Arquivos ANSELMO VASCONCELLOS - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/anselmo/ Comunicação fora do padrão Mon, 04 Sep 2023 17:29:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Arquivos ANSELMO VASCONCELLOS - Rede Sina https://redesina.com.br/category/portal/convidados/anselmo/ 32 32 Quarta Dimensão por Anselmo Vasconcellos https://redesina.com.br/quarta-dimensao-por-anselmo-vasconcellos/ https://redesina.com.br/quarta-dimensao-por-anselmo-vasconcellos/#respond Mon, 04 Sep 2023 17:27:13 +0000 https://redesina.com.br/?p=108213 São rosas. Estão eles ali sob a vitrine de vidro do balcão do botequim, reluzentes no tom da cor rosa, ao lado daqueles petiscos, tira-gostos incomiveis pelos normais. Sardinhas fritas, torresmos, goelas empanadas. Tudo é desafio à estética da fome. Olho um homem ao meu lado, nordestino pelo tipo, operário pelo vestir essa manha fria …

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São rosas. Estão eles ali sob a vitrine de vidro do balcão do botequim, reluzentes no tom da cor rosa, ao lado daqueles petiscos, tira-gostos incomiveis pelos normais. Sardinhas fritas, torresmos, goelas empanadas. Tudo é desafio à estética da fome.

Olho um homem ao meu lado, nordestino pelo tipo, operário pelo vestir essa manha fria de julho na rua Vinte de Abril, que fica no “centro das nossas desatenções”, como escreveu o bamba Antônio Torres, um livro. O cabra toma de um só gole um cálice cheio do traçado Rabo de Galo. Aguardente , a cachaça que energiza o sangue da pobreza. O brasileiro é um alcoólatra crônico.
Volto a admirar a vitrine e na falta da coragem o desejo pelo petisco é carne tremula. Não devo ter os anticorpos necessários para digerir esta parada toda. Falta me o respiro da massa de concreto, a rigidez dos vergalhões que sustentam as paredes aparentes do edifício. Falta um carrinho-de-mão no meu DNA. Sou um filhinho- da- mamãe que vacila na porta deste Pé-Sujo, que é assim que chamam este pequeno bar de tranca- ruas. Despacho o medo pedindo um Underberg. Bebo devagar, esta formula secreta de ervas, em homenagem aos bebuns, os muçuns manos, amizades que fiz neste bairro onde trabalhei 30 anos. Lembro do Bob Estrela , negrão que foi do Bando da Lua e, segundo disse, cantou pros branquelos americanos com a Carmem Miranda. Bob, sem dentes, me contava historias dos teatros de revista que eram a paisagem de um Rio de Janeiro submerso de suas vedetes e astros . Foi Bob, morador desta rua, que me ensinou tanta coisa por apenas um copo do tal Underberg, que sempre paguei sem nenhum pecado. Sem culpas, eu ouvia ele cantar e requebrar. Um esquecido artista da dimensão popular assim renascia Miranda mente em Carmem e osso.
Vim aqui visitar Salvatore Papa, o velho italiano dono da loja de ferragens e outros inutensilios. Ele me vendia fiado e prometia me apresentar à Máfia. Dizia isso com a verdade siciliana dos que sabem mentir pros amigos. Fico sabendo que ele morreu no hospital. Seu filho, no caixa da loja, me conta que ele mandou comprar caixas de bombons e deu de presente pras enfermeiras. Que Corleone faria isso? Digo às lagrimas.
Todos se foram. Bob Estrela, o Italiano e sua ilusória máfia, o dono da farmácia, seu Artur, o restaurante A Lisboeta. Fazer o quê? Penso diante do balcão mirando a vitrine do botequim que mais sabe de mim. Então finalmente como o Ovo Rosa cobiçado e tremo de alegria. Sigo caminhando em direção à Central do Brasil.

 

 

Anselmo Vasconcellos. Foto: divulgaçãoAnselmo Vasconcellos 

50 anos de carreira profissional, premiado como ator e diretor realizou 40 filmes, programas de tv em todas as emissoras. Professor da Funarj, lecionou na Escola de teatro Martins Penna e Escola de Música Villa Lobos. Escreveu e publicou 5 livros entre eles uma pesquisa extensa sobre a comédia no transcurso do tempo. Comédia ,a arte da irreverência em parceria com Rachel Villela. Fundou a Casa Azul, centro de artes e Terapias no Rio de Janeiro.

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#SP: “Mia” o novo romance de Anselmo Vasconcellos https://redesina.com.br/mia-o-novo-romance-de-anselmo-vasconcellos/ https://redesina.com.br/mia-o-novo-romance-de-anselmo-vasconcellos/#respond Sat, 19 Nov 2016 13:14:28 +0000 http://redesina.com.br/?p=2554 Mia é um romance de Anselmo Vasconcellos… onde o amor é o Norte e uma bela mulher a bússola para um personagem, que parece se orientar pelas palavras-versos de Joan Margarit: “é, já, a paisagem da nossa morte. Sob a vigilância do vento”. “Criei um romance inspirado nos clássicos e trágicos duetos amorosos e como …

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Mia é um romance de Anselmo Vasconcellos… onde o amor é o Norte e uma bela mulher a bússola para um personagem, que parece se orientar pelas palavras-versos de Joan Margarit:

“é, já, a paisagem da nossa morte.
Sob a vigilância do vento”.

“Criei um romance inspirado nos clássicos e trágicos duetos amorosos e como cenário e set os anos 68 e 69 na europa e EUA” conta Anselmo para Rede Sina.

Mais em: https://scenariumlivrosartesanais.wordpress.com/2016/11/15/26-mia/

Confira aqui o bate-papo com o autor.

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UMA CONVERSA FILOSÓFICA COM O ATOR ANSELMO VASCONCELLOS. https://redesina.com.br/uma-conversa-filosofica-com-o-ator-anselmo-vasconcellos/ https://redesina.com.br/uma-conversa-filosofica-com-o-ator-anselmo-vasconcellos/#respond Thu, 06 Oct 2016 20:17:34 +0000 http://redesina.com.br/?p=2249 por Melina Guterres da Rede Sina O que concluímos, provisoriamente, é que vivemos num mundo formador. Cópias e mais cópias. Precisamos de sujeitos singulares, originais e com produção de novas formas de viver e existir. Deveríamos estar mais próximos do que fortalece a vida e não do que a enfraquece. Ele é ator de cinema, …

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por Melina Guterres da Rede Sina

O que concluímos, provisoriamente, é que vivemos num mundo formador. Cópias e mais cópias. Precisamos de sujeitos singulares, originais e com produção de novas formas de viver e existir. Deveríamos estar mais próximos do que fortalece a vida e não do que a enfraquece.

Ele é ator de cinema, televisão, teatro. É professor na escola de teatro Martins Pena, escritor e prefere um papo filosófico que uma conversa mais formal e foi assim que nasceu esse bate-bato com o Anselmo Vasconcellos que recentemente está mergulhado no final da década de 60, nos idos revolucionários da contracultura, na literatura marginal escrevendo seu próximo livro MIA, A HOLANDESA DOS PÉS DESCALÇOS pela editora de livros artesanais Scenarium de São Paulo.
“Um exercício de muitas linguagens de escrita, entre elas o romance”, afirma.
Vasconcellos encerrou recentemente uma temporada com o teatro e segue na televisão (Zorra Total) e no cinema onde em breve deve lançar 3 longas e 2 curtas em festivais de cinema.
Nesse “chat” filosófico passamos sobre diversos significados sobre liberdade, prisão, educação, arte e tantos outros. Vasconcellos também é colaborador da Rede Sina, confira suas contribuições aqui

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REDE SINA – O que é prisão?

ANSELMO VASCONCELLOS: O que perdeu o espaço para a movimentação. A esterilidade, a seca, a fome. O besouro de barriga pra cima na poça d’agua mexendo as patas inutilmente.

REDE SINA – De que maneira a consciência se limita?
A consciência é por si uma organização limitadora. Me parece ser esta a sua função. A vigília.

REDE SINA – Como compreende o inconsciente?
Incompreensível. O que está inconsciente ao ser decifrado é uma interpretação, uma organização da consciência como falamos antes. Sua falta de sentido lógico, linear e racional é a substância da vida. Os cantos dos pássaros, a língua das estrelas.

selREDE SINA – Qual o papel da arte?
Não ter papel algum. “A utilidade do inútil”

REDE SINA – Arte transforma?
Deveria sim transformar, mas não é o que acontece em muitas circunstâncias. Vejo mais acomodação, estagnação e conservadorismo do que a utopia da transformação, meta da contracultura e não da cultura. Ainda gosto de pensar que “cultura é regra”. Não deve ser metodologia e sim perspectiva. Dar menos atenção a subjetividade dominante. Porque as pessoas não toleram a diferença e a maioria reproduz modelos prontos e inibe a criação de novos.

REDE SINA – A educação educa ou limita?
A educação padronizada limita e mata o verdadeiro sentido do aprender. A experimentação está ausente na educação padronizada, desestimula o livre pensar, a descoberta ou invenção do conhecimento, não emancipa o conhecedor.

anselREDE SINA – De que maneira arte e educação convergem?
Não convergem, embora não exista diferença nenhuma entre elas ao pretender o desenvolvimento humano. Mas os vetores não convergem, ainda.

REDE SINA – Existe sujeito formado? O que seria um na sua opinião? ou o sentido é se “desformar”?
Sim, por tudo que estamos pensando aqui neste momento. O que concluímos, provisoriamente, é que vivemos num mundo formador. Cópias e mais cópias. Precisamos de sujeitos singulares, originais e com produção de novas formas de viver e existir. Deveríamos estar mais próximos do que fortalece a vida e não do que a enfraquece.

REDE SINA – O que é ser?
Hamlet diz “Ser ou não ser eis a questão”, mas eu penso que ele me induz a pensar que ser é não ser. Se ele for (ser) o príncipe da Dinamarca não pode denunciar a mãe como cúmplice do assassinato do rei, seu pai. Está impedido pelas leis da realeza. Se ele não for (não ser) o príncipe ele pode denunciar, mas ele não quer deixar de ser o príncipe da Dinamarca. Então ele chama os atores para representar o assassinato do rei e denunciar toda a trama. Ele usa o teatro porque o ator é o próprio ser é não ser.

ansREDE SINA – Ser livre é…
Liberdade em minha vida vem como conhecimento. Aquilo que conheço me altera e liberta se esta alteração é pretendida como transformação constante na individuação. Tenho a sensação que os antigos falam da liberdade como o Nirvana, a iluminação, o desprendimento da ignorância e da ilusão.

REDE SINA – Qual a sua sina?
“O luar, estrela do mar
O sol e o dom
Quiça, um dia a fúria desse front
Virá lapidar o sonho…”

 

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Muito Além do Jardim por ANSELMO VASCONCELLOS https://redesina.com.br/muito-alem-do-jardim-por-anselmo-vasconcellos/ https://redesina.com.br/muito-alem-do-jardim-por-anselmo-vasconcellos/#respond Fri, 22 Jul 2016 05:27:10 +0000 http://redesina.com.br/?p=1724 Nosso colunista Anselmo Vasconcellos vai estar nesta sexta pela manhã no programa da Fátima Bernardes na Rede Globo. Ouvimos um estalo e seguiu se um movimento vigoroso de queda. Bateu sobre o chão, o peso insuspeito deu seguidos e curtos saltos antes da inercia sobre o chão. Toda essa força ressoou em sonoridades, na minha …

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Nosso colunista Anselmo Vasconcellos vai estar nesta sexta pela manhã no programa da Fátima Bernardes na Rede Globo.

Ouvimos um estalo e seguiu se um movimento vigoroso de queda. Bateu sobre o chão, o peso insuspeito deu seguidos e curtos saltos antes da inercia sobre o chão. Toda essa força ressoou em sonoridades, na minha impressão de vê-la cair e isso disparar em mim outras quedas de compreensão, outros pesos sobre essa fluência espantosa que os sentidos fazem no corpo que não pensa, sente. Deveras sente, pode ser até que para sempre. Como algo que vai revelando toda a seiva do tempo nesta massa aglutinada do tronco e por dentro da casca ressecada, escura, partida, uma cor nova – antes escondida, novíssima de vida. Deve ser sua força que vi fazer ressurgir novos braços, galhos de si em busca da luz, do ar, da energia flutuante que não vemos. Sempre como uma resposta aos cortes, novas formas surpreendiam, de um dia para o outro, o olhar de ver tamanha vontade de viver, de continuar vivendo. Tantos anos convivendo com ela eu vi essa arte, pois só pode ser arte essa consciência que cria a existência e refaz desenhos, formas, folhas, flores e frutos elevando-se e aprofundando-se aparentemente sem sair do lugar. Agora vejo que não, ou compreendo que seu movimento de extensão, seu crescimento é locomoção invisível. Talvez eu tenha que andar por só saber o visível.

Dois dias depois da queda ainda encontro vestígios espalhados, pequenos cacos, cavacos são traços do que foi seu inteiro.

Tanta solidez requer muita força para remove-la do chão onde está inerte, caída na revelação que nos obriga a vê-la, o que faz lembrar como foi sua presença entre nós, seu abrigo de outros seres mais alados do que nós, mais necessitados de espaços frágeis, outros ninhos em que não cabemos. Pensei nisso vendo sobre ela uma procissão de formigas.

Sem saber o que fazer passei por ela algumas vezes, pensei em mante-la entre nós, aproveita-la num invento inútil – um banco para sentar e ouvir Bem-te-vis, sibito veio a ideia de escrever. Não só sobre ela, seu corte, sua queda, sua grandeza, mas escrever como alguém arrependido grava seu nome como uma tatuagem sem sentido. Foi o que eu fiz agora mesmo. Escrevi meu nome no seu corte e no meu corte doía tanto ver uma arvore cortada, caída no chão do jardim.

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Corre Otávio por ANSELMO VASCONCELLOS https://redesina.com.br/corre-otavio/ https://redesina.com.br/corre-otavio/#respond Tue, 28 Jun 2016 01:38:27 +0000 http://redesina.com.br/?p=1619 Meu tio Otavio era relojoeiro daqueles antigos, curvado devante uma pequena bancada repleta de miudezas e engrenagens. Havia um maçarico no canto, ajustado à bancada, e era rara a destreza daquele mulato inzoneiro ao acender seu cigarro caporal Amarelinho, sem filtro, na chama azul que derretia metais. Achava assombroso este pequeno espetáculo do mestre Otávio. …

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Meu tio Otavio era relojoeiro daqueles antigos, curvado devante uma pequena bancada repleta de miudezas e engrenagens. Havia um maçarico no canto, ajustado à bancada, e era rara a destreza daquele mulato inzoneiro ao acender seu cigarro caporal Amarelinho, sem filtro, na chama azul que derretia metais. Achava assombroso este pequeno espetáculo do mestre Otávio. Na entrada da lojinha, na Rua da Gloria, reinava seu inseparável papagaio baiano num poleiro aberto. Se os ricos tinham seu alarme em um cuco, Otávio tinha Alarico, malandro alado que falava sem sotaques e em bom tom seu bordão favorito:

– “Corre Otávio”

Macho de muitas cabrochas era o meu tio. Tenho primos que descubro até hoje nesse tempo eletrônico onde ninguém mais se esconde e onde falta uma graça, um golpe bem humorado na inocência que só um bamba de camisa de seda e calça panamá e sapatos bicolores saberia aplicar em algum incauto. “Tem freguês pra tudo”dizia meu tio.
Pois vou lhes contar: Uma manha de segunda-feira um senhor com forte sotaque estrangeiro entrou na relojoaria e cumprimentou o tio ali envolvido com um velho relógio de corda. Pediu o gordo senhor, suado e vestido com o terno inadequado um conserto pro seu relógio de bolso que reluzia na sua mão e no vidro do monóculo do meu tio que já levantou como um passista de escola de samba e examinou a peça.

– Bela máquina senhor, é raro um Mido como este. Deve ser bem de família, to certo ou to errado?

O momesco senhor narrava a historia de sua gente, da Europa de antigamente e meu tio abriu o “bobo” que é como ele chamava um relógio. “Bobo sim, porque trabalha pra homem de graça” dizia ele sem tremer o cigarro no canto da boca. Deu uma limpeza na maquina, deu corda no emergente que suava e falava pelos poros. Deu por terminada a tarefa e lustrou a peça de ouro. Levantou para entregar cerimonialmente o relógio ao gordo mas, antes acertou os ponteiros mirando ostensivamente para o famoso Relógio da Gloria, aquele belo monumento que fica na curva da amurada da rua. O gordo mordeu a isca como um Baiacú. Comentou a beleza ostensiva do relógio no que meu tio com olhos turvos disse quase murmurando:

– “Está à venda”
O homem gordo se enxugou desejando saber mais. Otávio nada disse, foi ao fundo da lojinha abriu um velho cofre que nem fechava mais e voltou com um certificado em letras trabalhadas (ele mesmo que fez, claro) e selos colados. Mostrou ao gordo estrangeiro e disse olhando nos olhos verdes da inocência:
– “Tudo que sobrou da minha família, estou precisando vender. Tenho um câncer”
O gordo perplexo pediu o preço e meu tio mandou o que podia estar no bolso do otário.

– “Cinco mil cruzeiros na minha mão entrego o certificado de propriedade”

O gordo branquelo certo da ingenuidade do mulato, meteu a mão no bolso que retornou com um maço de notas novas e no embalo do gesto colocou sobre a bancada. Otávio contou saborosamente e comentou que tinha cinco mil e seiscentos cruzeiros no que o gordo sorriu dentes mal tratados.
Recebeu o certificado comentando que traria uma caminhão e homens para desmontar o relógio. Otávio concordou silenciosamente, o gordo seguiu pela rua e Alarico pontuou:

– “Corre Otávio”

 

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 “Um artista genuinamente brasileiro”
“Um artista genuinamente brasileiro”

Anselmo Vasconcellos

Ele se define apenas como “Um artista genuinamente brasileiro”

 

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The Game of Selfies por ANSELMO VASCONCELLOS https://redesina.com.br/the-game-of-selfies-por-anselmo-vasconcellos/ https://redesina.com.br/the-game-of-selfies-por-anselmo-vasconcellos/#respond Thu, 16 Jun 2016 06:34:04 +0000 http://redesina.com.br/?p=1542 …sucesso é uma façanha que desafia o entendimento. Não há como elucidar, com base no conhecimento da cognição humana, o que faz algo cair no gosto de muitas, muitas pessoas. Ha “formatações ” possíveis nas academias, monografias e discussões intelectualizadas mas mesmo assim tal façanha escapa para além das tábuas de medição e surpreendem os …

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…sucesso é uma façanha que desafia o entendimento. Não há como elucidar, com base no conhecimento da cognição humana, o que faz algo cair no gosto de muitas, muitas pessoas. Ha “formatações ” possíveis nas academias, monografias e discussões intelectualizadas mas mesmo assim tal façanha escapa para além das tábuas de medição e surpreendem os quesitos assinalados para pontificar. Sobram porem elogios e paixão de muita gente bacana que admiro, trabalho e aprendo. Me surpreendo de fato. Me esforço, sinceramente, para entender o que seduz os espectadores, ou melhor, os adoradores do Got (Games of trones). Luto contra o sono la pelas 22h30 num domingo, vejo a reprise, converso com colegas nos sets e camarins, leio comentários nas redes…Mas o máximo que consigo é ter vontade de rever Fellini, Kurosawa, Passolini, Kubrick, Glauber, Costa Gravas, Cassavetes, J. Ford, Manoel de Oliveira, Ruy Guerra, Carvana, Leon Hirszman, Anselmo Duarte… E mais uma multidão de realizadores que sem aquele “caminhão-de-dinheiro” visto na referida produção conseguem aprofundar com a arte a própria vida. Confesso que muitas vezes salvei a minha numa sala escura de cinema com aquele feixe de luz que travessa o espaço instruindo e iluminando minha grande ignorância. Então como posso me envolver com uma serie que trata a violência, o assassinato, o desespero com a mesma gratuidade com que inventa invernos e verões como se a natureza dos homens e da vida deste planeta assim o permitissem. Hoje pela manhã uma querida colega na sala de maquiagem ouviu meus comentários e disse: -“Nada faz sentido nesse mundo, esquece”.

 “Um artista genuinamente brasileiro”
“Um artista genuinamente brasileiro”

Anselmo Vasconcellos

Ele se define apenas como “Um artista genuinamente brasileiro”

 

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Antídoto por ANSELMO VASCONCELLOS https://redesina.com.br/antidoto-por-anselmo-vasconcellos/ https://redesina.com.br/antidoto-por-anselmo-vasconcellos/#respond Wed, 01 Jun 2016 06:26:47 +0000 http://redesina.com.br/?p=1484 Meu antídoto da semana foi uma fita cinematográfica. O pessoal do tempo da película refere se assim ao rolo de fotogramas que a luz perpassa e ilumina a tela grande. Puig dizia que queria ser a luz que atravessa a fita e vira imagem. Adotei essas idéias. A narrativa acontece numa ilha grega e acompanhamos …

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Meu antídoto da semana foi uma fita cinematográfica. O pessoal do tempo da película refere se assim ao rolo de fotogramas que a luz perpassa e ilumina a tela grande. Puig dizia que queria ser a luz que atravessa a fita e vira imagem. Adotei essas idéias.
A narrativa acontece numa ilha grega e acompanhamos um encontro de trabalho entre um escritor inglês, recém-chegado à Grécia de navio, e um nativo já com alguma idade, mas forte e ativo. O pano de fundo é a microcéfala vida dos habitantes deste mundo perdido em preconceitos, pobreza, raiva, e inveja. Com pavio trágico acesso a história vai explodindo casos em plots quase documentaristas. As cenas são realizadas com elenco excepcional e figuras locais antológicas e críveis. Não há nenhum verniz de métodos, tudo é realisticamente teatral para que não esqueçamos que o discurso cinematográfico é político.
A veia principal é a relação patrão-empregado ficando de lado e é na amizade entre o grego naif e louco e o escritor britânico e careta que encontra inspiração para sua vida até então dedicada apenas aos livros e de poucas aventuras.
Em um cena o naif grego pergunta ao escritor que respostas ele encontrou nos livros. Ele responde que encontrou apenas as angustias dos que fazem esta pergunta. O grego afirma que sem a loucura a vida não se revela, que ele pode arruinar a relação com ideias perturbadoras e incomuns. O inglês diz que topa. “repita isso”diz o grego e o inglês topa.
Esse é o antídoto que fará do retumbante fracasso, que acontece no trabalho, na cena magistral que cada vez que revejo renovo minhas células com o liquido das emoções. Os dois riem da falência e dançam juntos o Sirtaki na música fabulosa de M. Theodorakis.
Zorba, o Grego de 1964 é uma resposta humana e lúcida ao mundo tecnológico. Uma lição de vida e um convite a aproveitarmos cada minutos intensamente, como se não houvesse amanhã, de maneira simples, mas buscando a felicidade nas pequenas coisas da vida. Nenhum blackmirror me proporciona uma Aventura como esta. Vou ali ser o Antony Quinn e volto sexta que vem.

O filme foi dirigido por Michael Cacoyannis e o personagem-título foi interpretado por Anthony Quinn — que não era grego, mas mexicano. O elenco incluiu Alan Bates como um visitante britânico. O tema, “Sirtaki”, de Mikis Theodorakis, tornou-se famoso e popular como canção e dança (especialmente em festas).

O filme foi rodado na ilha grega de Creta. Lugares específicos incluem a cidade de Chania, a região de Apocórona, nomeadamente na península de Drápano, e a península de Acrotíri. A famosa cena onde o personagem interpretado por Quinn dança o Sirtaki foi rodada na praia do vilarejo de Stavros.

Mais sobre o filme em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-86795/

 

 “Um artista genuinamente brasileiro”
“Um artista genuinamente brasileiro”

 

 

 

ANSELMO VASCONCELLOS

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O QUE ARDE CURA por Anselmo Vasconcellos https://redesina.com.br/o-que-arde-cura-por-anselmo-vasconcellos/ https://redesina.com.br/o-que-arde-cura-por-anselmo-vasconcellos/#respond Wed, 11 May 2016 22:28:03 +0000 http://redesina.com.br/?p=1447 Um jovem admirador de Baden-Powell que idealizou a “Lei Escoteira” que não estabelecia leis proibitivas, mas conceitos para formação de pessoas benévolas, era o filho mais novo dos 7 de vovó Carmen. Todos com nomes começando com a letra A: Adir, Acir, Alair, Altair, Albino, Amyr e Atila. Andando na rua Larga de Bonsucesso, Átila …

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Um jovem admirador de Baden-Powell que idealizou a “Lei Escoteira” que não estabelecia leis proibitivas, mas conceitos para formação de pessoas benévolas, era o filho mais novo dos 7 de vovó Carmen. Todos com nomes começando com a letra A: Adir, Acir, Alair, Altair, Albino, Amyr e Atila.
Andando na rua Larga de Bonsucesso, Átila sentiu algo entrar em seu olho e com o lenço de escoteiro tentou aliviar o incomodo e as lágrimas abundantes em resposta à invasão. Chegou em casa e reclamou com a mãe prestativa que logo foi à Pharmacia Homeopática e, com seu Guilherme, aviou um colírio. Era assim naqueles idos e eu nem minha irmã eramos nascidos, nem manipulados.
Na varanda Atila sentou seus 24 anos na beirada do umbral em arco e vovó Carmen colocou seus óculos, empunhou o vidro azul e pingou a essência no olho do escoteiro que sentiu arder mas segurou o pulo de dor. Carmen percebeu e pingou no outro olho sem deixar de enaltecer:
“O que arde cura! “
Seus olhos se apertaram para tentar ler no alto do umbral a inscrição que vovô Gaspar tinha mandado aplicar em relevo de pastilhas coloridas: “Esta casa é um Lar “. Atila reclamou que a as pastilhas fugiram de vista. Vovó levou ele para o quarto para deitar. Na cama deixou aquele jovem corajoso a sua sorte com pano sobre o rosto da solidão e da surpresa deste dia em Bonsucesso.
Atila acordou com olhos azuis dos cegos. Médico nenhum deu esperanças ao desespero da vovó. Aquela fórmula queimou os olhos de Atila tingindo de escuridão para sempre.
Ingressou na Aliança dos Cegos, aprendeu a estofar, fabricar vassouras, espanadores e petecas. Sua nova educação o levou a proezas que a família contava. Inventou uma bengala dobrável articulada com elásticos, cabia na mão e com ela caminhou firme pelas ruas dos anos que passaram. Aprendeu a ler Braile, cresceu belo de letras. Sensível, calmo sentia o mundo, perdoou a cegueira da mãe, sem sequer protestar. Foi com ele que aprendi a não reclamar.
Uma tarde de outono cheguei em casa e Tio Atila, sentado no sofá da sala, ouviu minha voz. Abriu seu relógio de bolso, lendo as horas com os dedos, disse:
– “Você cresceu bastante. Está estudando de manhã agora? “ Sabia ver meu tamanho pela altura da minha voz. Minha mãe nos olhava emocionada e almoçávamos juntos. Um requinte sua atenção e olfato ao comer. Depois eu o levava até o ponto de ônibus onde me despedia orgulhoso daquele grande homem que tinha tanto. Adorava enxergar nos amigos a razão de dizer: Tenho um tio cego. Ele é campeão de tiro ao alvo, sonoro.
Uma manhã, Atila tocou a campainha de uma casa para oferecer vassouras e outros produtos. Atendeu Helena, uma doce mulher que o reconheceu abrindo seu coração para ele, como se o esperasse lhe deu dois filhos, uma vida simples e feliz. A última vez que o vi ele tirou os óculos escuros, olhou na minha direção e me disse:
– “A vida me deu os olhos de Helena”.

 

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Anselmo Vasconcellos

Ele se define apenas como “Um artista genuinamente brasileiro”

 

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