Arquivos escrever - Rede Sina https://redesina.com.br/tag/escrever/ Comunicação fora do padrão Thu, 22 Jun 2023 07:32:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Arquivos escrever - Rede Sina https://redesina.com.br/tag/escrever/ 32 32 A Magia do Escrever por Tadany https://redesina.com.br/a-magia-do-escrever/ https://redesina.com.br/a-magia-do-escrever/#respond Wed, 21 Jun 2023 12:09:01 +0000 https://redesina.com.br/?p=21129 O escrever é a magia da expressão humana manifestada em fascinantes descrições, interessantes revelações e sublimes transformações. Às vezes, escrever é um resignar-se do mundo aparente por meio da… O escrever é a magia da expressão humana manifestada em fascinantes descrições, interessantes revelações e sublimes transformações. Às vezes, escrever é um resignar-se do mundo aparente …

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O escrever é a magia da expressão humana manifestada em fascinantes descrições, interessantes revelações e sublimes transformações.

Às vezes, escrever é um resignar-se do mundo aparente por meio da…

O escrever é a magia da expressão humana manifestada em fascinantes descrições, interessantes revelações e sublimes transformações.

Às vezes, escrever é um resignar-se do mundo aparente por meio da invenção de um mundo onírico.

Outras, o mundo ilusório invade a realidade, manipulando-a, influenciando-a e reinventando-a.

Em alguns casos, se escreve sobre aquilo que nunca se teve e, talvez, sobre o que nunca se terá, como um meio passivo de viver o que se sonha, não menos legítimo que o próprio viver.

Noutros, a vida é tão afortunada e plena que o escrever é o que sobra dos bailes da vida, migalhas excedentes do banquete existencial.

Por vezes, escrever é abrir obscuras masmorras que assustam o mais íntimo da essência, mas que ser tornam tolerável ao vê-las como um conto individual.

Noutras, a escrita é uma vertente jorrando nobres sentimentos que pensávamos não ter e que elevam nossos pensamentos à patamares tão belos que, naquele instante, nada nos falta, pois tudo somos e tudo sentimos.

Em certos casos, na manifestação da escrita, a alma floresce, o intelecto se expande e o mundo agradece.

Noutros, escrever é viver, com ou sem volição da própria vida que, por si só, se descreve.

Ou seja, escrever é magia, acrobacia, companhia, nostalgia, euforia, ventania.

 

PS: Para citar este Pensamento:

Cargnin dos Santos, Tadany. A Magia do Escrever.

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UM GIZ por Maria Fernanda Elias Maglio https://redesina.com.br/um-giz-por-maria-fernanda-elias-maglio/ https://redesina.com.br/um-giz-por-maria-fernanda-elias-maglio/#comments Sat, 23 Jan 2021 22:04:52 +0000 https://redesina.com.br/?p=12821 Um conto de Maria Fernanda Elias Maglio   Eu poderia contar do homem mais feio do mundo, com suas escápulas de anjo caído e o nariz repleto de furúnculos inflamados. Poderia dizer da mulher de setenta e oito anos, sem filhos e sem memória, morrendo devagar em uma maca de um hospital público. Poderia falar …

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Um conto de Maria Fernanda Elias Maglio

 

Eu poderia contar do homem mais feio do mundo, com suas escápulas de anjo caído e o nariz repleto de furúnculos inflamados. Poderia dizer da mulher de setenta e oito anos, sem filhos e sem memória, morrendo devagar em uma maca de um hospital público.

Poderia falar do camelo indesejado que não tinha autorização para entrar e no fim morre indesejado e triste, na borda de fora do deserto. Poderia falar dos bêbados, dos limpadores de caixa de gordura, da prostituta manca que não consegue andar rebolando. Do homem internado em um manicômio judicial por quase trinta anos, que perdeu todos os dentes e chupa o bife no almoço, nas raríssimas vezes em que tem bife no almoço. Da mulher rica, de aliança de brilhantes, que por ser rica, de aliança de brilhantes, se diverte mandando a faxineira dizer iogurte e grava na câmera do celular a faxineira de sessenta e dois anos dizendo constrangida, iorgurte, depois compartilha com a amiga rica, de aliança de brilhantes, que ri e censura com afetação, você não presta, Marisa, para em seguida pedir: grava ela falando mortadela. Poderia contar da velha que vive sozinha com trinta e seis gatos e um dia morre sem motivo, porque gente velha não precisa de motivo para morrer, uma vizinha percebe o cheiro, um bombeiro chamado Ernesto arromba a porta e encontra o cadáver em putrefação, os gatos famintos roendo o osso da tíbia direita, que já aparece branca no meio da carne ulcerada. Do índio viciado em crack, que fuma vinte e cinco pedras por dia e é pego arrombando a vitrine de uma loja de relógios. Poderia contar da dona da loja de relógios que se chamaria Carla ou Ana ou Maria do Socorro e não teria a perna direita porque perdeu em um acidente de moto aos vinte e dois anos. Do morador de rua excluído por seus pares, porque tem o cacoete de furtar pertences, o nome poderia ser Anderson, poderia ter apelido de Um Cinco Cinco, poderia ser agredido violentamente por três GCMs, até ter o baço rompido pelos chutes desferidos por pés uniformizados de coturnos. Poderia contar da moça que vive cercada de sapos, que trata como se fossem galinhas, distribuindo insetos como se oferece milho seco, dizendo pi, pi, pi, pi, enquanto tira dezenas de besouros vivos de uma sacola plástica. Do palhaço esquizofrênico, do motorista de ônibus portador de hiperidrose, que troca a camisa quatro vezes por dia, poderia falar do adolescente viciado em Coca-Cola que não tem nenhum amigo e ri fazendo barulho pelo nariz. Da cor que não tem lugar no arco-íris, nem nas bandeiras dos países todos e dos países que nem foram inventados, que não consta nas caixas de lápis de cor, nem nos sinaleiros, nas paletas das aquarelas, nem nas diversas tonalidades do mar em dia de tempestade. Eu poderia contar do escafandrista errante, vagando a cidade submersa, lendo cartas que não foram destinadas a ele, abrindo armários de mogno repletos de crustáceos e cavalos-marinhos bebês.

Mas esta é história a de um menino de oito anos, chamado Mateus. A mãe chama-se Lourdes e é merendeira de uma escola pública de uma cidade de trinta mil habitantes.

O sinal troveja, as crianças interrompem a brincadeira de roda, amarelinha, de barra-manteiga, polícia-ladrão e se organizam em fileiras. Mateus é o penúltimo da fila da quarta série D, atrás dele está a Ana Fonseca, neta do borracheiro, que chegou atrasada, porque o avô está no hospital. As crianças entoam o hino nacional e Mateus mexe a boca enquanto cantam fulguras, ó Brasil, florão da América, porque nunca na vida vai conseguir decorar fulguras, ó Brasil, florão da América. A bandeira é hasteada e ninguém bate palmas, porque a professora já explicou que não pode. Seguem para a sala de aula ainda em fila, a mochila do garoto da frente tenta acertar o rosto de Mateus, ele sabe que é de propósito, mas finge que não. A cada vez que o menino sacode as costas para trás, Mateus desvia o corpo feito um boxeador escapando do soco, mas o movimento que faz não lembra nem de longe um boxeador se movendo para longe do alcance do golpe, mas sim uma minhoca se contorcendo no chão duro, tentando cavoucar o cimento como se fosse terra.

A professora é muito branca e o giz é muito branco, as paredes não, as paredes têm nódoas de mofo e de cabeças encardidas. Em cima da carteira de Mateus, um caderno com capa de motocicleta e um estojo de zíper arrebentado. Os dois lápis roídos nas pontas e o pedaço de borracha estão presos dentro do estojo por um elástico de dinheiro. Tinha também um estilete improvisado: uma lâmina de apontador presa na ponta derretida de uma caneta sem carga. Agora não tem mais porque a professora confiscou, onde já se viu trazer faca pra escola, moleque? A professora trata os outros alunos pelo nome e, quando não se lembra de como se chamam, diz, menino, menina. Moleque, só mesmo o Mateus.

A professora escreve na lousa e pede que copiem: EEPG Coronel Evandro Duarte Dias. Mateus desenrola o elástico com cuidado para não arrebentar, pega um lápis, abre o caderno, cuja capa é um homem de capacete vermelho em cima de uma moto empinada, e começa a escrever. A letra é irregular e não é possível distinguir o E do L minúsculos. Morde a extremidade do lápis, chupa o suco da madeira triturada. A professora dá as costas para a lousa, vê Mateus sugando o lápis e grita: porco, enquanto joga o giz branco em direção ao rosto do menino. O giz cai no chão antes de acertar o alvo e Mateus poderia se sentir feliz, em uma só manhã, livrou-se da mochila e do giz, mas não, porque a sala inteira gargalha, inclusive a menina chamada Ana Fonseca, que deve ter se esquecido do avô morrendo no hospital. Mateus vê o giz quebrado no chão, bem em frente a sua carteira e tem vontade de pegá-lo. A mãe diz para jamais levar o que não seja dele, ainda que uma agulha, uma lasca de unha roída. Mas ele nunca teve um giz só seu. Das únicas vezes em que segurou um, estava de frente para a lousa, a professora severa e branca esperando que ele escrevesse o resultado da conta, 45 + 62 e ele não sabe, os quatro estados da água e ele não sabe, a capital do Estado de Pernambuco e ele não sabe, a data em que se comemora o dia do índio e ele não sabe. Fulguras, ó Brasil, florão da América, ele nunca vai saber. A professora está escrevendo uma fábula na lousa e pede que copiem, uma história de uma raposa que rouba o queijo de um corvo. Mateus estica a perna direita na tentativa de alcançar o giz com o pé. Se ele tivesse um só dele, ainda que quebrado ao meio, nunca que escreveria números ou letras. Desenharia uma nuvem de chuva e um sorvete de três camadas com uma cereja em cima e uma árvore de natal cheia de bolas e de repente desenhava um dinossauro de pescoço comprido comendo um queijo, uma professora e vinte e oito crianças.

Mateus calça trinta e um, a sandália que usa é dois números menores, por isso os dedos, com exceção dos dedinhos, estão fora dos limites dos sapatos e é com o dedão direito que ele alcança o giz. Escorregou o corpo na carteira, está quase deitado, se a professora dá as costas para a lousa neste instante, ele vai para a diretoria, deve tomar até suspensão, dois dias sem poder ir à escola e não entende como isso de ficar em casa pode ser castigo. A casa em que mora com a mãe é um quarto. Fica nos fundos do quintal da tia-avó, a quem ele chama de vó, ainda que saiba que não é. A avó de verdade morreu quando a mãe tinha nove anos. Exatamente a idade que ele tem agora, e não tem nada no mundo de que tenha mais medo, do que da mãe morrer.

A professora já terminou de escrever a fábula, agora desenha um pedaço de queijo furado e pede que copiem. Mateus segura o giz na garra dos dedos dos pés e ajeita o corpo. Bem na hora. Por muito pouco a professora, que já terminou o queijo, não o vê quase deitado na carteira e ainda que seja bom pegar suspensão, ficar na casa que não é casa, é quarto, não quer desagradar a mãe.

A professora pede que se organizem em duplas. O giz ainda nos dedos do pé direito que transpira muito, Mateus não sabe o que fazer. Nunca consegue ficar no próprio lugar quando a professora manda formar duplas, porque ninguém diz, ei, Mateus, posso sentar aí com você? Permanece na cadeira, os dedos do pé dão choques de câimbras. E se o giz se desmanchar com o suor? Nunca esteve tão perto de ter um só seu, estava quase cruzando a perna para que a mão alcançasse o giz, quando a professora deu as costas para a fábula, o queijo de buracos e disse, façam duplas.

Barulho de carteiras sendo arrastadas e vozes de meninos e meninas. O moleque continua em silêncio. Cruza o pé direito sobre a coxa esquerda e pega o giz, esconde na mão fechada. Está farelento e quente, ainda assim é um giz. Guarda no bolso dos shorts e pensa ufa que ninguém viu. A sala tem número ímpar, todo mundo já achou dupla, a mesa de Mateus é a única que não está emendada em outra. A professora percebe e diz, vai, moleque, arruma alguém pra sentar. Mateus se levanta, o giz pesando no bolso, do lado esquerdo, a carteira da Flávia colada na carteira do Fabrício, a mão da Flávia colada na mão de Fabrício e a professora não vê. Do lado direito, a Ana Fonseca e a Regina, Mateus cria coragem e pergunta, posso fazer dupla com vocês? Regina reponde que dupla é de dois e a Ana Fonseca ri, e de novo se esqueceu do hospital, o avô quase morrendo toda hora. Olha para trás e o Eduardo está com o Henrique, Mateus não comete o mesmo erro de falar da dupla, pergunta, posso sentar com vocês e Eduardo levanta os ombros de uma só vez, Mateus sabe que não é um sim, mas um tanto faz, o que já é suficiente para que tenha permissão de arrastar sua própria carteira.

Eduardo e Henrique discutem a fábula, a professora quer que cada dupla defina a moral da história. Eduardo acha que a moral é que não se deve roubar nada do outro e Henrique diz, não, é que não podemos deixar o outro roubar o que é nosso. Eles não perguntam o que o Mateus acha e se perguntassem ele não saberia, porque o giz no bolso pesa demais. Ainda assim, está feliz, nunca teve um só dele e se a mãe perguntar, se revistar o bolso dos shorts, vai dizer que achou no lixo.

O sino toca avisando o recreio, as crianças correm para fora da classe de professora severa e paredes encardidas, dizendo, êeeeeee. Mateus não corre e nem diz êeeeeee, deixa a sala em silêncio, atravessa o corredor que dá para o pátio. Algumas crianças brincam de roda, amarelinha, barra-manteiga, polícia-ladrão, outras comem sanduíches desembrulhados de papel alumínio e bebem limonada açucarada em garrafinhas térmicas. A fila da merenda vai até a metade do pátio, porque hoje é dia de macarrão com salsicha e em dia de macarrão com salsicha entra na fila mesmo quem pode trazer sanduíche encapado em alumínio.

Mateus é o último da fila e na outra ponta, distribuindo a comida, está a mãe, que se chama Lourdes e é merendeira da escola pública da cidade de trinta mil habitantes. As crianças vão saindo com os pratos de plástico lotados de macarrão alaranjado, cinco ou seis rodelas de salsicha em cima. Quando Mateus se torna o primeiro, é para ele que a mãe estende o prato com um sorriso, um buraco no lugar do primeiro molar esquerdo. Mateus quer devolver o sorriso, mas o giz pesado no bolso. Come sentado em um dos bancos de cimento, passa o indicador do fundo do prato para pegar o óleo, chupa o dedo com a gula de quem suga a madeira do lápis.

A professora fala sobre os números, diz que alguns são chamados primos e Mateus não tem primo nenhum, só a mãe, a avó que não é avó, a casa que não é casa. O giz. O sinal toca de novo e agora, antes de correrem, gritando êeeeeee, as crianças enchem as mochilas com os materiais. Mateus atravessa o corredor até o pátio, todos já foram embora, as serventes varrem o chão de papel de bala, bolinhas de alumínio, farelos de pão, chicletes escuros colados no cimento. A mãe está lavando as imensas panelas e Mateus espera sentando em um banco, pega uma bolinha de papel de alumínio antes que varram e brinca, passando de uma mão para a outra.

Já chegaram na casa-quarto e a mãe fala que vai ao mercado comprar cenoura e batata para a sopa, diz para o filho fazer a lição direitinho, volto já, já. Mateus arruma o caderno em cima da mesa, lápis, a fatia de borracha, a professora mandou grifar os adjetivos da fábula, sublinha: esperta, corvo, verde, bico e queijo.

O giz lateja como um coração. Enfia a mão no bolso, retira e olha, um toco branco e úmido. Leva até o nariz e aspira: cal e suor. Estica a língua e é um gosto que não sabe, serragem, vinagre, tijolo, piruá de pipoca. Coloca na boca e não mastiga, os dentes cerrados, deixa derreter devagar. Junta a saliva a engole de uma vez, como se fosse remédio. Mas não toma água depois, porque não quer nunca limpar o gosto abrasivo e salgado. Agora dentro dele para sempre. Um giz.

Maria Fernanda Elias Maglio

Nasceu em Cajuru-SP, em agosto de 1980. É escritora e defensora pública, trabalha fazendo a defesa de pessoas pobres que estão cumprindo pena. Seu primeiro livro, “Enfim, imperatriz” (Patuá, 2017), venceu o Prêmio Jabuti 2018 na categoria contos. Publicou também o livro de poesias “179. Resistência” (Patuá, 2019), vencedor do Prêmio Biblioteca Nacional de 2020.

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Vingança https://redesina.com.br/vinganca/ https://redesina.com.br/vinganca/#respond Mon, 30 Sep 2019 20:05:55 +0000 https://redesina.com.br/?p=7695 Meu poema “Vingança”, que li na Balbúrdia Poética de niver e compartilhei nos storys, escrevi quando estava em SP. Na época estudava no Studio Fatima Toledo interpretação para cinema e fazia disciplinas sobre questão de gênero nas pós de comunicação e também de teatro da USP. Além de seguir alimentando com conteúdo a Rede Sina …

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Meu poema “Vingança”, que li na Balbúrdia Poética de niver e compartilhei nos storys, escrevi quando estava em SP. Na época estudava no Studio Fatima Toledo interpretação para cinema e fazia disciplinas sobre questão de gênero nas pós de comunicação e também de teatro da USP. Além de seguir alimentando com conteúdo a Rede Sina e as minhas fan pages entre elas As mulheres que dizem Não, onde denunciamos a violência contra as mulheres. Certo dia no Studio em um exercício com textos de Nelson Rodrigues, interpretava uma mulher que era mãe e alguns colegas se revezam na interpretação dos maridos abusivos. Meu sentimento era de ódio e impotência e toda vez que tentava reagir a reação de violência do outro era maior. Essa era a realidade da personagem. Nunca vou esquecer aquela sensação, o ódio que vinha do outro o ódio que me era gerado e a vontade de levar tudo aquilo para minhas aulas teóricas da acadêmia como se o ódio fosse objeto de pesquisa, lembrei das tantas notícias que já compartilhamos na page e aos poucos ia sentido na pele da personagem que vesti as consequências do machismo estrutural, a banalização da mulher, também da cultura da negação que negligência os sentimentos de raiva como se eles sempre fossem algo “feio” a se esconder, abafar e pouco trabalhar. E como se a violência fosse algo próprio de um gênero: o masculino. Lembrei de uma juíza que entrevistei no Rio na época que trabalhei na produção de um documentário. Ela relatava que eles haviam criado um sistema onde os homens denunciados na lei da Maria da Penha eram obrigados a participar semanalmente de um grupo coordenado por um psicólogo para reverem suas atitudes. O psicólogo me dizia que tentava identificar com eles a origem do machismo e desconstruí-las. A juíza dizia que aquele grupo funcionava mais que a prisão, o número de reincidências diminuía. E tudo isso passava ali num milésimo de segundo em minha mente enquanto vivia aquela mulher e mãe em cena.
Por mais que tentasse racionalizar, aquela sensação de ódio e violência não saia de mim. Parecia que estava impregnada na pele por dias. E já que a arte nos proporciona a liberdade da criação e o stúdio ensinava a conhecer e acessar as próprias sombras, eu me permitia a sentir tudo viceralmente. Todo aquele ódio e impotência que senti foi para uma nova criação minha que em cena consegui descarregar aquela energia. Parodiando Paulo Coelho com seu livro Verônica decide Morrer, criei a Verônica Decide Matar, e sua primeira vítima: Nelson Rodrigues.
Divertido, libertador. A raiva e ódio, se bem canalizados, são potencialmente produtivos. Não dá pra negar.
As sensações seguiram fluindo e certo dia lembrando a história de todas mulheres que já compartilhei.. do ódio que possam ter sentido, de todas as que já fui… e dos ódios que já senti… veio a poesia….

Vingança

E morrerei aos pés do vento
cairei sobre pedras-grãos
Dormirei ao relento
Amanhecerei sem amor
Trabalharei feito ursa
Pra amamentar
Proteger uma cria
Esmigalharei o pão
Que o diabo amassou
Cairei nas covas do leões
Eles sempre esperam a hora
A nos devorar
Acordarei sã
Me reerguerei
Dos muros devastados
Voarei feito águia
Terei a visão
De um falcão
A força de um leão,
E amordaçarei seus pés,
Sangrarei sua alma
Cuspirei seu ódio
E me tornarei igual
A voz

 No face:

Mel Inquieta (Melina Guterres)
Criadora e editora da Rede Sina, fan pages As mulheres que Dizem Não, Luta pela Democracia, Salve Índios. É jornalista já produziu conteúdo para Revista Istoé, Folha de São Paulo, Estadão, Uol. É roteirista associada a Abra – Associação Brasileira de Autores Roteiristas a qual colabora eventualmente com conteúdo. Já foi contemplada no Programa Ibermedia por argumento de longa-metragem.  Mais sobre em: www.melinaguterres.com

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RUÍNAS https://redesina.com.br/ruinas/ https://redesina.com.br/ruinas/#comments Mon, 03 Jun 2019 02:37:59 +0000 https://redesina.com.br/?p=6586 “Se essa rua, se essa rua fosse minha.. Eu mandava ladrilhar com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes para o meu amor passar. Nessa rua tem um bosque que se chama solidão…” NÃO! Hoje não tem poema Tive um lapso com o tempo Fui lá ao final de 1700 Quando aqui Ainda era apenas um acampamento …

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“Se essa rua, se essa rua fosse minha..
Eu mandava ladrilhar com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes para o meu amor passar. Nessa rua tem um bosque que se chama solidão…”

NÃO!
Hoje não tem poema
Tive um lapso com o tempo
Fui lá ao final de 1700
Quando aqui
Ainda era apenas
um acampamento

 

17 de maio de 1858
Nascia a cidade Santa Maria
De lá pra cá
Ferrovia
Vila Belga
Universidade…
Universidades..
Quanta história se faz?
Quantos passos se dão nas ruas de Santa Maria?
Mas o que me inquieta
São as memórias de uma senhorinha
Sua juventude foi divertida
Nas festas de um casarão
Que até capela dentro havia…
Hoje nem ruínas…

Já um professor aposentado
Já um professor aposentado
Num olhar nostálgico pela Catedral da Av. Rio Branco
me dizia:
“Aqui me casei há 55 anos”
Pude ver por um instante
Ele com a sua noiva entrando
Há mais de meio século pisando
No mesmo chão que tocava a sola dos meus sapatos.
Como diz o padre Ênio:
Tem patrimônio que não tem preço.

Tá escuro, tá escuro aqui dentro
Sem a luz do conhecimento
Tudo vira ruínas
Nosso passado
Nossa história
Nosso tempo
Nossas memórias
Num tijolo em queda
Em queda,
Em queda,
Em queda…

Até quando vamos deixar nossa identidade virar pó?

Essa rua, essa rua ela é nossa
Vamos todos ensinar a preservar
O patrimônio, o patrimônio e a história
Para a memória, a memória ativar

– MELINA GUTERRES –

Fotos: Dartanhan Baldez Figueiredo

Poema escrito para o coletivo Memória Ativa que defende o patrimônio histórico e cultural de Santa Maria-RS em seu lançamento oficial no Casarão da TV Ovo em 24/05/2019.

Dançarino e colaborador na paródia: Luca Pilla
Fotos em preto e branco: Dartanhan Baldez Figueiredo
Foto Melina colorida recitando: Renata de Assis Brasil

p.s: Confesso que escrever pensando na minha cidade, em tudo que está acontecendo e nessa gente guerreira do coletivo que vejo na Rede Sina quase toda quarta-feira não foi fácil..rsss.. Mas mais difícil é ver o que a falta de conhecimento é capaz de destruir. Santa Maria tem o 2° maior acervo contínuo em Art Déco, só perde para Miami. Pode preservar, desenvolver a economia e turismo sem destruir.

 

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A Nudez da Escrita, por TADANY https://redesina.com.br/a-nudez-da-escrita-por-tadany/ https://redesina.com.br/a-nudez-da-escrita-por-tadany/#respond Tue, 08 Aug 2017 08:14:36 +0000 http://redesina.com.br/?p=3083 Escrever é a arte de tirar a roupa em público, mas também a medicina que nos liberta de demônios existenciais. É um intenso desejo de falar abundantemente, sem ter que ser interrompido por constipados comentários dalgum irriquieto ego. É uma ânsia de ser ouvido como os profetas o eram, ou o são. É uma necessidade …

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Escrever é a arte de tirar a roupa em público, mas também a medicina que nos liberta de demônios existenciais. É um intenso desejo de falar abundantemente, sem ter que ser interrompido por constipados comentários dalgum irriquieto ego. É uma ânsia de ser ouvido como os profetas o eram, ou o são. É uma necessidade de dar sentido ao turbilhão da vida. De organizar as confusões e paradoxos que o quotidiano nos apresenta. Escrever é ser o que não se foi, mas que se desejava ter sido, assim como também não ser o que se foi, mas que talvez seria melhor não ter sido. É colocar uma máscara no teatro do viver e atuar em diversos papéis que se interpõe, se contradizem, se criticam, se completam e se apaixonam. Escrever é amar o amor que amor pela vida ama na gente. (Tadany – 23 11 13)

 

TADANY CARGNIN DOS SANTOS

Executivo Internacional. Cidadão Global. Palestrante. Poeta. Escritor. Pensador. Counsellor. Espiritualizado. Alegre. Curioso. Dinâmico. Profundo. Agradecido. Aventureiro. Tadany é formado em Administração de Empresas pela UFSM. Já trabalhou em muitos países ao redor do mundo e, atualmente, é Gerente de Globalização na IBM Índia. Ademais, por 3 anos, ele também estudou Advaita Vedanta num monastério nos Himalayas (Índia) com o Swamy Dayananda Sarasvati (www.dayananda.org). 

 

PS: Para citar este texto:

Cargnin dos Santos, Tadany. Pensamento 1439. www.tadany.org®

 

Siga-me no http://www.facebook.com/tadanycargnindossantos 

 

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Meu menino loiro por ROSSANA https://redesina.com.br/meumeninoloiro/ https://redesina.com.br/meumeninoloiro/#respond Sun, 24 Jul 2016 18:03:41 +0000 http://redesina.com.br/?p=1743 (Dica Rede Sina: Leia escutando a música acima) E lá vinha ele passando pela minha janela da biblioteca. Um jovem tão lindo. Caminhando com a segurança de quem sabe que é bonito, sedutor, interessante. Às vezes, passava sozinho, outras vezes, acompanhado de amigos, ou de meninas. Passava caminhando nas terças e quintas-feiras pela minha janela. …

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(Dica Rede Sina: Leia escutando a música acima)

E lá vinha ele passando pela minha janela da biblioteca. Um jovem tão lindo. Caminhando com a segurança de quem sabe que é bonito, sedutor, interessante. Às vezes, passava sozinho, outras vezes, acompanhado de amigos, ou de meninas.

Passava caminhando nas terças e quintas-feiras pela minha janela. Eu já o esperava. E bem na hora marcada, ele aparecia. Sempre vestido com jeans, camiseta, um moletom quando estava mais frio. E sua mochila Com seus cabelos dourados sedosos, com sua franja charmosamente caindo sobre um dos seus olhos. Seus cabelos pareciam ser tão macios. Cheirosos.

Que idade teria? 18, 20 anos!

Ah, meus 18, 20 anos! Com certeza ele olharia para mim. Ah, olharia!

E eu? Quem era eu? A bibliotecária quarentona da universidade. Ninguém me olhava nos olhos. Ninguém perguntava como eu estava. Só vinham até mim para saber sobre livros. O mais perto de um sorriso charmoso que chegava era quando alguém pedia para eu perdoar a multa por alguns dias de atraso na entrega de um livro.

Ah, mas eu fantasiava com meu menino loiro de cabelos sedosos desalinhadamente caindo sobre a testa.

Eu, a invisível, o via caminhando, quando ele nem imaginava que era observado. Prestava atenção ao seu jeito de andar, falar ao celular, flertar com as meninas, tudo isso da minha janela. Aqueles momentos que eu o observava eram aguardados com ansiedade durante a semana. Eram os meus 5 minutos de divertimento durante minha jornada de 44 horas semanais.

Um dia, peguei-me me arrumando mais, colocando batom, um ‘blushzinho”, uma blusa nova que havia comprado, justamente no dia que meu menino loiro passaria.

O que ele pensaria se imaginasse que eu o observava? No mínimo riria da minha cara. Eu também riria se fosse ele. Talvez eu fosse até mais cruel no lugar dele. Nunca contei a ninguém. Esse era meu segredo. Minha fantasia.

Numa tarde, ele não passou!

Fiquei atônita! O que teria acontecido com ele? Ele jamais se atrasava? Será que teve um imprevisto. Saí para fora da biblioteca. Caminhei entre os alunos, tentando encontrá-lo. Nada. Voltei para a biblioteca. Sentei na minha cadeira e fiquei olhando para fora, preocupada e frustrada.

– Você está bem? – perguntaram-me.

Ao ouvir a pergunta, continuei olhando para fora e respondi com um “sim”. Quem estaria interessado em saber de mim se não fosse minha mãe?

– Desculpe incomodá-la. Achei você tão triste hoje. Sempre a vejo pela janela da biblioteca com um sorriso no rosto.

Virei-me. Era ele, meu menino loiro.

Rossana Cantarelli Almeida

Rossana_livro_fotoCapa_Apenas_RespireÉ gaúcha de Santa Maria. Advogada e Analista Jurídica da Procuradoria Geral do Estado. Casada com Marcelo há 9 anos. Mãe do Cassio, 5 anos; madrasta do Arthur, 15 anos.
Mesmo quando tudo parecia perfeito em sua vida, alguma coisa a angustiava. Sem saber direito o que era, e em confidências com seu marido, ele lhe disse uma noite: apaixone-se por você!
E foi então que Rossana começou a escrever. Sua história foi tomando forma; personagens, diálogos, dramas iam surgindo na sua mente. Até que nasceu “Apenas Respire – Rock e perfume: paixão no ar”, seu primeiro romance, publicado pela Editora Multifoco e lançado em junho de 2016. Já tem outros dois livros escritos, à espera de publicação.
Agora é colunista do site Rede Sina, com a coluna quinzenal “Contos dos Cantos”, onde escolherá uma música e escreverá um conto embalado por ela.

Encontre o livro da  autora em: 

http://www.livrariacultura.com.br/p/apenas-respire-46330213

http://editoramultifoco.com.br/loja/product/apenas-respire/ 

Também à venda na livraria Athena em Santa Maria.

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