Arquivos ORLANDO FONSECA - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/orlando-fonseca/ Comunicação fora do padrão Thu, 29 Feb 2024 04:15:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Arquivos ORLANDO FONSECA - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/orlando-fonseca/ 32 32 ESTILOS | por Orlando Fonseca https://redesina.com.br/estilos-por-orlando-fonseca/ https://redesina.com.br/estilos-por-orlando-fonseca/#respond Thu, 29 Feb 2024 01:00:20 +0000 https://redesina.com.br/?p=120915 No início do século 20, o telégrafo e o cinematógrafo influenciaram, na literatura ou no jornalismo, a criação de um estilo que mudou a forma de construção da frase ou da sequência narrativa. As sentenças longas e carregadas de adjetivos, perífrases e circunlóquios, muito comum na criação literária do século anterior, deram lugar à objetividade …

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No início do século 20, o telégrafo e o cinematógrafo influenciaram, na literatura ou no jornalismo, a criação de um estilo que mudou a forma de construção da frase ou da sequência narrativa. As sentenças longas e carregadas de adjetivos, perífrases e circunlóquios, muito comum na criação literária do século anterior, deram lugar à objetividade da ordem direta.

Na ficção, parágrafos curtos, cenas rápidas e poucas digressões; na poesia, versos enigmáticos, coloquialidade e o ritmo psicológico. Mutatis mutandis, o que me leva a considerar a respeito disso, no século 21, com duas décadas de trocas de mensagens por Redes Sociais é: que estilo – se é que teremos algum – pode surgir desse novo modo de comunicação escrita?

Voltando aos modernistas da Semana de 22, podem-se recolher muitos exemplos do uso popular da sintaxe telegráfica. Alguns, oriundos do jornalismo, estavam familiarizados com aquela produção escrita. Tal fenômeno acompanhou a fragmentação do sujeito nas grandes metrópoles. O texto enxuto, da frase curta, sem conetivos, imitava a velocidade das comunicações ou das ruas. Na poesia, a ausência de conetivos e preposições, substituídos pela justaposição, em forma de painel ou mosaico; a representação estética privilegiava a alegoria – o particular figurando o universal, e a metonímia – a parte pelo todo.

No pós-guerra, o novo jornalismo trouxe de volta os recursos literários da narrativa. Esta já havia incorporado, nas obras de ficção, a linguagem do roteiro cinematográfico, com seus planos, cortes e paralelismos para compor a cena. Foi a ascensão de nomes como Tom Wolfe, Truman Capote, Gay Talese, e no Brasil, Loyola Brandão. A seguir, mais uma vez, a pressa exigiu o manual da redação e o texto burocrático. A rede social e os seus 140 caracteres chegavam com tudo, em tuites e zap zaps. 

O que se vê hoje, nos textos de jovens e adolescentes, é uma escrita truncada em vez de telegráfica, cheia de abreviaturas e modismos gráficos dos emojis. O laconismo denuncia a precariedade,  em vez da insinuação ou da síntese; e o pressuposto no lugar do subtexto literário gerado pela polissemia ou pela metáfora. Com certeza, tais ferramentas não têm como criar os pontos de indeterminação, essência do texto literário. Sem contar que, com o corretor automático, não é preciso sequer guardar a forma adequada da palavra escrita. Ou seja, a juventude pode estar escrevendo muito mais, sem a vantagem residual do aprendizado da forma. Além disso, em vista da abundância do processo, a toxicidade de informação não deixa espaço para a associação de conteúdos e a reflexão a respeito de suas verdades.

Pergunta atualizada, em tempos de modernidade líquida e de liquidação da verdade factual: no que virou o sujeito moderno, agora enrolado nesta rede social que virou a vida urbana? Qual seu tamanho na sociedade conectada, ao alcance de todos, à vista de todos? Esta linguagem apressada parece mais o sintoma de uma carência: o sujeito reduzido em seu poder de palavra, rendido ao acervo da Inteligência Artificial, exilado permanente em seu lugar de fala. Tal estilo-sem-estilo, intraduzível fora dos aplicativos, não transborda para outras áreas da produção escrita. A não ser para prejudicar a eficácia da linguagem. Dificilmente teremos na literatura um tal de estilo whatsáppico – que por si só tem cara de frankenstein cibernético, possível monstrengo verbal da cybercultura. No entanto, há esperança no horizonte, com educadores e pedagogos sugerindo o banimento de smartphones das salas de aula. Melhor voltar àquela tecnologia inventada ainda no século II da nossa era: o livro.

 

Orlando Fonseca

Orlando Fonseca nasceu em Santa Maria, em 7 de outubro de 1955. Professor Titular aposentado da UFSM, onde atuou por 31 anos, na área de produção textual nos Cursos de Comunicação Social e Letras. Doutor em Teoria da Literatura, pela PUCRS, 1997, e Mestre em Literatura Brasileira pela UFSM, 1991. Exerceu o cargo de Secretário da Cultura de Santa Maria, no período de 2001-2004; Pró-Reitor de Graduação na UFSM, 2010-2013. Patrono da Feira do Livro de Santa Maria em 2005. Cronista do Jornal Diário de Santa Maria e Site claudemirpereira.com.br. Presidente do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC – 2018-2019); Presidente do Coletivo Memória Ativa (2018-). Autor colaborador no site da Rede Sina.

Veja também o livro dele publicado pela parceria Rede Sina/Bestiário:

 

LIVRO: AQUELES ANOS (SEM DOURADOS) DE ORLANDO FONSECA

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Cota de humanidade por Orlando Fonseca https://redesina.com.br/cota-de-humanidade-por-orlando-fonseca/ https://redesina.com.br/cota-de-humanidade-por-orlando-fonseca/#respond Thu, 25 Jan 2024 20:13:38 +0000 https://redesina.com.br/?p=120718 Quando nascemos, recebemos uma cota de humanidade pela qual temos responsabilidades do berço ao túmulo. Compromisso elevado de mantê-la tal como a recebemos, e fazendo o máximo de esforço em aprimorá-la, acrescentando-lhe valores positivos. E ainda temos o compromisso de a transmitir, não apenas como herança genética, mas, sobretudo, cultural. No entanto, com a difusão …

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Quando nascemos, recebemos uma cota de humanidade pela qual temos responsabilidades do berço ao túmulo. Compromisso elevado de mantê-la tal como a recebemos, e fazendo o máximo de esforço em aprimorá-la, acrescentando-lhe valores positivos. E ainda temos o compromisso de a transmitir, não apenas como herança genética, mas, sobretudo, cultural. No entanto, com a difusão da cultura do ódio, do patrocínio da falsidade e da mentira (nas redes sociais) a propagação de inverdades, negação de postulados científicos e a subversão do senso comum, parece-me que há um esforço orquestrado para desmerecer o que a humanidade pode fazer de bom por esta porção de seres vivos providos de racionalidade. E mais, ainda, esculhambar a nossa casa, nosso planeta, nosso e dos demais seres vivos, aos quais demos os bonitos nomes de fauna e flora. Atacando, irracionalmente, os pilares desta bela moradia que nos cabe, o planeta Terra, azul, – tal como o viu pela primeira vez Gagarin – num esforço de lhe tirar essa e outras cores. Entretanto, além de tudo, as mudanças climáticas dos últimos anos indicam que o humor do nosso Planetinha não está dos melhores.

Quem não fica estarrecido com a violência estampada nas manchetes que tomam conta dos noticiários? Quem não fica apreensivo com as condições do tempo, cada vez mais adversas, arrasando comunidades inteiras? Antes víamos a destruição de tornados e ciclones no sul dos EUA e região do Caribe, como se estivéssemos assistindo a um filme-desastre. Agora vemos aqui, pertinho, na costa do Rio Grande do Sul, através de um fenômeno que nos parece novo: ciclone extratropical. Há alguns anos, as notícias que nos chegavam de outros países davam conta de franco atiradores, entrando em escolas, supermercados e espetáculos musicais, provocando mortes e ferindo centenas. Agora, somos assaltados pelas notícias de matadores de criança em escolas, aumento exponencial do feminicídio, aumento das guerras de facções do tráfico, com mortes a cada dia em maior número. A humanidade ficou doente, abriu mão do humanismo primordial, feito da pureza das crianças, com sua imaginação simbólica feita de sons e cores que lhe cercam de proteção e afeto. Deste modo, estou inclinado a acreditar que o pecado original está engatilhado para levar a humanidade ao suicídio, apressando a sua derrocada definitiva. Precisamos urgentemente resgatar o humanismo e sua capacidade de nos elevar acima do chão.

Ninguém fica para semente, diz a sabedoria popular, porém, pessoas não morrem. Pessoas não são depositadas na terra, ou em suas cinzas, mesmo que sejam jogadas no ar. Pessoas não sofrem a impermanência do corpo, que, decrépito, se rende às condições das intempéries. O que permanece é o tanto de humanidade desenvolvido ao longo da nossa vida. O que nos faz pessoa é duradouro na experiência dos que seguem vivos, mesmo depois que a porção física, material, se extingue. E aí, então, e apenas desse modo ficamos para semente. Se boa para frutificar vai depender do esforço que fizermos para não destruir os genes humanos que herdamos de nossos pais e avós.

Precisamos com urgência resgatar o humanismo, tanto nas pequenas relações afetivas do cotidiano, quanto nas grandes transações diplomáticas e econômicas. De outro modo, corremos o risco de não apenas perdermos as condições de vida no ambiente natural que se degrada pelos atos humanos levianos, mas também nos vejamos igualados às condições dos demais seres vivos desprovidos de racionalidade. Talvez seja esse o pecado original, que retira os humanos do paraíso e os condena à aridez do deserto. Acredito que, assim como o Planeta está dando sinais de reação ao modus operandi dos humanos sem consciência, a soma de cotas de humanidade que ainda resta há de sobreviver, na resistência à tentação ao mergulho nas platitudes do senso comum. Que cada um cuide bem da sua cota de humanidade, para que se vislumbre uma saída a fim de salvar a espécie e a nossa bela Morada.

 

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Cartinha natalina  | POR ORLANDO FONSECA https://redesina.com.br/cartinha-natalina-por-orlando-fonseca/ https://redesina.com.br/cartinha-natalina-por-orlando-fonseca/#respond Fri, 22 Dec 2023 04:12:11 +0000 https://redesina.com.br/?p=120480 Queridas crianças: Escrevo-lhes para confessar que sempre fui cético quanto à existência de vocês. Tenho saído toda véspera de Natal mais à procura da verdadeira criança do que para cumprir a missão de entregar-lhes presentes. Sim, porque o compromisso é o de fazer surpresas agradáveis às que foram boazinhas ao longo do ano. Entretanto, olhando …

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Queridas crianças:

Escrevo-lhes para confessar que sempre fui cético quanto à existência de vocês. Tenho saído toda véspera de Natal mais à procura da verdadeira criança do que para cumprir a missão de entregar-lhes presentes. Sim, porque o compromisso é o de fazer surpresas agradáveis às que foram boazinhas ao longo do ano. Entretanto, olhando de longe, da minha casa na Lapônia, do alto do meu trenó, fica difícil saber se estou sendo fiel ao meu trabalho. À noite, quando saio com minhas renas, vocês estão dormindo, não as tenho visto (e faço questão de não ser visto), portanto, como dizem, vocês são uns anjinhos neste estado.

Tenho de confiar em seus pais, e vocês sabem, é difícil confiar nos adultos. Por isso, não se espantem, para mim é difícil acreditar que vocês existem. Eu explico.

Quando surgi, há muitas décadas, começavam a existir projetos para as crianças, as quais, por séculos foram simplesmente ignoradas na sua infância. Em pleno século XIX, os estudiosos começavam a entender que o adulto era fruto de tudo o que acontece com os pequenos. Nesse início, as crianças ainda eram tratadas quase que como adultos em miniaturas, e muitas coisas que se exigiam das crianças eram comportamentos dos mais velhos, com um pouco menos de seriedade. Não se admitia a fantasia e o aspecto lúdico das suas atividades. Só que (eu já sabia) os estudos confirmaram que os infantis não distinguem o que é do jogo do que é do sério. Em suas narrativas, em seus pensamentos, portanto, não há uma transição do que é dado na realidade para a invenção fantástica. Para vocês é simplesmente a vida, e é bonita. Ho ho ho, esta eu devo ao Gonzaguinha, o qual, pelo diminutivo no nome, deve ter levado a fantasia de criança a sério.

Depois, vieram teóricos que entenderam a alminha infantil, e colocaram vocês em um pedestal. Houve avanços na compreensão do papel da criança; vocês passaram a aprender melhor e a ter menos traumas. Mas tudo tem lá o seu efeito colateral, vocês também passaram a desconsiderar a autoridade dos pais, a não apenas questionar os professores, mas também a ignorar o conhecimento que poderiam obter deles, e passaram a fazer com eles o que eles faziam com vocês – falo do uso da palmatória. Vocês ficaram respondões, soberbos, violentos. Sim, os adultos ficaram melhores ao compreenderem o que deviam fazer com vocês. Até chegar à Lei da Palmada (que passou a considerar violência o recurso do “psico-tapa”) é uma longa estrada, mas não sei onde vão chegar.

Se lhes escrevo hoje, é para dizer que, apesar de tudo, eu insisto em querer acreditar em vocês. Que o futuro do mundo estará garantido se, apesar das guerras, das crises e da turbulência urbana, eu tiver na lista a gurizadinha que se comportou bem (como crianças) ao longo do ano. Sei que estou sendo um tanto erudito no que digo, mas entendam, estou velho. Mas ainda continuo um bom velhinho. É que no fundo, mesmo, estou falando para os adultos, vocês entendem. Façam os seus pedidos, montem as suas árvores, que eu também quero um Feliz Natal. Assinado, Noel.

 

           

ORLANDO FONSECA

Orlando Fonseca nasceu em Santa Maria, em 7 de outubro de 1955. Professor Titular aposentado da UFSM, onde atuou por 31 anos, na área de produção textual nos Cursos de Comunicação Social e Letras. Doutor em Teoria da Literatura, pela PUCRS, 1997, e Mestre em Literatura Brasileira pela UFSM, 1991. Exerceu o cargo de Secretário da Cultura de Santa Maria, no período de 2001-2004; Pró-Reitor de Graduação na UFSM, 2010-2013. Patrono da Feira do Livro de Santa Maria em 2005. Cronista do Jornal Diário de Santa Maria e Site claudemirpereira.com.br. Presidente do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC – 2018-2019); Presidente do Coletivo Memória Ativa (2018-). Tem romance publicado pela parceria Rede Sina| Bestiário.

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4 POEMAS DE ORLANDO FONSECA https://redesina.com.br/4-poemas-de-orlando-fonseca/ https://redesina.com.br/4-poemas-de-orlando-fonseca/#respond Mon, 20 Nov 2023 19:54:37 +0000 https://redesina.com.br/?p=120344   ESTADO DA ARTE (BÉLICA)   Diáspora Noite áspera: De onde viemos? Para onde vamos?   O clarão do míssil não esclarece, apenas estilhaça páginas da História. Incendeia manchetes dos jornais, (ob)escurecendo o hoje.   No fragor da batalha (das batalhas), a Humanidade caminha trôpega. Para onde? Para onde?     SOU DA PAZ   …

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ESTADO DA ARTE (BÉLICA)

 

Diáspora

Noite áspera:

De onde viemos?

Para onde vamos?

 

O clarão do míssil

não esclarece,

apenas estilhaça

páginas da História.

Incendeia manchetes

dos jornais, (ob)escurecendo

o hoje.

 

No fragor da batalha

(das batalhas),

a Humanidade

caminha trôpega.

Para onde? Para onde?

 

 

SOU DA PAZ

 

Não sou de levar

desaforos para casa.

Tampouco sou de lhes deixar

motivos por aí.

 

NADA PESSOAL

 

Se é para ter um

personal, que seja o

Fernando em Pessoa.

 

ESTRANHO

 

Por vezes penso em fazer coisas

das quais me arrependo em seguida.

Por vezes penso ter feito coisas

das quais me esqueci de

qualquer arrependimento.

Guardo na lembrança

um porém,

testemunho do que

teria sido após o que fiz,

como se não me importasse muito

se fiz ou deixei de fazer.

 

Vezes sem conta não entendo

porque fiz o que fiz,

ou disse o que disse,

ou não disse nada quando

devia ter dito –

uma ironia que fosse.

 

Me olho no espelho como

se fosse um outro que me examina

sem reservas, logo pela manhã.

Que me diz saber o que

não lembro ter sonhado,

dormi o que deveria ter vivido.

Mas eu pergunto: e daí?

 

Tenho sido demais o que antes

não pensava ter sido.

Tenho sido tantos que já

não sei dizer se sou o que era,

ou quem era o que sou.

Por mais estranho que pareça,

não me assusto com a surpresa

de ser apresentado ao que fui,

ao que sou, ao que teria sido.

 

Uma coisa posso lhes dizer

com certo prazer cultivado:

Sou o único estranho

que me levaria para casa

sem qualquer receio.

 

           

ORLANDO FONSECA

Orlando Fonseca nasceu em Santa Maria, em 7 de outubro de 1955. Professor Titular aposentado da UFSM, onde atuou por 31 anos, na área de produção textual nos Cursos de Comunicação Social e Letras. Doutor em Teoria da Literatura, pela PUCRS, 1997, e Mestre em Literatura Brasileira pela UFSM, 1991. Exerceu o cargo de Secretário da Cultura de Santa Maria, no período de 2001-2004; Pró-Reitor de Graduação na UFSM, 2010-2013. Patrono da Feira do Livro de Santa Maria em 2005. Cronista do Jornal Diário de Santa Maria e Site claudemirpereira.com.br. Presidente do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC – 2018-2019); Presidente do Coletivo Memória Ativa (2018-). Terá romance publicado pela parceria Rede Sina| Bestiário dia 6 novembro de 2023 no Mojju Gastro Pub.

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ENCANTO | POR ORLANDO FONSECA https://redesina.com.br/encanto-por-orlando-fonseca/ https://redesina.com.br/encanto-por-orlando-fonseca/#respond Wed, 17 May 2023 15:27:02 +0000 https://redesina.com.br/?p=20945    *para aniversário de Santa Maria-RS   Encanto   ouço vociferações desde a garganta do diabo   enigmas da boca do monte   lamentos da depressão central   no entanto o encanto que quero de ti é sentir sob os pés em plena praça saldanha marinho   o mar – que não temos – em …

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   *para aniversário de Santa Maria-RS

 

Encanto

 

ouço

vociferações

desde a

garganta

do diabo

 

enigmas da

boca do

monte

 

lamentos

da depressão

central

 

no entanto

o encanto que

quero de ti

é sentir sob os pés

em plena praça

saldanha

marinho

 

o mar – que não temos –

em tuas artérias

 

e desde o chão

ouvir

 

as batidas

do coração do

rio grande do sul.

 

ORLANDO FONSECA

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A LENDA DA LENDA DE IMEMBUÍ por Orlando Fonseca https://redesina.com.br/a-lenda-da-lenda-de-imembui-por-orlando-fonseca/ https://redesina.com.br/a-lenda-da-lenda-de-imembui-por-orlando-fonseca/#respond Mon, 17 May 2021 20:11:22 +0000 https://redesina.com.br/?p=14623 Embora esteja consolidada, culturalmente, a origem lendária da cidade de Santa Maria, associada à figura mitificada da índia Imembuí e sua ligação com o guerreiro branco Rodrigo – depois Morotin, não há como afirmar a sua configuração no folclore da região centro do Estado. Dentre as obras que recolhem narrativas lendárias do Rio grande do …

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Embora esteja consolidada, culturalmente, a origem lendária da cidade de Santa Maria, associada à figura mitificada da índia Imembuí e sua ligação com o guerreiro branco Rodrigo – depois Morotin, não há como afirmar a sua configuração no folclore da região centro do Estado.

Dentre as obras que recolhem narrativas lendárias do Rio grande do Sul, como as de Simões Lopes Neto, Darcy Azambuja, do santa-mariense Roque Calage, entre outros, não há menção a um episódio com as características do drama da índia Imembuí. O primeiro registro de sua existência, que se tem conhecimento, é justamente um conto, uma obra ficcional criada pelo escritor santa-mariense Cezimbra Jacques, a qual faz parte de seu livro Assuntos do Rio Grande do Sul, publicado em 1912.

Segundo o testemunho do pesquisador Getulio Schilling, em sua obra biográfica sobre o autor, a história de Imembuí não preexiste ao texto do escritor santa-mariense. Aliás, vale ressaltar que naquela obra a narrativa que tem o título Imembuí, vem acompanhada, entre parênteses, da observação (conto indígena). Precedendo o texto, ainda, uma “Advertência”, em que assinala o aspecto ficcional do seu empreendimento literário. Como este texto veio a se tornar lenda é uma página um tanto nebulosa da história da cultura em Santa Maria. Em pesquisa realizada junto à UFSM, pelo grupo de pesquisa História e Literatura, do Mestrado em Letras, com a colaboração das bolsistas Gabriela Marzari e Andrea Severo (entre os anos de 1998 e 2000), foi possível identificar com precisão a primeira publicação de Imembuí, no Jornal A Federação, em 1911, não havendo qualquer outro registro do nome desta em publicações – livros, revistas ou jornais, na cidade de Santa Maria, ou mesmo no Rio Grande do Sul.

É a partir do texto de João Belém, História do Município de Santa Maria – 1797-1933, publicado em 1933, que se afirma a origem lendária desta cidade, tomando-se como referência o que então é chamado “Lenda de Imembuí”, embora o historiador não aponte registros históricos para confirmar sua apresentação. Isso contraria, inclusive, a sua própria pesquisa que indica o acampamento da expedição demarcadora (1794) a origem do povoamento. Anos mais tarde, outro historiador, Romeu Beltrão, ao apresentar sua obra sobre o registro histórico da cidade, não anuncia Imembuí como uma lenda a respeito da origem da povoação. A rigor, o texto de João Belém seria o documento historiográfico que assegura a existência da lenda, contudo, persiste a evidência do fato de que, antecedendo o seu trabalho, só se encontra o registro do conto de Cezimbra Jacques, o qual não figura nas referências de João Belém, ainda que a narrativa deste último mantenha parentescos evidentes com o conto original.

Como já se mencionou, Cezimbra Jacques não esconde o caráter ficcional de sua obra, indicando-a, na apresentação, como “singelo conto da Imembuí”, ainda que a cerque de elementos historiográficos e dados culturais da vida dos índios e da língua guarani: “somos os primeiros a reconhecer que não dispomos de nenhuma aptidão literária, apresentando este tosco trabalho, sem cogitar de dar-lhe beleza de forma e sim da utilidade que ele possa oferecer, com informações reais colocadas ao lado da fantasia”.[i] As referências contextuais e históricas servem como elementos de apoio ao texto ficcional, não como matéria de sustentação do mesmo.

Desse modo, e a bem da verdade, o mito não preexiste à construção ficcional, ou seja, o escritor não recolheu da cultura popular a sua referência para a criação literária. Ao contrário, via legitimação da autoridade do historiador citado, a ficção virou lenda e se estabilizou na história da cidade como tal. Partindo do pressuposto da origem ficcional da narrativa, é possível afirmar que Cezimbra Jacques pode ter sido influenciado por outras narrativas fundantes da cultura americana, em suas fases de consolidação da nacionalidade. Essa referência, ainda que implícita, responderia de alguma forma pelo caráter “lendário” que o conto passa a assumir com o tempo. A partir do dado indicado pelo próprio autor de haver um propósito nacionalista que o acompanha no projeto: “animado do patriótico desejo de quem aspira despertar nos componentes a iniciativa da formação de uma literatura do nosso caro torrão Sul-Rio-Grandense, com elementos puramente genuínos”, situamos a sua produção na corrente do projeto romântico, especialmente o de José de Alencar, o qual, com sua narrativa indianista, pretendia dar curso ao projeto de criar uma literatura genuinamente brasileira, a partir dos elementos do Novo Mundo americano. Por similaridade temática, a relação de uma índia, filha do chefe da tribo, com o homem branco colonizador ou explorador, é possível, assim, aproximar as personagens “Imembuí”, de Cezimbra Jacques, e “Iracema”, de Alencar.

Por sua vez, segundo estudos críticos, o autor de O Guarani sofreu a influência dos autores Fenimore Cooper, americano, e Chateaubriand, romancista francês. No caso do primeiro, destacam-se as novelas sobre os índios, especialmente os moicanos, e quanto a Chateaubriand, pelos romances Atala e René, que retratam dramas vividos entre europeus e índios americanos. Estudos recentes apontam uma relação de mão dupla entre a obra de Chateaubriand e as narrativas do século XIX nos EUA que recuperam o mito de Pocahontas,[ii] que é, seguramente, o primeiro episódio envolvendo a relação entre uma índia e um homem branco europeu. Poder-se-ia dizer que é esta a proto-imagem da miscigenação e das representações do conflito que daí advém.

O enredo do conto Imembuí, apresenta a protagonista como uma jovem índia da tribo dos Minuanos, filha do chefe Japacany e de sua esposa Ibotiquintã, que deu à luz dentro das águas do Arroio Taimbé, por isso o seu nome, que em guarani quer dizer “filha da água”. Em um confronto com bandeirantes em busca de índios para escravizar, os Tapes e os Minuanos unidos dizimaram os invasores, e fizeram dois prisioneiros: um, o mais velho, foi solto a fim de voltar e contar aos de sua nação o que os índios fariam com aqueles que viessem fazer escravos entre eles. O mais novo foi condenado à morte. Imembuí se apaixonou pelo jovem Rodrigo, e rogou por ele diante de seu pai, no que foi atendida. Os dois se casaram, e Rodrigo passou a se chamar Morotin, tiveram um filho que levaram para ser batizado em São Miguel das Missões, depois de se terem casado nos ritos da tradição cristã.

Pocahontas comporta no contexto da América do Norte as primeiras referências do choque das culturas indígena e europeia, aos primeiros dados a respeito da miscigenação, por muitos rejeitada, a ponto de ir ganhando contornos de lenda os diferentes pontos de vista que se aplicam às questões da sexualidade, da religião, da cultura e da formação étnica, com o privilégio e a supremacia da cultura branca, protestante, europeia. Nesse sentido, do folclore mexicano perdura a figura lendária de La Malinche,[iii] como um mito originário por muitos rejeitado, a ponto de constituir uma forma de xingamento à alusão à descendência dessa personagem: “hijo de le malinche”. Malinche era uma filha de aztecas, a qual foi vendida pela mãe para os colonizadores espanhóis. Ela então, como aprendera a língua espanhola, passou a atuar como intérprete de Cortês, o grande conquistador, vindo a tornar-se sua amante, com o nome de Doña Marina, após converter-se à religião católica. Além dessa rejeição à cultura indígena originária, Malinche é acusada de traição ao seu povo, uma vez que livrou Cortês e seus soldados de uma emboscada que Montezuma e seus guerreiros preparavam para destruir o colonizador. Por conta disso, Cortês conseguiu dizimar as nações indígenas e completar a conquista do México. Embora esses fatos sejam anteriores aos de Pocahontas, Malinche não se integra como narrativa fundadora, uma vez que durante muitos séculos foi rejeitada na cultura mexicana pelas razões já indicadas, deixando de cumprir um papel universalizante, como o do mito norte-americano. Na verdade, só se tornou mais conhecida pelo resgate empreendido por autores de fins do século XIX, como Ireneo Paz, avô do grande poeta Octavio Paz, cujo ensaio “Os filhos da Malinche”[iv] é obrigatório para se compreender o mito na difícil consolidação da miscigenação mexicana. Da mesma forma, em Iracema temos a valorização de uma origem étnica do povo brasileiro resultante do encontro do europeu e do indígena, sendo que a cultura desse último sucumbe, Iracema morre, dando lugar à proliferação do poder da civilização branca e da religião católica. Além disso, figurando o índio e o europeu como inauguradores da raça, ficaria o negro à margem do processo de constituição da identidade nacional. Esses dados podem ser verificados no texto de Cezimbra Jacques, em que o branco impõe, finalmente, a sua cultura, legitimando a origem da povoação em seu filho, batizado no rito cristão.

É comum se observar que, em nossa cidade, a memória das gentes e da vida cultural são relegadas ao descaso e ao desconhecimento. Desse modo é que, um autor importante por ser o primeiro escritor santa-mariense a ter uma obra publicada[v], ser um dos fundadores da Academia de Letras do Rio Grande do Sul, ocupando a cadeira 19 e ainda por ser o precursor do movimento tradicionalista, com a criação do primeiro grêmio gaúcho, embrião do que se conhece hoje como CTG, e acima de tudo por ser o autor de uma obra que dá origem a uma personagem que o afeto transformou em identidade, não ter sido lembrado como uma figura histórica, como o devido respeito que merecia. Seus restos mortais, contrariando sua vontade expressa, permaneceram em uma sepultura comum no Rio de Janeiro, onde faleceu em 27 de julho de 1922. Para registro: o ano que vem marca o centenário de sua morte.

[i] JACQUES, João Cezimbra. Assuntos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro,1997, p. 101.

[ii] Cf. TILTON, Robert S. Pocahontas – the evolution of na american narrative. Cambridge: Cambridge University Press, 1994, p. 58-63

[iii] CYPESS, Sandra M. La Malinche in mexican literature: from History to Mith. Austin: University of Texas, 1991.

[iv] PAZ, Octavio. O labirinto da solidão e Post-scriptum. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976, p. 62-82.

[v] Sua obra Ensaio sobre os costumes do Rio Grande do Sul, publicado em 1883, é o primeiro registro de uma publicação de escritor santa-mariense, segundo SCHILLING, Getúlio.

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12 POEMAS DE ORLANDO FONSECA https://redesina.com.br/12-poemas-orlando-fonseca/ https://redesina.com.br/12-poemas-orlando-fonseca/#respond Tue, 09 Jun 2020 08:23:09 +0000 https://redesina.com.br/?p=9256   UM SONETO um soneto me atropela na calçada, e eu reconheço, pois já compus sonetos. elegante, a pose metrificada de seus dois quartetos e dois tercetos. sem me pedir desculpa segue adiante, levando em frente a sua alegoria. a imagem toda fica em minha mente a contestar que isto seja poesia. então já não …

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UM SONETO

um soneto me atropela na calçada,
e eu reconheço, pois já compus sonetos.
elegante, a pose metrificada
de seus dois quartetos e dois tercetos.

sem me pedir desculpa segue adiante,
levando em frente a sua alegoria.
a imagem toda fica em minha mente
a contestar que isto seja poesia.

então já não consigo dar um passo.
e ele já não vai mais imponente,
pois feio agora é o seu compasso.

quero gritar-lhe que eu fui descuidado
e desculpar-me pelo incidente
que lhe deixou assim de pé quebrado.

DA PEDRA

Ponho-me a olhar a pedra
e a pedra a me olhar põe
na pedra o meu olhar de pedra
a molhar.

É verde e antigo meu olhar
na pedra: é limo.

A pupila a pedra a pedra pupila a perda.
E me olha dura.
E tanto bate em minha
alma
tanto bate:
até que fura

VERTIGEM

Quando me falta o chão
e eu paro,
meus pés
estão nem aí,
eles vão

Esta é a ponte:
o poema

então não recuo
em face do enjoo

minha cabeça
entende e
estende o voo

A PROVA

Estamos sendo postos
à prova?
Já fomos exortados
no passado a
não nos dispersarmos,
pois só assim seríamos
uma Nação livre.
Já nos fortalecemos
dizendo-nos com emoção
que não devíamos largar
a mão de ninguém, para
enfrentar o obscurantismo.
E justo agora, quando
as nuvens de uma tempestade
invisível apontam no horizonte,
somos exortados a nos isolar,
a não pegar a mão de ninguém.

A lição suprema é de que
devemos fazer o bem
sem olhar a quem.
Ser humano é estar junto
mesmo que haja quilômetros
de separação e paredes, muros,
protocolos ou convenções.
Esta é nossa essência
e nossa fortaleza.
Solidão é pensar em si mesmo
e cuidar apenas de si.
Não há solidão quando
todos cuidam de todos
– prova de humanidade.
O amor cresce apesar
das ausências e das distâncias.
E quando a tempestade passar,
vamos compreender melhor
a dimensão de sua beleza.

DOS ILUMINADOS

Quem tem uma estrela
não receia os trechos
mais obscuros da estrada.

Quem tem uma estrela
não teme o terror
da noite mais tenebrosa.

Quem tem uma estrela
conhece a missão de iluminar
não apenas o seu
mas também o
caminho dos outros.

E o que é uma estrela?
Quem tem sabe.

A CURA

Como ser louco
e ter a lucidez de
não abandonar a loucura?
Isso não é sobre ter
razão ou sobre perder o juízo.
Isso é sobre amar,
amar e ser amado.
Isso é sobre ser louco,
E só assim descobrir a cura.

Quando te encontrei, Amor,
a luz se fez como magia.
De tal modo que não há
mais distinção possível
entre realidade e fantasia.
Isso não é sobre ilusão
ou sobre a razão perdida.
Isso é sobre sonhar
fazendo disso um projeto de vida.

MORRER DE AMOR

Quem não viveu um grande amor
Não vai saber o que é viver.
Porque viver é grande mesmo
Quando se vive pra morrer de amor.

Quem nunca morreu de amor
Vai morrer de qualquer jeito.
Pois quem tem um grande amor sabe
que qualquer jeito não é jeito de viver.

Pra morrer de amor
É preciso saber viver.
É grande a sabedoria
De morrer pra viver de amor.

De amor não se morre um dia,
Pois viver sem amor não é vida.
Morrer de amor é vida sempre
Que assim a morte certa se adia.

NO LABIRINTO

Sem me notar
sem Minotauro
no labirinto
que se forma
na arquitetura dos
teus lábios,
é o que sinto:
perdido,
abandonado – eu minto.

No escuro de ti,
no fundo
deste labirinto,
contigo só posso mesmo
estar junto.

Sair de ti
só mesmo fugindo,
fingindo asas de cera
em busca do sol.

ATRIZ

O palco – pedaço anônimo,
no curto espaço
entre face e alma,
nele se mostra,
sob um pseudônimo,
atriz imóvel
que perverte a calma.

Não abre a boca
mas se ouve o grito.
Não move o corpo
mas se pressente o gesto.
Não é sinal de um
coração aflito,
mas é da dor
o mais sereno resto.

A cicatriz é
só indumentária
da verdadeira atriz lá dentro.
Se por um triz
o corte é linha imaginária,
na alma o corte
é sempre documento.

Se a atriz
atrai o olhar embevecido,
a cicatriz o trai
por não ter sido.
O rasgo do sorriso
não repele
o talho permanente
sob a pele.

NA BEIRA DO CAMINHO, SEM MAIAKOVSKI

Eu sou o mais velho de todos
e o mais alto.
É a primeira noite,
e eu me aproximo
com todo o cuidado.
Entro no jardim
e planto uma flor.
Eles não dizem nada.
Na segunda noite,
meu irmão, um pouco mais novo
e mais baixo também,
sem tentar se esconder
entra no jardim,
cuidando para não
pisar nas flores,
e afaga o cão.
Mas eles continuam
a não dizer nada.
Até que um dia,
nosso irmão mais novo,
uma criança ainda,
entra sozinho na casa deles,
acende a luz e,
conhecendo a indiferença deles,
empresta-lhes a voz.
Mas tudo o que têm a dizer é:
“o que você está fazendo aqui?”
E, diante das verdades
que ouvem daquela boca infantil
e também porque
não querem ouvir ou entender,
limitam-se a dizer: “é mentira!”
(Depois de Eduardo Alves da Costa)

PEDRAS

Não podeis comigo, pedras.
Eu escrevo poemas escavando
a parede. E quanto mais e
mais escrevo/mais escavo
e mais e mais e mais eu cavo
a funda arqueologia/minha poesia
fuga para o fundo e para dentro.

Quanto mais escrevo, pedras,
lavro, permanente, uma rubrica,
domo, pedras, a tenacidade que
se afirma no que vos institui,
pedras, dura conjugação de
ego e argamassa: pedras.
Não podeis comigo, pedras.
Aprendi vossa lição mais rija.

Pedras, não podeis comigo.
Que tão bem sou pedra.

SINTAXE VITAL

Se tive predicados, verbais ou nominais,
se fui objeto indireto, simples adjunto,
agente da passiva, quejandos ou que tais,
não preciso que me lembrem.

Quando eu repousar defunto,
do meu pretérito mais que perfeito
quero apenas que resgatem
que eu fui um bom sujeito.

 

Orlando Fonseca, nascido em Santa Maria‚ em 7-10-55. Professor Titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura – PUCRS, 1997 e Mestre em Literatura Brasileira – UFSM, 1991. Exerceu os cargos de Secretário de Município da Cultura (2001-2004) na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM (2010-2013). Cronista em mais de um veículo de Santa Maria, desde 1977, atualmente do Jornal Diário de Santa Maria e do Portal Claudemir Pereira. Tem vários prêmios literários, destaque para o Prêmio Adolfo Aizen, categoria aventura, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia, em 2002; também finalista no Prêmio Açorianos, da Prefeitura de Porto Alegre, pelo mesmo livro, em 2002. Autor de várias obras em gêneros diversos, destaque para Poço de Luz, novela, IEL, 1989; O fenômeno da produção poética, ensaio, Editora da UFSM, em 2001; Da noite para o dia e Na marca do pênalti, novelas juvenis, WS Editor, 2001 e 2011, e o Musical Imembuy, com músicas de Otávio Segala. Atualmente exerce o cargo de  Presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais.

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DEMOCRACIA EM VERTIGEM por Orlando Fonseca https://redesina.com.br/democracia-em-vertigem-por-orlando-fonseca/ https://redesina.com.br/democracia-em-vertigem-por-orlando-fonseca/#respond Thu, 11 Jul 2019 20:31:49 +0000 https://redesina.com.br/?p=7100 Documentários políticos não costumam ser, de imediato, um apelo à emoção. Mas confesso que, em diversos momentos, assistindo ao belo trabalho de Petra Costa senti-me tocado, quase me dispondo às lágrimas. Foi por pouco, embora Democracia em Vertigem tenha fortes componentes que favoreçam o afloramento da sensibilidade do espectador. É difícil permanecer impassível ao longo …

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Documentários políticos não costumam ser, de imediato, um apelo à emoção. Mas confesso que, em diversos momentos, assistindo ao belo trabalho de Petra Costa senti-me tocado, quase me dispondo às lágrimas. Foi por pouco, embora Democracia em Vertigem tenha fortes componentes que favoreçam o afloramento da sensibilidade do espectador. É difícil permanecer impassível ao longo dos 121 minutos que duram a narrativa cinematográfica, disponibilizada na Plataforma Netflix.

No conhecido poema “Traduzir-se”, o poeta Ferreira Gullar projeta um sentido existencial para o termo “vertigem”:

Uma parte de mim

é só vertigem;

outra parte,

linguagem. 

 

Pelo que se pode deduzir da proposição poética, somos feitos de uma porção em que a expressão só pode ser de outro teor que não o das palavras. Quando em relação com o mundo, com a realidade circundante, com a história – em especial a história recente, aquela em que nos vemos imersos -, podemos pôr a termo o que vemos, somos e sentimos. No entanto, como foi o caso de ser espectador chamado a me integrar ao que via pelas lentes da jovem cineasta, a parte de mim convocada não poderia responder de outra forma. Há vários recursos, tanto da técnica, quanto do conteúdo, que emulam, em minha mente, o sentido existencial que o termo do título do documentário tem no poema de Gullar.

O longa é apresentado em primeira pessoa. Não por acaso. A autora é neta de um dos fundadores da Andrade Gutierrez, uma das grandes empreiteiras envolvidas em escândalos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato. Este fato a coloca entre os grandes acontecimentos do país, e não falo da seção policial, mas tendo em vista os empreendimentos bilionários da família. No entanto, por outros motivos ela se insere nos obscuros meandros da vertiginosa história brasileira. Ela é filha de Manoel Costa e da jornalista e socióloga Marília Andrade, os quais, nos anos 1970, foram militantes de esquerda, ligados ao PCdoB. Portanto, sua familiaridade com os eventos marcantes das últimas décadas, desde a redemocratização – ela nasceu em 1984, ano da Luta pelas Diretas – até a eleição de um candidato da extrema-direita vão além de um termo que definisse a sua presença próxima dos acontecimentos.

Assim como o livro que contém o citado poema do Gullar chama-se Na vertigem do dia, as cenas históricas e a inserção da narradora se dão “no calor da hora”. Por isso minha identificação com os fatos e a voz serena da narração. Longe do que vivemos, no tempo e no espaço, a poesia – como no dizer do poeta americano, Ralph Waldo Emerson – é o que se sente na tranquilidade. Também percorri as ruas do centro da minha cidade, com meu filho mais velho na garupa, fazendo coro aos que pediam eleições diretas para presidente, em 1984; também caminhei ao lado dos meus filhos, pedindo ética na política e o impeachment de Collor; estive nos comícios do Lula, e lamentei a vitória de um candidato que representa tudo o que não aprovo como valores da democracia. Perpassou em minha mente, e em meu coração, o conteúdo político envolto em uma atmosfera pessoal, numa análise – ou uma catarse(?) – da ascensão e queda dos meus candidatos preferenciais, e a espiral vertiginosa da polarização em que nos vemos metidos desde então.  A beleza do documentário reside em sua capacidade de resgatar esses momentos cruciais na experiência de quem, minimamente, esteve atento às convulsões populares da República, após a redemocratização.

Não sem mérito – e até para orgulho nosso – o jornal New York Times inclui Democracia em Vertigem numa lista de melhores do ano, junto a outros sete trabalhos de qualidade. Um dos comentaristas do jornal americano elogia o filme, tratando-o como “uma crônica de traição cívica, abuso de poder e também de desgosto”. A meu juízo, a vertigem, na qual o título do documentário situa a democracia brasileira, esta que vivemos no dia a dia, que temos de tocar em frente, abarca o valor existencial do brasileiro. Ao menos aquele que se dispõe a pensar para além de seu umbigo. Se há momentos difíceis de situar a conjuntura em argumentos, em palavras, ainda assim, é questão de vida (ou morte) seguir acreditando na potência do coletivo.

 

Orlando Fonseca, nascido em Santa Maria‚ em 7-10-55. Professor Titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura – PUCRS, 1997 e Mestre em Literatura Brasileira – UFSM, 1991. Exerceu os cargos de Secretário de Município da Cultura (2001-2004) na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM (2010-2013). Cronista em mais de um veículo de Santa Maria, desde 1977, atualmente do Jornal Diário de Santa Maria e do Portal Claudemir Pereira. Tem vários prêmios literários, destaque para o Prêmio Adolfo Aizen, categoria aventura, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia, em 2002; também finalista no Prêmio Açorianos, da Prefeitura de Porto Alegre, pelo mesmo livro, em 2002. Autor de várias obras em gêneros diversos, destaque para Poço de Luz, novela, IEL, 1989; O fenômeno da produção poética, ensaio, Editora da UFSM, em 2001; Da noite para o dia e Na marca do pênalti, novelas juvenis, WS Editor, 2001 e 2011, e o Musical Imembuy, com músicas de Otávio Segala. Atualmente exerce o cargo de  Presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais.

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Lendas Eleitorais por ORLANDO FONSECA https://redesina.com.br/lendas-eleitorais-por-orlando-fonseca/ https://redesina.com.br/lendas-eleitorais-por-orlando-fonseca/#respond Tue, 25 Sep 2018 04:16:11 +0000 http://redesina.com.br/?p=5286 Um palhaço – “cara de palhaço, pinta de palhaço”, era o próprio da canção do Miltinho, alguém lembra? – me ataca na rua para pedir voto. Normal, estamos em plena campanha eleitoral, e os candidatos usam toda sorte de expedientes de marketing. Ele me estende um panfleto, e eu com, receio de alguma brincadeira, fico …

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Um palhaço – “cara de palhaço, pinta de palhaço”, era o próprio da canção do Miltinho, alguém lembra? – me ataca na rua para pedir voto. Normal, estamos em plena campanha eleitoral, e os candidatos usam toda sorte de expedientes de marketing. Ele me estende um panfleto, e eu com, receio de alguma brincadeira, fico na defensiva.

– Pode pegar, não é porque eu sou palhaço que tudo o que eu faça seja empulhação.

– Hummm… e quem é o seu candidato?

– Tu mesmo.

– Eu??? Mas eu não estou concorrendo a cargo nenhum.

– Não, seu bobo, você foi o eleito, pra votar em mim.

– Você é candidato?

– Eu mesmo, por que o espanto?

– Não, eu não estou espantado, estou surpreso.

– Puxa, o senhor é uma raridade hoje em dia.

– Ué, por quê?

– Olha, nem as crianças se surpreendem mais com nada.

– Ingenuidade minha. Ainda acredito em um mundo com as coisas em ordem, tudo no seu lugar.

– Alguma insinuação?

– Bem, eu imagino, ainda, um mundo em que o palhaço esteja no circo, os vereadores e deputados nos parlamentos, os bandidos na cadeia e os policiais cuidando da segurança.

– Olha só, este mundo é possível. Não é porque eu seja palhaço, e esta é a minha profissão, que eu não possa representar bem os cidadãos.

– Bom, isso lá é verdade. A política em nosso país é ocupada por advogados, médicos, e não apenas por isso se pode dizer que tenha melhorado.

– Certamente não é por culpa deles. E não vai ser por minha culpa que as coisas possam piorar.

– Pior do que tá não fica, era um slogan de um colega seu.

– Veja só, ele foi escolhido pelos jornalistas que fazem a cobertura da política em Brasília entre os 25 melhores deputados.

– Puxa vida, onde é que estamos, me diz como é que estão os outros…

– Preconceito seu, é ele que está entre os melhores, assíduo, projetos seus importantes sendo votados.

– Fala sério. É mesmo?

– Ser palhaço é profissão. Por isso fico de cara quando tem gente protestando na rua com nariz de palhaço.

– Tem razão, eu nunca me senti palhaço com o que fazem os políticos; fomos nós que os escolhemos. Podemos ser enganados, mas quem se desilude é porque esteve iludido por algum tempo.

– Tenho alguma chance com o amigo?

– Mas isso não é uma piada. Não vou rir só pra não perder o amigo.

– Mas vai rir por último, pode ter certeza. Eu vou trabalhar pra isso.

– E não vai ter marmelada?

– Nem goiabada.

– É, mas tem o resto do refrão.

– Mas roubar mulher é crime? Eu só me garanto em combater a corrupção.

– Bem, nesse caso, vou te dar um voto de boa sorte.

Ele saiu cantando e rebolando: “Vai ser assim, Cara de palhaço, Pinta de palhaço Roupa de palhaço Até o fim!!!”

 

Orlando Fonseca, nascido em Santa Maria‚ em 7-10-55. Professor Titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura – PUCRS, 1997 e Mestre em Literatura Brasileira – UFSM, 1991. Exerceu os cargos de Secretário de Município da Cultura (2001-2004) na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM (2010-2013). Cronista em mais de um veículo de Santa Maria, desde 1977, atualmente do Jornal Diário de Santa Maria e do Portal Claudemir Pereira. Tem vários prêmios literários, destaque para o Prêmio Adolfo Aizen, categoria aventura, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia, em 2002; também finalista no Prêmio Açorianos, da Prefeitura de Porto Alegre, pelo mesmo livro, em 2002. Autor de várias obras em gêneros diversos, destaque para Poço de Luz, novela, IEL, 1989; O fenômeno da produção poética, ensaio, Editora da UFSM, em 2001; Da noite para o dia e Na marca do pênalti, novelas juvenis, WS Editor, 2001 e 2011, e o Musical Imembuy, com músicas de Otávio Segala. Atualmente exerce o cargo de  Presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais.

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