E no dia de reis, as rainhas brilham
Acordo, após um domingo cansativo, com a notícia de que o Globo de Ouro de melhor atriz foi para Fernanda Torres por interpretar Eunice Paiva em “Ainda estou aqui”, filme de Walter Salles. Confesso que na noite anterior dormi, pensando que o mundo do cinema poderia cometer a mesma injustiça de 25 anos atrás, quando Fernanda Montenegro foi indicada à melhor atriz pelo filme Central do Brasil também do diretor Walter Salles. Mas ela não levou troféu para casa.
Ainda ontem pensava o quanto emocionante deve ser para Fernanda Montenegro, aos seus 95 anos, ver a filha passar pelo mesmo processo que ela viveu, e quanto angustiante devem ser os minutos até o anúncio do resultado. E que decepção seria para ela, e o país, não ver esse dia histórico. Hoje, ao ler a notícia imaginei aquele seu rosto sereno que acompanha tantas gerações, vibrando de alegria. Uma cena de novela, uma cena de cinema, uma realidade brasileira, finalmente! E, posteriormente, assisti ao vídeo que foi publicado inicialmente em um story no instagram e já se espalha nas mais diversas redes. Emocionante!
Se 25 anos atrás já houvesse a cultura das redes sociais, torcida não faltaria para Montenegro. A imagem de Fernanda Torres publicada há sete semanas no instagram do Oscar (@theacademy) tem quase 3 milhões de curtidas, números que nenhuma postagem recente do perfil conseguiu alcançar.
Hoje, os trabalhadores da cultura que há 25 anos atrás sentiram-se injustiçados, acordam emocionados, vibrando por esta conquista como se todo dia de insistir em fazer cultura valesse mais a pena. Sim, reconhecimento faz diferença. É como se Torres tivessem vingado toda uma geração que vem lutando pela cultura e que, assim como Montenegro, merecia o reconhecimento há quase 3 décadas.
Os posts e memes já se espalham pelas redes fazendo jus a tais sentimentos. E o doce sabor de justiça vem em dose dupla com o sucesso do filme, inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, ao fazer o mundo conhecer e refletir sobre a injustiça das centenas de famílias brasileiras que perderem seus entes queridos durante ditadura militar brasileira.
Marcelo escreve a história da sua família, especialmente sua mãe Eunice de Paiva e pai deputado Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello), que foi cassado, preso, torturado, morto em 1971 e dado como desaparecido. Com a criação da Comissão da Verdade criada em 2011 no governo Dilma (que também foi vítima de tortura no período da ditadura), sua morte, foi finalmente confirmada e contestada (40 anos mais tarde). O MPF acusou cinco militares, incluindo o comandante do DOI, José Antônio Nogueira Belham, e outros quatro envolvidos na farsa do resgate de Paiva.
O caso foi paralisado por uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), que alegou que os crimes estavam abrangidos pela Lei da Anistia. Com a morte de Teori Zavascki, a ação foi arquivada no STF e, em 2018, foi encaminhada para o ministro Alexandre de Moraes que em 24 de outubro deste ano, determinou que a Procuradoria Geral da República se manifeste sobre o mérito do tema. Ainda em 2024, governo federal em parceria com a prefeitura de Petrópolis-RJ desapropria “A Casa da Morte”, um dos principais espaços de tortura e investe 1,4 milhões para construção de um memorial às vítimas da ditadura. Três dos acusados do caso Rubens Paiva já faleceram.
Com a repercussão do filme de Walter Salles, se reacende os olhos para passado, a justiça e a esperança, mediante a um país que depois de décadas de impunidade teve em janeiro de 2023, sua matriz invadida e depredada por aqueles que novamente tentaram dar um golpe à democracia e hoje pedem anistia.
Que a história e luta de Eunice de Paiva siga sendo louvada pela cultura nacional e internacional. Que a arte siga, por vezes, cumprindo o papel de estado, despertando consciências, que seus artistas sigam sendo apreciados, que nunca falte recursos para a arte e a educação transformadora, e que a frase “que a história nunca mais se repita” vingue.
Por Eunices, por Fernandas, Marcelos, Walters, Rubens, Seltons, Marias, Brunos, Rodrigos, Julianas, Anas, Dilmas, Luises e tantos outros filhas e filhos que nunca fugiram à luta, as mães e pais gentis dessa pátria, hoje, o brasileiro acorda de alma lavada.
Óh pátria amada, o globo de Ouro é nosso!… e o hino também!
#semanistia
Mel Inquieta (Melina Guterres)
Jornalista, produtora cultural, CEO e fundadora da Rede Sina.
Fernanda Torres wins Golden Globe and Brazilians cleanse their souls | by Mel Inquieta
And on Kings Day, queens shine
I woke up after a tiring Sunday to the news that the Golden Globe for best actress went to Fernanda Torres for playing Eunice Paiva in “I’m Still Here,” a film by Walter Salles. I confess that the night before I went to sleep thinking that the world of cinema could commit the same injustice as 25 years ago, when Fernanda Montenegro was nominated for best actress for the film Central do Brasil, also by director Walter Salles. But she didn’t take home the trophy.
Just yesterday I was thinking about how emotional it must be for Fernanda Montenegro, at 95 years old, to see her daughter go through the same process she went through, and how distressing the minutes until the results are announced must be. And what a disappointment it would be for her, and for the country, not to see this historic day. Today, when I read the news, I imagined that serene face of hers that has accompanied so many generations, vibrating with joy. A scene from a soap opera, a scene from a movie, a Brazilian reality, finally! And then I watched the video that was initially published in an Instagram story and is already spreading across the most diverse networks. Exciting!
If social media culture had already existed 25 years ago, Montenegro would have been cheering for her. The image of Fernanda Torres published seven weeks ago on the Oscar Instagram (@theacademy) has almost 3 million likes, numbers that no recent post on the profile has managed to reach.
Today, cultural workers who felt wronged 25 years ago wake up excited, celebrating this achievement as if every day of insisting on creating culture was more worthwhile. Yes, recognition makes a difference. It is as if Torres had avenged an entire generation that has been fighting for culture and that, like Montenegro, deserved recognition for almost 3 decades.
Posts and memes are already spreading across social media, honoring these feelings. And the sweet taste of justice comes in double doses with the success of the film, inspired by the book of the same name by Marcelo Rubens Paiva, by making the world aware of and reflecting on the injustice of the hundreds of Brazilian families who lost their loved ones during the Brazilian military dictatorship.
Marcelo writes the story of his family, especially his mother Eunice de Paiva and father, congressman Rubens Paiva (played by Selton Mello), who was impeached, arrested, tortured, killed in 1971 and reported missing. With the creation of the Truth Commission in 2011 during Dilma’s government (who was also a victim of torture during the dictatorship), his death was finally confirmed and contested (40 years later). The MPF charged five military personnel, including the commander of the DOI, José Antônio Nogueira Belham, and four others involved in the farce of Paiva’s rescue.
The case was halted by an injunction from the Federal Supreme Court (STF), which claimed that the crimes were covered by the Amnesty Law. With the death of Teori Zavascki, the case was shelved by the STF and, in 2018, it was forwarded to Minister Alexandre de Moraes, who on October 24 of this year, ordered the Attorney General’s Office to comment on the merits of the matter. Also in 2024, the federal government, in partnership with the city of Petrópolis-RJ, will expropriate “A Casa da Morte”, one of the main torture centers, and invest 1.4 million to build a memorial to the victims of the dictatorship. Three of the defendants in the Rubens Paiva case have already died.
With the impact of Walter Salles’ film, our eyes are rekindled on the past, justice and hope, through a country that, after decades of impunity, had its roots invaded and plundered in January 2023 by those who once again tried to overthrow democracy and are now asking for amnesty.
May the story and struggle of Eunice de Paiva continue to be praised by national and international culture. May art continue, at times, to fulfill the role of the state, awakening consciences, may its artists continue to be appreciated, may there never be a lack of resources for art and transformative education, and may the phrase “may history never repeat itself” prevail.
For Eunices, for Fernandas, Marcelos, Walters, Rubens, Seltons, Marias, Brunos, Rodrigos, Julianas, Anas, Dilmas, Luises and so many other daughters and sons who never shied away from the fight, the kind mothers and fathers of this country, today, Brazilians wake up with a cleansed soul.
Oh beloved country, the Golden Globe is ours!… and the anthem too!
#semanistia
Restless Mel (Melina Guterres)
Journalist, cultural producer, CEO and founder of Rede Sina.
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Fernanda Torres se lleva el Globo de Oro y el brasileño se lava el alma | por Mel Inquieta
Y el día de Reyes, las reinas brillan
Me despierto, después de un domingo agotador, con la noticia de que el Globo de Oro a la mejor actriz fue para Fernanda Torres por interpretar a Eunice Paiva en “Aquí sigo”, película de Walter Salles. Confieso que la noche anterior me dormí pensando que el mundo del cine podría cometer la misma injusticia que hace 25 años, cuando Fernanda Montenegro fue nominada a mejor actriz por la película Central do Brasil, también del director Walter Salles. Pero no se llevó ningún trofeo a casa.
Precisamente ayer pensaba en lo emotivo que debe ser para Fernanda Montenegro, a sus 95 años, ver a su hija pasar por el mismo proceso que ella pasó, y lo angustioso que deben ser los minutos hasta que se anuncie el resultado. Y qué decepción sería para ella y para el país no ver este día histórico. Hoy, cuando leí la noticia, imaginé ese rostro tuyo sereno que acompaña a tantas generaciones, vibrando de alegría. Una escena de telenovela, una escena de película, una realidad brasileña, ¡por fin! Y, después, vi el vídeo que inicialmente se publicó en una historia de Instagram y que ahora se ha difundido por las más diversas redes. ¡Emocionante!
Si hace 25 años ya existiera una cultura de las redes sociales, en Montenegro no faltarían aficionados. La imagen de Fernanda Torres publicada hace siete semanas en el Instagram de Oscar (@theacademy) cuenta con casi 3 millones de me gusta, cifras que ninguna publicación reciente en el perfil ha logrado alcanzar.
Hoy, los trabajadores culturales que hace 25 años se sentían agraviados, amanecen emocionados, emocionados por este logro, como si cada día de insistir en crear cultura valiera más la pena. Sí, el reconocimiento marca la diferencia. Es como si Torres se hubiera vengado de toda una generación que ha estado luchando por la cultura y que, al igual que Montenegro, mereció reconocimiento durante casi 3 décadas.
Publicaciones y memes ya están circulando por las redes, haciendo justicia a esos sentimientos. Y el dulce sabor de la justicia viene en doble dosis con el éxito de la película, inspirada en el libro homónimo de Marcelo Rubens Paiva, ya que hace que el mundo conozca y reflexione sobre la injusticia de los cientos de familias brasileñas que perdieron su sus seres queridos durante la dictadura militar brasileña.
Marcelo escribe la historia de su familia, especialmente de su madre Eunice de Paiva y su padre diputado Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello), quien fue acusado, arrestado, torturado, asesinado en 1971 y denunciado como desaparecido. Con la creación de la Comisión de la Verdad creada en 2011 durante el gobierno de Dilma (quien también fue víctima de torturas durante la dictadura), su muerte fue finalmente confirmada y cuestionada (40 años después). El MPF acusó a cinco militares, entre ellos el comandante del DOI, José Antônio Nogueira Belham, y a otros cuatro involucrados en la farsa de rescate de Paiva.
El caso fue paralizado por un recurso del Supremo Tribunal Federal (STF), que afirmó que los delitos estaban cubiertos por la Ley de Amnistía. Con la muerte de Teori Zavascki, la acción fue interpuesta ante el STF y, en 2018, fue remitida al ministro Alexandre de Moraes quien, el 24 de octubre de este año, ordenó al Ministerio Público pronunciarse sobre el fondo del asunto. Aún en 2024, el gobierno federal, en colaboración con la ciudad de Petrópolis-RJ, expropia “A Casa da Morte”, uno de los principales espacios de tortura e invierte 1,4 millones para construir un monumento a las víctimas de la dictadura. Tres de los imputados en el caso Rubens Paiva ya fallecieron.
Con la repercusión de la película de Walter Salles, se reavivan las miradas hacia el pasado, la justicia y la esperanza, a través de un país que, tras décadas de impunidad, vio su sede invadida y vandalizada por quienes una vez más intentaron darle un golpe a la democracia y hoy. Están pidiendo amnistía.
Que la historia y la lucha de Eunice de Paiva sigan siendo elogiadas por la cultura nacional e internacional. Que el arte siga, por momentos, cumpliendo el papel del Estado, despertando conciencias, que sus artistas sigan siendo apreciados, que nunca falten recursos para el arte y la educación transformadora, y que la frase “que la historia nunca se repita” otra vez” prevalecen.
Por Eunices, por Fernandas, Marcelos, Walters, Rubens, Seltons, Marías, Brunos, Rodrigos, Julianas, Anas, Dilmas, Luises y tantas otras hijas e hijos que nunca huyeron de la lucha, las gentiles madres y padres de este país. Hoy, los brasileños se despiertan con el alma limpia.
¡Oh amado país, el Globo de Oro es nuestro!… ¡y el himno también!
#semanistia
Mel inquieta (Melina Guterres)
Periodista, productora cultural, directora ejecutiva y fundadora de Rede Sina.
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Fernanda Torres remporte le Golden Globe et le Brésilien se lave l’âme | par Mel Inquieta
Et le jour des Rois, les reines brillent
Je me réveille, après un dimanche fatigant, avec la nouvelle que le Golden Globe de la meilleure actrice a été attribué à Fernanda Torres pour son rôle d’Eunice Paiva dans « Je suis toujours là », un film de Walter Salles. J’avoue que la veille du coucher, j’ai pensé que le monde du cinéma pourrait commettre la même injustice qu’il y a 25 ans, lorsque Fernanda Monténégro a été nominée pour la meilleure actrice pour le film Central do Brasil, également du réalisateur Walter Salles. Mais elle n’a pas remporté de trophée.
Hier encore, je pensais à quel point cela devait être émouvant pour Fernanda Monténégro, à 95 ans, de voir sa fille traverser le même processus qu’elle a traversé, et à quel point les minutes qui attendraient l’annonce du résultat devaient être pénibles. Et quelle déception ce serait pour elle et pour le pays de ne pas assister à ce jour historique. Aujourd’hui, en lisant l’actualité, j’ai imaginé ton visage serein qui accompagne tant de générations, vibrant de joie. Une scène de feuilleton, une scène de film, une réalité brésilienne, enfin ! Et, plus tard, j’ai regardé la vidéo qui avait été initialement publiée dans une story Instagram et qui s’est désormais répandue sur les réseaux les plus divers. Passionnant!
S’il y avait déjà une culture des médias sociaux il y a 25 ans, les fans ne manqueraient pas au Monténégro. L’image de Fernanda Torres publiée il y a sept semaines sur l’Instagram d’Oscar (@theacademy) compte près de 3 millions de likes, des chiffres qu’aucune publication récente sur le profil n’a réussi à atteindre.
Aujourd’hui, les travailleurs culturels qui, il y a 25 ans, se sentaient lésés, se réveillent enthousiasmés par cette réussite, comme si chaque jour passé à insister pour créer de la culture valait plus la peine. Oui, la reconnaissance fait la différence. C’est comme si Torres avait vengé toute une génération qui s’est battue pour la culture et qui, comme le Monténégro, méritait d’être reconnue depuis près de trois décennies.
Les messages et les mèmes se répandent déjà sur les réseaux, rendant justice à de tels sentiments. Et le doux goût de la justice vient à double dose avec le succès du film, inspiré du livre du même nom de Marcelo Rubens Paiva, car il fait connaître au monde et réfléchir sur l’injustice des centaines de familles brésiliennes qui ont perdu leur leurs proches pendant la dictature militaire brésilienne.
Marcelo écrit l’histoire de sa famille, en particulier de sa mère Eunice de Paiva et de son père adjoint Rubens Paiva (joué par Selton Mello), qui ont été mis en accusation, arrêtés, torturés, tués en 1971 et portés disparus. Avec la création de la Commission Vérité créée en 2011 sous le gouvernement de Dilma (qui fut également victime de torture pendant la dictature), sa mort fut enfin confirmée et contestée (40 ans plus tard). Le MPF a accusé cinq militaires, dont le commandant du DOI, José Antônio Nogueira Belham, et quatre autres personnes impliquées dans la farce du sauvetage de Paiva.
L’affaire a été interrompue par une décision du Tribunal fédéral (STF), qui a déclaré que les crimes étaient couverts par la loi d’amnistie. Avec le décès de Teori Zavascki, l’action a été déposée auprès du STF et, en 2018, elle a été transmise au ministre Alexandre de Moraes qui, le 24 octobre de cette année, a ordonné au parquet général de commenter le fond de l’affaire. Toujours en 2024, le gouvernement fédéral, en partenariat avec la ville de Petrópolis-RJ, exproprie « A Casa da Morte », l’un des principaux espaces de torture et investit 1,4 million pour construire un mémorial aux victimes de la dictature. Trois des accusés dans l’affaire Rubens Paiva sont déjà décédés.
Avec la répercussion du film de Walter Salles, les regards se tournent vers le passé, la justice et l’espoir, à travers un pays qui, après des décennies d’impunité, a vu son siège envahi et vandalisé par ceux qui ont tenté une fois de plus de porter un coup à la démocratie et aujourd’hui ils demandent l’amnistie.
Que l’histoire et le combat d’Eunice de Paiva continuent d’être salués par la culture nationale et internationale. Que l’art continue, parfois, à remplir le rôle de l’État, en éveillant les consciences, que ses artistes continuent à être appréciés, que les ressources pour l’art et l’éducation transformatrice ne manquent jamais, et que la phrase « que l’histoire ne se répète jamais » encore une fois » prévalent.
Pour Eunices, pour Fernandas, Marcelos, Walters, Rubens, Seltons, Marias, Brunos, Rodrigos, Julianas, Anas, Dilmas, Luises et tant d’autres filles et fils qui n’ont jamais fui le combat, les douces mères et pères de ce pays , aujourd’hui, les Brésiliens se réveillent avec une âme purifiée.
Oh pays bien-aimé, le Golden Globe est à nous !… et l’hymne aussi !
#sémanistie
Mel agitée (Melina Guterres)
Journaliste, producteur culturel, PDG et fondateur de Rede Sina.
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Fernanda Torres conquista il Golden Globe e il brasiliano si lava l’anima | di Mel Inquieta
E nel Kings Day, le regine brillano
Mi sveglio, dopo una domenica faticosa, con la notizia che il Globo d’Oro come migliore attrice è andato a Fernanda Torres per aver interpretato Eunice Paiva in “Sono ancora qui”, film di Walter Salles. Confesso che la notte prima mi sono addormentata, pensando che il mondo del cinema potesse commettere la stessa ingiustizia di 25 anni fa, quando Fernanda Montenegro fu nominata come migliore attrice per il film Central do Brasil, sempre del regista Walter Salles. Ma non ha portato a casa un trofeo.
Proprio ieri pensavo a quanto deve essere emozionante per Fernanda Montenegro, all’età di 95 anni, vedere sua figlia affrontare lo stesso processo che ha vissuto lei, e quanto devono essere angoscianti i minuti fino all’annuncio del risultato. E che delusione sarebbe per lei, e per il Paese, non vedere questo giorno storico. Oggi, quando ho letto la notizia, ho immaginato quel tuo volto sereno che accompagna tante generazioni, vibrare di gioia. Una scena di una telenovela, una scena di un film, una realtà brasiliana, finalmente! E, più tardi, ho guardato il video che inizialmente è stato pubblicato in una storia di Instagram e ora si è diffuso sui network più diversi. Emozionante!
Se 25 anni fa esistesse già la cultura dei social media, in Montenegro i tifosi non mancherebbero. L’immagine di Fernanda Torres pubblicata sette settimane fa sull’Instagram di Oscar (@theacademy) ha quasi 3 milioni di like, numeri che nessun post recente sul profilo è riuscito a raggiungere.
Oggi, gli operatori culturali che 25 anni fa si sentivano offesi, si svegliano emozionati, entusiasti di questo risultato, come se ogni giorno in cui si insistesse nel creare cultura valesse più la pena. Sì, il riconoscimento fa la differenza. È come se Torres avesse vendicato un’intera generazione che lotta per la cultura e che, come il Montenegro, merita riconoscimento da quasi 3 decenni.
Post e meme si stanno già diffondendo sulle reti, rendendo giustizia a tali sentimenti. E il dolce sapore della giustizia si sposa doppiamente con il successo del film, ispirato all’omonimo libro di Marcelo Rubens Paiva, che fa conoscere e riflettere il mondo sull’ingiustizia di centinaia di famiglie brasiliane che hanno perso la propria famiglia. cari durante la dittatura militare brasiliana.
Marcelo scrive la storia della sua famiglia, in particolare di sua madre Eunice de Paiva e del vice padre Rubens Paiva (interpretato da Selton Mello), che fu messo sotto accusa, arrestato, torturato, ucciso nel 1971 e dichiarato disperso. Con la creazione della Commissione per la Verità creata nel 2011 durante il governo di Dilma (anche lei vittima di torture durante la dittatura), la sua morte è stata finalmente confermata e contestata (40 anni dopo). L’MPF ha accusato cinque militari, tra cui il comandante del DOI, José Antônio Nogueira Belham, e altri quattro coinvolti nella farsa del salvataggio di Paiva.
Il caso è stato archiviato da un’ingiunzione della Corte Suprema Federale (STF), la quale ha affermato che i crimini erano coperti dalla legge sull’amnistia. Con la morte di Teori Zavascki, il ricorso è stato depositato presso la STF e, nel 2018, è stato trasmesso al ministro Alexandre de Moraes che, il 24 ottobre di quest’anno, ha ordinato alla Procura generale di pronunciarsi nel merito della questione. Sempre nel 2024, il governo federale, in collaborazione con la città di Petrópolis-RJ, espropria “A Casa da Morte”, uno dei principali spazi di tortura e investe 1,4 milioni per costruire un memoriale alle vittime della dittatura. Tre degli imputati nel caso Rubens Paiva sono già morti.
Con la ripercussione del film di Walter Salles, gli occhi si riaccendono sul passato, sulla giustizia e sulla speranza, attraverso un Paese che, dopo decenni di impunità, ha visto le sue sedi invase e vandalizzate da coloro che ancora una volta hanno tentato di dare un colpo alla democrazia e oggi chiedono l’amnistia.
Possa la storia e la lotta di Eunice de Paiva continuare ad essere lodate dalla cultura nazionale e internazionale. Che l’arte continui, a volte, a svolgere il ruolo dello Stato, risvegliando le coscienze, che i suoi artisti continuino ad essere apprezzati, che non manchino mai le risorse per l’arte e l’educazione trasformativa, e che la frase “che la storia non si ripeta mai” ancora una volta” prevalgono.
Per Eunices, per Fernandas, Marcelos, Walters, Rubens, Seltons, Marias, Brunos, Rodrigos, Julianas, Anas, Dilmas, Luises e tante altre figlie e figli che non sono mai fuggiti dalla lotta, le gentili madri e padri di questo paese , oggi, i brasiliani si svegliano con l’anima purificata.
Oh amato Paese, il Golden Globe è nostro!… e anche l’inno!
#semanistia
Mel irrequieto (Melina Guterres)
Giornalista, produttore culturale, amministratore delegato e fondatore di Rede Sina.
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