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ENTREVISTA: PAULO BETTI – “Autobiografia Autorizada”


Por Melina Guterres da Rede Sina

Quero que o público se transporte, que as palavras e a imagens façam com que participem da minha história e ao mesmo tempo recriem as suas próprias.

A REDE SINA conversou com o ator Paulo Betti, que vai estar em cartaz com sua “Autobiografia Autorizada” ,nos dias 27 e 28, às 20h, no Theatro Treze de Maio em Santa Maria-RS. A peça traz a infância e a adolescência do ator no interior de São Paulo, tempo humilde em que nem sonhava em inscrever seu nome no rol dos grandes atores do país, histórias que servem de base para o monólogo.

“Autobiografia Autorizada” recebeu unanimidade de críticas positivas e a indicação para o prêmio Shell de melhor texto. A montagem é um amálgama do Brasil profundo, inspirada pela inusitada história de superação do ator, que percorre o trajeto riquíssimo da roça à cidade.

Na entrevista, Betti conta  que foi uma espectadora, a artista plástica Ana Macedo, que incentivou a vida da sua peça para Santa Maria.  Questionada, Ana Macedo diz que se trata de “um encontro poético com o homem que atravessou fronteiras, partiu do interior pra conquistar outros mundos, se tornou reconhecido e voltou pra revisitar suas origens, no resgate de suas memórias, nas lembranças de menino, jovem e adulto.”

Sobre interpretar a si mesmo, Betti reflete:  “É uma delicia, ao mesmo tempo é doloroso, não tenho uma personagem para me esconder… se bem que os personagens mais nos revelam que escondem. Talvez representando a mim mesmo, eu esteja mais escondido que nunca.”

Agora é só ir ao teatro e descobrir mais desse maravilho ator, que se revela e esconde ao mesmo tempo.

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Dia: 27 e 28 de setembro

Hora: 20h

Local: Theatro Treze de Maio de Santa Maria-RS

REDE SINA – Por que um espetáculo autobiográfico neste momento? Quem é o Paulo Betti que vamos ver no palco?

PAULO BETTI: Sempre quis fazer um monólogo contando minha vida; Como foi minha infância, as condições, os sonhos, as histórias de meus avós, pais. Meu avô, por exemplo, era um imigrante italiano que trabalhava a meia para um fazendeiro negro. Veja, não é uma situação muito comum… eu ia para a roça e via a Casa Grande do ponto de vista da senzala. Minha mãe era uma empregada doméstica analfabeta que teve 15 filhos. Eu fui o décimo quinto, temporão, dez anos depois da minha mãe ter tido os outros 14. Quando ela tinha 45 anos, eu nasci,não é muito normal, né? Por isso escrevi o monólogo.

REDE SINA – A escolha pela carreira artística se deu quando na sua vida? Foi uma escolha? Essa passagem é revelada no espetáculo?

Acho que eu era menino quando comecei a representar, a declamar nas aulas de português, a ler os textos na missa. Acho que a peça mostra o universo fantasioso onde fui criado, as contradições, a loucura.

REDE SINA – Como seu deu o processo de criação do texto do espetáculo? Como foi transformar memórias em arte? Como foi fazer o recorte das suas memórias? Selecionar foi difícil?pb3

Eu sempre anotei muito, fui um menino anotador. Quando resolvi fazer a peça, escrevê-la, percebi que tinha inúmeros cadernos e um cadernão especial, onde tudo estava anotado. A peça estava pronta. Quase tudo que produzimos, em arte, está relacionado com nossa memória, portanto isso é um processo natural. Estou mergulhado nas minhas memórias e aproveito para ler “Em busca do tempo perdido “, de Proust. Essa viagem não tem fim.

REDE SINA – Como é para você depois de tantos anos interpretando outros personagens, interpretar a si mesmo?

É uma delicia, ao mesmo tempo é doloroso, não tenho uma personagem para me esconder, se bem que os personagens mais nos revelam que escondem. Talvez representando a mim mesmo eu esteja mais escondido que nunca.

REDE SINA – Na peça, você retrata a sua história de vida desde de sua infância. Faz referência também a vida de ator? Faz referência a algum personagem que já tenha interpretado na televisão ou cinema?

Não. A peça é um recorte no tempo que compreende minha infância e minha adolescência, de 52 a 72. Isso compreende ao momento em que comecei a ser ator, quando fui para escola de teatro. Falo também de algumas experiências com rádio e dublagem, mas não me refiro aos personagens que fiz no cinema e na televisão.

REDE SINA – De todas linguagens que já trabalhou (cinema, TV, teatro) existe alguma preferida? Como soam as diferenças entre elas para você?

Acho que elas se complementam. Falta falar também do rádio, cada uma tem sua especificidade. Paulo Autran, grande e saudoso ator, costumava dizer que o teatro é do ator, o cinema do diretor e a televisão do patrocinador. Tirando a brincadeira, gosto de representar, onde quer que seja.

REDE SINA – Existe uma preocupação em separar o Paulo Betti, cidadão anônimo do artista reconhecido nacionalmente? Como é lidar com a imagem dos outros e imagem de si mesmo?

Conto minha historia, dos meus pais, dos meus irmãos dos meus avós. Claro que não falo mal de mim mesmo, mas revelo meus temores e minhas deficiências, procuro usar sempre o humor e a poesia. Minha peça é 50% humor, 25% poesia e 25% drama.

REDE SINA – O que você quer comunicar ao seu público nesse trabalho especificamente?pb2

Quero que o público se transporte, que as palavras e a imagens façam com que participem da minha história e, ao mesmo, tempo recriem as suas próprias.

REDE SINA – Você tem viajado com a peça? Como tem sido para você?

Sim tenho viajado muito, adoro observar as diferentes reações das plateias, a peça me revigora! Antes de começar acho que vou morrer, que não vou conseguir. Quando acaba me sinto recarregado. É doloroso receber em cena meus pais e avós, reviver tantas lembranças mas, ao mesmo tempo é uma delícia, um prazer um privilégio poder contar minha história de vida. Quem não gosta de fazer isso? A platéia geralmente me espera no final para me contar algumas de suas histórias também.

REDE SINA – Já esteve em Santa Maria? O que pensa da cidade?

Estive em Santa Maria e fiquei com a grata recordação de uma gente que gosta de teatro. Adoro as cidades que tem público que gosta de teatro. Fiquei com excelente impressão da cidade. Estive aí fazendo a peça “O inimigo do Povo”, conheci e adorei a Sra. Ruth que programa o teatro e nasceu uma admiração mútua. Por isso estou indo para Santa Maria com essa peça. Também por interferência de uma espectadora, (Ana Macedo),  que viu a peça no teatro dos Correios, aqui no Rio e achou que tinha tudo a ver eu levar a peça para Santa Maria. Certamente foi essa espectadora especial que me convenceu, com sua sensibilidade. Foi ela também que falou com a Sra. Ruth para convidar a gente!

REDE SINA – Pode falar de política? Se sim, como vê a situação atual do Brasil?

Estou tão triste.  Às vezes, me deprimo mas, então, penso que tenho que lutar a todo momento. A vida é luta, a política é luta, pena que ela seja uma luta tão desigual, mas de qualquer maneira vale a pena não esmorecer. De qualquer maneira não tem jeito mesmo, se não lutar ou lutando somos esmagados, o Brasil é um país injusto.

REDE SINA – Qual a sua sina?

Minha sina é ser ator.

Confira agora o que diz a expectadora que Paulo Betti cita na entrevista, Ana Macedo.

 

ana-pbANA MACEDO – Artista Plástica 

“Salve! Vc foi a responsável!”
Esta foi a saudação de Paulo Betti, assim que lhe dei as boas-vindas, ao saber que sua peça “Autobiografia Autorizada”, estava na programação do Theatro Treze de Maio. Generosidade sua, apenas fui ponte pra sua travessia, que chegará a Santa Maria, depois de rodar o Brasil, com muito sucesso!
Em 2015, assisti “Autobiografia Autorizada”, belamente escrita e interpretada, por Paulo Betti, o protagonista da sua própria história, girando na sua memória, na palma da sua mão, como um peão, seu brinquedo de menino, que até hoje o acompanha. Uma linda cena de reverência, num ritual de fé, abre a peça, nos mostrando a direção que nos levará a algo sagrado, de sublime emoção. Com cenário de luz e projeções lindas e elementos de cena, que apoiam o texto, numa cumplicidade admirável, o espetáculo ganha forma. “Pequeno” é o significado do nome Paulo e grandiosa é sua interpretação ao representar-se “gente como a gente”, com uma história de vida a ser reconhecida, resgatada, valorizada e, acima de tudo, amada! Assim, “Autobiografia Autorizada”, se apresentou pra mim, como uma peça de singular beleza, desenhada na linha da vida deste grande ator, que nos conta com veracidade, amorosidade e dramaticidade, a riqueza de detalhes de suas lembranças que nos envolvem, dialogando com nossas próprias lembranças, numa volta ao tempo com sabor de saudade, delicadeza, humor, simplicidade, pureza e espiritualidade! Um encontro poético com o homem que atravessou fronteiras, partiu do interior pra conquistar outros mundos, se tornou reconhecido e voltou pra revisitar suas origens, no resgate de suas memórias, nas lembranças de menino, jovem e adulto. Tudo permanece vivo dentro dele e na peça tudo ganha vida, num reencontro com sua família, seus avós, pais, irmãos, cunhados, tios, amigos e outros personagens do seu passado! Ele ressurge na sua cidade, na sua rua, na sua casa-subsolo, no quintal da sua infância, com parreiras de uvas pretas e brancas, nos campos dourados de trigo, na igreja, na escola, na feira, nas brincadeiras, nas músicas, em todas as peças que montaram os seus dias, plenos de descobertas, cores, sons, cheiros e sabores! Emocionante, perceber entre suas falas, reflexões e risos, a expressão da força interior que o movimenta, ela brota da fonte do seu coração, da sua alma, da sua mente, do seu talento, da sua coragem, dos seus pés descalços, tocando suavemente o palco, como se fosse o ventre da sua terra mãe, o solo da sua “Sorocaba, Terra Rasgada”. Como ele disse, ainda que distante, “longe dos olhos, mas perto do coração”! Há uma aproximação, um momento mágico em que ele interagi com o público, estendendo suas mãos, com um sorriso aberto, cheio de alegria e simpatia, um olhar que brilha, emocionando o outro, mais que um simples cumprimento, um gesto de reverência e gratidão à plateia, a sua própria vida! Felizmente, ele também passou por mim, história e personagem me tocaram! Me reconheci em vários momentos da peça, pois também sou do interior, venho de uma grande família, criada com muito amor, sou a sétima dos filhos e, como ele, sou temporona, a rapa do tacho! Muitas das suas memórias de infância, também foram minhas, mas a mais tocante, talvez por ser tão inusitada, foi a promessa de ganhar um pônei do meu pai, pra andar no pátio de casa! Promessa jamais cumprida! Também aguardo até hoje! rsrsrsrsrs Minha gratidão, por este encontro encantador, em tempos que também volto pra minha terra natal, pra casa da minha infância, no encontro com minhas raízes, na missão de resgatar e preservar nossas memórias!

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