Arquivos PAULO LUDMER - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/paulo-ludmer/ Comunicação fora do padrão Fri, 01 Sep 2023 00:07:21 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Arquivos PAULO LUDMER - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/paulo-ludmer/ 32 32 Escrever entre o sucesso e a beleza por Paulo Ludmer https://redesina.com.br/escrever-entre-o-sucesso-e-a-beleza-por-paulo-ludmer/ https://redesina.com.br/escrever-entre-o-sucesso-e-a-beleza-por-paulo-ludmer/#respond Wed, 30 Aug 2023 11:44:06 +0000 https://redesina.com.br/?p=100174 Centenas de pessoas escrevem ficção no país. Movimentam anualmente centenas de milhões de Reais. Delas vivem pequenas editoras, gráficas, oficinas de escrita, livreiros e livrarias, sebos, mensageiros, acadêmicos de letras e muitos outros satélites econômicos, financeiros e comerciais. Proliferam oficinas de escrita e de leitura que complementam a renda de aficionados. Aproveitam para ensinar e …

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Centenas de pessoas escrevem ficção no país. Movimentam anualmente centenas de milhões de Reais. Delas vivem pequenas editoras, gráficas, oficinas de escrita, livreiros e livrarias, sebos, mensageiros, acadêmicos de letras e muitos outros satélites econômicos, financeiros e comerciais.

Proliferam oficinas de escrita e de leitura que complementam a renda de aficionados. Aproveitam para ensinar e aprender desde jornalistas até roteiristas, dramaturgos e novelistas.

Aos escritores, agentes propulsores desse turbilhão, destinam-se uns poucos mimos, muitos enganos e ilusões. Autores diversos disputam migalhas sob o formato de prêmios de concurso, publicações em antologias, docências em cursos, debates em festivais e por aí vai. E, assim, metabolizam decepções, deparam-se vez ou outra com juris de competência duvidosa e uma mídia sufocada, no espaço e no tempo, para ampliar o debate desses impasses. Feiras e festivais literários grassam por um crescente número de cidades brasileiras em toda parte e movimentam turismo, hotelaria, culinária e meios de transporte.

Políticas culturais há muito tempo no Brasil não é assunto para amadores, embora uma fração de políticos – a exemplo do generalíssimo Franco na Espanha e do ditador Salazar, em Portugal, com um séquito de admiradores, aplaudam o lema Abaixo a Cultura. Um povo culto, instruído, é um povo crítico, contestador, que deseja ser convencido e repulsa ser oprimido.

As grandes editoras recebem regularmente dezenas de originais, filtram lentamente a qualidade artística e econômica, rejeitam a maioria. Mas, publicam muitos autores estrangeiros, às vezes medianos e medíocres vis a vis brasileiros. Produzem os livros na medida de sua capacidade operacional, técnica e financeira. Bem administradas respeitam seus limites negociais. Elas precisam de vendas, sobreviver. O fato é que estrangeiros no país possuem uma auréola mítica de bons, o que não corresponde sempre à verdade. Entrementes, um livro deve sair de uma prateleira (física ou virtual) à razão de centímetros quadrados por dia para remunerar o emprego de horas da estrutura da empresa na empreitada. Sem o binômio qualidade literária e comercial nada feito, não são casas de misericórdia. São mais comerciais os livros escolares, os de autoajuda, os infantis, os profissionais (culinária, turismo, moda e que tais).

Em ficção, jovens promessas perdem a atratividade para outros contemporâneos atentos ao racismo, orientação sexual, povos originais, quilombolas, direitos humanos e feminismo. Nas esferas cultas, discute-se o lugar de fala: por exemplo, cresce a ideia de que negros prioritariamente escrevam literatura negra. Autores se vem envoltos num manto de decolonização, numa berlinda de cancelamentos. A valoração de personagens inventados (trunfo criativo no passado) cede aplausos para auto ficção. É imprevisível o desaguar dessa conjuntura na qual se reconhece a premência de dívidas históricas com a negritude, o feminino, o quilombola e os povos originais.

Entrementes, em certames literários em profusão, há jurados despreparados para premiar poesia, crônica romance e novelas, mesmo entre acadêmicos de letras multiplicados no país por critérios discutíveis. Por sua vez, nem a academia assegura qualidade, nem o voluntarismo a destrói. O que está em pauta é o futuro de jovens virtualmente bons escritores que vão se liquefazendo nesta máquina de moer palavras e silêncios.

Portugal tem certames literários anuais, com prêmios em milhares de Euros, em dezenas de municípios. Alguns aceitam inscrições de lusófonos estrangeiros. Hoje, também propagam-se ofertas de residências literárias no exterior com subsídios do país anfitrião. Na Argentina, exige-se mais que autoprodução no curriculum do residente. É preciso publicar por grandes e renomadas editoras. Isso elimina o maior número de candidatos. No hemisfério norte, encontram-se frequentemente subsídios insuficientes, além de que às vezes a liberdade do residente é vigiada.

Contratar um agente literário acontece comumente quando ele precisa do escritor e não vice-versa. Ele se interessa por nomes que vendam milhares de livros aqui e no exterior. Raramente aplica tempo e dinheiro numa promessa. Diante de trilhas tão fechadas, para um bom escritor ingressar numa Academia de Letras reconhecida, tablado onde conquista voz, jetons, viagens a convite, mesas de debate, ele esbarra em concorrentes pop, televisivos, cinematográficos, musicais.

Por estrangulamento, resta o caminho de ganhar a láurea de um Jabuti, um Oceanos ou Biblioteca Nacional. Isso promove uns poucos enquanto os demais seguem arroz de festa. Observe-se que sucesso não são suficiências, assim como qualidade não significa vendas ou reconhecimento. A rigor, nos conceitos rondam incertezas: o que é belo e o que é sucesso são palavras de significados polissêmicos sem a menor unanimidade na contemporaneidade.

 

Paulo Ludmer, jornalista, engenheiro, professor, publicou mais de trinta títulos, vide www.pauloludmer.com.br

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10 POEMAS DE PAULO LUDMER https://redesina.com.br/10-poemas-de-paulo-ludmer/ https://redesina.com.br/10-poemas-de-paulo-ludmer/#respond Tue, 15 Aug 2023 02:57:35 +0000 https://redesina.com.br/?p=84165 XIV   A sombra lufa de frescor no descanso do ar, nos estuários de balbúrdias nos sofás, penteia a crina do vácuo. Refrigera pés descalços nas estradas. Viceja na partitura do errar Por frestas da necessidade.   (este é o poema de número XIV do meu livro recente Desconcertos de sombra e água, raridades das …

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XIV

 

A sombra lufa de frescor no descanso do ar,

nos estuários de balbúrdias nos sofás,

penteia a crina do vácuo.

Refrigera pés descalços nas estradas.

Viceja na partitura do errar

Por frestas da necessidade.

 

(este é o poema de número XIV do meu livro recente Desconcertos de sombra e água, raridades das coisas, Editora Patuá).

 

 

XXII

 

O som de sombra insufla

corujas, vampiros e vespas.

Advém das possibilidades isósceles

a desvanecer Iansã e Iemanjá.

Esparge pronomes, envenena fados,

Adjetivos, advérbios e reputações.

 

(poema XXII do livro Desconcertos de sombras e água, raridades das coisas, Editora Patua 2023)

 

 

XCIII

 

Sabor de sombra revela o outro lado da lua,

rastros de cometas e de pirilampos.

Revisito quartzos, micas, feldspatos, a biblioteca do instinto.

Em qualquer latitude, esfarinho o reconstituído e o reencontrado.

Adsorvo a argila da imprudência.

 

(poema XCII do livro Desconcertos de sombra e água, raridades das coisas, Editora Patuá, 2023)

 

 

Recomeço

 

Sou abismo de céu num mundo de tramoias

entre auroras aveludadas e pegajosas,

ferrugem do que foi verde e rubras derrotas.

 

Sou leão em savana de incêndio,

entre os  beijos da vida e da morte,

sorriso obturado, pedaço de carne suada.

 

Atravesso artimanhas e conflitos,

a solidão e súbitas encostas,

arpejos inseguros no imaginário.

 

Fabulo menos heróis e mais pessoas,

risadas dobradas nos vãos das almas,

alegrias contrabandeadas de frestas interiores.

 

Vivo assombrado, espantado no lodo do mundo,

limpo musgos das palavras, farrapos da linguagem,

verto da barragem do silêncio.

 

Despido nos descampados do acaso,

sem porto de destino e seu vento favorável,

zarpo na roda do recomeço.

(terceiro lugar no prêmio Ben Gurion, 2023)

 

 

Vazante

 

Na garupa do inesperado, invento palavras que se espatifam no papel.

Escrevo nem lá, nem cá, no pólen do tanto faz,

dane-se o desdém, os esbarros do mistério.

 

A memória se evapora nos orvalhos amorosos,

a adoçar amarguras no calor errante do outono à primavera,

nas promessas do vento e do mar.

 

Atravessado por trapaças fumegantes,

desosso arrependimentos.

Meus pulmões desabrigam tristezas aos pingos necessários.

 

Vazam da barragem do silêncio.

 

 

Antes

 

Antes que o verbo se aposente,

entre a carne acalorada e a alma,

regam alvíssaras ao aqui e agora,

féculas de anseios e enigmas.

 

Seivas entorpecem na varanda do sossego,

no arroio manso das flores, no presente,

a rebobinar os açudes das constâncias.

 

Mas a impaciência roça o desatino,

borrifa necessidades sem leme,

artimanhas, obscenidades, nos epígonos da volúpia.

 

Inventa vidas para reconta-las.

 

 

Ucrânia

 

Gerações traídas malhadas de neve e acasos,

silentes ciprestes, nos vinhos da noite,

não mais apalpam, não roçam, não calcam,

não debulham, não descamam, não afiam,

são ossos descarnados por obuses de memórias e sangue.

 

Nas manhãs entre sombras e ruínas desventurosas,

enchem caçambas de descrédito e morte,

macerados nos monjolos do tempo, fatigados de mentiras.

 

 

Sombra

 

Inexiste distrato com a sombra,

aparece sem superstição, roteiro, figurino,

nuvem, mar, cortinas, veludos,

braços de polvo, estrela de caspa.

 

Caimento, proporção, imagem,

cafunés escalenos e isósceles,

a catalogar as coisas do mundo.

 

Ora distante, ora rente, reflete, resume,

reconstitui contrastes e contornos

sem segredos no rés e no abismo.

 

Desobrigada de si mesma.

(prêmio cidade de Registro, primeiro lugar)

 

 

Rebeca

 

Sapeca, moleca, levada da breca, menina dos olhos,

liquefaz, desembaça pensamento.

Generosa, vertente, leal,

luz na planície e na súbita encosta,

sonho persistente, sem pressa.

 

Nau no imaginário, no universo assombroso,

viagem no existir e no indizível,

riso no vão da alma, entre flores.

 

Carne, suor, reinvenção de amor.

 

 

Breu

 

O breu furtivo, eivado de lua,

infecta o verbo Ser,

indolor, insípido, inodoro,

 

fluido reveste de névoa o menino de que brotei.

 

Acanha a jia, a preguiça, refrega com a morte

a varrer trilhas quando nada acontece,

súbito, cessa no orvalho matutino,

na escrita do asterisco ao ponto final.

 

 

 

PAULO LUDMER

Paulista, paulistano, nascido em 1944, pai , marido, avô, engenheiro, jornalista, professor e escritor. Livros e prêmios literários em: www.pauloludmer.com.br

 

 

 

 

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8 POEMAS DE PAULO LUDMER https://redesina.com.br/8-poemas-de-paulo-ludmer/ https://redesina.com.br/8-poemas-de-paulo-ludmer/#respond Sun, 06 Sep 2020 04:14:46 +0000 https://redesina.com.br/?p=10605 Bamboleio Penhoro cabelos, agora grisalhos, desejos, exílios no tempo, reminiscências, algumas de contentamento, mistérios e enredos postiços, peso e leveza nesta lista escorregadia de destroços, fardos e saberes. No arquipélago do garbo sem recato, letras de giz, frases arenosas e escombros, esparjo ficção em algodoais espinhosos, planto nas bordas dos truques, na pele prateada das …

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Bamboleio

Penhoro cabelos, agora grisalhos,
desejos, exílios no tempo,
reminiscências, algumas de contentamento,
mistérios e enredos postiços,
peso e leveza nesta lista escorregadia
de destroços, fardos e saberes.

No arquipélago do garbo sem recato,
letras de giz, frases arenosas e escombros,
esparjo ficção em algodoais espinhosos,
planto nas bordas dos truques,
na pele prateada das horas,
no império bamboleante da nitidez.

Grafite

Nas vísceras da realidade, mágoas a bombordo, fúrias na proa,
lascas de enganos, nevoeiros providenciais,
envelhece-se à deriva, súdito da imaginação.

Lidas, relidas, estrofes enrugadas nos papeis
invadem frestas, fissuras nos cabarés da esclerose,
a secretar anestesia, mitigar hálito e untar unguento,
contornar cerros de equívocos, pulsões esfarinhadas,
a devorar madrugadas a grafitar orvalho.

Pólens

No calcanhar de tardes como esta,
consoantes não acontecem.
Substantivos até sei modificar, escavar,
degradar verbos, locuções, metonímias,
gerar pétalas azuis, féculas de anseios, flamingos de algodão doce.

Avio receitas de cogumelos, cactos e petições de eutanásia,
com pólens de tanto faz.

Depois

Vem crisálida de manhas e mimos,
descomprime suspiros, aleivosias e instantes,
dopa, franze, ergue sobrancelhas,
despe tristezas e neutrinos, troças, desavisos,
no sofá de couro negro e anelos tépidos,
rangidos de mistérios resistentes ao depois.

Querência

Quis ser, acreditar que fosse
atravessar catracas lúbricas,
coletar lascívias, compartilhar recatos,
malandragens nos braços das malandragens,
corpos inflados na mercearia
de ossos, carnes, peles e véus.
Quis o frenesi dos lugares longe,
picadeiros de enganos, pequenas e grandes travessuras,
açodado, curioso a farejar nos epígonos da volúpia

Sol

Lambuza o passado que nunca acaba,
árvore calcinada, gemido informe,
veios e atalhos de belezas e feiuras,
correias transportadoras de minúcias.
Dá passagem ao claro, ao escuro,
ao sereno, à secura e ao som recurvado da terra.

No luxo da distância, revive sorrateiro, bebe o sol.

Beleza

Errei por gramáticas, dialetos, sabendo cerros e vales,
escarpas, veredas, trilhas pantaneiras, sertão.
Desfibrei as carnes das coisas.
Baixei a cabeça, vaca sobre ervas.

Agora subo a escada da noite,
os degraus da biblioteca do devir,
desprovido, migrante, submisso,
escasso de verdade a rumorejar mais beleza.

Antes

Hei de atravessar paredes,
o chão da seriedade,
rasgar cartazes, engravidar novelas,
refazer claves de Bach e Beethoven,
ao largo das águas correntes,
arteiro na sombra da morte.

Reverberar a aspereza das pedras,
a ousadia de árvores, elegantes damas,
aproveitar a herança do Barco Bêbado,
antes que o verso se aposente.

 

POEMAS DO LIVRO:

Paulo Ludmer lança livro novo: Filactérios

 

 

Paulo Ludmer

é poeta, contista, jornalista, engenheiro, professor (www.pauloludmer.com.br), Autor de Fagulhas (Realejo livros), Fonte (AGE), Falésia (Espaço Editorial) e Foz (Espaço Editorial) entre 25 títulos.

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Paulo Ludmer lança livro novo: Filactérios https://redesina.com.br/paulo-ludmer-lanca-livro-novo-filacterios/ https://redesina.com.br/paulo-ludmer-lanca-livro-novo-filacterios/#respond Tue, 30 Jul 2019 01:10:50 +0000 https://redesina.com.br/?p=7197 Nosso colaborador Paulo Ludmer lança o livro Filactérios. Ludmer é poeta, contista, jornalista, engenheiro, professor (www.pauloludmer.com.br), Autor de Fagulhas (Realejo livros), Fonte (AGE), Falésia (Espaço Editorial) e Foz (Espaço Editorial) entre 25 títulos. Alguns de seus poemas estão publicados em nosso site em: https://redesina.com.br/category/portal/convidados/paulo-ludmer/ COMPRE O LIVRO AQUI   RESPIRAÇÃO DAS PALAVRAS     por Fernando …

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Nosso colaborador Paulo Ludmer lança o livro Filactérios. Ludmer é poeta, contista, jornalista, engenheiro, professor (www.pauloludmer.com.br), Autor de Fagulhas (Realejo livros), Fonte (AGE), Falésia (Espaço Editorial) e Foz (Espaço Editorial) entre 25 títulos.

Alguns de seus poemas estão publicados em nosso site em: https://redesina.com.br/category/portal/convidados/paulo-ludmer/

COMPRE O LIVRO AQUI

 

RESPIRAÇÃO DAS PALAVRAS    
por Fernando Paixão

Prepare-se para ler um livro de poemas que respiram. Ou melhor: poemas que denunciam a pausa do pensamento e das figuras evocadas. Entre uma palavra e outra, mil nexos podem ser urdidos afinal, mas a arte poética exige nisso uma ação precisa e surpreendente ao mesmo tempo, para escapar do senso comum. Tarefa nada simples.
Não será difícil perceber a respiração compassada que aparece já nos primeiros poemas de Filactérios, em cujos versos se oferece um andamento regido pelo paralelismo e pelo jogo de imagens, que se alternam entre o contraste e desdobramento. Ao cabo, fica a impressão de um ritmo reflexivo, que pede a cumplicidade do leitor.
Por exemplo, quando começa dizendo: “Errei gramáticas, dialetos, sabendo cerros e vales/ escarpas, veredas, trilhas pantaneiras (…)”. E continua na segunda estrofe: “Agora subo a escada da noite/ os degraus da biblioteca do devir,/ desprovido, migrante, submisso (…)”. A cada pausa, uma camada imaginária se acrescenta.
Pode-se então dizer que as sentenças caminham marcadas sob o compasso das elipses. Daí a recorrência do uso da virgula como marca de respiração. Funciona como uma espécie de supressão da gramática, para que o verso fique contido ao osso, ao essencial: “No arder farsesco a validade encurta, /dedilho a gramática, o léxico, a sintaxe”.
Em uníssono com o ritmo respirado e pensado, também a frase ganha liberdade para desobedecer as previsibilidades e deixar de lado as conexões óbvias. Característica que se acentua principalmente na segunda parte do livro, intitulada “Frêmitos”. Um poema chamado “Rusgas”, por exemplo, começa dizendo que “o poente degrada a paciência no muro da igreja que cheira rapé”, e termina afirmando: “Escambam aveludados dentes de leão”.
Toda conexão é possível, porque não está regida pelo nexo da razão. Impera aqui o princípio de “uma música singular e contínua”, conforme a definição de Paul Valery em carta a Mallarmé, ao resumir a qualidade última da poesia. Nessa direção, o estilo de Paulo Ludmer oferece uma teia associativa de ideias e de imagens com o intuito de resgatar “o eco misterioso das coisas e sua secreta harmonia”, mencionados na mesma carta.
É o que acontece ainda na terceira parte, dedicada ao tema amoroso e à figura feminina. Encontra-se aí uma respiração própria, impulsionada pelas ondas do olhar, do tato, das intuições próprias dos amantes. Toda uma trama de qualidades são alinhavadas, mas sem uma síntese à vista; nos deparamos com a exaltação do “arroio lúbrico”, mas também  com a baixeza do “fole do afeto provisório/orfanato do torpor, tibieza e comédia”. A ambiguidade permanece: trata-se de uma mulher desdobrada em muitas ou de muitas mulheres que se resumem a uma só.
O poeta pensa e respira.
Caminha enquanto lança imagens no papel.
Escreve a sua música em palavras.

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Sarapintado por Paulo Ludmer https://redesina.com.br/sarapintado-por-paulo-ludmer/ https://redesina.com.br/sarapintado-por-paulo-ludmer/#respond Mon, 08 Apr 2019 19:22:33 +0000 http://redesina.com.br/?p=6181 Ostra na rocha não sei do mundo, a grama cresce sozinha. Não sei dos embaixos, não sei das moscas, mas da volta das lepras velhas. Pausar, parar, areja a fala distante do perfume da aurora, das volúpias do alçapão do amor sarapintado no marulhar do verbo ser.   Paulo Ludmer é poeta, contista, jornalista, engenheiro, …

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Ostra na rocha não sei do mundo,

a grama cresce sozinha.

Não sei dos embaixos,

não sei das moscas,

mas da volta das lepras velhas.

Pausar, parar, areja a fala

distante do perfume da aurora,

das volúpias do alçapão do amor

sarapintado no marulhar do verbo ser.

 

Paulo Ludmer

é poeta, contista, jornalista, engenheiro, professor (www.pauloludmer.com.br), Autor de Fagulhas (Realejo livros), Fonte (AGE), Falésia (Espaço Editorial) e Foz (Espaço Editorial) entre 25 títulos.

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Parabéns Paulo Ludmer! https://redesina.com.br/parabens-paulo-ludmer/ https://redesina.com.br/parabens-paulo-ludmer/#respond Sat, 30 Mar 2019 18:37:39 +0000 http://redesina.com.br/?p=6039 Hoje é aniversário de um dos nosso colaboradores muito querido, Paulo Ludmer. Ele é poeta, contista, jornalista, engenheiro, professor, autor de Fagulhas (Realejo livros), Fonte (AGE), Falésia (Espaço Editorial) e Foz (Espaço Editorial) entre 25 títulos.  Entre os prêmios literários que o autor recebeu estão: Prêmio União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, 1995, …

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Hoje é aniversário de um dos nosso colaboradores muito querido, Paulo Ludmer. Ele é poeta, contista, jornalista, engenheiro, professor, autor de Fagulhas (Realejo livros), Fonte (AGE), Falésia (Espaço Editorial) e Foz (Espaço Editorial) entre 25 títulos.  Entre os prêmios literários que o autor recebeu estão:

  • Prêmio União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, 1995, por “Linguaçodada”;
  • Prêmio O Capital, de Sergipe, em 1999, de melhor obra do ano para “Outrarias”;
  • III Concurso Casa da Palavra, 1997, texto premiado: “Entre Linhas”, do livro “Outrarias”;
  • Prêmio Edição Literis, 1998, texto premiado: “Desda”, do livro “Outrarias”.
  • Finalista em poesia nos certames da OFF Flip de 2014 e 2017, publicado em suas respectivas coletâneas de premiados.

“Quando eu escrevo espontaneamente, sai poema, um gênero que hoje costuma não ser narrativo. A minha prosa contém presença de poesia. Meus textos são fronteiriços entre contos, crônicas, poemas e inclassificáveis. Melhor ler sem rotular, ler como se estivesse reescrevendo. Eles crescem vistos em conjunto.”, diz.

Confira alguns de seus poemas publicado aqui:

http://redesina.com.br/category/opiniao/paulo-ludmer

 

Mais sobre ele em: www.pauloludmer.com.br

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ARRANJOS por PAULO LUDMER https://redesina.com.br/arranjos-por-paulo-ludmer/ https://redesina.com.br/arranjos-por-paulo-ludmer/#respond Tue, 04 Sep 2018 21:10:38 +0000 http://redesina.com.br/?p=5195 Beleza na seiva do sofrer, coragem na dor, jorram pepitas reluzentes, couro, cola, ilhós e sovelas das sapatarias evanescentes. As molduras do ser nem são eternas, nem a simplicidade ornamental, jorram alteridades entre ausências e silêncios das correntes, cadeados e ferraduras de nossas cavernas. Esquecer garante lembrar-se da lama do campo, das ruas ordinárias, jorram …

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Beleza na seiva do sofrer, coragem na dor,
jorram pepitas reluzentes,
couro, cola, ilhós e sovelas
das sapatarias evanescentes.

As molduras do ser nem são eternas,
nem a simplicidade ornamental,
jorram alteridades entre ausências e silêncios
das correntes, cadeados e ferraduras de nossas cavernas.

Esquecer garante lembrar-se
da lama do campo, das ruas ordinárias,
jorram cerejas do tempo despencando nos desfiladeiros,
das máquinas cósmicas originárias.

Heroísmo, fezes e mortes,
arbustos lentos sob o sol e meia sombra,
jorram a alma do lado de dentro e de fora,
pedacinhos de cantigas no metralhar das sortes.

Paulo Ludmer

é poeta, contista, jornalista, engenheiro, professor (www.pauloludmer.com.br), Autor de Fagulhas (Realejo livros), Fonte (AGE), Falésia (Espaço Editorial) e Foz (Espaço Editorial) entre 25 títulos.

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ANTES por Paulo Ludmer https://redesina.com.br/antes-por-paulo-ludmer/ https://redesina.com.br/antes-por-paulo-ludmer/#respond Fri, 27 Jul 2018 16:45:00 +0000 http://redesina.com.br/?p=4477 O céu é o mesmo dos gregos, mais sábio, menos espontâneo. As coisas formadas por dobras, as peles de fronteiras, sempre nascem hirtas de pinheiros. Há suplício nos rostos, vincos. Que não se larguem as mãos, honradas, grosseiras, calosas, ásperas, lisas, encarvoadas ou cremosas. Mas olhos andam presos ao chão, larvas parasitas atacam sem quartel, …

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O céu é o mesmo dos gregos,

mais sábio, menos espontâneo.

As coisas formadas por dobras, as peles de fronteiras,

sempre nascem hirtas de pinheiros.

Há suplício nos rostos, vincos.

Que não se larguem as mãos,

honradas, grosseiras, calosas,

ásperas, lisas, encarvoadas ou cremosas.

Mas olhos andam presos ao chão,

larvas parasitas atacam sem quartel,

gente não é cebola, pepino, batata nem ganso,

agora diante de armários e camas empenados.

Ainda não chiam os freios de um comboio,

traz munição no vazio onde ares sabem o que tocam.

Gargantas se organizam antes de emitir palavras.

Paulo Ludmer

é poeta, contista, jornalista, engenheiro, professor (www.pauloludmer.com.br), Autor de Fagulhas (Realejo livros), Fonte (AGE), Falésia (Espaço Editorial) e Foz (Espaço Editorial) entre 25 títulos.

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Poesia: SÚMULA de Paulo Ludmer https://redesina.com.br/poesia-sumula-de-paulo-ludmer/ https://redesina.com.br/poesia-sumula-de-paulo-ludmer/#respond Wed, 07 Feb 2018 18:35:08 +0000 http://redesina.com.br/?p=3740 Penhorei cabelos negros, marrons, grisalhos, aprisionei desejos em barras de ferro, níquel, cromo, alumínio, engaiolei reminiscências (muitas de contentamento), representei climas postiços e enredos justos.   Gratidão pesou, vingança não, nesta lista escorregadia, a costurar cacos e destroços.   Na areia do solo, palavras que escrevi se apagam.   PAULO LUDMER Paulistano, Jornalista, Engenheiro, Professor, …

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Penhorei cabelos negros, marrons, grisalhos,

aprisionei desejos em barras de ferro, níquel, cromo, alumínio,

engaiolei reminiscências (muitas de contentamento),

representei climas postiços e enredos justos.

 

Gratidão pesou, vingança não, nesta lista escorregadia,

a costurar cacos e destroços.

 

Na areia do solo, palavras que escrevi se apagam.

 

PAULO LUDMER
Paulistano, Jornalista, Engenheiro, Professor, Consultor.
Colunista do DCI do canal energia e da eletricidade moderna.Professor de pós de engenharia da Fei PUC e do Mackenzie. Conselheiro de economia sociologia e política da Fecomercio SP, de energia da associação comercial de SP, de economia da ACS, membro do conselho estratégico de energia da American Chamber SP. Esteve presente no conselho mundial de energia desde 1989.
Secretário geral da interage eleito em 2006 em Bogotá. Membro da International Federation of Industrial Energy Consumers em Genebra e Bruxelas de 86a 2006.
Escritor. www.pauloludmer.com.br
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No Roteiro POR PAULO LUDMER https://redesina.com.br/no-roteiro-por-paulo-ludmer/ https://redesina.com.br/no-roteiro-por-paulo-ludmer/#respond Fri, 24 Nov 2017 13:21:08 +0000 http://redesina.com.br/?p=3490   Praga de certezas a iludir tolos, embala escopetas buliçosas, brada, oprime, degrada, ira, lacra curiosidades, infla fogueiras e nevoeiros.   Vaga no escuro de ossos e sangue fresco, jejua luz, diz sem domicílio, mágoa a bombordo, fúria na proa, vela indestrutível autoengano.   Singra dobras, fissuras, costuras, sob o nariz da morte. No burburinho …

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Praga de certezas a iludir tolos,

embala escopetas buliçosas,

brada, oprime, degrada,

ira, lacra curiosidades,

infla fogueiras e nevoeiros.

 

Vaga no escuro de ossos e sangue fresco,

jejua luz, diz sem domicílio,

mágoa a bombordo, fúria na proa,

vela indestrutível autoengano.

 

Singra dobras, fissuras, costuras,

sob o nariz da morte.

No burburinho do mundo, salva-se de si mesma.

 

Não há holofotes além do contencioso de viver,

escrever e descansar no colo da linguagem,

roteiro dos orvalhos e dos cometas.

 

PAULO LUDMER
Paulistano, Jornalista, Engenheiro, Professor, Consultor.
Colunista do DCI do canal energia e da eletricidade moderna.Professor de pós de engenharia da Fei PUC e do Mackenzie. Conselheiro de economia sociologia e política da Fecomercio SP, de energia da associação comercial de SP, de economia da ACS, membro do conselho estratégico de energia da American Chamber SP. Esteve presente no conselho mundial de energia desde 1989.
Secretário geral da interage eleito em 2006 em Bogotá. Membro da International Federation of Industrial Energy Consumers em Genebra e Bruxelas de 86a 2006.
Escritor. www.pauloludmer.com.br
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