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“Um artista genuinamente brasileiro”

O QUE ARDE CURA por Anselmo Vasconcellos

Um jovem admirador de Baden-Powell que idealizou a “Lei Escoteira” que não estabelecia leis proibitivas, mas conceitos para formação de pessoas benévolas, era o filho mais novo dos 7 de vovó Carmen. Todos com nomes começando com a letra A: Adir, Acir, Alair, Altair, Albino, Amyr e Atila.
Andando na rua Larga de Bonsucesso, Átila sentiu algo entrar em seu olho e com o lenço de escoteiro tentou aliviar o incomodo e as lágrimas abundantes em resposta à invasão. Chegou em casa e reclamou com a mãe prestativa que logo foi à Pharmacia Homeopática e, com seu Guilherme, aviou um colírio. Era assim naqueles idos e eu nem minha irmã eramos nascidos, nem manipulados.
Na varanda Atila sentou seus 24 anos na beirada do umbral em arco e vovó Carmen colocou seus óculos, empunhou o vidro azul e pingou a essência no olho do escoteiro que sentiu arder mas segurou o pulo de dor. Carmen percebeu e pingou no outro olho sem deixar de enaltecer:
“O que arde cura! “
Seus olhos se apertaram para tentar ler no alto do umbral a inscrição que vovô Gaspar tinha mandado aplicar em relevo de pastilhas coloridas: “Esta casa é um Lar “. Atila reclamou que a as pastilhas fugiram de vista. Vovó levou ele para o quarto para deitar. Na cama deixou aquele jovem corajoso a sua sorte com pano sobre o rosto da solidão e da surpresa deste dia em Bonsucesso.
Atila acordou com olhos azuis dos cegos. Médico nenhum deu esperanças ao desespero da vovó. Aquela fórmula queimou os olhos de Atila tingindo de escuridão para sempre.
Ingressou na Aliança dos Cegos, aprendeu a estofar, fabricar vassouras, espanadores e petecas. Sua nova educação o levou a proezas que a família contava. Inventou uma bengala dobrável articulada com elásticos, cabia na mão e com ela caminhou firme pelas ruas dos anos que passaram. Aprendeu a ler Braile, cresceu belo de letras. Sensível, calmo sentia o mundo, perdoou a cegueira da mãe, sem sequer protestar. Foi com ele que aprendi a não reclamar.
Uma tarde de outono cheguei em casa e Tio Atila, sentado no sofá da sala, ouviu minha voz. Abriu seu relógio de bolso, lendo as horas com os dedos, disse:
– “Você cresceu bastante. Está estudando de manhã agora? “ Sabia ver meu tamanho pela altura da minha voz. Minha mãe nos olhava emocionada e almoçávamos juntos. Um requinte sua atenção e olfato ao comer. Depois eu o levava até o ponto de ônibus onde me despedia orgulhoso daquele grande homem que tinha tanto. Adorava enxergar nos amigos a razão de dizer: Tenho um tio cego. Ele é campeão de tiro ao alvo, sonoro.
Uma manhã, Atila tocou a campainha de uma casa para oferecer vassouras e outros produtos. Atendeu Helena, uma doce mulher que o reconheceu abrindo seu coração para ele, como se o esperasse lhe deu dois filhos, uma vida simples e feliz. A última vez que o vi ele tirou os óculos escuros, olhou na minha direção e me disse:
– “A vida me deu os olhos de Helena”.

 

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Anselmo Vasconcellos

Ele se define apenas como “Um artista genuinamente brasileiro”

 

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