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NAS PEGADAS DE BEBETO, UM BANDO E MUITOS OUTROS. por Roger Baigorra Machado

A Praça do Barão do Rio Branco regurgitava o tempo, como habitualmente faz, sem pressa nenhuma, quieta, alheia. Os minutos e os segundos escorriam pelas sombras dos galhos das grandes árvores e um minuano gelado corria rasteiro. Sentado, de pernas cruzadas e braços respaldados pelo encosto do banco, de longe eu o vi, era Bebeto Alves. Ele tinha o corpo voltado para a frente do prédio que hoje é o Teatro Rosalina Pandolfo Lisboa, na época, Bebeto era Secretário de Cultura de Uruguaiana. Fitava o nada.

Estava com o olhar fixo, observando o ar, como se admirasse alguma coisa que eu não via, reescrevendo, como sempre o fez, num olhar, a síntese de vida e arte.

Propositalmente, ao avistar o Bebeto, mudei o meu caminho, cruzei para o outro lado da rua 15 de Novembro e passei caminhando bem na sua frente, esperando e torcendo que ele me olhasse, eu daria bom dia, puxaria uma conversa. Depois, sem nenhuma vergonha, eu pediria para fazermos uma foto e, como quem não quer nada querendo tudo, eu perguntaria sobre a música “Mais uma Canção”. Sempre quis saber da sua história, pois desde a primeira vez que a ouvi, tive a impressão que ela não tinha sido escrita para uma pessoa.

Eu olhei. Ele não me olhou, eu passei. A vida passou. Era um dia qualquer do inverno de 2003.

Quando o Bebeto começou a tocar na minha vida, eu tinha 13 anos. Foi através de uma fita cassete que comprei nos camelôs, lá pelos idos de 1994. Como eu não tinha grana para discos de vinil, eu comprava fitas cassetes numa banca que ficava na rua Sete de Setembro, entre a Santana e Presidente Vargas. O vendedor já era meu conhecido de outras fitas cassetes, lembro-me que ele adorava Belchior e Raul Seixas. Enquanto eu procurava por “As Quatro Estações”, da Legião Urbana, ele parou ao meu lado e me entregou uma fita do Bebeto e perguntou se eu conhecia. Disse-lhe que não. Orgulhoso, o camelô, cujo nome eu não lembro, contou-me que quando criança tinha sido vizinho do Bebeto e que sempre que podia, fazia o trabalho do amigo circular entre seus clientes.

Numa “venda casada”, foi assim que o Bebeto foi parar no meu toca-fitas. Tipo, lembra quando o Grêmio comprou o Magno do Flamengo em 1995 e teve de levar o Paulo Nunes junto? Pois então, o Bebeto foi o meu “Paulo Nunes”. O nome do disco, ou melhor, o nome da fita cassete era “Notícia Urgente”. E senhoras e senhores… Que disco!

“Notícia Urgente” é todo gravado ao vivo, uma canção melhor que a outra. Depois, uns anos depois, eu emprestei a fita cassete. Por óbvio que nunca mais me devolveram e, por conta disso, e para minha tristeza, fiquei um tempo sem ouvir o Bebeto de novo.

É que, paradoxalmente, mesmo Bebeto sendo o maior dos expoentes da música da minha cidade, ele não tocava nas rádios de Uruguaiana. Por sinal, até hoje suas canções ainda não tocam, o que deixa tudo ainda mais triste.

Há alguns dias, com a morte do Henrique Mazzini da Rosa, ex-vocalista da Banda “Prole Proíbida” (uma icônica banda uruguaianense dos anos 80), eu percebi que não tinha nada da Prole entre os meus vinis. E então eu me pus à garimpar uma gravação que a Prole fez em 1989, quando a banda foi para a fase final do 1° Circuito de Rock, um festival promovido pela RBS TV.  Por conta disso, a Prole Proibida entrou com uma canção no disco do festival, que além de “Metamorfose Humana”, da Prole, também tem uma canção chamada “Sentimento Perdido”, composição de outro conjunto icônico do interior do Estado, a banda Fuga, de Santa Maria, com o Pila nos vocais.

Eu consegui encontrar o disco do festival, mas vejam que interessante, no mesmo lugar onde eu encontrei o vinil do Circuito de Rock, reencontrei também ele: o Bebeto Alves. E não foi qualquer disco do Bebeto, foi exatamente ele: “Notícia Urgente”.

Foi emocionante ouvir novamente a voz do Bebeto no chiado da agulha, cantando “A,E,I,O,U”, nos dizendo para acordar e reescrever a vida, não aceitar como dado o inevitável do que foi inventado por alguém:

“Reescrever todos os sentidos. Significados de toda e qualquer palavra, geografia desse pensamento. Reescrever desde menino, o pó da terra, o sol do mato, o céu azul anil. O afeto que encerra em nosso peito. Reescrever o A E I O U. De dó, acorde primeiro. Acorde primeiro. Acorde primeiro”.

E acordado, eu percebi que as pegadas do Bebeto serviram de trilha para muita gente.

O Bebeto é indefinível.

Ele é compositor, cantor, poeta, produtor, fotógrafo, artista plástico, gestor público, ele não é uma coisa única. E para entender um pouco dessa pluralidade, creio que é preciso falar dele desde o início.

O Bebeto nasceu longe demais das capitais, em 04 de novembro de 1954, chorou em Uruguaiana como Luís Alberto Nunes Alves, filho de Werley e Iolanda. Era o mais novo entre os quatro filhos do casal. O pai era auditor fiscal da Receita, a mãe, professora primária que abriu mão de tudo para se tornar mãe e dona de casa. O Bebeto estudou em várias escolas da cidade, cresceu ouvindo sua mãe contar as histórias da família, do avô que lutou na Revolução de 1923 junto das tropas de Flores da Cunha. Ou histórias de quando os “Souza”, sobrenome da família materna, eram donos do primeiro cinema da cidade e recebiam trupes de artistas vindos diretamente de Buenos Aires.

O Bebeto foi um prodígio, um guri que acabou sendo alfabetizado musicalmente pelas rádios da fronteira. Em sua casa, o aparelho de rádio ficava no centro da sala, tinha um lugar de destaque no âmbito familiar. O rádio detinha um lugar como hoje o que está ocupado pela TV.

Cresceu ouvindo a Jovem Guarda e decorando as canções do Roberto Carlos. Nos domingos de manhã, sua família gostava de escutar a Rádio Charrúa, em especial, um programa chamado Mundo da Criança, que era um programa de auditório, onde as crianças se apresentavam ao vivo. Antes dos dez anos, o guri já estava bem resolvido, saiu de casa e andou até o prédio da Rádio Charrúa e foi até o auditório. Quando o locutor perguntou “quem quer cantar?”, Bebeto não levantou a mão.

Ele se levantou, subiu no palco e foi direto ao microfone. “Dá o tom pro guitarrista!”, disse o locutor. Desde então, não mais desceu do palco.

Virou figurinha carimbada no programa. Não demorou e passou a se apresentar em outro programa de auditório, só que este era noturno. Num tempo em que ser legal era ser “brasa”, ele passou a ser um “brasinha da RC”. Em seguida, foi contratado pela Rádio São Miguel e virou cantor fixo no programa “Quero-quero Show”. Quando tinha doze anos de idade, ganhou do pai um violão. Aprendeu a tocar o instrumento recebendo aulas de Miguel Damasceno, um sapateiro que morava perto da sua casa.

Aos treze anos, já tocando relativamente bem o violão, foi convidado para ser parte de um grupo chamado Os Zumbis. Nessa época, Uruguaiana era uma cidade cheia de grupos musicais que animavam os bailes. E os Zumbis ocuparam muitas festas com suas canções. O Bebeto fazia guitarra base e eventualmente cantava. No repertório, além das músicas populares que tocavam nas rádios, também muito rock argentino. Ouvindo cada vez mais coisas novas, o Bebeto passou a se interessar pela Tropicália e começou a ouvir os Mutantes.

Até o final dos 60, ele cresceu embebido por uma Uruguaiana espanholada. Uma cidade de cultura plural, de italianos e franceses, de ingleses e charrúas, de uruguaios e palestinos, uma cidade negra, de batuque de tambores africanos e de milongas tristes, mas sobretudo, uma cidade que começava a ser invadida também pelo rock inglês. Em Uruguaiana, Bebeto foi parar num show de uma banda que tinha vindo de Porto Alegre, chamada Liverpool. Ficou vidrado naquilo. O rock pulsava nas veias do menino. No final de 1968, andando por entre as prateleiras de discos da Casa Jacques, uma antiga loja de variedades da cidade, encontrou algo que marcou sua vida musical profundamente. Foi o primeiro disco do Led Zeppelin, mais tarde, numa entrevista, ele disse que “aquilo me tirou do prumo”. Na época, já tinha saído dos Zumbis e era crooner num grupo chamado Hi-Fi.

Quando seus pais se divorciaram, a mãe de Bebeto resolveu se distanciar em definitivo do marido e partir para Porto Alegre. Queria dar aos filhos oportunidades que não teriam no interior do Estado. Era janeiro de 1970. Bebeto tinha quinze anos. Na capital, foram morar no bairro Santana e Bebeto começou a estudar no Julinho, a escola Júlio de Castilhos. Ali, o jovem uruguaianense começou a se interessar pela cena musical de Porto Alegre e pelas coisas que se escutava e se, sobretudo, se usava na capital.

De início, foi um choque entre culturas. Bebeto vinha da fronteira, com seu sotaque carregado, quase cantado. Usava diversas palavras em castelhano. Por vezes, parecia ser incompreendido. Até que virou motivo de gozação com os amigos da rua, na escola. Bebeto sentiu o preconceito por ser do interior. Ele tinha tudo para ficar em silêncio, no entanto, ele se reescreveu no novo mundo que se apresentava. Passou a ler mais e prestar atenção nas palavras, na pronúncia, na dicção. “Tive que mudar, (…) me refazer”, disse anos mais tarde, numa entrevista para o Luís Augusto Fischer.

Em Porto Alegre, conseguiu ir em vários shows. Conheceu o Mutuca (que nos deixou em 2008) e os discos do Hendrix, começou a ouvir Bixo da Seda e os discos da Janis Joplin. Conheceu as drogas lisérgicas, começou a escrever poesia, chegou até a publicar algumas na Zero Hora.

Em 1973, Bebeto resolveu largar a escola, estava no segundo ano do científico, que é o nosso atual ensino médio. Estava com 19 anos. Mochila nas costas e pé na estrada. Pegou carona e foi para o Rio de Janeiro. Em seguida, foi participar de um festival em São Paulo. O Brasil vivia em plena ditadura civil-militar, Bebeto percebia que as coisas não estavam bem, mas ele seguia andando. No ano seguinte, conseguiu uma oportunidade boa, tocar num festival em Palhoça. Desceu o mapa, voltou para o sul. Foi para Santa Catarina. Bebeto contou que naquele festival de Palhoça, ele sequer subiu ao palco, estava muito louco. O bom deste festival foi que ele conheceu os irmãos Frota. Ficaram amigos no ato. Marcaram de se encontrar em Porto Alegre. Não demorou para criar um grupo seu, o Utopia, formado pelo Bebeto, vocal e violão, Ricardo Frota no violino e Ronald no violão e voz. A ideia era tocar coisas novas, uma mistura de rock progressivo, nativismo, folk e tudo o mais que coubesse na receita de uma música popular gaúcha.

O Utopia era um trio, foi meio que criado dentro da faculdade de Arquitetura da UFRGS. Na época, Danilo Tibiriçá Nunes, aluno da faculdade, resolveu abraçar a ideia do grupo. Tibiriçá criou cartazes, artes de todo tipo e espalhou panfletos para divulgar o primeiro show.  Quando o grupo fez o seu show de estréia, dentro do DAFA, que era o Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura, os cartazes do Tibiriçá criaram tanta curiosidade que não havia espaço para todos dentro do DAFA. O show foi um sucesso.

Em 1974 iniciaram as Rodas de Som do Teatro Arena, sempre às sextas-feiras à meia noite. E lá foi o Utopia se apresentar. Sucesso total de novo. De repente, Ricky Bols e Jairson “Neny” Scliar, dois grandes artistas plásticos e amigos lá da faculdade de Arquitetura, resolveram também abraçar a banda e começaram a criar cartazes para divulgar os shows, cada cartaz era uma obra de arte única, arte psicodélica pura, contracultura em essência. Os cartazes eram tão incríveis que as pessoas guardavam. E a fama da banda só foi aumentando. Ainda em 1974, surge a banda Os Almôndegas, dos irmãos Ramil, Kleiton e Kledir. Os Almôndegas tinham vencido o 1° Festival Universitário da Canção Catarinense, com a música Vento Negro.

A Rádio Continental 1120AM, vendo o sucesso dos shows e da quantidade de bandas que estavam surgindo na Capital, começou a tocar as músicas feitas pelas bandas e artistas da cidade. Pela primeira vez na história, uma rádio valorizava a música popular gaúcha em sua programação, ao ponto de José Fogaça usar a música “Testamento”, dos próprios Almôndegas, na abertura do seu programa na Continental. Uma nova música estava sendo feita no Rio Grande do Sul. Porto Alegre virava uma efervescência musical. E quando o sucesso do Utopia era uma realidade parecia uma coisa inevitável rumo ao centro do país, o grupo termina. De acordo com Bebeto, a banda acaba devido ao “consumo de alucinógenos, churrasco, fandango, trago e muié”, quase nessa ordem. Além, é claro, da necessidade que Bebeto tinha em mudar. Em não fazer sempre o mesmo. Mesmo terminado o grupo, Bebeto e os irmãos Frota seguem amigos.

O Juarez Fonseca, que na época trabalhava na Zero Hora e que tinha publicado algumas poesias do Bebeto, ouviu o Utopia nas Rodas de Som e passou a divulgar todo esse cenário musical de Porto Alegre na sua coluna. Em 1978, ao saber que Porto Alegre teria uma gravadora e que seu amigo, Geraldo Flack, seria seu diretor-artístico, Juarez foi e conversou com o amigo. Ele estava disposto a organizar um álbum que contemplasse esse som novo que tinha tomado conta de Porto Alegre. “A ideia que levei a Geraldo era reunir músicos que de alguma forma estivessem envolvidos com aquele momento particular do Rio Grande do Sul, em que se mesclavam a força da MPB, o pop da era Beatles já metabolizado e a nova música regional revelada pela Califórnia da Canção Nativa a partir de 1971”, relatou Juarez, em 2021 para o Matinal Jornalismo.

Dessa ideia, surge o icônico disco “Paralelo 30”. Um trabalho coletivo que reuniu um seleto grupo de músicos. Com presenças de expoentes da nossa música, como Nelson Coelho de Castro, Raul Ellwanger e, é claro, o próprio Bebeto Alves, que no disco canta duas canções, uma delas em espanhol.

Em 1981, com o início do fim da ditadura civil-militar, Bebeto Alves lança o seu primeiro disco. Na capa, uma foto dele, cabeludo, sem camisa, com um fundo azul em uma moldura vermelha. Um horizonte negro ocupa quase a metade da capa, cortando horizontalmente bem na altura do peito, com cavalos correndo, como se estivessem, enfim, livres. O disco abre com uma música chamada “Sant’anna do Uruguay”, nome dado à Uruguaiana no século XIX, quando era apenas um passo no rio, cerca de trinta quilômetros de onde a cidade é hoje. A letra da canção é de um poeta também uruguaianense, Luís de Miranda.

“Por essa ponte.

Não passa o pensamento.

Nem sequer se aponta o longe.

Mas o rio trabalhando nas pedras

Traz todos os segredos de mim

Assim eu não volto mais

Pra cidade de onde eu vim.

Fica na memória como um retrato,

Uma alegria, uma dor, uma saudade”

Em diversas músicas, vejo que Bebeto saiu de Uruguaiana, deixou a fronteira, mas a fronteira e sua cidade jamais saíram dele. No mesmo disco está a canção que é uma das tantas grandes composições de Bebeto. “De bando”, simplesmente um hino, um chamado. Na letra, Bebeto nos questiona:

“Quanto tempo você tem para incorrer na vida?

Que pulsa louca no peito, rebentando de vontades, de desejos.

Engravidada de experiências (…)

E enquanto se fizesse luta, se saberia.

Somos um bando e muitos outros”

Trata-se de uma obra musical impecável. O disco é uma bomba que explode sobre Porto Alegre e ocupa a programação das rádios diariamente.  Dois anos depois, em 1983, Bebeto lança seu segundo álbum, “Notícia Urgente”. O disco da minha fita cassete, lá do início do texto. Nele há uma canção que remete à Rádio Charrúa e que, justamente, dá nome ao disco. Em Uruguaiana, nos anos 60 e 70, uma das poucas maneiras de se enviar uma mensagem para o interior era através do rádio. E a Rádio Charrúa tinha um serviço de utilidade pública, um programa que acontecia diariamente ao meio dia, um espaço para as pessoas se comunicarem num mundo sem telefone e energia elétrica, especialmente, na zona rural. “Atenção, atenção, interior do município!”. Eram as “notícias” que o povo da cidade mandava para o interior. Avisos de todo tipo, nascimentos, casamentos, avisos para que a carroça esperasse na porteira da estância. Um cavalo que tinha sido vendido. Uma doença na família, um batizado, uma morte. Bebeto viajou ao passado na letra e mandou o seu recado também.

“Ah, seu tocador de rádio.

Eu queria tanto mandar esse recado

Para o meu compadre

Que está aquebrantado

Por outro lado do Brasil.

(…)

Compadre, saudade.

Tô aqui no rio.

Tá fazendo frio.

Acabou meu charque.

Meu fumo de rolo.

Meus cobres, meus réis.

Me mande os papéis de voltar.”

Daí em diante é a história de uma obra vasta. De altíssimo nível. Grandes parcerias. Versões inesquecíveis. Os discos com Mauro Moraes, Humberto Gessinger, Antônio Villeroy, Nei Van Soria, todos são pérolas. Não há um disco do Bebeto que seja ruim, são todos bons ou ótimos.  Tem tango, milonga, rock, folk, disco. Como eu escrevi antes, a obra do Bebeto é indefinível. São mais de 30 discos, diversas exposições e projetos culturais, produções artísticas, documentário. Às vezes, eu acesso ao site dele (https://balvesphoto.46graus.com/) e fico lá, ouvindo suas músicas e vendo as suas fotos, as artes visuais, a parte plástica. Noutras vezes, escuto um disco dele e parece que algo no disco mudou, os sentidos, os significados das músicas, parece sempre diferente. Como se algo reescrevesse os sentidos. Os discos do Bebeto são assim, passam pela gente como um rio, você nunca entrará neles da mesma maneira.  E, embora o Bebeto não toque nas rádios de Uruguaiana, ele flui e toca na minha casa quase que diariamente. Meus filhos reconhecem suas músicas, algumas, já são memórias afetivas de nossos domingos em família, lembranças dos dias em que estou na cozinha fazendo o almoço.

No último dia 07 de novembro de 2024, completaram-se dois anos da morte do Bebeto. E hoje, ao ouvir o disco do 1° Circuito de Rock da RBS, motivo do início desse texto, com músicos lá de 1989,  eu percebi uma coisa importante. Que as pegadas das notas do Bebeto não levaram só as ruas de Porto Alegre, mas as ruas de todos, os sonhos de todos. E elas não desapareceram com a sua morte, elas seguem bem marcadas no chão da nossa música. Pegadas que foram seguidas por um bando, um bando e muitos outros. Pegadas que não podemos jamais deixar que se apaguem.

Ah, seu tocador de rádio, eu queria tanto mandar esse recado:

Gracias, Bebeto!

Uruguaiana, 21 de fevereiro de 2025.

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