Home / * PORTAL / SINA DEBATE: O que é racismo estrutural?

SINA DEBATE: O que é racismo estrutural?

 

Casos de racismo em todo o Brasil não cansam de se repetir. Em Santa Maria, uma cidade universitária do Rio Grande de Sul , os atos ofensivos chegaram a acontecer dentro da sala aula de duas universidades (veja racismo na UFSM e racismo UFN).

Mas e quando o racismo existe sem a intenção de ofender?

Recentemente um caso de racismo estrutural vem polemizando no Brasil. A festa de aniversário de 50 anos de Donata Meirelles, casada com o publicitário Nizan Guanaes e até então diretora da Vogue Brasil, tinha o infeliz tema de Brasil Colonial. Mulheres vestidas de baianas foram contratadas para fazer a recepção.  Uma foto de Donata com duas baianas polemizou por lembrar uma sinhá com suas escravas.

A Fundação Palmares fez nota de repúdio, Elza Soares lembrou que “Felicidade às custas do constrangimento do próximo, seja ele de qual raça for, não é felicidade, é dor. O limite é tênue. Elegância é ponderar, por mais inocente que sua ação pareça. A carne mais barata do mercado FOI a carne negra e agora NÃO é mais. Gritaremos isso pra quem não compreendeu ainda. Escravizar, nem de brincadeira. Seguimos em luta”.

A repercussão de racismo associada a imagem de Donata foi imensa que ela mesma pediu demissão. Em um de seus pedido de desculpas falou em se re-construir. O Baile da Vogue inclusive foi adiado por pressão de patrocinadores que apoiam a diversidade em suas campanhas publicitárias.  A Associação de Baianas minimizou os fatos dizendo que foi uma má interpretação. As baianas contratadas na festa fizeram queixa na polícia por serem ofendidas após o episódio.

No ano passado a Rede Sina organizou o Sina Poética Orgulho Negro trazendo autores negros e lembrando a importância da representatividade deles. Recentemente num debate improvisado convidamos para debater sobre racismo estrutural a Maria Rita Py Dutra, pedagoga e Doutora em Educação, João Heitor, historiador Doutor em História, Gustavo Rocha, graduando em Ciências Sociais e criador do canal afro_SantaMariars no instagram e a jornalista Tássia Novaes direto de Salvador-BA.  Confira no vídeo acima como foi.

 

Manifestação de famosos:

 

Visualizar esta foto no Instagram.

 

Gentem, sou negra e celebro com orgulho a minha raça desde quando não era “elegante” ser negro nesse país. Quando preto não usava o elevador dos “patrões”. Quando pretos motorneiros dos bondes eram substituídos por brancos em festividades com a presença de autoridades de pele branca. Da época em que jogadores de um clube carioca passavam pô de arroz no rosto para entrarem em campo, já que não “pegava bem” ter a pele escura. Desde que os garçons de um famoso hotel carioca não atendiam pretos no restaurante. Éramos invisíveis. Celebro minha raça desde o tempo em que gravadoras não davam coquetel de lançamento para os “discos dos pretos”. Celebro minha origem ancestral desde que “música de preto” era definição de estilo musical. Grito pelo meu povo desde a época em que se um homem famoso se separasse de sua mulher para ficar com uma negra, essa ganhava o “título” de vagabunda, mas não acontecia se próxima tivesse a pele “clara”. Sou bisneta de escrava, neta de escrava forra e minha mãe conhecia na fonte as histórias sobre o flagelo do povo negro. Protesto pelos direitos da minha raça desde que preta não entrava na sala das sinhás. Gentem, essas feridas todas eu carreguei na alma e trago as cicatrizes. A maioria do povo negro brasileiro. Feridas que não se curaram e são cutucadas para mantê-las abertas demonstrando que “lugar de preto é nessa Senzala moderna”, disfarçada, à espreita, como se vigiasse nosso povo. Povo que descende em sua maioria dos negros que colonizaram e construíram o nosso país. Hoje li sobre mais uma “cutucada” na ferida aberta do Brasil Colônia. Não faço juízo de valor sobre quem errou ou se teve intenção de errar. Faço um alerta! Quer ser elegante? Pense no quanto pode machucar o próximo, sua memória, os flagelos do seu povo, ao escolher um tema para “enfeitar” um momento feliz da vida. Felicidade às custas do constrangimento do próximo, seja ele de qual raça for, não é felicidade, é dor. O limite é tênue. Elegância é ponderar, por mais inocente que sua ação pareça. A carne mais barata do mercado FOI a carne negra e agora NÃO é mais. Gritaremos isso pra quem não compreendeu ainda. Escravizar, nem de brincadeira. Seguimos em luta ✊🏾

Uma publicação compartilhada por Elza Soares (@elzasoaresoficial) em

 

Visualizar esta foto no Instagram.

 

Quem de fato é aliado e quem “vende” os seus

Uma publicação compartilhada por Djamila Ribeiro (@djamilaribeiro1) em

 

Pedidos de desculpas de Donata Meirelles

 

Visualizar esta foto no Instagram.

 

Aos 50 anos, a hora é de ação. Ouvi muito, preciso ouvir ainda mais. Quero agir em conjunto com as mulheres que têm a me ensinar e com quem mais estiver disposto a ser elo em uma transformação que se faz necessária. Meu compromisso é me colocar em (re)construção! Em ação! #Repost @voguebrasil ・・・ Em relação às manifestações referentes à festa de 50 anos de Donata Meirelles, a Vogue Brasil lamenta profundamente o ocorrido e espera que o debate gerado sirva de aprendizado. Nós acreditamos em ações afirmativas e propositivas e também que a empatia é a melhor alternativa para a construção de uma sociedade mais justa, em que as desigualdades históricas do País sejam debatidas e enfrentadas. Em busca da evolução constante que sempre nos pautou, aproveitamos a reflexão gerada para ampliar as vozes dentro da equipe e criar, em caráter permanente, um fórum formado por ativistas e estudiosos que ajudarão a definir conteúdos e imagens que combatam essas desigualdades.

Uma publicação compartilhada por donatameirelles (@donatameirelles) em

 

 

Visualizar esta foto no Instagram.

 

Ontem comemorei meus 50 anos em Salvador, cidade de meu marido e que tanto amo. Não era uma festa temática. Como era sexta-feira e a festa foi na Bahia, muitos convidados e o receptivo estavam de branco, como reza a tradição. Mas vale também esclarecer: nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa. Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas. Respeito a Bahia, sua cultura e suas tradições, assim como as baianas, que são Patrimônio Imaterial desta terra que também considero minha e que recebem com tanto carinho os visitantes no aeroporto, nas ruas e nas festas. Mas, como dizia Juscelino, com erro não há compromisso e, como diz o samba, perdão foi feito para pedir.

Uma publicação compartilhada por donatameirelles (@donatameirelles) em

Please follow and like us:

Comente

comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.