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10 POEMAS DE VLADO LIMA

CALOFÃO

vim do Missouri
no lombo do demo
depois andei por aí
com o bando de William Munny
roubando bancos e dinamitando trens

levei minha primeira grande surra
num saloon em Big Whiskey
mas foi no colo de uma puta
chamada Delilah Fitzgerald
que aprendi o ofício de colorir cicatrizes com canetinhas Sylvapen

abandonei o velho oeste
em 25 de abril de 1964
dia em que me tornei sparring
de um rei negro
chamado Cassius Marcellus Clay Jr.
e rabisquei os primeiros versículos de
Como Suportar Jabs no Baço
e Encarar Nocautes

hoje sou um homem apenas 86% mau
tenho um FUCK YOU tatuado em Arial Black na sola da minha sina
e o que não dizem de mim na Wikipédia,
metade é lenda

 

AH L’AMOUR

era pra ser um sonho de valsa
no avesso do espelho
& virou tango epilético
no coração do abismo

era pra ser um musical
de Busby Berkeley
& virou samba islandês com uma borboleta cega dançando no escuro

era pra ser uma caminhada idílica
pelas Pontes de Madison
& virou bungee jumping
nos escombros de Faluja
sob a mira de um franco-atirador

era pra ser um beijo de baixa caloria
& virou desentupimento de alma
com arrombação em 3D
da carótida interna

era pra ser um sexo Ki-Suco
sabor baunilha vegana
& virou coito de cometas
na grelha de Hannibal Lecter

era pra ser um tapinha hippieranga
num beck de cannabis com orégano
& virou dependência antropofágica
com probabilidade de mutação
para overdose irreversível

era pra ser vertigem
apenas vertigem
& virou taquicardia
boca seca
nó nas tripas
e apneia na Fossa das Marianas

meu nome é Pepé Le Pew e digo
: o amorrr não é parrra amadorrres ( . )

COMI JESUS NA PÁSCOA

meu jesus de chocolate ( ! )
2 quilos de cacau & açúcar
abençoando minha santa gula

a primeira mordida foi na cabeça
com coroa de espinhos e tudo
depois comi os pés
os braços
os peitinhos
as chagas
e até a cruz

comecei na sexta-feira da paixão
e no sábado de aleluia não tinha nem
migalhas do nazareno

domingo de páscoa veio a disenteria
uma cólica bíblica
um armagedom nos intestinos

primeiro foi Sodoma e Gomorra — pensei
agora meu cu
´
deus sempre foi um cara vingativo

O INCRÍVEL EXÉRCITO
DOS HOMENS ÚNICOS

mundaréu na UTI
e eu aqui
no Ó do mocó
da última vértebra do fiofó do cafofo
entre três tragos secos
de um Chivas ancião
e um pacote tamanho GG de Cheetos
sabor torresmo light

mundaréu em coma
e eu aqui
no ponto cego da antessala
da cloaca da maloca
onde o meu brioco loko morga zen nóia
e as teletelas do Tio O’brien
(só) captam estática

mundaréu num TILT agônico
e eu aqui
na janela lateral da torre mais alta
da muralha norte
peneirando a tez rude
da voz das ruas
num suco de caos e cacofonia

tô aqui tacando bombas de catota
no topete da manada das
amebas ruminantes
do planeta Zéruela

tô aqui cuspindo adjetivos sujos
no umbigo do útero das
antas abissais

a música chucra que Eles gritam em bocas de lodo amplificadas
não toca na minha rádio subterrânea

a ode dos náufragos que Eles regurgitam num mantra manco
não reverbera no meu encéfalo cínico

o deus pereba pra quem Eles rezam
não me causa pauduroessência

aqui na minha pequena Pasagardinha
sou o rei e inimigo do rei
déspota e bobo da corte
alcaide e catador de papelão

aqui Lady Day canta Strange Fruit com 750 dólares enfiados na buceta

aqui Ismael boqueteia o pau do canibal num caixão de mogno africano

aqui Frederico navega no mar
de plástico da Cinecittá

aqui sou o general do incrível exército
dos homens únicos

 

NO FINO DA FOSSA

aberta a temporada de dor de cotovelo
agulhas no bolachão do Jamelão
no bolachão da Maysa
no bolachão do Rei
vamos gritar Dolores Duran

hoje a ordem é sangrar litros
chorar baldes
cuspir maldições impronunciáveis
e expurgar o coração alquebrado em praça pública

nada de água
(os peixes mijam nela)
vamos de vodka chinesa
de whisky paraguaio
Velho barreiro e Álcool Zulu
(cabernet é pra covardes)

talvez hoje eu dance com um demônio
sob a luz do luar

talvez hoje sono io l’ultimo romântico

talvez hoje seja o fim do mundo

mas amanhã eu tô
bom

 

AQUÉM DA CÚPULA

compartilhei silêncios
ninguém curtiu

aqui
aquém
da cúpula virtual
o real
não vale 1 Real
rasgado

tudo é pose & pet
(…)

invisibilizei meu perfil
montei minha mobília numa ilha lá na lua
e anunciei no balestreiro da garagem
: maluco vende tudo!

vou correr trecho (acho)
virar Diadorim sobre as veredas do sertão
sem fim

axilas ao sol (…)

quem perguntar por mim?
: fui ali exalar exílios

OS TIOZINHOS DA MESA DO CANTO

4 (às vezes 5) tiozinhos sentados na mesa do canto
quase todos gordos carecas doentes falidos ou desempregados

sentam-se ali há anos
religiosamente
toda quinta-feira
na velha mesa do canto de cara pra Rua Faustolo

sentam-se ali há anos
com suas barrigas
suas dentaduras
suas próstatas delicadas
seus pânicos & panes
suas receitas secretas de como obter sucesso
comer mulheres
e influenciar pessoas
e seus planos infalíveis de bombardear Manhattan Oriental

4 (às vezes 5) tiozinhos sentados na mesa do canto
acho que eles estão morrendo

tem noites — quando já estão pra lá da 4ª dose
— que dá até pra ouvir seus pensamentos

quem cuspirá na cova de quem?
quem contará piadas no velório de quem?
quem consolará a viúva de quem?

quem
herdará a solidão
da mesa?

 

NA CARNE DO POEMA

na pele do poema uma cartolina branca grita
: aqui não tem metáforas de marzipã com açúcar de confeiteiro
não tem rimas reumáticas
frases de autoajuda
e nem aquela xaropada gut-gut do Carpinejar

aqui não tem gotas de otimismo
minutos de sabedoria
receitas de felicidade
ou pérolas da filosofonice de boteco

aqui, na carne do poema
só pus caos câncer bala perdida
e restos de desastres numa garrafa de pisco

aqui, na carne do poema
só filas felas falos mortos
pó de apocalipse
melancolia self service
miojo sabor cicuta
saudades da suástica
baladas para cortar os pulsos
e kamikazes sem capacete

aqui Serguei balança enforcado no quarto do Hotel Inglaterra
Florbela jaz entupida de água do Tejo com barbitúricos
Torquato fechou a porta e abriu o gás
e eu acordei nublado

aqui o cano frio do verso nas minhas têmporas
a roleta russa girando
o gatilho o cão o tambor
e a bala sem rédeas deslizando nas cordas da balalaica

procurando palavras revigorantes pra justificar o seu dia?
perdeu, playboy
aqui deus é menos que um furúnculo
coaching de cu é rola
e canibais usam guardanapo

 

PREVISÃO DO TEMPO PARA PESSIMISTAS
E DEPRESSIVOS TARJA PRETA

SEGUNDA-FEIRA
será um dia de merda
e o sol acordará com dor de dente

TERÇA
os ventos do Atlântico soprarão mais merda
pro umbigo da ilha
e aos 45 minutos do segundo tempo
sentiremos uma vontade danada de chorar

QUARTA-FEIRA
mais merda pela manhã
depois feijoada
horas letárgicas
e sonhos suicidas

QUINTA
a merda estará em seu ápice
Dorothy Parker será a meteorologista do Jornal Nacional
e dirá: acho melhor você viver!

SEXTA-FEIRA
beberemos todas as cervejas possíveis
pra esquecer a merda geral da semana
e apagar

SABADÃO
só ressaca & enxaqueca
e foda-se os tsunamis e o Godzilla no mar do Japão

DOMINGO
rango e colo na casa da mama
com a velha de galochas e guarda-chuva
gritando no olho do furacão
: deixem meu tigre triste dormir em paz

SEGUNDA
a merda da terra redonda
girando em torno do sol com dor de dente outra vez
e eu sem a mínima vontade de vestir a minha roupa
de homem
invisível

****

MANOELANDO

portas abertas
e
janelas escancaradas
o vento fez ninho na prateleira dos temperos

plantei açúcar na trilha das formigas
e todos os caminhos
levam
a romã

não sou de conversar com plantas
mas acho que o meu pezinho de manjericão
sabe traduzir silêncios

por aqui o capim desconhece o poder dos latifúndios
sexta passada comeu o muro do vizinho
e até o fim da temporada de tempestades
terá devorado o arame das cercas

quando setembro chegar
vou criar
o verso solto

Vlado Lima
Compositor, poeta, editor e agitador cultural. Publicou os livros Sabe Nada, Inocente! (Sopa de Letrinhas, 2018), Como Suportar Jabs no Baço e Encarar Nocautes (Patuá, 2015) e Pop Para-Choque (Patuá, 2012). Produz o Sarau Sopa de Letrinhas, é um dos fundadores do Clube Caiubi de Compositores e também um dos responsáveis pela Editora Sopa de Letrinhas.
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