Arquivos Rafael Leal - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/rafael-leal/ Comunicação fora do padrão Fri, 31 Aug 2018 00:05:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Arquivos Rafael Leal - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/rafael-leal/ 32 32 Modelo de Estrutura Narrativa: o John Truby Beat Sheet por RAFAEL LEAL https://redesina.com.br/modelo-de-estrutura-narrativa-o-john-truby-beat-sheet-por-rafael-leal/ https://redesina.com.br/modelo-de-estrutura-narrativa-o-john-truby-beat-sheet-por-rafael-leal/#comments Mon, 20 Jun 2016 04:31:25 +0000 http://redesina.com.br/?p=1563 Beat sheet é uma simplificação das estruturas narrativas consagradas em uma sequência causal de movimentos dramáticos. Em outras palavras, é lista do que acontece na narrativa, elencada por movimentos estruturais que seriam comuns à grande maioria do que Jacques Aumont chama de Narrativa Representativa Industrial. Um beat sheet dos mais conhecidos é o do roteirista …

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Beat sheet é uma simplificação das estruturas narrativas consagradas em uma sequência causal de movimentos dramáticos. Em outras palavras, é lista do que acontece na narrativa, elencada por movimentos estruturais que seriam comuns à grande maioria do que Jacques Aumont chama de Narrativa Representativa Industrial. Um beat sheet dos mais conhecidos é o do roteirista Blake Snyder, sobre o qual eu falei nesse artigo.

Beat sheets são uma ferramenta popular entre roteiristas principalmente no sentido de proporcionarem um resultado (roteiro) próximo do padrão hegemônico da Narrativa Representativa Industrial, sem levantar qualquer tipo questionamento sobre sua forma ou sobre os aspectos contingentes – História e Ideologia – que de certa maneira determinam o modo de se narrar.

Há um contrassenso em partir do que há de comum entre grande parte das histórias, quando o que se busca é a singularidade da própria narrativa – ou seja, contar uma história que não tenha sido contada antes, ou recontá-la de maneira original.

Feita essa ressalva, recentemente conheci o trabalho como professor do roteirista americano John Truby, que desenhou em seu livro “Anatomy of a Story” um modelo de 22 etapas, que corresponde de certa forma aos outros Beat Sheets – como o Blake Snyder e o Memorando de Vogler – mas descrito sob uma lógica diferente, mais flexível, que afirma por exemplo não ser necessário todos os movimentos estarem presentes em todos os filmes.

Eis um resumo do John Truby Beat Sheet:

Auto-revelação, necessidade e desejo – esta é uma etapa razoavelmente simples mas muito importante de se estabelecer corretamente. Falhar em assegurar esses três elementos frequentemente resultará em não saber em que direção sua história está indo.

Fantasma e mundo narrativo – essa etapa no roteiro corresponde a determinar qual é o “fantasma” que assombra o protagonista, e qual o seu “mundo narrativo. O fantasma é uma questão do passado do protagonista que ainda o atormenta, talvez provocando um conflito interno. O mundo narrativo consiste em mostrar aos espectadores como seria um dia normal na vida do protagonista.

Fraqueza e necessidade – a fraqueza (o problema) é a dificuldade que o personagem possui no começo da história. A necessidade é do que ele precisa para recuperar seu equilíbrio. Frequentemente (ainda) está relacionado ao interesse romântico.

Incidente Incitante – é geralmente bastante perceptível no filme. É a ação que rompe com o mundo narrativo do protagonista.

Desejo é o que move a história, que se geralmente se foca nos desejos do protagonista.

Aliado ou aliados – a utilização de um aliado é uma maneira que muitos roteiristas encontram para definir seus protagonistas. Aliados podem ter praticamente qualquer natureza, sejam amigos, parceiros ou simplesmente alguém que oferece conselhos ao protagonista.

Oponente e/ou mistério – o oponente é consideravelmente objetivo. O oponente é a pessoa com a habilidade de atacar o protagonista utilizando para isso a fraqueza revelada anteriormente. O mistério pode ser também um oponente invisível, como nas histórias de detetive, em que se precisa de um mistério que compense a falta de um inimigo.

Oponente falso-aliado – é um personagem na história que surge para ser um aliado mas acaba se revelando como um oponente.

Primeira revelação e decisão – a mudança do desejo e da motivação. Essa etapa é bastante conhecida como o primeiro ponto de virada no filme, e é quando o protagonista descobre informação nova e toma uma decisão que muda repentinamente os rumos da história.

Plano – é a maneira que o protagonista encontra para realizar seu desejo. O plano não tem que sempre funcionar perfeitamente – se fosse assim, o resultado seria um filme chato. Uma falha imprevista ou uma ação surpreendente do oponente podem alterar o plano. Isso acontece com a intenção de chocar ou surpreender os espectadores.

Plano do Oponente e Estratégia de Contra-ataque – agora é a vez do oponente aparecer com um plano para contrapor-se ao protagonista e impedi-lo de realizar seu desejo.

Motivação – é a linha central da história, os passos reais que o protagonista dá seguindo o plano. É muito fácil repetir-se na motivação, de modo que é importante prestar atenção para não o fazer.

Fogo amigo – também facilmente perceptível em muitos filmes. É a parte quando o protagonista se desvia de seu caminho, de sua motivação original, ou tenta tomar um atalho em direção ao seu desejo. Também é frequentemente a etapa em que o protagonista recebe um tapa na cara (figurativamente é claro).

Derrota aparente – quando o protagonista está prestes a desistir. Toda a esperança se perdeu e não há saída para o tormento em que se encontram. É o ponto inferior da história, quando o protagonista tem certeza de que o oponente resultará vitorioso.

Segunda revelação e decisão: motivação obsessiva e desejo transformado – este é o momento em que o protagonista percebe onde errou e decide tentar novamente. Ele possui interesse renovado em seu desejo, porque sua perspectiva a respeito se transformou.

Revelação aos espectadores – é quando os espectadores veem algo que protagonista não sabe, e descobrem uma parte vital da informação. Tipicamente, os espectadores tomam ciência de algo antes que o protagonista o faça.

Terceira Revelação e Decisão – O protagonista aprende tudo o que pode, de modo a tornar-se um adversário digno a seu oponente, e ser capaz de derrotá-lo.

Portão, manopla, visita à morte – Tipicamente é o último sacrifício do protagonista, que pode ter que enfrentar uma última provação antes da batalha.

Batalha – é o confronto final entre o protagonista e seu oponente. Essa etapa está presente na grande maioria dos filmes realizados, e é uma oportunidade para o roteirista diferenciar claramente por que o protagonista e o oponente estão lutando – para mostrar quem se sairá melhor.

Auto-revelação – o protagonista finalmente compreende o que vem fazendo de errado e como corrigir para obter sucesso. Trata-se de algo que ele não havia compreendido até o momento.

Decisão moral – O protagonista começa a agir de acordo com o que acabou de compreender. Ele precisa tomar a decisão correta – que pode ser morrer uma morte honrada.

Novo equilíbrio – Finalmente, tudo retorna ao normal, similar ao “mundo narrativo” mostrado no início.

FIM.


RAFAEL LEAL

rafaell

Roteirista, professor de Roteiro Cinematográfico na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUCRJ. Formado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense – UFF, mestre em Artes da Cena  Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Desenvolve conteúdo para televisão e cinema, como as séries “Paixão Futebol Clube” (Raccord Filmes), vencedora do Edital de Desenvolvimento de Projetos de TV 2012 da RioFilme; “Comando Cruzeiro do Sul” e “Perdidos”, selecionada pelo Programa Globosat de Desenvolvimento de Roteiristas.

Escreveu os longa-metragens “Rio dos Mortos” (comédia), “Doce Irmã” (documentário) e “O Carrasco” (drama). Como roteirista da Giros Interativa, criou as séries “As Pandoras” (infanto-juvenil), “Lava Jato” (comédia), “Vida Real” (comédia), além de ter adaptado para a televisão os romances “O Senhor do Lado Esquerdo”, de Alberto Mussa, e “Ladrão de Cadáveres”, de Patricia Melo (adaptado como “Corumbá”). Corumbá e Vida Real integram a Carteira de Projetos vencedora do Edital PRODAV 3 – Núcleos Criativos 2013/2014. Recentemente, escreveu as séries “Canta pra Subir” (Migdal – GNT), “Sistema Solar” (República Pureza – GNT) e “As Canalhas – 3a Temporada” (Migdal – GNT), além de ter criado a série “Jungle Pilots” (Giros – Tambellini Filmes – NBC-Universal).
Presta consultoria para o Núcleo Criativo da Miração Filmes, entre outras produtoras.

BLOG: http://www.rafaelleal.com/

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Quais principais erros cometidos em roteiro? – by RAFAEL LEAL https://redesina.com.br/quais-principais-erros-cometidos-em-roteiro-by-rafael-leal/ https://redesina.com.br/quais-principais-erros-cometidos-em-roteiro-by-rafael-leal/#respond Thu, 03 Mar 2016 10:28:37 +0000 http://redesina.com.br/?p=1130 É um consenso entre leitores de roteiros do mundo inteiro que a fração de obras que se recomendam à produção varia de 1% a 3%. Em outras palavras, isso equivale a dizer que 97 em cada 100 roteiros escritos jamais serão transformados em filmes – no contexto da indústria cinematográfica. Outro dia me deparei com …

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É um consenso entre leitores de roteiros do mundo inteiro que a fração de obras que se recomendam à produção varia de 1% a 3%. Em outras palavras, isso equivale a dizer que 97 em cada 100 roteiros escritos jamais serão transformados em filmes – no contexto da indústria cinematográfica.

Outro dia me deparei com um infográfico que fazia uma análise de um corpus de 300 roteiros recebidos por uma agência de talentos em Los Angeles – dos quais apenas 8 foram recomendados à produção – e da qual é possível extrair algumas conclusões interessantes.

As mais interessantes para mim são onde mais erram os roteiristas. Quando eu falo “erram” não quero dizer que existe um jeito certo e um jeito errado de contar uma história. Entretanto, existe uma maneira que se tornou hegemônica no contexto da indústria cultural – a que chamamos Narrativa Representativa Industrial (a expressão é de Jacques Aumont) – e que, embora comporte inovações, é pouco propícia a aceitar alterações radicais em seu formato e proposta.

Segundo esse estudo, o erro mais comum foi a demora para introduzir a história. Isso está ligado a uma questão central com a qual o roteirista frequentemente se depara: sobre o que é o meu filme? Não ter com clareza a resposta para essa pergunta é o fator de risco número um para tardar a entrar na história.

O segundo erro mais comum encontrado nos roteiros foi a falta de conflito consistente nas cenas – outra coisa que não me canso de repetir em minhas aulas. Se não há desejo do personagem e oposição a ele, não há conflito. E se não há conflito, não há história. Ainda assim, a quantidade de cenas que eu vejo por aí sem qualquer conflito – cenas planas e meramente expositivas… Além

O terceiro erro é, em si, uma lição para roteiristas: roteiros realizados exatamente de acordo com os manuais, extremamente técnicos, embora frios e desprovidos de significação. Os manuais de roteiro operam principalmente na esfera da Morfologia e da Sintaxe, ou seja, da natureza dos elementos estruturantes (como personagens, por exemplo) e da relação entre eles. No entanto, essas esferas são meramente teóricas e seu domínio não basta para a produção de um roteiro de qualidade.

Regras como balanço emocional, viradas a cada dez páginas, lista de funções dramáticas, Pirâmide de Freytag, etc., só servem de alguma coisa quando a serviço de uma história potente. E enquadrar a história em uma estrutura pré-definida não é garantia de funcionamento orgânico da narrativa.

Que tal aprender com os erros dos outros?

rafa


RAFAEL LEAL

rafaell

Roteirista, professor de Roteiro Cinematográfico na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUCRJ. Formado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense – UFF, mestre em Artes da Cena  Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Desenvolve conteúdo para televisão e cinema, como as séries “Paixão Futebol Clube” (Raccord Filmes), vencedora do Edital de Desenvolvimento de Projetos de TV 2012 da RioFilme; “Comando Cruzeiro do Sul” e “Perdidos”, selecionada pelo Programa Globosat de Desenvolvimento de Roteiristas.

Escreveu os longa-metragens “Rio dos Mortos” (comédia), “Doce Irmã” (documentário) e “O Carrasco” (drama). Como roteirista da Giros Interativa, criou as séries “As Pandoras” (infanto-juvenil), “Lava Jato” (comédia), “Vida Real” (comédia), além de ter adaptado para a televisão os romances “O Senhor do Lado Esquerdo”, de Alberto Mussa, e “Ladrão de Cadáveres”, de Patricia Melo (adaptado como “Corumbá”). Corumbá e Vida Real integram a Carteira de Projetos vencedora do Edital PRODAV 3 – Núcleos Criativos 2013/2014. Recentemente, escreveu as séries “Canta pra Subir” (Migdal – GNT), “Sistema Solar” (República Pureza – GNT) e “As Canalhas – 3a Temporada” (Migdal – GNT), além de ter criado a série “Jungle Pilots” (Giros – Tambellini Filmes – NBC-Universal).
Presta consultoria para o Núcleo Criativo da Miração Filmes, entre outras produtoras.

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