Por Melina Guterres da REDE SINA
“Minha sina é estar junto da terra, me conectar com ela de alguma forma, dialogar com o que ela nos provê, e isso pode ser feito por infinitas ferramentas e formas diferentes.
Hoje faço isso esteticamente, pretendendo passar as pessoas a consciência da importância de preservação do nosso planeta.” – Claire Alice Jean –
“Uma pessoa livre, vivo o presente com intensidade procurando não deixar as oportunidades escapar, deixando o vento me levar de maneira orgânica . Um pouco anti-social me sentindo melhor no silêncio da natureza”, assim se define a artista e fotógrafa Claire Jean (França- FRA, radicada no Brasil há mais de 30 anos). Bacharel em Bioquímica pela Université de Strasbourg na França (1976), com diploma BTS Arts Plastiques (1985). Seu trabalho com a fotografia teve inicio em 2003 onde usou de diversas técnicas de criação artística: arranjos florais com natureza morta, batik, pintura, escultura, cerâmica, decoração. Sobre o processo de descoberta da arte, ela afirma: “Eu sempre gostei de artes gráficas, de desenhos, de estética, portanto a paixão pela fotografia começou como essa transição, numa terapia para superar uma fase difícil da minha vida, justamente onde o papel da ciência e bioquímica era triviais, a arte veio trazer o etéreo necessário.”
De lá até 2011 conviveu e fotografou a comunidade indígena Potiguara, em Baía da Traição (PB), com ênfase na pluralidade cultural das manifestações artísticas que se inserem nos rituais indígenas daquela comunidade. Paralelamente, com a fotografia trabalhou para o modelo Bruno Santos (2004) e os artistas Celene Sitônio (2005), Maria dos Mares (2009/2010) e outros. Em 2010 iniciou trabalhos com o Coletivo Performático Projeto Salamandra, mesmo ano em que também iniciou trabalhos com o Teatro Oficina Uzina Uzona.
Para ela, “a obra ao fim é uma provocação, pra quem é fotografado, pra o público e inclusive pra mim”, diz.
Mas foi em 2005, depois da experiência com as comunidades indígenas, que iniciou o seu trabalho com pintura corporal integrando o corpo à natureza, “ora em processo de amálgama, ora em polaridade”, diz.
“Meu trato com o feminino é através da natureza, ela me traz muita delicadeza, também agressividade e brutalidade, tal como as personalidades das mulheres. Ela sim, é a grande mãe feminina, os corpos são frutos dela, mãe terra. Não tenho predileção por fotografar masculino ou feminino. Cada corpo tem suas características expressivas. Já fotografei corpos masculinos de extrema delicadeza e expressão, não há essa distinção, cada ser é único.”, afirma em entrevista à Rede Sina.
O resultado de todas essas experiências você pode conferir na galeria após a entrevista, assim como prêmios, exposições e publicações da artista.
REDE SINA: De que maneira a bioquímica se conecta com a artista? Quando começa a sua paixão pela fotografia?
CJ: A bioquímica ou a ciência em geral não estão evoluindo no mesmo plano que a criação artística, e é provavelmente essa diferença que traz a fecundidade da conexão. A arte necessita do combustível que o mundo científico oferece. No entanto, o artista e o cientista lidam com o processo criativo. Eu sempre gostei de artes gráficas, de desenhos, de estética, portanto a paixão pela fotografia começou como essa transição, numa terapia para superar uma fase difícil da minha vida, justamente onde o papel da ciência e bioquímica era triviais, a arte veio trazer o etéreo necessário. Portanto acredito nessa simbiose, mesmo que estejam em diferentes lugares do tempo e espaço. Talvez tenha sido essa mudança bioquímica que se passou no meu corpo que permitiu o novo olhar para trabalhar minha arte. Ou talvez tenha simplesmente ganhado ímpeto pra trabalhar de forma mais ousada os desejos que existiam em mim.
REDE SINA:Quando e como iniciou a criação da arte com a fotografia?
CJ: Comecei há 15 anos já com a era digital, fotografando tudo, aprendendo praticando e lendo. O estilo artístico veio naturalmente com a necessidade de criar combinando os dois elementos que eu gosto, o corpo humano e a natureza dando ênfase a ambos. Os corpos pintados revelam a beleza da natureza com varias formas e texturas. A sublimação entre os dois procura a sensibilidade com a natureza, evidenciando nossa integração que por vezes parece esquecida.
REDE SINA:Alguém lhe inspira?
CJ: São muitos as pessoas que nutrem minha alma, artistas como Arno Rafael Minkkinen, Mario Cravo Neto, Gian Paolo Barbieri, Misha Gordin para citar alguns conhecidos mas a inspiração vem de todos os lados, das pinturas, do cinema, das poesias, da observação no dia a dia.
REDE SINA: De que maneira fotografar o cotidiano interfere no seu trabalho de criação?
CJ: Fotografar é um exercício constante. A observação e a prática ensinam. O cotidiano é um espaço de criação, as idéias estão em todos os lugares, a qualquer momento. Precisamos estar abertos a experimentações e treinar a criatividade.
REDE SINA:É possível uma definição do que você busca através da lente?
CJ: Ver com novos olhos, criar uma estética, unir o real e a imaginação, o objetivo e o subjetivo, captar a essência do momento criado.
REDE SINA: Como gostaria de tocar o outro (aquele que vê a foto)?
CJ: Penso que a foto tem que seduzir, emocionar e ativar uma reflexão. Eu trabalho essencialmente com o respeito ao modelo(s) em questão, como ele lidam com seu corpo, sua história e desejos, tal qual o lugar que escolhemos e os elementos que estão os nosso redor, tudo isso, gosto que seja espontâneo e livre, mas também há sessões onde justamente o modelo é uma pessoa mais quer planejar e sistematizar o ensaio, ai tudo bem, trabalhamos assim. A composição fotográfica é resultado disso. Há casos em que a estética prevalece e pode não haver um tema especifico, mas sempre a integração em harmonia com a natureza. A obra ao fim é uma provocação, pra quem é fotografado, pra o público e inclusive pra mim.
REDE SINA: A delicadeza com a representação do feminino nasce de uma causa?
CJ: Meu trato com o feminino é através da natureza, ela me traz muita delicadeza, também agressividade e brutalidade, tal como as personalidades das mulheres. Ela sim, é a grande mãe feminina, os corpos são frutos dela, mãe terra. Não tenho predileção por fotografar masculino ou feminino. Cada corpo tem suas características expressivas. Já fotografei corpos masculinos de extrema delicadeza e expressão, não há essa distinção, cada ser é único.
REDE SINA: De onde nascem as ideias?
CJ: É tudo muito intuitivo, instantâneo. O lugar me inspira no momento por conta de uma luz que me encanta, a forma de um galho, tronco, rocha, algum material orgânico encontrado no local, até mesmo esqueletos. O corpo despido vai sendo transformado, carregado das energias do local. Às vezes eu já saio com um conceito definido que pode surgir do cotidiano, da observação, do estudo de outras artes, mas quase sempre tem espaço para a espontaneidade, aproveitando o que a natureza oferece naquele momento. Afinal na natureza tem muitas variáveis que não dependem de nós, assim sendo a flexibilidade de ação é primordial. Eu respeito também as ideias dos modelos que muitas vezes fazem poses e apresentam ideias diante da câmera .
REDE SINA: O que você considera sua sina?
CJ: Minha sina é estar junto da terra, me conectar com ela de alguma forma, dialogar com o que ela nos provê, e isso pode ser feito por infinitas ferramentas e formas diferentes. Hoje faço isso esteticamente, pretendendo passar as pessoas a consciência da importância de preservação do nosso planeta.
REDE SINA: Os projetos possuem patrocinadores? Como é a comercialização?
CJ: Não tem patrocinadores, nem comercialização, tem paixão e muito gosto por isso. E ainda assim, a fotografia me abre portas e me apresenta pessoas fantásticas por todos lugares.
REDE SINA: Como são realizadas essas produções? As pinturas na pele são todas suas? Possui equipe? Quanto tempo leva em média para cada uma estar pronta para ser registrada? Como seleciona os modelos?
CJ: O mais difícil para realizar os projetos é de achar locações na natureza de acesso fácil e com privacidade para poder trabalhar com tranqüilidade e segurança. Não tenho equipe e geralmente estou sozinha com os modelos que são voluntários. Não escolho os modelos, eu recebo muitos pedidos de pessoas comuns querendo participar dessa arte e todos são bem-vindos, não faço distinção de gênero, de idade ou forma física. O único requisito é de se sentir a vontade com o corpo. Não consigo atender todos, por dificuldade de conciliar viagem, agenda, aqueles que me ajudam na produção e organização são favorecidos. Uma vez decidido o lugar do ensaio, depois de caminhar longas trilhas carregando o material, eu começo a pintar o corpo. Raramente tem alguém para me ajudar nesta tarefa, mas o processo é bem simples e rápido, gosto de trabalhar com texturas. Eu nunca uso flash, gosto da luz natural o que limita os horários para ensaiar, ideal é entre 5 e 6h quando o sol nasce, ou no mesmo horário do entardecer, quando se põe. Tem que calcular o tempo do deslocamento, da produção da pintura e arranjos para ficar pronto para fotografar nesses momentos especiais. Me sinto ferramenta dessa natureza mágica, e de lindos encontros com seres ímpares, a cargo de trazer à tona essa composição, do âmago de todos elementos que ali estão, que nem mesmo sabem o despertar que carregam em si.
REDE SINA: Quais os planos para 2016 e 2017?
CJ: Aprimorar o estilo, achar novas idéias, novos desafios e continuar a produzir com prazer e a mesma paixão, sempre feliz em vivenciar novas histórias com pessoas que surgem na minha vida e enriquecem esse espírito de liberdade. Um desafio recente foi fotografar um grupo de 50 naturistas, pintando e dirigindo-os para as fotos. Nunca tinha trabalhado com tanta gente ao mesmo tempo. Terá uma exposição do evento em breve que visa a promover o naturismo. Eventos semelhantes já estão se planejando.
Eu espero também ter a possibilidade de viajar para Bolívia e Chile para experimentar novos conceitos, más tem muito espaço para oportunidades que vão me guiar.
Em setembro fui convidada a expor no Paraty em Foco, e tenho outro projeto de exposição em Recife na galeria de arte da casa cultural Villa Ritinha que deve inaugurar no final do ano.
REDE SINA: Uma dica para quem começa a fotografia?
CJ: Fotografe o que você gosta e use sua própria paixão como ponto de partida. Ser apaixonado é essencial. Não espere por inspiração porque as melhores idéias muitas vezes acontecem durante o processo. Insista, porque não é sempre que aquele momento mágico acontece e que tudo se encaixa. Fique em contato com a fotografia, estude obras de mestres, esteja todos os dias se relacionando com a fotografia.
Veja todas e mais na galeria:
PRÊMIOS:
Natura Ekos (2010) nas finalistas
8o Festival internacional da imagem fotografica de ATIBAIA com 01 foto selecionada (2010)
Concurso SESC com 01 foto selecionada (2010)
Bienal Natureza de Ribeirão Preto com 01 foto selecionada (2011)
Bienal de Londrina com 03 fotos selecionadas (2011)
Sesc- Prêmio Marc Ferrez com 01 foto selecionada (2011)
Bienal de São José do Rio Preto com 01 foto selecionada (2012)
Prêmio Persio Galembeck com 3 fotos selecionadas (2012)
Prêmio Marc Ferrez com 1 foto selecionada (2012)
Salão nacional de fotografia Ribeirão Preto com 2 fotos selecionadas (2013)
Salão de outuno São Paulo com 01 foto selecionada (2013)
Bienal Cor Foz d iguaçu com 02 fotos selecionadas (2013)
Fotografe melhor LEICA segundo lugar na categoria PB (2013)
Fotografe melhor LEICA finalista na categoria COR com 01 foto (2013)
Salão de Araquara com 1 foto selecionada (2013)
Prêmio Persio Galembeck com 3 fotos selecionadas (2013)
Concurso VARNA ( Bulgaria) com 3 fotos selecionadas no catalogo 2013
Experience 2013 com 13 fotos selecionadas
Marc Ferrez de fotografia (2013) primeiro lugar
Encantos do Cerrada- Alto Paraiso-Goiás- primeiro lugar e menção honrosa (2014)
VI Salão de arte fotográfica de Goiás 2014 primeiro lugar PB e 02 mençoes honrosas
Prêmio da melhor fotografia no Salão de Outuno da America Latina SOAL 2015
Menção honrosa na Bienal em cores de Ribeirão Preto 2015
Terceiro lugar mais duas fotos selecionadas na Bienal em preto e branco de Ribeirão Preto 2016
EXPOSIÇÕES
Exposição coletiva em Atibaia – SP (2011)
Exposição individual TERRA VIVA -SP (2011)
Exposição individual IEMANJA Salvador-BA (2013)
Exposição coletiva no Salon d’ Automne da America Latina SP (2013) (2014) (2015)
Exposição individual” Ïbare Lewá ” (2014) em Santos, Cubatão e CCSP São Paulo
Exposição coletiva no parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (2014)
Exposição coletiva -Embu das Artes, SP- Centro Cultural – Povos Nativos (2015)
Exposição coletiva Brazilian Eyes (2015) MIAMI
Exposição coletiva no festival Afreaka Biblioteca Mario de Andrade-SP (2015)
Exposição coletiva no Salão de Outuno da America Latina SP (2016)
Festival Afreaka segunda versão-SP (2016)
PUBLICAÇÕES
Foto Magazine matéria na revista portuguesa (2005)
Photomagazine capa e matéria na revista brasileira (2008)
http://oglobo.globo.com/blogs/fotoglobo/posts/2010/02/13/forma-sensibilidade-266237.asp
Lensblur trabalhos feitos com a lensbaby na revista americana www.snapixel.com
(2010)
Nude Magazine nus artísticos na revista americana Carrie Leigh (2010)
Fotografe Melhor -vida de fotógrafo- Novembro 2013
SITE DA ARTISTA:
http://www.clairejeanphoto.com/
Claire foi assaltada em casa e levaram todo seu material de trabalho! Ela está levantando uma parte do dinheiro para poder comprar novamente uma camera para poder voltar a fotografar. Quem puder ajudar a divulgar agradeço!!
https://www.vakinha.com.br/vaquinha/arrancaram-meu-meio-de-expressao