Arquivos TATIANA PY DUTRA - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/tatianapydutra/ Comunicação fora do padrão Fri, 16 Mar 2018 03:00:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Arquivos TATIANA PY DUTRA - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/tatianapydutra/ 32 32 Sinto que também morri por TATIANA PY DUTRA https://redesina.com.br/sinto-que-tambem-morri-por-tatiana-py-dutra/ https://redesina.com.br/sinto-que-tambem-morri-por-tatiana-py-dutra/#respond Fri, 16 Mar 2018 02:59:05 +0000 http://redesina.com.br/?p=3954 Senhoras e senhores, perdoem o meu egoísmo (não sei se é essa a palavra), mas eu sinto que também morri. Morri e estou dormente, viajando no astral, num sono reparador após 38 anos de lutas interrompidas por uma saraivada de tiros, numa emboscada covarde. Durmo e não sei me expressar com palavras. Só sei sentir. …

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Senhoras e senhores, perdoem o meu egoísmo (não sei se é essa a palavra), mas eu sinto que também morri.

Morri e estou dormente, viajando no astral, num sono reparador após 38 anos de lutas interrompidas por uma saraivada de tiros, numa emboscada covarde.

Durmo e não sei me expressar com palavras. Só sei sentir.

Sinto cansaço.

Mas também sinto vontade de urrar e enfiar as unhas no reboco da parede; e de esfregar o cimento até fazer sangrar os dedos; de rasgar as roupas e sair grintando, nua e descalça, pelas ruas:

– Canalhas!

Quero “agredir” a população com meus cabelos indomáveis e insubordinados a qualquer grampo.

Quero expor minhas pelancas e cicatrizes.

Quero que Me aturem!

Quero esbofetear a autoridade. Quero cuspir e sapatear na cama dela com as botas embarradas.

Depois, eu quero chorar abraçada no ombro da amiga. Quero soluçar a insatisfação e a tristeza que me animalizam e que não sei fazer sair pra fora.

Quero que a Justiça se materialize na minha frente pra eu voltar a acreditar em liberdade.

Quero que o poder seja do povo para eu acreditar em Justiça. E que o povo tenha educação para entender que a Justiça deve ser igual para todos.

Quero respeito aos pobres, aos pretos, aos periféricos.

Quero a palavra da mulher sendo levada a sério.

Quero que a morte dos 242 anjos, da Cláudia Silva Ferreira, do Amarildo, do Teori, da Marielle e o Anderson e de todas as outras vítimas da barbárie, antes e depois deles, nunca sejam esquecidos.

Eu tenho vontade de gritar. Não grito, mas sinto minha garganta arder e meu coração sangrar.

Quero saber quem me matou.

“NÃO CONSIGO DORMIR. TENHO UMA MULHER ATRAVESSADA NAS MINHAS PÁLPEBRAS.
SE PUDESSE, DIRIA A ELA QUE FOSSE EMBORA, MAS TENHO UMA MULHER ATRAVESSADA
NA GARGANTA.”
EDUARDO GALEANO

TATIANA PY DUTRA

Jornalista formada pela UFSM, especialista em Comunicação e Projetos de Mídia pela Unifra. Com 20 anos de profissão, atuou em rádio, TV e jornal. Atualmente, escreve mo blogdatatipy.com

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Um Carnaval que deu nome aos bois por TATIANA PY DUTRA https://redesina.com.br/umcarnavalquedeunomeaosboispor-tatiana-py-dutra/ https://redesina.com.br/umcarnavalquedeunomeaosboispor-tatiana-py-dutra/#comments Wed, 14 Feb 2018 18:03:42 +0000 http://redesina.com.br/?p=3747 Nesta quarta-feira, o Brasil conhecerá o resultado do Carnaval carioca – e, havia anos, uma apuração não despertava tanta curiosidade. Telespectadores à direita e à esquerda dos polos políticos querem saber se a afrontosa escola de samba Paraíso do Tuiuti será premiada ou punida pela ousadia de relacionar o vergonhoso capítulo da escravidão, “encerrado” há …

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Nesta quarta-feira, o Brasil conhecerá o resultado do Carnaval carioca – e, havia anos, uma apuração não despertava tanta curiosidade.

Telespectadores à direita e à esquerda dos polos políticos querem saber se a afrontosa escola de samba Paraíso do Tuiuti será premiada ou punida pela ousadia de relacionar o vergonhoso capítulo da escravidão, “encerrado” há 130 anos, com o esforço neoliberal de manter os pobres sempre pobres por meio de alterações na legislação trabalhista e previdenciária e reduções de direitos sociais.

E a Tuiuti fez mais. Elegeu e nomeou culpados. Se Michel Temer era um alvo fácil, menos simples era responsabilizar uma classe média escravizada pela mídia: os “paneleiros”.

A escola de São Cristóvão não inventou a roda. A crítica social sempre fez parte do Carnaval, está no DNA da festa. E, ainda que, nos últimos anos, as grandes escolas de samba do Rio de Janeiro tenham se dedicado muito à monetização de seus enredos, o tópico sempre volta à Avenida (e, consequentemente, à boca do povo, por seu didatismo). Em 2018, voltou como uma bordoada numa nação apática. Acorda pra cuspir, Brasil!

Mangueira, Tuiuti e Beija Flor apresentaram algumas das facetas mais revoltantes da nossa história e atualidade. Mas é preciso destacar a contundência do julgamento da segunda.

Surpreendendo pelo destemor, a escola uniu carteiras de trabalho a “manifestoches”: manifestantes vestindo camisetas canarinho, boias de pato e com panelas em mãos, sendo manipulados por mãos gigantescas da mídia e dos grandes poderes financeiros.

O deboche final foi aproveitar uma piada corrente sobre o presidente – que subiu ao poder após o ainda questionado impedimento de sua antecessora – e transformá-lo num vampiro.

As retaliações começaram ainda na transmissão ao vivo do desfile. A crítica política foi parcamente comentada durante o desfile ao vivo; deletada na exibição do compacto, na tarde seguinte; e desmerecida na reportagem sobre a primeira noite de desfiles no principal telejornal da casa. Só não suprimiram a passagem da Tuiuti porque seria ainda mais vergonhoso que dar a ela metade do tempo de exibição das demais.

Isso faz com que muitos telespectadores (não sem razão) temam novas represálias contra a Tuiuti. Ainda que a escola não tenha apresentado erros capazes de rebaixá-la – pelo contrário, está entre as favoritas, graças à competente digressão histórica sobre o racismo – paira no ar a possibilidade. Um rebaixamento como punição.

Se isso se confirmasse, seria uma injustiça capaz de ressuscitar feitores e capitães do mato para sangrar nossas feridas e calar a voz dos oprimidos.

Preocupada, parte da senzala espera por respostas. A outra parte segue dormindo.

TATIANA PY DUTRA

Jornalista formada pela UFSM, especialista em Comunicação e Projetos de Mídia pela Unifra. Com 20 anos de profissão, atuou em rádio, TV e jornal. Atualmente, escreve mo blogdatatipy.com

 

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