloba todas as etapas de cria\u00e7\u00e3o, sabendo que elas n\u00e3o est\u00e3o separadas umas das outras e ocorrem simultaneamente. Para ser criativa, a pessoa precisa internalizar todo o Sistema Modelo que faz a criatividade ser poss\u00edvel (CSIKSZENTMIHALYI, 1997).<\/p>\n

A pessoa que quer fazer uma contribui\u00e7\u00e3o criativa n\u00e3o somente deve trabalhar dentro de um sistema criativo, mas deve tamb\u00e9m reproduzir este sistema mentalmente. Em outras palavras, a pessoa deve aprender as regras e os conte\u00fados de uma \u00e1rea, ao mesmo tempo em que conhece os crit\u00e9rios de sele\u00e7\u00e3o e as preferencias do campo.<\/em> (CSIKSZENTMIHALYI, 1997, p.47, tradu\u00e7\u00e3o da autora).<\/em><\/p>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 A Sala de Roteiristas como \u00e1rea de atua\u00e7\u00e3o \u00e9 extremamente f\u00e9rtil. Constr\u00f3i-se um ambiente favor\u00e1vel para gerar e desenvolver ideias, provocando criatividade por meio de m\u00e9todos e conhecimentos j\u00e1 consolidados por outros autores, mas, sempre adaptando-se aos seus roteiristas, \u00e0s diferentes personalidades criativas, \u00e0 identidade do coletivo e \u00e0s regras deste formato de trabalho criativo.<\/p>\n

A exist\u00eancia de uma \u00e1rea de atua\u00e7\u00e3o \u00e9 talvez a melhor evid\u00eancia da criatividade humana […] Cada \u00e1rea expande os limites da individualidade e amplia nossa sensibilidade e habilidade de se relacionar com o mundo. Cada pessoa est\u00e1 rodeada por uma quantidade quase infinita de \u00e1reas que s\u00e3o potencialmente abertas para novos mundos e oferecem novos poderes para aqueles que querem conhecer suas regras. (CSIKSZENTMIHALYI, 1997, p.37, tradu\u00e7\u00e3o da autora).<\/em><\/p>\n

A Sala \u00e9 composta por tr\u00eas ou mais roteiristas, podendo chegar a quinze profissionais, como \u00e9 o caso da Sala da s\u00e9rie Breaking Bad <\/em>(2014), organizadamente chefiada por Vince Gilligan, o criador da ideia inicial (MARTIN, 2014). Gilligan, no entanto, s\u00f3 p\u00f4de tecer a complexa trama e os complexos personagens de sua s\u00e9rie pois estava inserido na Sala de Roteiristas. A sua \u201cideia inicial\u201d foi debatida por meses dentro daquela \u00e1rea de atua\u00e7\u00e3o e todas as camadas da hist\u00f3ria foram criadas e desenvolvidas de forma colaborativa, conforme an\u00e1lise do pesquisador Brett Martin, em seu livro: \u201cHomens Dif\u00edceis: Os bastidores do processo criativo de Breaking Bad, Fam\u00edlia Soprano, Mad Man<\/em> e outras s\u00e9ries revolucion\u00e1rias\u201d (2014). Naquela especifica sala, situada no centro de Los Angeles, indiv\u00edduos exerceram sua criatividade, e hoje sabemos que a ideia \u00e9 inovadora, pois, como p\u00fablico, a julgamos como tal. Mas antes, a emissora norte-americana AMC aprovou a ideia e difundiu a s\u00e9rie Breaking Bad<\/em>, hoje uma referencia narrativa.<\/p>\n

Tal como o deserto azul, que possui tamb\u00e9m a maleabilidade oce\u00e2nica e suas correntes, a fluidez da \u00e1gua como met\u00e1fora \u00e9 muito pertinente dentro do contexto da cria\u00e7\u00e3o colaborativa. Vale ressaltar que o l\u00edquido que veremos a seguir nada se assemelha ao conceito de l\u00edquido de Zygmunt Bauman. Enquanto Bauman usa o l\u00edquido como ef\u00eamero, Steven Johnson o usa como elemento condutor, agregador.<\/p>\n

A Sala de Roteiristas: Escrit\u00f3rio l\u00edquido inundado de ideias<\/strong><\/p>\n

A Sala de Roteiristas \u00e9 o nome brasileiro dado \u00e0 Writer\u2019s Room<\/em> norte-americana, modelo de cria\u00e7\u00e3o de roteiro em que o ambiente de trabalho, a sala, proporciona encontros e faz florescer boas ideias em grupo. O conceito de redes l\u00edquidas de Steven Johnson ilustra muito bem a sala de roteiristas como ambiente que acentua a capacidade natural do c\u00e9rebro de estabelecer novos elos de associa\u00e7\u00e3o (JOHNSON, 2001).<\/p>\n

No livro \u201cDe onde v\u00eam as boas ideias\u201d, Johnson (2001) ressalta que, em geral, somos mais bem-sucedidos ao conectar ideias do que proteg\u00ea-las. Para o autor, boas ideias podem n\u00e3o querer ser livres, mas querem se conectar, se fundir e se recombinar; querem se reinventar transpondo fronteiras conceituais e querem tanto se complementar umas \u00e0s outras quanto competir. Conectar ideias e complementar sem competir tamb\u00e9m faz parte do trabalho dentro da sala de roteiristas.<\/p>\n

A produtora executiva brasileira Jacqueline Cantore, pioneira na implanta\u00e7\u00e3o do modelo de sala de roteiristas na programadora Globosat, descreve suas experi\u00eancias em seu blog:<\/p>\n

Criar um roteiro n\u00e3o \u00e9 um processo linear e no writer\u2019s room o retorno \u00e9 instant\u00e2neo. H\u00e1 um olhar cr\u00edtico coletivo, n\u00e3o h\u00e1 distra\u00e7\u00e3o externa alguma, e as ideias que n\u00e3o servem ao grupo,\u00a0 comprometido \u00fanica e exclusivamente com a hist\u00f3ria, rapidamente d\u00e3o espa\u00e7o para outras com mais for\u00e7a e subst\u00e2ncia. N\u00e3o \u00e9 uma rinha de galos, porque o ego fica do lado de fora e trabalha-se em cima de conceitos t\u00e9cnicos. A prioridade \u00e9 a s\u00e9rie, o autor s\u00e3o v\u00e1rios autores. O contraste de evolu\u00e7\u00e3o para o processo individual \u00e9 enorme. E \u00e9 a melhor forma de criar na TV, um meio onde a colabora\u00e7\u00e3o \u00e9 imperativa (CANTORE, 2014, s\/p).<\/em><\/p>\n

Neste contexto, Steven Johnson contesta o pesquisador de roteiro Robert Mckee (2015, s\/p.), quando este afirma que escrever \u00e9 um processo solit\u00e1rio, afinal, hist\u00f3rias e roteiros n\u00e3o s\u00e3o criados \u201cem meio a uma festa\u201d, e a maioria dos roteiristas tem personalidade antag\u00f4nica e ningu\u00e9m os quer por perto. Por outro lado, para Johnson (2001, p. 40), \u201cO segredo de ter boas ideias n\u00e3o \u00e9 ficar sentado em glorioso isolamento, tentando ter grandes pensamentos. O truque \u00e9 juntar mais as pe\u00e7as sobre a mesa\u201d.<\/p>\n

O s\u00f3lido, duro, estagnado e est\u00e1tico da cria\u00e7\u00e3o solit\u00e1ria d\u00e1 lugar ao movimento, ao m\u00faltiplo, male\u00e1vel, ao l\u00edquido da cria\u00e7\u00e3o em grupo. O fluxo social da conversa em grupo transforma esse estado s\u00f3lido privado numa rede l\u00edquida (JOHNSON, 2001). O processo que nasce de uma cria\u00e7\u00e3o colaborativa dentro da sala de roteiristas, um \u201cescrit\u00f3rio l\u00edquido inundado de ideias\u201d, mostra-se, pois, muito rico.<\/p>\n

A pesquisadora de roteiros da Universidade de Copenhagen Eva Novroup Redvall (2014, p.39), em artigo, frisa que \u201cInicialmente, os estudos da criatividade eram orientados pelo processo criativo individual. No decorrer dos anos, houve um crescente interesse em estudar grupos criativos .\u201d Como exemplo, Redvall cita Vera John-Steiner, autora do livro \u201cCreative Collaboration\u201d (2006). A quest\u00e3o central proposta pelos estudos de John-Steiner \u00e9 que as integra\u00e7\u00f5es colaborativas s\u00e3o as melhores formas de construir novos modos de pensar ou novos formatos art\u00edsticos. No trabalho colaborativo n\u00f3s aprendemos de cada um ensinando o que sabemos (REDVALL, 2014), \u00e9 um comprometimento com uma m\u00faltipla apropria\u00e7\u00e3o. Pr\u00e1ticas solit\u00e1rias s\u00e3o insuficientes para encarar problemas e desafios criativos. \u201cColabora\u00e7\u00e3o baseia-se em diferentes perspectivas e em di\u00e1logos construtivos entre indiv\u00edduos negociando suas diferen\u00e7as, enquanto criam sua voz e vis\u00e3o compartilhada\u201d (JOHN-STEINER, 2006, p.6).<\/p>\n

John-Steiner sustenta-se, principalmente, nas ideias hist\u00f3rico-culturais de L.S. Vygotsky de que \u201catividades criativas s\u00e3o sociais, de que o pensamento n\u00e3o est\u00e1 confinado em um \u00fanico c\u00e9rebro\/mente, e que o conhecimento est\u00e1 incrustrado no meio hist\u00f3rico e cultural onde ele surge\u201d (JOHN-STEINER, 2006, p.5). Vigotsky entende que trabalhos art\u00edsticos, f\u00f3rmulas matem\u00e1ticas, mapas, e desenhos, todos contribuem para uma atividade representativa, para as m\u00faltiplas formas onde o eu<\/em> e o outro<\/em> est\u00e3o constru\u00eddos e conectados.<\/p>\n

Em seu livro \u201cImagina\u00e7\u00e3o e Criatividade na Inf\u00e2ncia\u201d (2014), Vigotsky diz que:<\/p>\n

[…] existe de fato criatividade n\u00e3o s\u00f3 quando se criam grandiosas obras hist\u00f3ricas, mas, tamb\u00e9m, sempre que o homem imagina, combina, altera e cria algo novo, mesmo que possa parecer insignificante quando comparado \u00e0s realiza\u00e7\u00f5es dos grandes g\u00eanios. Se considerarmos, ainda, a exist\u00eancia da criatividade coletiva, que re\u00fane todas essas contribui\u00e7\u00f5es por si s\u00f3 insignificantes da cria\u00e7\u00e3o individual, compreenderemos que grande parte de toda a cria\u00e7\u00e3o humana corresponde precisamente \u00e0 cria\u00e7\u00e3o coletiva an\u00f4nima de inventores an\u00f4nimos.\u201d (2014, p.5) <\/em><\/p>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Vera John-Steiner, ainda, cita Mikhail Bakhtin sobre experimentar o eu<\/em> pelos olhos do outro<\/em>: \u201cEu n\u00e3o posso fazer sem o outro; eu n\u00e3o posso tornar-se eu-mesmo sem o outro; eu preciso me achar no outro, achar o outro em mim.\u201d (BAKHTIN apud JOHN-STEINER, 2014, p.5, tradu\u00e7\u00e3o da autora).<\/p>\n

A cria\u00e7\u00e3o em sala de roteiristas transcende tanto a ideia individual quanto o conceito de autor, apresentando novas configura\u00e7\u00f5es do criar a partir de m\u00faltiplos autores e um \u00fanico problema a ser resolvido: o desenvolvimento de uma s\u00e9rie televisiva. Tal desenvolvimento compreende todas as etapas criativas, como sinopse, argumento, perfil das personagens, arco principal, escaletas e di\u00e1logos. Cada indiv\u00edduo criativo que atua nesta \u00e1rea est\u00e1 totalmente permeado pelos outros indiv\u00edduos criativos e a sala inunda-se de ideias.<\/p>\n

O pesquisador brit\u00e2nico Peter Bloore em seu livro \u201cThe Screenplay Business: Managing Creativity and Script Development in the Film Industry\u201d (2012) faz um panorama sobre os mais recentes estudos sobre criatividade e repensa determinados conceitos dentro do campo da constru\u00e7\u00e3o f\u00edlmica. Sobre a cria\u00e7\u00e3o em ambientes colaborativos, como o campo da ind\u00fastria audiovisual, Bloore cita os estudos de Teresa Amabile sobre a import\u00e2ncia de ter uma equipe interdisciplinar:<\/p>\n

Amabile enfatiza muito a escolha da pessoa certa para o trabalho, de acordo com seus interesses pessoais e conjunto de habilidades, e coloca as tarefas certas para que elas sintam-se totalmente desafiadas. Ela tamb\u00e9m descreve a import\u00e2ncia do trabalho em equipe que combina diversos backgrounds e habilidades. (BLOORE, 2012, tradu\u00e7\u00e3o da autora)<\/em><\/p>\n

Lembremos das \u201cpe\u00e7as sobressalentes\u201d de Steven Johnson. Parte da origem de uma boa ideia consiste em descobrir quais s\u00e3o as pe\u00e7as sobressalentes e quais podem ser reagrupadas em configura\u00e7\u00f5es novas e \u00fateis (JOHNSON, 2011). Ora, se enxergarmos o roteirista<\/em> como pe\u00e7a sobressalente<\/em>, e a uni\u00e3o das pe\u00e7as como uma reuni\u00e3o de um grupo mais ecl\u00e9tico de ideias, poderemos pensar na figura individual do roteirista como componente chave para dar identidade ao grupo no qual trabalha. A for\u00e7a criativa de um grupo interdisciplinar, por sua vez, poder\u00e1 transparecer durante o processo. Para Bloore (2012), a equipe come\u00e7a a compreender a sua identidade, enquanto o senso de miss\u00e3o \u00e9 constru\u00eddo e os membros decidem qual caminho tra\u00e7ar, aonde querem chegar e quais os procedimentos para resolver juntos os problemas propostos. E, acrescenta que:<\/p>\n

Equipes s\u00e3o consideradas mais efetivas e mais criativas do que pessoas trabalhando por si s\u00f3, principalmente se a equipe \u00e9 montada com a correta variedade de pessoas com atributos variados e complementares. A soma de todas as partes foi considerada maior e mais produtiva do que o individual. <\/em>(BLOORE, 2012, tradu\u00e7\u00e3o da autora)<\/em><\/p>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Teresa Amabile argumenta tamb\u00e9m que habilidades cognitivas e tra\u00e7os de personalidade n\u00e3o s\u00e3o suficientes para florescer a criatividade; a pessoa tamb\u00e9m precisa estar intrinsicamente motivada: fazendo o que a inspira e o que realmente gosta (BLOORE, 2012). Administrar a criatividade, para Bloore, \u00e9 encontrar o equil\u00edbrio ao atuar de forma continua entre liberdade e controle. O ambiente da sala de roteiristas encoraja os indiv\u00edduos a acumular diversas experi\u00eancias que ir\u00e3o potencializar sua criatividade. No caso, o roteirista, atuando de forma livre por\u00e9m dentro de regras impostas pela metodologia de trabalho de uma sala de roteiristas, exerce sua criatividade dentro dos limites da \u00e1rea e do campo. Isso nos leva novamente ao Sistema Modelo de Csikszentmihalyi.<\/p>\n

Terra \u00e0 vista: o Sistema Modelo no oceano da criatividade<\/strong><\/p>\n

Pensadores contempor\u00e2neos como Steven Johnson, Eva N. Redvall, Vera John-Steiner e Peter Bloore, aqui citados, abordam a criatividade sobretudo a partir do coletivo. Ao navegarmos no deserto azul da criatividade estas pesquisas podem nos reconfortar, como quem escuta o grito de \u201cterra \u00e0 vista!\u201d depois de um longo per\u00edodo em alto mar. E todos estes pensadores, por sua vez, sustentam-se em grande parte nas pesquisas acad\u00eamicas de Boden, Amabile e Csikszentmihalyi, que enfatizam a ideia de que: para a criatividade ocorrer, os m\u00faltiplos atributos cognitivos e intelectuais de uma pessoa criativa precisam estar combinados com uma \u00e1rea apropriada e com um campo intelectual que a encoraje e que possa oferecer a recep\u00e7\u00e3o da criatividade. Portanto, a criatividade \u00e9 parte de um extenso sistema e n\u00e3o \u00e9 dependente da habilidade criativa individual.<\/p>\n

Em seu livro, Peter Bloore (2012) prop\u00f5e uma figura para ilustrar – \u00e0 sua maneira – o Sistema Modelo de Csikszentmihalyi. Lembrando, antes, que nossa tradu\u00e7\u00e3o para Field \u00e9 Campo<\/em>, Domain \u00e9 \u00c1rea<\/em>, e Individual \u00e9 a Pessoa<\/em>, o indiv\u00edduo.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Figura 3: The systems view of creativity (BLOORE, 2012)<\/p>\n

Em nota sobre esta figura, Bloore destaca que:<\/p>\n

Para a criatividade ocorrer, um conjunto de regras e pr\u00e1ticas devem ser transmitidas da \u00e1rea para o indiv\u00edduo. O indiv\u00edduo ent\u00e3o deve produzir uma nova varia\u00e7\u00e3o dentro do conte\u00fado da \u00e1rea. Esta varia\u00e7\u00e3o deve ser selecionada pelo campo para que ela seja inclu\u00edda na \u00e1rea. <\/em>(BLOORE, 2012, tradu\u00e7\u00e3o e grifos da autora) <\/em><\/p>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 A forma com a qual Bloore representa o Sistema Modelo de Csikszentmihalyi difere-se do que apresentamos anteriormente (fig.1, p.5), j\u00e1 que a nossa proposta \u00e9 a de englobar o indiv\u00edduo dentro da \u00e1rea e do campo, e que esse \u201cenglobar\u201d seja ilustrado de forma clara e simples. \u00c9 tamb\u00e9m importante contextualizar o Sistema Modelo, j\u00e1 que a \u00e1rea de filmes ou a de m\u00fasica popular, que s\u00e3o mais acess\u00edveis ao p\u00fablico em geral, possuem um campo especializado notoriamente incapaz de impor uma decis\u00e3o sobre quais obras s\u00e3o criativas (CSIKSZENTMIHALYI apud BLOORE, 2012). Com isso, entendemos que a avalia\u00e7\u00e3o do n\u00edvel de criatividade de um projeto televisivo est\u00e1 mais nas m\u00e3os do p\u00fablico do que no campo profissional. Pensando neste ponto, consideramos a audi\u00eancia como parte do campo que julga a criatividade do projeto (conforme ilustrado na fig.2, p.6), j\u00e1 que, na televis\u00e3o, n\u00e3o podemos dissociar o resultado de audi\u00eancia das decis\u00f5es executivas e comerciais da emissora.<\/p>\n

Para apresentar de forma mais clara e mais espec\u00edfica a aplicabilidade do Sistema Modelo para criatividade em sala de roteiristas, avistamos a s\u00e9rie brasileira Supermax<\/em> (TV Globo\/2016) como um local pertinente para ancorar nosso barco.<\/p>\n

A s\u00e9rie Supermax<\/em> n\u00e3o \u00e9 somente uma novidade no \u00e2mbito da difus\u00e3o, \u00e9 tamb\u00e9m uma nova forma de criar conte\u00fado para a televis\u00e3o brasileira, conforme publicado pelo Jornal Folha de S. Paulo (2016, Ilustrada, C1): \u201cOs roteiros da s\u00e9rie Supermax foram escritos por seis autores em uma sala, \u00e0 moda das writers rooms<\/em> americanas, debatendo-se por horas, chefiados por Mar\u00e7al Aquino, Fernando Bonassi e por Jos\u00e9 Alvarenga Jr.\u201d O Jornal Estado de S\u00e3o Paulo (2016, Cultura) publica que:<\/p>\n

Supermax \u00e9 fruto de um processo in\u00e9dito de cria\u00e7\u00e3o, em esquema que se conceituou chamar de \u201cwriters room\u201d, com mais de cinco profissionais gabaritados. \u00c9 literalmente uma sala de escritores a trabalhar conjuntamente o desenvolvimento do roteiro final. <\/em><\/p>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Sabe-se que a TV Globo, mesmo com o maior expertise<\/em> em telenovela no mundo, visou se inserir no mercado de s\u00e9ries para ampliar seu di\u00e1logo com o p\u00fablico mais jovem que migra para outras plataformas e para outros formatos seriados. Diante desta demanda, os executivos da emissora encomendam ao autor Jos\u00e9 Alvarenga Jr. um projeto de s\u00e9rie inovador, para ser exibido na grade tradicional concomitante com a plataforma streaming Globoplay. Por sua vez, Alvarenga convida os autores Mar\u00e7al Aquino e Fernando Bonassi para pensarem com ele esta proposta ainda embrion\u00e1ria, mas que deveria, inevitavelmente, por exig\u00eancias da emissora, possuir um g\u00eanero diferente do que o adotado em sua programa\u00e7\u00e3o (drama e com\u00e9dia). Os tr\u00eas autores roteiristas desenvolvem a sinopse da s\u00e9rie Supermax<\/em> e contratam mais oito autores roteiristas para compor uma sala de cria\u00e7\u00e3o e, nela, desenvolver a s\u00e9rie. Al\u00e9m de Alvarenga, Mar\u00e7al e Fernando Bonassi, a sala de roteiristas de Supermax<\/em> contou com: Br\u00e1ulio Mantovani, Carolina Kotscho, Juliana Rojas, Dennison Ramalho, Raphael Montes e Raphael Draccon.<\/p>\n

Sendo assim, Alvarenga, aqui, ser\u00e1 ilustrado como o indiv\u00edduo criativo central da vez, sabendo que o Sistema Modelo pode depois ser adaptado com outro roteirista da s\u00e9rie ao centro. Pois bem, Alvarenga est\u00e1 inserido em uma \u00e1rea, a sala de roteiristas, que \u00e9 composta por mais oito pessoas. Esta \u00e1rea \u00e9 muito especifica e possui sua pr\u00f3pria metodologia de trabalho e regras, e dentro dela a ideia inicial de Alvarenga ser\u00e1 gerada e desenvolvida. Esta sala est\u00e1 situada dentro de uma esfera maior, o campo que ir\u00e1 julgar e validar o projeto, para transform\u00e1-lo em uma s\u00e9rie \u2013 j\u00e1 que um roteiro n\u00e3o produzido n\u00e3o possui valor inerente (BLOORE, 2012).<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Figura 4: Sistema Modelo adaptado para Supermax<\/em><\/p>\n

\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Neste caso, ampliamos mais o campo para poder englobar a audi\u00eancia dentro das decis\u00f5es internas da TV Globo, chefiadas pelo diretor de n\u00facleo Guel Arraes e pela diretora de desenvolvimento art\u00edstico Monica Albuquerque. \u00c9 claro que a audi\u00eancia vir\u00e1 depois da exibi\u00e7\u00e3o da s\u00e9rie, mas ela n\u00e3o deixar\u00e1 de julgar, em outro n\u00edvel e momento, a ideia como sendo criativa e inovadora, ou como n\u00e3o o sendo.<\/p>\n

Esta s\u00e9rie s\u00f3 foi poss\u00edvel ser realizada a partir deste modelo de cria\u00e7\u00e3o onde pessoa (roteirista), \u00e1rea (sala de roteiristas) e campo (contexto televisivo) diluem-se em um s\u00f3 sistema criativo sustent\u00e1vel. O autor que se encontra ao centro do c\u00edrculo, Alvarenga, internalizou de forma explicita e impl\u00edcita todo o sistema modelo de criatividade, desde o momento em que recebeu a \u201cencomenda\u201d por parte do canal at\u00e9 o momento da entrega da s\u00e9rie j\u00e1 desenvolvida ao canal.<\/p>\n

O projeto Supermax<\/em> insere, assim, a teledramaturgia da Rede Globo na fic\u00e7\u00e3o de g\u00eanero terror, suspense e sobrenatural, com elementos de reality-show. A s\u00e9rie carrega fortes refer\u00eancias narrativas e visuais das s\u00e9ries americanas The Walkind Dead<\/em> (2010) e True Detective<\/em> (2014). Cada um dos nove roteiristas envolvidos na cria\u00e7\u00e3o s\u00e3o reconhecidos por seus trabalhos anteriores dentro destes g\u00eaneros.<\/p>\n

Nota-se que a televis\u00e3o \u00e9 talvez o ambiente mais propenso a grandes mudan\u00e7as em formatos ou em combina\u00e7\u00e3o de g\u00eaneros, devido ao maior volume de recep\u00e7\u00e3o, \u00e0s produ\u00e7\u00f5es mais r\u00e1pidas e baratas; aos retornos financeiros de um projeto inovador bem sucedido; ao diversificado uso de um mesmo prot\u00f3tipo; e \u00e0 necessidade de originalidade em um mercado superlotado. (BLOORE, 2012, tradu\u00e7\u00e3o da autora)<\/em><\/p>\n

Esta experi\u00eancia de cria\u00e7\u00e3o fez com que a TV Globo desenvolvesse a \u201cCasa dos Roteiristas\u201d[4]<\/span><\/a>, implantada em uma mans\u00e3o localizada na zona sul do Rio de Janeiro. Talvez este seja o maior resultado criativo da s\u00e9rie Supermax<\/em>. Sobressaiu o valor do trabalho criativo colaborativo conectado \u00e0 necessidade de explorar um formato seriado que n\u00e3o era encontrado com frequ\u00eancia na programa\u00e7\u00e3o do canal.\u00a0 Desta casa dos roteiristas, recentemente inaugurada, pretende-se gerar um grande n\u00famero de projetos inovadores no formato de s\u00e9ries com at\u00e9 13 epis\u00f3dios, nos moldes da Supermax<\/em>. Na casa ocorrem, simultaneamente, 11 salas de roteiristas chefiadas por diferentes autores da casa. O Jornal Folha de S. Paulo (2017, Ilustrada, C1) publica que:<\/p>\n

A Globo cada vez mais vem investindo em ser uma produtora de conte\u00fado. Por isso, a emissora decidiu criar um espa\u00e7o para fomentar a produ\u00e7\u00e3o de s\u00e9ries e outros formatos curtos de dramaturgia semanal para TV aberta e fechada e para plataformas digitais. Em abril, come\u00e7a a funcionar a Casa dos Roteiristas do canal, em um espa\u00e7o no Jardim Bot\u00e2nico, no Rio, fora dos est\u00fadios da Globo.<\/em><\/p>\n

No entanto, a casa dos roteiristas \u00e9 um projeto t\u00e3o recente que n\u00e3o podemos ainda avaliar seu impacto no mercado. Mas, \u00e9 interessante lembrar que, para Domenico De Masi (2001, p.475), \u201cno caso dos grupos criativos, a primeira das obras-primas \u00e9 justamente a sua pr\u00f3pria organiza\u00e7\u00e3o\u201d. De Masi define um grupo criativo por \u201csistema coletivo em que operam sinergicamente personalidades imaginativas e personalidades concretas, cada uma contribuindo com o melhor de si, num clima entusi\u00e1stico, gra\u00e7as a um l\u00edder carism\u00e1tico e uma miss\u00e3o compartilhada\u201d (DE MASI, 2001, p.594). E, ele, ainda, aponta que:<\/p>\n

Na criatividade em grupo, justamente pela pr\u00f3pria natureza da atividade coletiva, n\u00e3o s\u00e3o apenas as qualidades dos membros individuais que incidem sobre os processos ou sobre os produtos; quanto melhor for a intera\u00e7\u00e3o entre os membros do grupo, melhor ser\u00e1 entre o grupo e o mundo exterior. (DE MASI, 2001, p.480)<\/em><\/p>\n

Percebemos que esta \u00e9 justamente a proposta da casa dos roteiristas da TV Globo, que nada mais \u00e9 do que um reflexo do sucesso do processo criativo em sala de roteiristas j\u00e1 experimentado mundialmente. O Sistema Modelo \u00e9 t\u00e3o vers\u00e1til e abrangente que poderia facilmente ilustrar a casa dos roteiristas como sendo a \u00e1rea<\/em>, cujo o indiv\u00edduo criativo continua sendo o roteirista<\/em> e o campo<\/em> ainda \u00e9 o universo da emissora. A casa possui em suas salas diversos escrit\u00f3rios l\u00edquidos que por vezes se conectam entre si, j\u00e1 que boas ideias n\u00e3o querem ser est\u00e1ticas, elas querer fluir como a \u00e1gua. Estes roteiristas, trabalhando em sua \u00e1rea, permanecem totalmente imersos no ato criativo, tornam-se absorvidos \u00e0 um n\u00edvel em que Mihaly Csikszentmihayi chama de fluxo criativo<\/em> (BLOORE, 2012, grifo da autora). O trabalho criativo bem sucedido, ou seja, de fato considerado como tendo valor criativo, passa por este processo e consequentemente gera tal fluxo natural inerente \u00e0s pessoas e tamb\u00e9m aos grupos criativos que criam de forma colaborativa.<\/p>\n

O Sistema Modelo de Csikszentmihalyi pode ser replicado in\u00fameras vezes em diversas \u00e1reas de atua\u00e7\u00e3o, n\u00e3o somente no \u00e2mbito art\u00edstico, afinal, n\u00e3o est\u00e1 restrito a nenhum contexto espec\u00edfico, tal como a criatividade.<\/p>\n

Retomando nossa met\u00e1fora, o Marinheiro, tendo explorado em parte a aridez aqu\u00e1tica do deserto azul, percebe que mesmo sem poder visitar as profundezas do mar ele pode imaginar o\u00a0 mundo que se faz embaixo de seu barco, e pode pisar em terra firme quando avista as ilhas com a qual se identifica. A navega\u00e7\u00e3o certamente continua, mas, somente a experi\u00eancia de aportar em tais ilhas distantes e trazer o conhecimento delas para si j\u00e1 \u00e9 mais um novo caminho tra\u00e7ado em sua rota criativa.<\/p>\n

Cita\u00e7\u00f5es:<\/strong><\/p>\n

[1]<\/strong><\/em><\/span> Cf. The Blue Desert: http:\/\/www.elasmo-research.org\/education\/ecology\/ocean.htm<\/a><\/em> e http:\/\/www.seashepherd.nl\/toxic-gulf\/specialisation-in-the-blue-desert.html<\/a><\/em> acesso em: 12\/07\/2017.<\/em><\/p>\n

[2]<\/span> The System Model: Person; Domain; Field (Tradu\u00e7\u00e3o da autora)<\/p>\n

[3]<\/span> ANCINE \u2013 Ag\u00eancia Nacional de Cinema. Dispon\u00edvel em: http:\/\/www.ancine.gov.br\/<\/a><\/p>\n

[4]<\/span> Cf. Casa dos Roteiristas da Globo http:\/\/gshow.globo.com\/Bastidores\/noticia\/globo-abre-casa-dos-roteiristas-e-investe-na-producao-de-novos-conteudos.ghtml<\/a> acesso em: 12\/07\/2017<\/p>\n

Refer\u00eancias:<\/strong><\/p>\n

BLOORE, Peter. The Screenplay Business: Managing creativity and script development in the film industry<\/em>. Oxford: Routledge, 2012.<\/p>\n

BRETT, Martin. Homens Dif\u00edceis: Os bastidores do processo criativo de Breaking Bad, Familia Soprano, Mad Man e outras s\u00e9ries revolucion\u00e1rias. <\/em>S\u00e3o Paulo: Aleph, 2014.<\/p>\n

BODEN, Margaret A . Dimens\u00f5es da Criatividade<\/em>. \u00a0Porto Alegre: Artes M\u00e9dicas Sul, 1999.<\/p>\n

CANTORE, Jacqueline. \u201cA Corrida do Ouro\u201d. Dispon\u00edvel em: http:\/\/www.jacquelinecantore.com\/<\/a><\/p>\n

CSIKSZENTMIHALYI, M. Creativity: Flow and the Psychology of Discovery and Invention.<\/em> New York: Harper Perennial, 1997.<\/p>\n

DE MASI, Domenico. Criatividade e Grupos Criativos.<\/em> Rio de Janeiro: Sexante, 2001.<\/p>\n

JOHNSON, Steven. De onde v\u00eam as boas ideias.<\/em> Rio de Janeiro: Zahar, 2011.<\/p>\n

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S\u00c1 PESSOA, Gabriela. \u201cGlobo segue t\u00e1tica da Netflix e antecipa s\u00e9rie in\u00e9dita na internet\u201d. Folha de S\u00e3o Paulo: Ilustrada C1, S\u00e3o Paulo, 16 de Setembro de 2016.<\/p>\n

VIGOTSKI, L. S. Imagina\u00e7\u00e3o e criatividade na inf\u00e2ncia<\/em>. S\u00e3o Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2014.<\/p>\n

[1]<\/strong><\/em><\/span><\/a> Cf. The Blue Desert: http:\/\/www.elasmo-research.org\/education\/ecology\/ocean.htm<\/a><\/em> e http:\/\/www.seashepherd.nl\/toxic-gulf\/specialisation-in-the-blue-desert.html<\/a><\/em> acesso em: 12\/07\/2017.<\/em><\/p>\n

[2]<\/span><\/a> The System Model: Person; Domain; Field (Tradu\u00e7\u00e3o da autora)<\/p>\n

[3]<\/span><\/a> ANCINE \u2013 Ag\u00eancia Nacional de Cinema. Dispon\u00edvel em: http:\/\/www.ancine.gov.br\/<\/a><\/p>\n

[4]<\/span><\/a> Cf. Casa dos Roteiristas da Globo http:\/\/gshow.globo.com\/Bastidores\/noticia\/globo-abre-casa-dos-roteiristas-e-investe-na-producao-de-novos-conteudos.ghtml<\/a> acesso em: 12\/07\/2017<\/p>\n

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Artigo escrito em junho de 2017 para o Programa de P\u00f3s-Gradua\u00e7\u00e3o em Meios e Processos audiovisuais da Escola de Comunica\u00e7\u00e3o e Artes da Universidade de S\u00e3o Paulo. Bartira Bejarano Campos \u00e9 roteirista e pesquisadora, mestre em Audiovisual pela ECA-USP. 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Bartira Bejarano Campos \u00e9 roteirista e pesquisadora, mestre em Audiovisual pela ECA-USP. 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