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BATE-PAPO: ATENA BEAUVOIR E MARQUITA

Hoje nosso bate-papo é com a Atena Beauvoir que é poetisa, escritora, filosofa que atua em defesa dos direitos humanos de gays, bissexuais, lésbicas, transexuais, travestis e que esteve ontem palestrando durante a Feira do Livro de Santa Maria. Ela lançou os livros Libertê e Phoda da editora Nemesis e que podem ser adquiridos em Santa Maria pelo telefone (55) 99113-0457 e demais regiões na rede social Atena.  Conversamos também  com a Marquita, coordenadora da ONG Igualdade em Santa Maria , responsável pela vinda da Atena a Santa Maria.

Poema da Atena ainda sem nome que ela leu nesse bate-papo:

SOMBRA NA NOITE ESCURA
VIADUTO SUJO DE MEMÓRIAS NUAS
RASTEJAM SONHOS ENTRE AS FRIAS PEDRAS,
RÍGIDA PLATÉIA QUE ATENTA OBSERVA, ASPIRAM VIDA,
PORQUE A MORTE NOS ESPIA DAQUELA ESQUINA
ELA PERGUNTA PORQUE ESTAMOS AQUI REUNIDOS
QUANDO PODEMOS NOS PROTEGER DA NOITE FRIA

QUISERAM CALAR TEU VIVER,
DISSERAM QUE TUA ALMA NÃO HAVIA DE SER
TODOS OS DESEJOS EM TUA MENTE
SÃO FLAMA ARDENTE QUE HÃO DE PREVALECER

E LEMBRA DO DIA MAIS DOLOROSO DE TUA EXISTÊNCIA?
LEMBRA QUE NO ÚLTIMO DE TI, HAVIA SÓ VONTADE DE NÃO VIVER
LEMBRA QUANDO O ÚLTIMO PENSAMENTO, QUISERA SER TEU ÚLTIMO TER
TU CORREU PELOS LABIRINTOS FUGINDO TORNAR-SE OUTRO MINOTAURO
ANIMAL-HUMANO, BESTA MITOLÓGICA QUE QUASE NOS TORNAMOS
ESPERANDO ENCONTRAREM-NOS PARA NÃO MAIS VIVER

E SITIARAM A CIDADE DO TEU CORPO DE REGRAS
FIZERAM DE TUA INFÂNCIA, TERRENO BALDIO
ENTERRAM NO TEU JARDIM, CORPOS MORTOS
E DISSERAM QUE UM DIA FLORESCERIA FLORES MIL

RIRAM DE TUA FACE, DE TEU ROSTO, DE TEUS CABELOS,
DE TUA FORMA, E TANTO RIRAM QUE TU CHAMOU DE
REALIDADE A CULPA QUE PLANTARAM EM TEU SER
QUISERAM FAZER PIADA, RIRAM DE TUA PRÓPRIA SÁTIRA
DAS TUAS VESTES AMALDIÇOARAM A ESTÉTICA,
A PIADA ERA ARMA ENGATILHADA BARCA
AFUNDADA E ILUSÃO FOI TEU PORTO SEGURO,
SEM FAROL, ERA ÚLTIMA ILHA EM UM NÃO PACÍFICO OCEANO PROFUNDO

NA JUVENTUDE QUISERAM CONTROLAR TEU MOVIMENTO
TEU PULSAR DE SANGUE QUISERAM TRANSFUSÃO DE VENTRES
GRITAVAM CONTIGO, SORRIAM PARA TEUS OLHOS
E PARA NA NUCA SUFOCAVAM TUA INGENUIDADE,
E TU CRESCEU VIL, CRESCEU ARREDIO, CRESCEU COM ESPINHOS,
PORQUE ENTERRARAM NAQUELE JARDIM, OUTROS SONHOS,
OUTROS VÍCIOS, OUTRAS VIDAS, SEMENTES DE IRONIA, DE RANCOR
DE UMA FALSA FAMÍLIA, QUE NO MOMENTO MAIS DOLORIDO,

SOMENTE SOUBERAM DUVIDAR DE TI

ONDE ENTERRARAM MINHA DIGNIDADE?
OH POR DEUS
ONDE ENTERRARAM VOSSA DIGNIDADE?
ONDE ENFIARAM NOSSAS ALMAS,
ONDE ESTÃO NOSSAS HORAS, DO TEMPO,
DESSE RIO QUE ESCORRE
E EU NUNCA BEBO DESSA ÁGUA,
MANDARAM QUE FÔSSEMOS TRABALHAR EM SILÊNCIO
MAS NO SILENCIO ELES NÃO NOS DEIXAM
ORDENAM, GRITAM, BERRAM, FAZEM PALANQUE
DE NOSSA SEDE
EU ESTOU FAMINTA, ESTOU FAMINTA
COM FOME DE VIDA

EU QUERO A LIBERDADE QUE ESCONDERAM DE MIM
E ME INTERNARAM NUM MANICÔMIO CHAMADO SOCIEDADE
DISSERAM QUE EU FAZIA PARTE DE UMA GENTE DA DIVERSIDADE
ENFIARAM-ME NUMA CAIXA ONDE OS BONECOS DA BIA SE MULTIPLICAVAM
NA INTENSIDADE, NA PUBERDADE, NA PLASTICIDADE, NA FALSA FRATERNIDADE

EU QUERO DE VOLTA TODA MINHA HUMANIDADE
QUERO DE VOLTA TODA MINHA UMIDADE
NÃO QUERO MAIS SER VIOLENTADA PELOS OLHARES DE QUEM NÃO CARREGA ALMA
NÃO QUERO MAIS VIOLAR A REGRA, A LEI, A CRUELDADE,
NÃO QUERO SER DOMADA, NEM SER DAMA NESSA OBSCURA FESTA
QUE VAI ACABAR TARDE, QUANDO NÃO MAIS HOUVER TAÇA DE VINHO,
DE KIT, DE CACHAÇA, DE VONTADE

E QUANDO EU ESTIVER SOZINHA,
NO MAIS ÍNFIMO DE MEU SER,

QUANDO A CHUVA PARA E O BARULHO DOS ÔNIBUS FOR A ÚNICA SINFONIA DE MINHA VIDA
EU SABEREI QUE AINDA RESTA ESPERANÇA
FUTURO ESSE SEM COBRANÇA

QUE A MORTE NÃO ME ALCANÇA,
QUE JAMAIS ME ALCANÇARÁ.

E EU ME DESCOBRI POETISA
VIVA, ARDENTE, FLAMA QUENTE, QUEIMANDO DAS TREVAS O FRIO,
GERANDO O CALOR DAS CALÇADAS

A MORTE NÃO ME ENXERGA,
PORQUE VIVEREI PARA TODA A ETERNIDADE,
TODA A ETERNIDADE
A ETERNIDADE
ETERNIDADE
NOS CONFINS POÉTICOS DAS MINHAS PALAVRAS
DECLAMADAS.

É MINHA ÚNICA VERDADE

E SE PERSEU DECAPITOU MEDUSA NO MITO GREGO
NO MITO BRASILEIRO EU VOLTEI PETRIFICANDO TEU PENSAMENTO

Veja também:

Trecho da palestra da Atena na Feira do Livro

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