Arquivos RIO GRANDE DO SUL - Rede Sina https://redesina.com.br/category/estados/rio-grande-do-sul/ Comunicação fora do padrão Fri, 15 Mar 2024 17:49:36 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Arquivos RIO GRANDE DO SUL - Rede Sina https://redesina.com.br/category/estados/rio-grande-do-sul/ 32 32 DOCUMENTÁRIO RESGATA HISTÓRIA DE WALTER ILHA E A PALEONTOLOGIA NA REGIÃO DE SÃO PEDRO DO SUL https://redesina.com.br/documentario-resgata-historia-de-walter-ilha-e-a-paleontologia-na-regiao-de-sao-pedro-do-sul/ https://redesina.com.br/documentario-resgata-historia-de-walter-ilha-e-a-paleontologia-na-regiao-de-sao-pedro-do-sul/#respond Fri, 15 Mar 2024 01:34:47 +0000 https://redesina.com.br/?p=120955 Documentário aprovado em Lei Paulo Gustavo conta história de vida de pesquisador As gravações do documentário “Walter Ilha – Vestígios de uma vida” de Silnei Scharten Soares iniciaram nesta segunda, 11, em São Pedro do Sul. O documentário que narra a vida de Walter Ilha (professor, tipógrafo, paleontólogo e paleobotânico autodidata), nome do Museu Paleontológico …

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Documentário aprovado em Lei Paulo Gustavo conta história de vida de pesquisador

As gravações do documentário “Walter Ilha – Vestígios de uma vida” de Silnei Scharten Soares iniciaram nesta segunda, 11, em São Pedro do Sul. O documentário que narra a vida de Walter Ilha (professor, tipógrafo, paleontólogo e paleobotânico autodidata), nome do Museu Paleontológico e Arqueológico de São Pedro do Sul, destaca o período em que ele se empenhou pela preservação do patrimônio paleontológico da cidade.
Walter Ilha foi membro honorário da Sociedade Brasileira de Paleontologia e da Sociedade Brasileira de Paleontologia Botânica, com trabalhos prestados para o escritório regional da Unesco para a América Latina e Caribe, autor de artigos publicados em periódicos científicos, jornais e revistas do país e do exterior, palestrante em congressos nacionais e internacionais e incansável defensor da preservação dos fósseis paleontológicos do município. Também colaborou com a UFSM por meio de pesquisas e convênios. Suas ações incentivaram a criação de uma lei que tornou obrigatório o ensino introdutório de paleontologia nas escolas municipais.
O documentário deve contar com depoimentos de 14 pessoas. De acordo com o diretor, a lembrança dos fósseis é uma memória de infância. “É uma grande satisfação poder contar essa história hoje. Valorizar e não deixar ser esquecida”, afirma.
As gravações também devem ocorrer em Porto Alegre, Santa Maria e Pelotas. O projeto é financiado pela Lei Paulo Gustavo. A previsão de lançamento é julho.

Confira mais informações sobre o filme:

SINOPSE:
Walter Ilha, tipógrafo, paleontólogo e paleobotânico autodidata, era uma pessoa obstinada. A certa altura da vida, tomou para si a missão de preservar o patrimônio paleontológico e arqueológico de São Pedro do Sul, no interior do Rio Grande do Sul. Dedicou tempo e energia vital para um combate incansável à extração e transporte ilegal de fósseis paleobotânicos (madeira petrificada) do município. Nessa empreitada, fez amigos, criou uma rede de proteção aos fósseis, tornou-se internacionalmente reconhecido como pesquisador e, também, gerou resistências. Após anos de esquecimento, “Walter Ilha – Vestígios de uma vida” esfossiliza sua memória e resgata sua jornada.

ARGUMENTO:
Documentário sobre a vida de Walter Ilha, destacando o período em que se empenhou pela preservação do patrimônio paleontológico de São Pedro do Sul. Fundador do Museu Paleontológico Municipal de São Pedro do Sul – que se chama hoje, em sua homenagem, Museu Paleontológico e Arqueológico Professor Walter Ilha –, paleontólogo autodidata e membro honorário da Sociedade Brasileira de Paleontologia e da Sociedade Brasileira de Paleontologia Botânica, com trabalhos prestados para o escritório regional da Unesco para a América Latina e Caribe, autor de artigos publicados em periódicos científicos, jornais e revistas do país e do exterior, palestrante em congressos nacionais e internacionais e incansável defensor da preservação dos fósseis paleontológicos do município, Walter Ilha é um ilustre cidadão são-pedrense. A defesa veemente da preservação das jazidas e fósseis de São Pedro do Sul e da região lhe rendeu a admiração de conterrâneos, que se tornaram seus colaboradores na batalha contra o transporte e comércio ilegais da “madeira petrificada”, denunciando os crimes. As peças eram levadas clandestinamente para fora do município em caminhões lotados, com a intenção de abastecer o mercado local e internacional de objetos de decoração, que usavam os fósseis como matéria-prima. Suas constantes denúncias da depredação do patrimônio arqueológico levaram o então Departamento Nacional de Produção Mineral – atualmente, Ministério das Minas e Energia – a desistir de liberar a exportação desse material.
Walter Ilha também colaborou com a UFSM por meio de pesquisas e convênios. Suas ações incentivaram a criação de uma lei que tornou obrigatório o ensino introdutório de paleontologia nas escolas municipais. Não bastasse tudo isso, Walter Ilha ainda se dedicava a ações de filantropia, tendo colaborado com o Lar de Joaquina, em Santa Maria, e com o Lions Clube de São Pedro do Sul. Mas a luta pela preservação do patrimônio paleontológico também gerou reações contrárias e ressentimentos. A esfossilização de sua história vai resgatar a complexidade e as contradições desse importante personagem, revitalizando sua memória e seu legado.

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GRAVAÇÕES: MARÇO/2024

SÃO PEDRO DO SUL: 11,12,13, 14, 21, 22

PORTO ALEGRE: 18, 19

SANTA MARIA: 20, 21

PELOTAS: 25 

 

PERSONAGENS/ENTREVISTADOS:

Ary Otavio Canabarro dos Santos – servidor público aposentado
Luiz Francisco Flores – Chicão – proprietário do Paradouro Pôr do sol
Rubi Claro – pecuarista
Luiza Gutheil – jornalista, ex-diretora do Museu Fernando Ferrari e do Museu Paleontológico e Arqueológico Professor Walter Ilha
Editi Piussi – aposentada
Otaviano Francisco de Santana – aposentado, ex-gerente da Construtora Continental, empresa que construiu a rodovia BR 287
Almerindo Pereira Machado – Seu Almerindo – aposentado
Gilberto Porto Filho – cuidador de idosos e acompanhante de enfermos
Otávio José Binatto – médico
Adi Henrique Gaussman – contador e proprietário da Padaria Gaussman
Margot Guerra Sommer – paleontóloga e paleobotânica, professora aposentada da UFRGS
Átila Augusto Stock da Rosa – geólogo, professor da UFSM
Luiz Fernando Bresolin – aposentado, ex-sócio da empresa Madepedras
Luiz Fernando Minello – biólogo, professor da UFPEL

 

SOBRE O DIRETOR:


Silnei Scharten Soares, graduado em Comunicação Social, especialista em Produção Cinematográfica, mestre e doutor em Comunicação. Corroteirista e codiretor do curta metragem “A vida do outro” (1998), premiado nos festivais de cinema de Gramado e Brasília. Foi professor universitário de 1998 a 2017 em cursos de Comunicação e Design no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e no Distrito Federal, ministrando disciplinas de Roteiro, Linguagem cinematográfica e História do cinema, e orientando trabalhos de produção audiovisual. Coordenou a área de vídeo do NEAD/UAB (Núcleo de Educação a Distância/Universidade Aberta do Brasil) da UNICENTRO (Universidade Estadual do Centro Oeste) no Paraná. Atualmente, atua como redator e roteirista, e desenvolve trabalho voluntário em São Pedro do Sul coordenando o Clube de leitura e o ciclo de vídeos Cine no cofre.

 

FICHA TÉCNICA:

Diretor: Silnei Scharten Soares
Assistente de direção: Laédio José Martins
Diretor de fotografia: Fabiano Foggiato
Diretor de produção: Larissa Essi
Técnico de som direto: Ronaldo Palma
Edição: Fabiano Foggiato
Making Off: Lucas Barbara
Desing: Diego de Grandi

Assessoria de Imprensa: Rede Sina |Melina Guterres

FINANCIAMENTO:

LEI PAULO GUSTAVO 2024 | MUNICÍPIO DE SÃO PEDRO DO SUL-RS

SOBRE O MUSEU WALTER ILHA
Desde sua criação, o Museu Walter Ilha é um dos pontos turísticos mais visitados de São Pedro do Sul, guardando em seus acervos alguns dos mais valiosos bens que o município possui, entre eles uma rica coleção de fósseis, réplicas e esculturas de fósseis animais são-pedrenses, além de um abundante número de fósseis vegetais (madeiras petrificadas), que datam entre 245 e 205 milhões de anos. Além de acervos Mineralógicos, onde se encontram amostras de minerais de São Pedro do Sul, do Rio Grande do Sul e de outras partes do país e Arqueológicos, com artefatos de indígenas antigos que contam muito dos costumes e da vida em sociedade ao longo da história de São Pedro do Sul.

Atualmente, o Museu Walter Ilha está localizado às margens da rodovia BR 287, na localidade da Carpintaria, a 11 km da sede de São Pedro do Sul. Mesmo com diversas mudanças o museu sempre manteve a busca por seu ideal inicial, a preservação, estudo e divulgação do patrimônio paleontológico e arqueológico são-pedrense. Para isso, além das exposições, várias atividades de cunho educativo e sociocultural são realizadas e apoiadas pelo museu.

Facebook: Museus Fernando Ferrari e Walter Ilha
Instagram: @museussps
Telefone e Whatsapp: (55) 32766145
E-mail: museusaopedrodosul@gmail.com
Site: www.dpculturasps.wixsite.com/saopedrodosul

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A HORA MORTA – Por Roger Baigorra Machado https://redesina.com.br/a-hora-morta-por-roger-baigorra-machado/ https://redesina.com.br/a-hora-morta-por-roger-baigorra-machado/#respond Thu, 08 Feb 2024 19:11:16 +0000 https://redesina.com.br/?p=120808 Abril de 1923. No campo iluminado pela lua cheia, a sombra do imenso umbu estocava lentamente a ponta da coxilha. Como se fossem lanças, as negras pinturas dos galhos da árvore deslizavam pelo chão, escorrendo incólumes por sobre rosetas e guanxumas, cravando-se na elevação que iniciava trinta metros adiante. Do umbu, facilmente dava para ver …

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Abril de 1923. No campo iluminado pela lua cheia, a sombra do imenso umbu estocava lentamente a ponta da coxilha. Como se fossem lanças, as negras pinturas dos galhos da árvore deslizavam pelo chão, escorrendo incólumes por sobre rosetas e guanxumas, cravando-se na elevação que iniciava trinta metros adiante.

Do umbu, facilmente dava para ver o vilarejo e os seus casebres. Habitações feitas de madeira dos matos e com torrões de barro preto das sangas ao redor. Os ranchos, em sua maioria, eram de apenas um cômodo, divido por um lençol ou couro de boi, de um lado, a cozinha, e de outro, o quarto. Eles ficavam espaçados como bois no pasto, do umbu, via-se também,  o rancho de Eulália e Bernardo. O casal morava na primeira habitação da entrada da vila.

Uma pequena construção feita de pranchões de madeira, recortes de cedro e canjerana, sustentado em paredes sem pintura, onde, pelas frestas das tábuas, via-se de longe o desenho dos riscos iluminados pela luz do candeeiro da cozinha. Sobre o telhado, feito de capim santa fé, partia lento no tempo um rastro da fumaça do fogão a lenha, serpenteado no escuro, deixando a vida, economia interna da família, verticalmente aparente do lado de fora.

A vida dentro da casa eram as sombras nos riscos de luz do vão escuro das madeiras.

Bernardo, o marido de Eulália, retirou do bolso um relógio. Ainda faltavam 15 minutos para as quatro da madrugada. E num ritual involuntário, lavou o rosto numa bacia de louça e depois abriu a porta da cozinha num puxão forte, fazendo um barulho que podia ser ouvido nas casas vizinhas. Era uma porta de madeira de angico, pesada, que raspava no chão de cupim batido toda vez que era aberta. Da entrada do rancho, parado na porta, Bernardo ficou olhando o campo cinza de lua cheia e a silhueta do umbu no horizonte. Ao lado da porta, bem deitado num pedaço de pelego, estava o cusco, um mestiço de ovelheiro com cimarrón.

O cão, que era um companheiro de muitas das andanças de seu dono, dormia quieto, enrolado num fedor de zorrilho.

Dentro do rancho, Eulália se movia numa dança pela casa, remoendo a sua angústia nos barulhos domésticos do início do dia. Tão logo Bernardo retornou para o interior do rancho, sua esposa veio e lhe alcançou a cuia do mate, ele se sentou ao lado do velho fogão. Sem dizer nada, ficou mateando os pensamentos no calor da cuia feita de porongo escuro.

Ao fundo, ouvia-se os cantos de uns quero-queros dando o alarme de que alguém ou algum animal estava cruzando por perto dos seus ninhos. O 3° Distrito de Uruguaiana era um lugar calmo e distante de tudo, no centro da vila, um amontoado de pequenos ranchos e casebres construídos numa parte lisa e levemente elevada de um extenso prado verde.

Chamavam o lugar de Plano Alto. Era uma vila sem linha de trem, sem hospital ou estradas.

A maioria dos moradores eram peões que trabalhavam nas estâncias ao redor, havia também os changadores, homens para todo o serviço, e os mascates, vendedores que abasteciam  a vila e as redondezas com as miudezas produzidas localmente ou buscadas na cidade. Para as bandas do cemitério, apartados, moravam os idosos e os adoentados, homens e mulheres do campo, já sem forças para o trabalho bruto da campanha.

Bernardo era Capitão da Brigada Militar e, há pouco tempo, também o Intendente do 3° Distrito de Uruguaiana. Filho de colonos alemães, nasceu em Viamão e ingressou na Brigada Militar em 1913, na época com 20 anos. Em 1918, foi enviado pelo Coronel Affonso Emílio Massot para a fronteira com a Argentina, veio junto a outros seis brigadianos, tinha o objetivo de dar suporte aos fiscais da alfândega que estavam sofrendo ataques de toda ordem.

Em Uruguaiana, Bernardo perdeu as contas de quantas vezes trocou tiros com os contrabandistas que subiam e desciam o rio Uruguai.

Ficou famoso na cidade pela boa pontaria, especialmente, depois que ele prendeu sete contrabandistas correntinos e os colocou amarrados na Praça Paysandu, bem na frente da Capela do Porto, feito que virou uma manchete de jornal e fez o jovem brigadiano ganhar notoriedade com a população local.

Após  três anos de serviço e de diversas demonstrações de coragem, Bernardo foi indicado por Flores da Cunha, o Intendente de Uruguaiana, para a missão de ser um intendente distrital. Iria morar no interior e guarnecer a vila do Plano Alto, lugar por onde passavam muitos contrabandistas e ladrões de gado, bandoleiros e castelhanos, quase sempre vindos do Alegrete e de Quaraí. Chegou no Plano em janeiro de 1921.

Depois do som do ronco da bomba, a cuia não recebeu novamente a água quente, no entanto, Bernardo permaneceu sentado num mocho à beira do fogão à lenha, ele parecia distante. Eulália veio e num repente retirou do rosto do marido o olhar perdido, com uma indagação que ensaiou a noite inteira.

– O que tu vais fazer? – Perguntou, pegando da mão do homem a cuia do mate e lhe alcançando um prato com pão caseiro e duas tripas de morcilla de sangue.

– Vamos ter que partir.  Não podemos ficar aqui. – Disse Bernardo, dando uma mordida num naco de pão.

– E iremos para onde? Uruguaiana?

– Não. É muito longe, creio que  o melhor seja irmos para o Ibirocaí. Podemos ficar na estância do Epaminondas, tua mãe está lá, assim ela já te ajuda com o piá. Te ajeita cedo que nós vamos antes do almoço, acho que todos irão meio que nesse horário.

– Está bem. Então vou juntar umas roupas e nossas coisas de valor. Levo num baú? Que tu achas?

– Não. Guarda as nossas coisas num saco de farinha, destes de pano, além de ser mais fácil de carregar, também vai chamar menos a atenção.

Eulália pegou um saco de farinha de dentro da tuia e saiu para coletar os pertences que iriam na jornada. Na frente da porta do rancho, o sol já despontava no horizonte e as galinhas já esgravatavam os estercos secos que adornavam toda a vila.

Antes do almoço, dúzias de carroças já se moviam na direção do Ibirocaí e das fazendas vizinhas. Como num cortejo, muitas pessoas iam atrás, à pé, umas andavam de mãos vazias, outras carregando os poucos pertences em lençóis amarrados e sustentados por sobre as cabeças, as crianças, sorrindo, corriam pelo campo e as mulheres, com as peles douradas pelo sol, caminhavam pálidas e em silêncio.

Uma tropilha humana de pessoas humildes, fugindo, amedrontadas e deixando tudo que possuíam para trás.

De longe, Eulália viu seu marido. Ele andava com pressa, revisando todas as casas da vila. Ele ia de casebre em casebre, batia palmas, entrava em umas casas, em alguns ranchos demorava um pouco, noutros ele nem chegava. Foi até o último casebre perto do portão do cemitério. Minutos depois, Bernardo retornou até sua esposa, ele chegou com o semblante fechado.

– Estão prontos? Sim. –  Respondeu Eulália, segurando o filho num dos braços e, no outro, o saco de farinha cheio de roupas.

– Pois subam na carroça do Aymone, ele também vai lá para o Epaminondas.

– Mas e tu?

– Eu não vou.

– O quê? Estás louco? Bernardo! Como assim? Como é que tu não vai? – Questionou Eulália, demonstrando nervosismo com a postura do marido.

– Não, meu amor. Eu não posso ir. Andei pelas casas. Falei com as pessoas. Ainda tem muita gente aqui. Eu contei, há mais de vinte pessoas, todos homens e mulheres adoentados, gente velha, sem parentes e sem ninguém para ajudar. Dona Maria está acamada, o Seu Firmino também, tem muita gente que nem consegue andar direito.

– Mas e eu? E o teu filho?

– Eulália, meu amor, se vocês dois estiverem bem, eu ficarei também. – Respondeu Bernardo, com um leve sorriso nos lábios.

– Bernardo, por favor. Vem! – Suplicou com os olhos cheios de lágrimas.

– Eu não posso ir e deixar estas pessoas aqui. Sou o intendente do Plano Alto, sou capitão da brigada. Eu tenho que proteger essa vila, dei minha palavra ao Doutor Flores da Cunha.

– Mas se tu ficar, vai fazer o quê? Vai lutar? Solito contra uma tropa! Tu vais morrer, homem!

– Chega, já me decidi! Prefiro ficar e morrer peleando, do que viver por ter fugido, deixando pessoas para trás. Não sou homem de fugir, nem de assombro e nem de uma briga, nunca fui! E eu não serei uma vergonha para ti e nosso filho. Farei o que é certo, e o certo nunca é fácil.

– Meu amor, por favor. Tu vais morrer aqui!

– Que seja. Se tantos antes de mim já caíram nesse chão, cairei também, por qual motivo haveria de ser diferente? Mas já te disse, chega dessa conversa. Sobe na carroça e te vai duma vez, não podemos perder tempo aqui, cada hora que passa é uma hora a menos que temos.

Eulália, mesmo contrariada, consentiu em silêncio. Afinal, tinha sido educada assim, para obedecer seu marido. Além disso, ela estava cansada, tinha passado a noite em claro, revirando-se de um lado ao outro do catre, pois não havia lado em que o seu corpo se acomodasse tendo um coração tão apertado.

Foi no dia anterior, no meio da tarde, que a tranquilidade do Plano Alto foi destruída pelas notícias de que uma grande coluna de soldados maragatos, comandados pelo temido Honório Lemes, “O Leão do Caverá”, vinha de Quaraí. Nico Changador, sempre assuntador das notícias, foi quem andava nas bandas dos Olhos D’Àgua tosquiando ovelhas, que afirmou que a coluna de soldados cruzaria bem pela vila do Plano Alto. E os relatos que chegavam de todos os lados eram assustadores. A coluna maragata vinha pilhando as propriedades dos chimangos, deixando para trás incêndios, roubos, degolados e estupros.

Falava-se que eram uns três mil maragatos, cegos de raiva, vindo diretamente na direção da vila do Plano Alto.

“Se for como em 1893”, pensava Eulália, “não pode ser, de novo não!”. Olhou para o filho que dormia sereno numa caixa de pelego, tapado com um acolchoado de lã. –  Ah, meu pequeno filho, o mundo dos adultos não é um lugar para uma alma de criança como a tua – E assim, entristecia-se ainda mais a pobre Eulália. Ela não acreditava que sua família, formada há tão pouco tempo, já estava assim, separando-se.

Lembrou-se que conheceu Bernardo numa quermesse na capela da vila em junho de 1921, apaixonaram-se e se casaram em pouco mais de um ano. Agora, tudo estava se despedaçando. Ela sabia dos horrores de uma guerra, especialmente como aquela de 1893, onde perdeu os dois irmãos e o pai. Quando ela nasceu, naquele mesmo fatídico ano, seis meses depois, sua mãe recebeu a notícia de que os dois filhos e o marido tinham morrido perto de Bagé.

De Júlio de Castilhos ela nunca recebeu os corpos, nem medalhas, tão pouco pêsames ou agradecimentos, ficou apenas com a solidão.

E viúva, com uma filha de colo, sua mãe acabou como cozinheira na estância do Epaminondas, um amigo da família, trabalhando por comida e abrigo. Na estância, Eulália cresceu ouvindo as histórias sobre 1893 e, por isso, ela tinha muito medo do que os maragatos fariam com os opositores que encontrassem no caminho, especialmente, ela temia por seu marido, que além de um Capitão da Brigada era também um chimango convicto.

O bebê chorava sem parar no colo da mãe, sob um céu sem nuvens, num clima de tristeza, a carroça partiu em tranco acelerado.

Bernardo viu sua amada partindo com o filho nos braços e carregando num saco o que lhes restava da vida. Tudo foi rápido, quase não houve tempo para um último beijo, um toque lento nos lábios trêmulos e molhados pelas lágrimas de Eulália. Mais da metade da vila partiu num rastro de carroças e carros de boi. Restaram algumas casas vazias e vários ranchos com homens e mulheres envelhecidos pelo tempo e pela lida. Incapazes de se defender, sem parentes para onde fugir, na triste sina dos velhos em tempos de guerra.

O Capitão foi para casa, vestiu sua melhor farda, juntou as armas que pôde, pediu munição aos que tinham e carregou tudo na direção da entrada da vila. Enquanto caminhava, o som do vento nos galhos do umbu chamou sua atenção, ele viu as enormes raízes da centenária árvore, o grande tronco que parecia uma trincheira e a posição diante da coxilha. Estava decidido, ali seria seu posto de guarda.

Já estava escurecendo e nenhum movimento de maragatos no horizonte. Bernardo estava sentado ao lado do umbu, tinha dois rifles Mausers carregados, um saco com um pouco de munição, uma pistola e uma espada. Ele tinha feito ali uma espécie de forte, as raízes da árvore serviam como uma barricada frontal e o tronco o protegia como um escudo lateral.

Veio a noite e o capitão foi até sua casa, pegou pão e um pedaço de morcilla, comeu, bebeu um pouco de água e retornou para a entrada da vila. Ele iria pernoitar ali, deitado sobre uns pelegos, junto das raízes do umbu, pois se durante a madrugada algum maragato aparecesse, não o pegaria desprevenido dentro de casa. O resto dos moradores da vila, todos trancados em seus casebres, angustiados, aguardavam pelo primeiro tiro.

Bernardo acordou num sobressalto, seu cachorro estava rosnando sem parar, ele rapidamente pegou um dos fuzis e começou a mirar em direção à coxilha. Tinha algo se movendo rente ao chão.

– Olha cusco! Lá vem um maragato de merda! Este bosta vem rastejando como cobra. Vou meter um baletaço neste filho da puta e deixar ele quieto. O cano do Mauser foi acompanhando o andar lento do vulto, mirou dois dedos na frente da direção para onde ele andava, mas para a surpresa do brigadiano, o sombreado não era gente, a lua descortinou um sorro, uma fêmea que cruzava com os filhotes na direção oposta à vila. Alívio. Nisso, o capitão retirou do bolso o relógio e, no reflexo da lua cheia, conseguiu ver os ponteiros dourados indicando três horas da madrugada. Como diria o Padre lá da Igreja Matriz, era o início da “hora morta”. Ao menos, foi assim que Bernardo cresceu ouvindo falar sobre aquele momento da madrugada, a hora que vai das três até às quatro. A hora em que o diabo anda pelo campo e todas as almas e assombros se deixam ver pelos vivos. “Que besteira”, pensou o brigadiano, na “hora morta eu só tenho medo é de quem tá vivo”.

De repente, o cusco começou a rosnar novamente, agora não era na direção da coxilha, o animal mostrava os dentes para outro lado, na direção do rancho em que Bernardo morava. As frestas das paredes de madeira da casa estavam iluminadas, como se dúzias de candeeiros estivessem acesos lá dentro.

– Mas que merda é essa? Quem é que tá lá no rancho? – Falou com o cão em voz baixa. E como se o estivesse compreendendo, o cusco saiu andando na frente, na direção da casa, com o corpo abaixado, pelos eriçados e dentes ainda mais à mostra.

Bernardo, maniático, abriu o ferrolho do rifle, verificou novamente se tinha cartucho, engatilhou o fuzil e se levantou lentamente. Olhou para a coxilha que ficava na entrada da vila, tudo estava calmo. Em seguida, o Capitão também começou a ir na direção do rancho, no mesmo trilho que partira o cusco. – Seria Eulália que tinha voltado? Seriam soldados maragatos que entraram na vila pela lateral ou cruzaram e não o viram nas raízes do umbu? – Quando o Capitão estava a cinco metros da porta, ele ouviu uma voz em sussurro: “Eu estou aqui”. Imóvel, Bernardo viu um vulto andando dentro da casa, como se fosse alguém se movimentando em longos círculos: “Eu estou aqui”. “Aqui”. “Eu vim te buscar”, o sussurro parecia surgir de todos os lados. “Eu vim te buscar”.

– Tu vais buscar é um tiro na cara, filho da puta. Vamos, saia daí! Vamos! Saia, seu bosta! – Gritou com raiva o Capitão.

Imóvel, o brigadiano mirou no vulto que estava caminhando dentro da casa, um tiro seco na madeira, certamente acertaria na pessoa que estava lá dentro. Tão logo começou a fazer a mira, de repente, tudo se escureceu. Restou apenas a luz da lua e o silêncio da vila abandonada. Ele já não ouvia mais o rosnar do cusco e nem a voz sussurrada. Bernardo seguiu andando lentamente em direção ao rancho, parou diante da porta da cozinha, um frio invernal tomou conta de tudo. Sua respiração deixava um rastro de fumaça no ar. Num movimento rápido, o brigadiano deu um violento chute na porta, que mesmo pesada, escancarou-se para trás, trancando-se contra a parede e o chão batido.

Depois de revisar o interior da casa e não encontrar nada, o Capitão parou na porta da cozinha. Ele tentava compreender o que tinha acontecido, foi quando ele olhou para na direção do umbu. E, para seu espanto, Bernardo viu um homem, parado ao lado da árvore, exatamente onde ele estava antes. “Eu vim te buscar”, disse o sussurro veio novamente. “Pois eu duvido tu me levar, demônio de merda!”, pensou Bernardo, enquanto levantava o Mauser. Ele ergueu o cano e enquadrou no escuro a alça de mira com firmeza, mirou na cabeça, pois queria acertar no peito. Em seguida, prendeu a respiração, firmou no ombro a coronha e apertou o gatilho rapidamente.

Foi um disparo de quase setenta metros, o vulto deu um salto para trás e caiu no chão. Num movimento mecânico, o brigadiano puxou o ferrolho, o cartucho vazio saltou longe, caindo sobre o chão batido, depois, pegou outro cartucho que tinha no bolso da calça e carregou novamente o fuzil. Andou em passo acelerado na direção da árvore.

Quando Bernardo chegou no local, o corpo estava imóvel, caído de bruços. O curioso é que ele não usava um lenço vermelho. Ao virar o corpo usando o cano da arma, teve certeza de que não era um maragato, o que estava no chão lhe deixou atônito. O morto usava roupas da brigada militar. Bernardo viu o seu próprio corpo, sem vida, caído sobre as raízes do umbu. “Eu já disse, estou aqui e vim te buscar”, insistiu o sussurro novamente, “não adianta tentar lutar”. O brigadiano não teve tempo de mais nada. Como uma fraqueza, sentiu um peso nas pernas e uma sonolência insuportável, tudo foi se escurecendo. Acordou no dia seguinte. O sol já estava alto. Eram nove horas da manhã. A vila do Plano Alto seguia silenciosa e no campo os quero-queros voavam nervosos.

Bernardo esfregou os olhos e olhou para o lado, não viu o cadáver, nem ouviu mais a voz, olhou para o horizonte, enquanto seus olhos se acostumavam com clarão do sol, foi então que viu cerca de trinta homens armados e montados em cavalos, com lenços vermelhos nos pescoços. Olhavam na direção do Plano Alto, conversavam tranquilos e faziam gestos.

Os cavaleiros começaram a descer a coxilha, andavam sem pressa, como se estivessem num passeio.

Eram eles, os maragatos. Tinham vindo numa vanguarda ligeira. “Honório Lemes mandou um grupo na frente para ver se a vila teria defesa”, pensou Bernardo. E ela tinha. Os soldados de Honório Lemes começaram a andar na direção da vila. Nos três primeiros disparos de Mauser, três corpos de maragatos se estenderam no chão. A vanguarda demorou para perceber de onde vinham os tiros e abriu a formação, cavalgando campo a fora e, desorganizados, fugiram centenas de metros. Na vila, os moradores, nas portas dos ranchos, assistiam aquela cena insólita, um homem apenas, enfrentando um exército em defesa de toda uma vila. Os tiros se multiplicaram rapidamente, nuvens de fumaça na coxilha antecederam o cheiro de pólvora queimada que entrou na vila. Bernardo não deixou os maragatos entrarem no Plano, escondendo-se nas raízes do umbu, ele manteve a posição por mais de uma hora. Os maragatos tentavam cercar o Capitão, mas eram seguidamente atingidos. Até que o Mauser bateu seco, o ferrolho jogou longe o cartucho, mas, infelizmente, não havia mais nada. Bernardo viu os maragatos rondando cada vez mais perto da árvore. Até que, de repente, ele sentiu uma queimação no peito, uma ardência, e a sensação de roupa molhada grudando na pele, caiu contra o tronco do umbu.  Ferido pelos maragatos, o brigadiano não teve forças para levantar a espada. Viu três homens apeando dos cavalos, em seguida, sentiu dois dedos sendo enfiados no seu nariz, sua cabeça foi puxada para trás, ele viu o céu azul do Plano Alto. Foi degolado e abandonado ali mesmo, por sobre as raízes da árvore.

Naquele dia, a vanguarda ligeira de Honório Lemes não invadiu o Plano Alto. O maragato que estava no comando, Coronel Padão, reconheceu a coragem do chimango e deu ordem para que os demais soldados recolhessem os corpos caídos no campo. Ao todo, foram treze homens mortos pelos tiros do fuzil Mauser de Bernardo. Os homens e mulheres que restaram no Plano Alto foram até a entrada da vila com facões e pedaços de madeiras, estavam prontos para defender suas casas. Não temiam a vida, tão pouco a morte. No entanto, não houve luta. O que viram foi a imagem fosca dos cavaleiros vermelhos indo embora, partindo ao encontro da coluna de Honório Lemes para invadir Uruguaiana. Do alto da coxilha o Coronel Padão ficou alguns minutos olhando para o velho umbu e para o brigadiano morto. Talvez, tentando compreender o que tinha acontecido ali. Depois, em silêncio respeitoso, desapareceu no horizonte da pampa verde.

Em 03 de abril de 1923, a vanguarda ligeira do Coronel Padão, junto com as tropas de Honório Lemes, cercou a cidade de Uruguaiana. Por dias tentaram invadir, mas foram repelidas constantemente por Flores da Cunha e seus homens. Vendo ser impossível entrar na cidade, quando de sua retirada para as coxilhas do Caverá, os maragatos e os chimangos de Uruguaiana deram início à uma das maiores perseguições que já se viu no Rio Grande do Sul. Flores da Cunha e seus soldados cruzaram o Estado, por meses sem trégua, atrás de Honório Lemes e sua coluna.

Em suas memórias, Flores da Cunha, ao falar sobre o cerco de Uruguaiana, agradeceu ao honrado capitão da Brigada que, sozinho, fez frente ao Leão do Caverá.

No Plano Alto, tão logo os maragatos se foram, os velhos moradores recolheram o corpo do Capitão Bernardo. Colocaram-no na mesa da cozinha do rancho onde morava, trouxeram velas, rezas e ramos de alecrim, esperaram um dia, e numa manhã chuvosa o enterraram ao lado do umbu. Eulália e seu filho, que de nada sabiam, voltaram para a vila uns dias após a morte do marido. Seguiram morando no rancho por mais alguns anos. Não havia para onde ir. Até que em 1930 se mudaram para Uruguaiana, Eulália vinha todos os anos no dia dos finados, trazia flores e um saco de fumo. Ficava por horas sentada nas raízes do umbu. Conversava com o vento, contava as notícias da cidade, da alegria de quando o filho lhe deu um neto, das mazelas de ser uma mulher pobre e viúva, contava da vida sem o marido.

Com o tempo e o vento, Eulália se foi, enterraram-na na cidade. A cruz de madeira do túmulo de Bernardo se desmanchou e desapareceu.

No Plano Alto, durante muitos anos, moradores e andarilhos que cruzavam pela entrada da vila, nas madrugadas frias de lua cheia, relatavam sempre uma mesma história. Diziam que quando chegavam perto da grande árvore, enxergavam a figura de um homem uniformizado, parado ao lado do umbu. Ele ficava lá, de guarda e com o olhar  longe.

A figura do homem era imponente,  com um rifle em punho e alheio aos moradores que o observavam de longe. E o curioso é que o vulto do homem ao lado do umbu aparecia sempre depois das três da madrugada. Sempre em noite de lua cheia. Nunca ninguém teve coragem ou quis chegar perto daquele ser, apenas lhe rezavam um Pai Nosso e faziam o sinal da cruz. Todos sabiam, e também sentiam, que aquele vulto de ser humano não faria mal,  pois era o Capitão, cuja alma resistia ali, guarnecendo a vila e protegendo as almas daqueles que andavam pela hora morta do Plano Alto.

 

Roger Baigorra Machado é formado em História e tem Mestrado em Integração Latino-Americana pela UFSM. Foi Coordenador Administrativo da Unipampa por dois mandatos, de 2010 a 2017. Atualmente trabalha com Ações Afirmativas e políticas de inclusão e acessibilidade no Campus da Unipampa em Uruguaiana. É membro do Conselho Municipal de Educação e do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico do Município de Uruguaiana, também é conselheiro da Fundação Maurício Grabois. No resto do tempo é pai do Gabo, da Alice e feliz ao lado de sua esposa Andreia

 

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Maria Cult anuncia terceira edição de premiação que celebra artistas de Santa Maria https://redesina.com.br/maria-cult-anuncia-terceira-edicao-de-premiacao-que-celebra-artistas-de-santa-maria/ https://redesina.com.br/maria-cult-anuncia-terceira-edicao-de-premiacao-que-celebra-artistas-de-santa-maria/#respond Sat, 11 Nov 2023 15:25:50 +0000 https://redesina.com.br/?p=120303 O Prêmio Maria Cult (PMC) retorna em 2023 com sua terceira edição. Na última terça-feira (07/11), a Maria Cult, projeto de jornalismo independente de Santa Maria, anunciou nas redes sociais a nova edição da premiação que celebra a cena cultural independente da cidade. O PMC, que obteve 69 mil votos e mais de 170 indicados …

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O Prêmio Maria Cult (PMC) retorna em 2023 com sua terceira edição. Na última terça-feira (07/11), a Maria Cult, projeto de jornalismo independente de Santa Maria, anunciou nas redes sociais a nova edição da premiação que celebra a cena cultural independente da cidade.

O PMC, que obteve 69 mil votos e mais de 170 indicados na última edição, contará com 25 categorias nas áreas de Artes Cênicas, Artes Visuais, Audiovisual, Dança, Literatura e Música. Em 2023, a premiação chega com uma nova categoria musical: “Dupla ou Duo”.

Diferente das edições anteriores, neste ano a entrega dos troféus será feita na mesma noite em que serão revelados os destaques de cada categoria, que são escolhidos através de uma votação popular. A cerimônia de premiação do 3º PMC já tem data e local marcado: 14 de dezembro, no Cinépolis do Shopping Praça Nova.

3º Prêmio Maria Cult (Arte: Larissa da Rosa e Kleiton Prestes)

Para chegar às indicações, que serão reveladas na última semana de novembro, o 3º PMC conta, novamente, com uma equipe de curadores que contribui com sugestões para definir os indicados à premiação. O grupo é formado por 33 agentes culturais, entre produtores e artistas locais, que aceitaram o convite e se disponibilizaram a selecionar, junto da equipe Maria Cult, os destaques da cultura santamariense em 2023.

A terceira edição do Prêmio Maria Cult é resultado de um ano inteiro de trabalho em prol da cultura local, feito de forma totalmente independente. Assim como nos anos anteriores, queremos celebrar esses artistas e apresentar para Santa Maria a potência cultural que ecoa em nossa cidadecomenta o jornalista Deivid Pazatto, coidealizador da Maria Cult.

”Acredito que a premiação desempenha um importante papel para a visibilidade das diversas manifestações culturais na cena local. Cada edição reforça o quanto a cidade necessita de mais espaços, para que essas vozes sejam ouvidas, reconhecidas e valorizadas”, destaca Paola Saldanha, coidealizadora da Maria Cult.

A 3ª edição do Prêmio Maria Cult é uma realização da própria MARIA CULT com patrocínio do Beco Street Bar, Broto Maroto, Colors Turismo, Easy Going, Left Rock Bar, Muggles Pub Magic Store e Old School Pub, e apoio de Cinépolis, Rádio Armazém, Rede Sina e Shopping Praça Nova. 

A 2ª edição do PMC reuniu mais de 100 pessoas na entrega do troféus (Foto: Alice Pozzobon)

SOBRE O PRÊMIO MARIA CULT

O prêmio Maria Cult nasceu com o objetivo de celebrar a cultura independente de Santa Maria pós um período difícil para o setor enfrentado ao longo da pandemia de Covid-19. Na edição de estreia, em 2021, a premiação contemplou 85 indicações, entre obras, artistas, agentes e produtores culturais.


Já em 2022, o número subiu para 170 indicados, distribuídos em 25 categorias. Tendo em vista a pluralidade de produtores e trabalhos desenvolvidos na cena local, o 2º PMC contou também com uma equipe de 32 curadores para a construção da lista de selecionados.

Nas duas edições, a escolha dos destaques ficou sob responsabilidade do público, através do voto popular. A primeira edição contabilizou 34 mil votos, entre 19 categorias, enquanto a segunda edição chegou a marca de mais de 69 mil, em 25 categorias.

SOBRE A MARIA CULT

Mídia independente de jornalismo, a Maria Cult produz conteúdo sobre a cena cultural de Santa Maria (RS). Nascida na Cidade Cultura, marcada por diferentes histórias e costumes, de pessoas que moram e passam por aqui, o projeto visa a coletividade e a resistência, com protagonismo de múltiplas vozes e manifestações, por meio da  divulgação da cultura local, fortalecimento e valorização da criação independente, diversa, acessível e popular.

Idealizada pelos jornalistas Deivid Pazatto e Paola Saldanha, em janeiro de 2020, a Maria Cult já publicou mais de 3 mil ações culturais desde sua criação. Além de realizar o Prêmio Maria Cult, o projeto produz conteúdos sobre shows, lives, espetáculos de teatro e dança, festivais, exposições de artes visuais e livros, entre outras atividades e produções, como cobertura de eventos.

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25/10 – QUA – 18H30 | LANÇAMENTO DO LIVRO ENGASGOS DE MEL INQUIETA https://redesina.com.br/25-10-qua-18h30-lancamento-do-livro-engasgos-de-mel-inquieta/ https://redesina.com.br/25-10-qua-18h30-lancamento-do-livro-engasgos-de-mel-inquieta/#respond Sun, 22 Oct 2023 07:58:15 +0000 https://redesina.com.br/?p=120185 Na próxima quarta, dia 25, a partir das 18h30 no Mojju Gastro Pub (R. Duque de Caxias 927, entre Venâncio e Andradas) será lançado o livro de poemas “Engasgos” da Mel Inquieta (Melina Guterres), jornalista e fundadora da Rede Sina. O livro chamado pela autora de “Manifestos” traz versos/protestos.  O lançamento conta com mostra de …

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Na próxima quarta, dia 25, a partir das 18h30 no Mojju Gastro Pub (R. Duque de Caxias 927, entre Venâncio e Andradas) será lançado o livro de poemas “Engasgos” da Mel Inquieta (Melina Guterres), jornalista e fundadora da Rede Sina. O livro chamado pela autora de “Manifestos” traz versos/protestos.  O lançamento conta com mostra de arte, leituras dos poemas e show de Paola Mattos e Erick Côrrea. O restaurante ainda vai oferecer em seu cardápio uma nova opção o “Caldinho de Feijão da Mel Inquieta”, em homenagem a autora que gosta muito de caldos. As reservas podem ser feitas pelo whats 55991319422. A entrada gratuita até às 21h, após, couvert de R$ 8,00.

Engasgos é o sexto livro publicado através da parceria da Rede Sina com a editora Bestiário. Tem apresentação da Taiasmin Ohnmacht. “Mel parece nos dizer que, para alcançar um final tranquilo, é preciso ser inquieta, pois há muita luta para quem tem por horizonte a igualdade e a justiça social. Engasgo traz um convite: sejamos flores, mas de aço”, diz.  Na orelha feita pela Mária Rita Py ela lembra “no poema que dá nome à obra, a autora transborda indignação e empatia.(…). Nas dores de afro-brasileiras, de prostitutas, trans ou gays, exercita sabedoria”.

No pósfácio do João do Corujão, “Ouso dizer que Melina, tão afetuosa nas suas relações interpessoais, exercita o fazer poético com a mesma força de Conceição, Elisa Lucinda ou outras manas que fazem das suas palavras as potentes ferramentas para criar outros mundos possíveis, sem permitir que esqueçamos os horrores que clamam por justiça e mudanças de atitudes.”, afirma João.  E a Rozzi Brasil que assina a contra-capa conclui. “Engasgos é um grito contra os preconceitos que aprisionam.

Mel conta que estava com outro livro quase pronto, quando decidiu que seu primeiro livro individual deveria trazer mais a voz das suas indignações.

“Parecia um erro começar de outra forma que não essa. Tem poemas de 2005 à 2023, quando consegui decidir que o foco estava mais nos prostestos que propriamente nos versos, nasceu o livro”.

Sobre assinar com o nome artístico, ela diz que o nome nasceu em um momento de muita indignação, “então nada mais próprio que usar ele neste livro.”. Melina também publica seus poemas na sua conta no instagram @poesiacommel . Outras atividades e escritos dela podem ser encontrados em: https://redesina.com.br/melinquieta/ 

Engasgos teve pré-lançamento na 12ª Sina Poética no dia 5/10 e ttambém deve ser lançado em novembro em Porto Alegre e participar de uma série de circuitos (confira abaixo).

Para compras online basta acessar o site da editora Bestiário clicando aqui. 

25/10 – QUARTA-FEIRA – LANÇAMENTO EM SANTA MARIA

18h30 às 20h – Sessão de autógrafos
20h – Fala da autora. Espaço aberto: leituras dos poemas e comentários
21h às 23h – Show Paola Mattos e Erick Corrêa
No bar e restaurante Mojju Gastro Pub (R. Duque de Caxias 927, entre Venâncio e Andradas)
Entrada free até às 21h, após couvert R$ 8,00.

 

 

CIRCUITO ENGASGOS E OUTROS LIVROS DA PARCERIA REDE SINA/BESTIÁRIO:

Em Porto Alegre:
04/11 – 19h – 13ª SINA POÉTICA | TABLADO ANDALUZ (sarau e banca) | Av. Venâncio Aires 556ª. Cidade Baixa
10/11 – 14h – Instituto Caldeira.

Em Santa Maria:
24/11 – 14ª Sina Poética Orgulho Negro | Boteco da Maré | Visconde de Pelotas, 984
08/12 – sexta -19h – Atêlie da Gare | GARE
12/12 – terça – 19h – 15ª SINA POÉTICA | especial autores Sina/Bestiário com leitura dramáticas | Mojju Gastro Pub | Duque de Caxias, 927 |
18/12 – seg – 19h – Confraria Gastro beer | Bozzano, 695 |
22/12 – sex – 199 – Easy Going | R. Duque de Caxias, 984

DEPOIMENTOS COMPLETOS SOBRE O LIVRO EM:

LIVRO: ENGASGOS DE MEL INQUIETA

 

 

 

COMPRAS ONLINE EM:

https://bestiario.com.br/livros/engasgos.html

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05/10 – QUI – 19H30 | 12ª SINA POÉTICA https://redesina.com.br/12sinapoetica/ https://redesina.com.br/12sinapoetica/#comments Tue, 03 Oct 2023 04:46:53 +0000 https://redesina.com.br/?p=120101 12ª Sina Poética, acontece nesta quinta, dia 5 de outubro, a partir das 19h30 no Old School Pub. A SINA POÉTICA chega a sua 12ª edição completando 5 anos. A edição de outubro é a segunda em parceria com a Festa Literária de Santa Maria- FLISM, que está com programação de 4 a 7 de …

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12ª Sina Poética, acontece nesta quinta, dia 5 de outubro, a partir das 19h30 no Old School Pub.

A SINA POÉTICA chega a sua 12ª edição completando 5 anos. A edição de outubro é a segunda em parceria com a Festa Literária de Santa Maria- FLISM, que está com programação de 4 a 7 de outubro.  A parceria também promove a mesa de debate sobre Literatura Contemporânea Gaúcha que acontece dia 5, às 17h30 na Cesma. Após o debate, todos são convidados para irem para 12ª Sina Poética que conta nesta edição com:

MOSTRA DE ARTE: Obras de Ana Macedo, Geraldo Markes, Ricardo Markes (baixo), Jow Jow, Kalu Flores, Dartanhan Baldez Figueiredo, Rafael Bitencourt

LANÇAMENTOS DE LIVROS: Extravagante de Liana Timm, Os Caminhos de Santa Teresa de Vitor Biasoli, Papa da Terra, Mama da Água de Gabriel Araújo, Engasgos (pré-lançamento) de Melina Guterres/Mel Inquieta.

MOSTRA DE CURTA VENCEDOR DO SMVC/ PRÊMIO REDE SINA  2023 e 2022: Cidade de Lona de Paulo Tavares e Verônica de Heitor Leal

A Sina Poética é um evento realizado pela Rede Sina e esta edição conta entre parceiros e apoiadores: Flism, Livraria Athena, Old School Pub, Grupo Rezzor, editora Bestiário, Festival Santa Maria Vídeo e Cinema – SMVC, Cesma, Salão de beleza “Coisa mais linda”, Ong Igualdade, Porão Criativo, Maria Cult, Paralelo 29, Luma Consultoria, Slam Produções e Sarau dxs Atrevidxs.

SINA POÉTICA – SARAU COM MICROFONE ABERTO
A primeira edição do Sarau Sina Poética aconteceu em comemoração de aniversário da criadora do sarau e da Rede Sina, Melina Guterres, em setembro de 2018 no antigo bar Zeppelim. Esta edição o sarau comemora os 5 anos e os 41 de sua fundadora.
CURTA PRÊMIO REDE SINA/SMVC 2023: CIDADE DE LONA:
CURTA PRÊMIO REDE SINA/SMVC 2022: VERÔNICA

 

SERVIÇO:

12ª SINA POÉTICA

5/10 – QUINTA – 19H30 

Entrada: R$ 5,00 (opcional)

Reserva de mesas pelo whats  55 99649-4298

NO OLD SCHOOL PUB:

 

VEJA TAMBÉM:

 

05/10 – QUI – 17h30 | Literatura Contemporânea Gaúcha é debatida na Cesma durante a FLISM

 

DE 4 A 7 DE OUTUBRO | 6ª FESTA LITERÁRIA DE SANTA MARIA – FLISM

5 ANOS DA SINA POÉTICA!

CRONOGRAMA HISTÓRICO:

1ª SINA POÉTICA | 25/09/2018

https://redesina.com.br/i-sina-poetica-confira-como-foi/

Lives:

https://www.facebook.com/redesina/videos/268723683981202/?ref=embed_video&t=0

https://www.facebook.com/redesina/videos/528093097617405/?ref=embed_video

https://www.facebook.com/redesina/videos/761602210898237/?ref=embed_video&t=4

https://www.facebook.com/redesina/videos/267564794084897/?ref=embed_video

https://www.facebook.com/redesina/videos/501770593672068/?ref=embed_video

https://www.facebook.com/redesina/videos/265610757397150/?ref=embed_video

https://www.facebook.com/redesina/videos/473601316468994/?ref=embed_video

https://www.facebook.com/redesina/videos/735697493436211/?ref=embed_video

https://www.facebook.com/redesina/videos/317921025427045/?ref=embed_video

https://www.facebook.com/redesina/videos/302451667017965/?ref=embed_video

 

2ª SINA POÉTICA | AUTORES NEGROS | 19/11/2018

https://redesina.com.br/sina-poetica-orgulho-negro-dia-19-de-nov/

live/chamada: https://www.facebook.com/redesina/videos/336579780259485/?ref=embed_video

 

3ª SINA POÉTICA | MULHERES | 27/03/2019

Performance na 3ª Sina Poética. 2019. Foto: Dartanhan Baldez Figueiredo.

https://redesina.com.br/27-03-3o-sina-poetica-poetisas/

https://redesina.com.br/sina-poetica-reune-poetas-artistas-e-lembra-mulheres-vitimas-da-ditadura-em-performance/

Lives: 

https://www.facebook.com/redesina/videos/2241897082716797/?ref=embed_video&t=0

https://www.facebook.com/redesina/videos/310045709678735/?ref=embed_video&t=5

https://www.facebook.com/redesina/videos/625781001200486/?ref=embed_video

 

4ª SINA POÉTICA | 25/06/2019

https://redesina.com.br/sinapoetica4/

Lives: https://www.facebook.com/redesina/videos/414836919103584/?ref=embed_video&t=0

https://www.facebook.com/redesina/videos/358750571478399/?ref=embed_video&t=0

 

5ª SINA POÉTICA | 03/09/2019

https://redesina.com.br/sina-poetica-5aedicao/

lives:

https://www.facebook.com/redesina/videos/505404413550836/?ref=embed_video&t=0

https://www.facebook.com/redesina/videos/740935319697826/?ref=embed_video&t=0

 

6ª SINA POÉTICA | 26/11/2019 – AUTORES NEGROS https://redesina.com.br/26-11-6a-sina-poetica-tema-consciencia-negra/

Live: https://www.facebook.com/redesina/videos/2695939377133980/?ref=embed_video&t=21

 

EXTRA | edições devido a pandemia

 

  • SINA | Sina e Corujão da poesia | 31/03/2020 (online)

A edição presencial prevista para 31 de março de 2020, foi realizada online junto com o Corujão da Poesia https://redesina.com.br/31-03-terca23h-sina-poetica-e-corujao-da-poesia/

  • SINA | Exposição e poesia | 27/09/2021 (presencial com restrições e online)
  • SINA | Sarau Delas  – 15/03/2022 (online)

https://redesina.com.br/sarau-delas-15-03-ter-20h-live/ 

 

7ª SINA POÉTICA | 30/03/2022 | MULHERES

https://redesina.com.br/7a-sina-poetica-presencial-30-03-qua-20h-no-old-school-pub/

Vídeo: 

Live: 

https://www.youtube.com/watch?v=ig3KePDDHKI&list=PLF2UK8HbA8I3A9d7wr2-TZTfV8QYGJONc&index=10

 

8ª SINA POÉTICA | 03/05/2022 | RIO DE JANEIRO-RJ

Encontro de saraus Sina Poética, Corujão da Poesia, Pelada Poética, Ratos

https://redesina.com.br/sinapoeticario/

Vídeo/live: https://www.youtube.com/watch?v=OOJFm_wSmGg&list=PLF2UK8HbA8I3A9d7wr2-TZTfV8QYGJONc&index=7

 

9ª SINA POÉTICA | 07/10/2022 – 5ª FESTA LITERÁRIA DE SANTA MARIA – FLISM

https://redesina.com.br/9a-sina-poetica-7-10-sex-21h-no-old-school-pub/

Vídeo:

Live: https://www.youtube.com/watch?v=PAuKjInCGMQ&list=PLF2UK8HbA8I3A9d7wr2-TZTfV8QYGJONc&index=6&t=9s

 

10ª SINA POÉTICA | 30/03/2023  | MULHERES

https://redesina.com.br/30-03-10a-sina-poetica-celebra-a-literatura-feminina-e-promove-diversas-atividades-em-evento-em-santa-maria/

Vídeo:

Live: https://www.youtube.com/watch?v=CvuZAW02V34&list=PLF2UK8HbA8I3A9d7wr2-TZTfV8QYGJONc&index=3

 

11ª SINA POÉTICA | 08/05/2023 | 50ª FEIRA DO LIVRO DE SANTA MARIA

COM 50 FEIRA DO LIVRO DE SANTA MARIA. Participação autores portugueses Afonso Cruz e o ator Pedro Lamares

https://redesina.com.br/11sinapoetica/

Vídeo: 

 

 

LEIA TAMBÉM:

05/10 – QUI – 17h30 | Literatura Contemporânea Gaúcha é debatida na Cesma durante a FLISM

 

DE 4 A 7 DE OUTUBRO | 6ª FESTA LITERÁRIA DE SANTA MARIA – FLISM

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OS CAPINCHOS DA SANGA GRANDE*. por ROGER BAIGORRA MACHADO https://redesina.com.br/os-capinchos-da-sanga-grande-por-roger-baigorra-machado/ https://redesina.com.br/os-capinchos-da-sanga-grande-por-roger-baigorra-machado/#respond Sat, 29 Apr 2023 11:42:58 +0000 https://redesina.com.br/?p=20715 O Grande Capincho estava imóvel, parecia um tronco jogado no meio do junco. De tão grande que era, dava para ver a sua cabeça inteira repontando por cima das folhas amareladas do capim. Logo abaixo da queixada, no espesso pescoço, toda a sua tensão pulsava através de uma veia trêmula. Tinha os olhos atentos, brilhantes …

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O Grande Capincho estava imóvel, parecia um tronco jogado no meio do junco. De tão grande que era, dava para ver a sua cabeça inteira repontando por cima das folhas amareladas do capim. Logo abaixo da queixada, no espesso pescoço, toda a sua tensão pulsava através de uma veia trêmula. Tinha os olhos atentos, brilhantes e levemente repuxados. E de tão arregalados que estavam, seus olhos davam a impressão de que quase não piscavam. Sem dúvida alguma, ele era o mais lindo dos animais do rebanho. 

Havia quase três invernos desde que o Grande Capincho tinha assumido a liderança do grupo.

Em cada passo que dava,  o Grande Capincho carregava todo o peso da sua liderança em um corpo grande e forte. Seu tamanho avantajado se devia à boa alimentação, uma fartura oriunda da pastagem do banhado e, por outro lado, uma grandiosidade construída também pela mais bruta necessidade. Sim, era preciso. Era preciso ser forte e ser grande. Eis as duas regras que asseguram a liderança de um bando. O medo e a força. É que para um capincho, na sobrevivência pelos charcos e sangas, só restava a força como argumento de barganha. 

Num bando de capinchos, os machos sempre estão medindo força, lutas ferozes, onde os dentes deixam rasgos no couro. Destes embates resta sempre um animal do qual os outros machos nutrem medo. Esse animal é o alfa, o dominante que consegue se impor. O macho alfa é constantemente desafiado por outros jovens machos, desconhecedores do medo e da derrota. Jovens ansiosos por ocupar o lugar da liderança e de acesso às melhores fêmeas, tentam constantemente tomar a liderança do líder do bando. Assim, tamanho e força são virtudes importantes na natureza, especialmente, no mundo dos capinchos. Aos jovens machos derrotados, resta o exílio ou a subserviência em medo, ao vencedor, a responsabilidade de ser o líder.

E o Grande Capincho estava lá, imponente entre os juncos, com seus pêlos compridos e densos se movendo contra o ar seco e gelado do vento minuano, indo de um lado para outro, como se, numa dança de marrons reluzentes, o vento redesenhasse o seu corpo à cada soprada. 

A rotina de um capincho pelas terras da Pampa era um eterno se repetir, andar pelas noites, cruzar os rios, esconder-se nos brejos, sumir entre as águas, dormir nos matos. Essa repetição da mais crua sobrevivência eram atividades que o Grande Capincho fazia desde quando era filhote. E naquele dia de final do inverno, isto não tinha sido diferente.

Enquanto a luz da Estrela D’Alva lentamente se enfraquecia no céu, o Grande Capincho e seu bando já estavam há muito com suas almas encravadas na terra, enfiados no charco do banhado. 

Como líder que era, o Grande Capincho foi o primeiro a chegar no local de pastagem. Apareceu no banhado da Sanga Grande lentamente, caminhando sozinho, saindo por uma trilha que vinha do mato costeiro. Ele caminhou pela beirada dos juncos, bebeu um pouco da água gelada e límpida que escorria de uma nascente que brotava por entre dois juncos. Em seguida, ele foi até a parte mais alta da coxilha que dividia o banhado do campo aberto. Uma coruja, pousada sobre o topo de um cupinzeiro, de olhar atento, ao ver o Grande Capincho se aproximando, abriu suas asas e voou para as bandas do rio, quem sabe a sorte lhe trouxesse uma preá desatenta na escuridão que já se desvanecia. 

O líder do bando ficou lá na coxilha por um bom tempo, ouvindo o cantar dos grilos e observando um casal de emas que estava ao longe. As emas pareciam ainda congeladas pelo frio da noite, estavam quase imóveis, e não fosse o som de seus assobios, as duas aves bem que poderiam ser confundidas com estátuas. A ema fêmea estava em pé, virada para as planícies da Pampa, ela olhava na direção do nascer do sol, como se estivesse procurando por algo, enquanto que o macho permanecia deitado, chocando os ovos no ninho, quase dormindo. 

O Capincho respirou profundamente o ar do amanhecer pampeano, sentiu o cheiro dos campos longínquos, ares de outros pagos, aromas vindos numa mistura de arvoredo e mel. Depois, virando na direção onde o campo, o banhado e o mato se encontravam, o líder do dos capinchos ficou novamente imóvel, observando tudo com atenção. Ele queria ter certeza. É que antes do próximo ato, ele precisava ter a certeza de que não havia nenhum sinal de perigo para o bando, farejou com atenção e não percebeu nenhum cheiro de leão-baio, lobo guará ou de ser humano rondando o banhado e seu pasto verde. Vendo que não havia nada que temer, voltou para até a beira da sanga e com um grito chamou os demais capinchos. 

A manada chegou ao banhado em fila. Sempre organizados, andavam como se um animal pisasse na pegada do outro, os capinchos pareciam não ter nenhuma pressa. Como de costume, todo o bando tinha pernoitado na proteção do mato costeiro e, lentamente, despertava em um movimento ainda entorpecido em direção à sanga. Aos poucos, os capinchos foram saindo pela trilha do mato, distanciando-se uns dos outros e também partindo para longe das sombras das árvores, entrando gradualmente na área alagada. Não fosse pela alegria infantil de uns oito pequenos filhotes que corriam na frente de todos, pareceriam quase não se mover. O bando era composto por trinta e cinco animais adultos e uma dúzia de filhotes.

E conforme o sol ia se mostrando no horizonte, dava para ver, pairando por entre os capinchos, a cerração que evaporava da sanga, como se fosse uma fumaça que se misturava com a tênue geada que ainda repousava ilesa sobre o pasto. No amarelar da luz do sol os capinchos foram se esparramando pelo banhado. Uns animais estavam perto do mato, outros pastavam do outro lado da sanga, uns quase na beira da água. Mesmo separados, estavam comungando da mesma paz, num fundo de campo no extremo oeste da Província de São Pedro, escondidos entre os juncos e as árvores de um mato costeiro do rio Uruguai. 

No correr das horas, não tardou para que o sol logo aquecesse tudo, pois é assim que ele sempre faz, depois de uma noite fria, carrega para a vida o calor, vai derretendo os gelos e iluminando os assombros.

O banhado agora estava vivo, tudo era envolto num clarão.

No meio da sanga, despreocupada com os acontecimentos externos, reluzia a dança de uma enorme traíra que, aos botes vorazes, jogava água e lambaris para cima. Nas árvores do mato costeiro da sanga, o canto dos pássaros se misturava com o barulho do vento que trastejava nas folhas dos juncos, dando a sensação de uma cantiga maternal, assobiada, quase num sussurro. 

No bando de capinchos, os filhotes, as fêmeas e os machos menores, todos se alimentavam tranquilamente, acompanhados de longe pelo olhar cuidadoso do seu líder. De vez em quando, o minuano trazia um cheiro forte e adocicado, um odor intenso e familiar para qualquer ser vivo que na Pampa tenha se criado. Era o cheiro do mijo de algum zorrilho que, provavelmente, diante de um sinal de perigo, utilizou da própria urina como uma eficaz ferramenta de sobrevivência. 

Era o fim do inverno, tempo de evitar as águas da sanga e permanecer mais tempo no sol, especialmente, nas partes secas do banhado. Nas planícies pampeanas, a vida era irmã obediente das estações do ano. Durante os períodos de estiagem, tempo em que os campos se ressecavam até a linha do horizonte e as sangas quase desapareciam, a escassez de alimentos era uma regra para diversas espécies de animais. O bando de capinchos vivia isso todos os anos, e por causa disso, estava sempre em constante movimento. 

O bando andava pela Pampa numa eterna busca por novas pastagens e áreas alagadas. Se ficassem escassos os pastos de um lado do rio, cruzavam para o outro, andavam e nadavam até encontrar um novo local de alimentação. Era nesses períodos em que eles ficavam mais indefesos, pois precisavam, muitas vezes, expor-se em grandes distâncias de deslocamento. A busca incessante por comida, a coletividade dos movimentos e as mudanças territoriais constantes, faziam daquela manada de capinchos um corpo único. Moviam-se sempre em sincronia e sobreviviam, exatamente, por causa disso. 

Agora, quando os dias de seca findavam e se iniciava o período das chuvas, tudo mudava, acontecia o oposto. A regra agora era a abundância de comidas, de caças, de pastos, de frutos e folhas. As planícies se coloriam em um verde claro que tomava conta de tudo aquilo que os olhos pudessem ver. Nos matos, as taleiras, os ingás, os araticuns, os maracujás e as pitangueiras se enchiam de frutas.

Na sanga grande, onde a grama sempre crescia em abundância, mesmo em invernos pouco chuvosos como aquele, todos os dias apareciam grupos de orelhanos. Os bois cimarrón, os gados vacuns dos missioneiros que ficaram à revelia dos cuidados humanos e que, selvagens, vagavam pelos campos e pradarias da pampa. Eram manadas de centenas de animais. 

Os bois e as vacas chegavam e logo buscavam beber um pouco da sanga, fartavam-se da água doce que rebatia por entre os juncais, depois, num ato protocolar, pastavam alguns minutos e partiam logo em seguida. Havia muito gado solto pelas pradarias, mas para os capinchos, a impressão é de que aqueles animais que chegavam diariamente na sanga, eram sempre os mesmos, os mesmos bois e seus cheiros de couros molhados. 

A manada de cimarrons chegava, geralmente, no início da manhã e se recolhia ao final do dia. O líder do grupo era um grande e forte touro de pelo zaino que, assim como o líder dos capinchos, também levava todo os animais para dormir dentro do mato, aprofundavam-se nas sombras das árvores, numa estratégia para se proteger daqueles que os caçavam.

No dia seguinte, antes do sol despontar, o som dos galhos se quebrando e os espinhos arranhando os couros era o sinal de que os bois partiriam novamente em direção às pradarias verdes. Na saída, como de costume, a manada deixava muito esterco e urina sobre a relva, para a alegria dos pássaros que ficavam revirando as bostas. 

No banhado, quando o sol já pairava no meio do céu, a vida pampeana pulsava em  diferentes tamanhos e velocidades.

No campo ao lado da sanga, juntavam-se tatus e mulitas, muitos deles, fêmeas com suas ninhadas. Do prado, sorrateiramente, vinham os sorros, conhecidos também como graxains do campo. E do campo também surgiam os lobos guará, sempre sestrosos e com seus inconfundíveis gritos. Os guarás tomavam muito cuidado ao se aproximar da sanga, não por medo, mas por estratégia, visto que estavam sempre tentando caçar algo. E apareciam também os zorrilhos e seus perigosos rabos. Vinham beber na sanga também os veados, as garças e as marrecas, as emas e os catetos. E se num alvoroço de patas o banhado se esvaziasse subitamente de qualquer rastro de vida animal, o motivo era simples, eles tinham chegado: os leões-baios. 

No meio da tarde, correndo em alta velocidade por entre os arbustos, apareciam as preás e algumas lebres, escoltadas pelos quero-queros. Assim era o dia no banhado ao lado da sanga, um lugar que, além de ser bom para a alimentação, tinha também o adendo de receber proteção das árvores do mato, dos juncos e das águas da sanga. 

Em frente ao banhado, na outra margem, olhando-se na direção dos campos do lado ocidental do rio, estavam os campos da Argentina. E entre o banhado e o rio, majestosa no tempo, estava ela: a sanga grande. A sanga era de uma água salobra e acinzentada, era quase adocicada e, por ser muito profunda, tinha locais que do alto pareciam manchas escuras, buracos que nem mesmo os capinchos se arriscavam ir ao fundo, eram três poços profundos e distribuídos no seu lado esquerdo. Os poços tinham dúzias de metros de profundidade, eram fendas onde nem a luz do sol penetrava e que escondiam, enterrados na lama inicial, pedaços de animais antigos, cascos de tatus gigantes, pontas de lanças milenares, crânios de preguiças e dentes de tigres imemoriais.  

A sanga se formou no passar dos séculos, levando em sua gênese as mutações geológicas de milhares de anos, transformações que até os homens mais imaginativos são incapazes de abstrair. A vida da sanga era coisa diferente da fugaz vida animal e humana, sua existência era coisa de longa duração. Um traço bem marcado na linha temporal da Pampa. Ela se fez sem pressa, como uma ferida cicatrizada e ao mesmo tempo sempre aberta, uma marca viva no meio do campo. No início, a sanga nasceu como uma ínfima vertente de um feixe fino e pequeno de água, escorrendo por debaixo de um arenito e se desenvolvendo em redemoinho nos grãos de areia. Depois, ela cresceu escavando a terra e as rochas e se acumulando num pedaço aberto no solo, abrindo caminho com toda a força do aquífero, foi ganhando forma e tamanho. E assim a sanga seguiu sua sina, ora recebendo a água doce do rio Uruguai durante as cheias, ora sobreviveu bebendo da água gelada que brotava das outras nascentes que cercavam o banhado. 

Na direção do nascer do sol, no lado oposto ao rio, do outro lado da sanga, estavam as pradarias.

Planícies e mais planícies cobertas pelas ricas pastagens pampeanas. Entre o campo e a sanga, cruzando o banhado, havia uma coxilha que se erguia rasa, escondendo o grande espelho d’água daqueles que vinham sem rumo pela pampa. Numa das laterais da sanga, como torres de um castelo, via-se as copas das grandes árvores do mato nativo, árvores antigas que ficavam bem na costa do rio Uruguai. Em direção ao banhado, afastando-se do rio, o mato então passava a contar com árvores menores, espinheiras, pequenas corticeiras do banhado, taleiras e outras tantas de pequeno porte. Era uma vegetação que tomava conta de uma parte das margens do rio e que também abraçava quase toda a velha sanga, um abraço feito em trilhas apertadas, lugares por onde até os animais tinham receio de passar. O mato era como um aramado esticado e colocado perfeitamente entre o rio e a sanga.

Naquele dia o Grande Capincho estava sentado bem no meio de uma touceira de juncos, quase dormindo, farto de tanto pastar. Para olhos desavisados ele realmente pareceria uma rocha ou um toco de árvore. Às vezes, num leve sobressalto, ele despertava do cochilo com o vento gelado à ponta do focinho. O sol já tinha tomado o rumo das últimas horas da tarde e como de costume, o seu bando ficaria no banhado até a última centelha de luz e, terminado o dia, voltariam para a proteção do mato. No entanto, e muito de repente, a tranquilidade que aparentemente tomava conta do banhado foi quebrada pelos gritos de um bando de pelinchos. As aves estavam pousadas no topo de uma figueira e, subitamente, desatinaram a cantar, alarmando todos ao redor. 

O grupo, de cerca de uns dez pelinchos, cruzou voando por sobre a manada de capinchos, com seus gritos e grandes asas abertas. Algo os havia assustado. Imediatamente, após o alarme das aves, todos os capinchos pararam de pastar ao mesmo tempo. Era a sincronia da sobrevivência. 

Duas perdizes que estavam pousadas perto da margem da sanga, voaram rapidamente na direção do campo, as cabeças dos capinchos se ergueram quase que juntas e todos os animais olharam na direção dos juncos que margeavam a água. Logo em seguida, os quero-queros tocaram o segundo alarme, fizeram-no aos gritos e com rasantes ameaçadores por sobre os juncos. Era certo que algo estava lá. O Grande Capincho permaneceu sentado, bem no centro do banhado, mas agora, ele estava extremamente atento, de tal forma que cada fio de seus pêlos parecia pressentir o perigo que ele e seu bando corriam.

Ao perceber uma estranha movimentação nas folhagens dos juncos, a mais velha das fêmeas do bando, numa atitude de defesa, deu um urro e saiu em disparada, levando seus filhotes e todo o rebanho de capinchos que estava no banhado junto dela. Correram na direção contrária da sanga. Em seguida, os capinchos subiram o banhado rumo ao campo e depois, num movimento coordenado, correndo em curva, deslocaram-se pela base da coxilha e voltaram para dentro do alagado. Correram na direção da sanga, cruzando o banhado através de uma parte seca, caminho que funcionava como uma ponte entre o campo e a água. Entraram aos saltos e em alta velocidade, fazendo um grande barulho e criando pequenas ondas dentro da sanga.

Distraído com um outro som que vinha de dentro do mato, o Grande Capincho perdeu o momento coletivo da fuga, quando viu, estava só. Ele havia ficado para trás, e essa não era a primeira vez que isso acontecia, talvez por isso, ele se manteve calmo. O Capincho sabia que, em muitas das vezes, as debandadas eram alarmes falsos, coisas poucas em matéria de perigo. Quando isso acontecia, depois da fuga, os capinchos mergulhavam poucos metros e logo retiravam as cabeças para fora da água da sanga para observar suas margens e, vendo-se em segurança, aos poucos retornavam para o banhado. Acontece que, desta vez, nenhuma cabeça surgiu sobre a água da sanga para olhar, todos mergulharam profundamente e atravessaram para o outro lado quase sem emergir, do outro lado, preferiram ficar escondidos entre as plantas boiadeiras. 

E nos dois minutos que se seguiram da debandada, o banhado todo virou silêncio.

Parado e sozinho entre os juncos, o Grande Capincho percebeu que já não tinha mais escolha. Ele sabia que o melhor a fazer era correr, mas seu instinto dizia que não, que ele deveria ficar escondido, ao menos, por um pouco mais de tempo. E assim ele ficou imóvel, esperando pelo momento certo para também sair em disparada. 

Cerca de uns 30 metros de onde o Capincho se escondia, indo contra o vento gelado do fim do inverno, estavam as touceiras dos juncos de onde os quero-queros deram o alarme. Agora, o olhar do líder do bando exigia o máximo da sua atenção. Seus olhos repuxados estavam travados nos juncos que cresciam na margem, o que quer que tivesse assustado o resto do bando, certamente estava ali. 

Os quero-queros, enfurecidos, começaram a dar voos ainda mais rasantes contra uma das touceiras, era como se os pássaros indicassem ao Grande Capincho que era ali que estava o perigo. O líder do bando precisava tomar uma decisão, não era mais possível ficar ali parado esperando. Ele tinha três caminhos, o primeiro e mais óbvio, seria correr em direção a água. Mas para isso, ele teria que se arriscar correndo por entre os juncais e se defrontar com o que ali estava escondido. Outra possibilidade, imitar o bando e tentar a fuga em direção ao campo e, por fim, uma última alternativa seria a de correr para o mato que ficava do outro lado do banhado e poucos metros de onde ele estava.

O vento, agora em rajada, jogava a pelagem do Capincho para trás e soprava até o animal os diferentes cheiros que preenchiam cada sentido do seu olfato. As narinas do Grande Capincho se alargavam para a entrada do ar, movendo-se lentamente em abertura, enchendo seus pulmões com os odores daquilo que se escondia na beirada da sanga. 

Misturado com o cheiro de água e dos peixes, lambuzados pelas notas do odor do mato e da terra molhada, havia também os odores do couro de boi. Mas como? Se não havia nenhum cimarrón pastando ali? O Grande Capincho tinha certeza que se tratava de couro de boi, mas era um cheiro novo, tinha uma emanação intensa, quase adocicada, era cheiro de couro do gado das pradarias, mas tinha uma diferença, o couro que ele cheirava já estava morto há muito tempo. Enquanto os voos rasantes dos quero-queros seguiam sem trégua, o vento trazia, agora com fraqueza e precisão, um dos cheiros mais temidos pelos animais pampeanos. Agora sim, o Capincho tinha certeza de qual era o odor do perigo que corria.  Ele sentia o cheiro Charrúa. (CONTINUA)

 

* Este texto é parte de um projeto maior. Um livro que estou escrevendo, trata-se de um romance que narra a história dos descendentes de uma tribo Charrúa, a saga de uma família pela história da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.

 

 

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OLHA A FACA DE BOM CORTE: OLHA O MEDO NA GARGANTA! por ROGER BAIGORRA MACHADO https://redesina.com.br/olha-a-faca-de-bom-corte-olha-o-medo-na-garganta-por-roger-baigorra-machado/ https://redesina.com.br/olha-a-faca-de-bom-corte-olha-o-medo-na-garganta-por-roger-baigorra-machado/#comments Fri, 10 Dec 2021 14:02:06 +0000 https://redesina.com.br/?p=16925 Os homens estavam exaustos. Depois de dias cercados por tropas maragatas, sem comida e sem água, a rendição parecia o melhor caminho. Cerca de 300 soldados Pica-paus foram presos e postos dentro de um cercado de pedra, um curral destes antigos, estrutura feita para conter os animais, construído por escravos. Do lado de fora, no …

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Os homens estavam exaustos. Depois de dias cercados por tropas maragatas, sem comida e sem água, a rendição parecia o melhor caminho. Cerca de 300 soldados Pica-paus foram presos e postos dentro de um cercado de pedra, um curral destes antigos, estrutura feita para conter os animais, construído por escravos. Do lado de fora, no calor de novembro, uns tragos de canha eram engolidos entre risos pelos vitoriosos maragatos.

Debaixo da sombra do angico, um homem afiava uma faca, a lâmina chiava sobre a dureza crua da pedra. Dentro do curral, apenas a angústia do silêncio e a incerteza da vida. Tão logo o primeiro homem foi retirado do potreiro, o silêncio logo deu lugar aos gritos de desespero. Alguns, diante da morte iminente, eram laçados feito bois e arrastados para o lado de fora, agarrados pelos cabelos. Debatendo-se, uns iam tentando se segurar no pasto ralo da terra seca da mangueira. Esperança vã. Era um potreiro de almas abandonadas que padecia nas margens tranquilas da Lagoa da Música.

Fora do cercado de pedra, o soldado que havia sido retirado para sofrer a degola, era obrigado a se ajoelhar. O homem com a faca vinha sem pressa, passando o fio da lâmina contra a unha do polegar, queria ter certeza de não ter que deslizar a faca mais de uma vez contra a carne. Queria um corte limpo. Alguns, quando postos de joelhos, tentavam apertar o queixo contra o peito, uma busca instintiva por proteger o pescoço. Os olhos se arregalavam, o coração mergulhava em taquicardia enquanto a respiração era um ofegante e contínuo movimento.

Como forma de levantar a cabeça e expor o pescoço, um dos soldados que auxiliava o degolador enfiava a ponta de uma faca na narina e empurrava para cima. Muitos narizes foram cortados, quase todos os queixos se erguiam. Uma vez que o pescoço estivesse exposto, o olhar da vítima enxergava o céu azul do pampa gaúcho, uns pássaros cruzando longe, o canto do quero-quero misturado com o vento quente, umas nuvens calmas e, antes delas, o rosto do degolador.

E o fio da lâmina fazia um corte que começava perto de uma das orelhas, cruzava todo o pescoço, rompendo as carótidas e terminava perto da outra orelha. Esse corte era conhecido como a “degola criolla”. Tinha outro tipo de degola, era a “degola brasileira”, onde o corte era menor, a cabeça não chegava a cair para trás. O degolado tinha tempo de mover as mãos e sentir o sangue entre seus dedos, que inutilmente tentavam estancar a vida pelo buraco da faca. Restava a queda no chão, as tentativas de jogar ar para os pulmões, o corpo se debatendo em pânico e tudo terminava depois de umas dúzias de segundos de sofrimento. Era novembro de 1893.

Em dezembro de 1977 em Uruguaiana, no palco da Califórnia da Canção Nativa, em sua sétima edição, Apparício Silva Rillo e Mário Barbará Dornelles apresentavam uma das obras mais poderosas do nosso cancioneiro. Ela se chamava “Colorada”. Uma canção que fazia o oposto daquilo a que estávamos acostumados em boa parte da nossa produção artística, em vez do ufanismo diante dos caudilhos do passado, onde o gaúcho era visto como o detentor das melhores qualidades humanas e onde a elite pecuarista guardava na estância os melhores valores da sociedade, “Colorada” vinha nos lembrar de um tempo em que o gaúcho tinha rasgado a nobreza e estava em luta contra ele mesmo. E no espelho do passado, a imagem refletida era bem diferente daquela que a maioria das canções nativistas mostrava. “Colorada” vinha nos lembrar dos anos de barbárie, de um Rio Grande do Sul onde a degola era a regra e a vingança se escrevia com sangue nas paredes.

“Olha a faca de bom corte,
Olha o medo na garganta!
O talho certo e a morte,
No sangue que se levanta.”

A letra toda é uma poesia que se sustenta em sua riqueza histórica. Sempre que eu ouço “Colorada” eu me gelo, tipo quando era guri, na beira do fogão a lenha ouvindo as histórias de assombração da minha avó. Os versos de “Colorada” cortam fundo na nossa história e eu sempre sinto como se uma lâmina de fato tocasse meu pescoço. Rillo e Barbará nos levam para outro século, para um outro Rio Grande do Sul, feito de campos planos de medo e morte, o tempo “das revolução, das guerra braba de irmão contra irmão”.

Um tempo de extremismos, de violência e morte banalizada. O tempo da Revolução Federalista ou, como muitos chamam, a Revolução da Degola. Nos fins do século XIX, nosso povo se matou de formas tão violentas que dariam inveja a muitos ditadores.

Para quem não sabe muito sobre esse período, cabe dizer que nosso Estado era um lugar muito instável politicamente nos anos 1890.

Historicamente, no colégio, sabemos um pouco sobre a Revolução Farroupilha, outro pouco sobre a Guerra do Paraguai e quase nada sobre a Revolução Federalista de 1893. Esse hiato escolar, creio, até que ajudou no trabalho tradicionalista de imaginarmos o gaúcho como um ser honrado e cordial. No entanto, o que se viu em 1893 foi bem diferente. Em pouco mais de dois anos (fevereiro de 1893 a setembro de 1895) cerca de 12 mil gaúchos se agrediram e se mataram, destes, mais de mil morreram da mesma maneira: degolados. Vizinhos lutando contra vizinhos. Parentes contra parentes. Amigos contra amigos.

O Estado estava dividido entre duas correntes políticas. De um lado, os Republicanos, ou os Pica-paus, afeitos ao Positivismo e liderados por Júlio de Castilhos, membros do Partido Republicano Rio-Grandense.

Do outro lado estavam os Liberais, do Partido Federalista Brasileiro, os Maragatos, liderados por Gaspar Silveira Martins, com seus lenços vermelhos no pescoço. A querida Sandra Pesavento, falecida historiadora, já escreveu bastante sobre esse período e tornou claro o que cada lado queria.

Os Republicanos queriam que uma elite de intelectuais e de sábios fosse a promotora de um desenvolvimento capitalista para todo o Estado. No entanto, também queriam que este Estado, no intuito de fomentar essa mudança, fosse autoritário e opressor com os descontentes.

Os Federalistas, acostumados ao protagonismo, queriam que a elite da região da Campanha fosse a força política principal, uma aristocracia pecuarista cujo poder remontava aos tempos do Brasil Império e que, historicamente, estava ligada ao contrabando nas regiões de fronteiras e a criação de gado.

Dois modelos de sociedade que, sem conseguir dialogar, conduziram nosso povo ao sangue, ao ódio e à guerra civil. Para distinguirem-se, usavam lenços de cores diferentes, os Maragatos vinham com seus lenços vermelhos e os Pica-paus com lenços brancos, mas que no fim, diante da degola, como bem nos lembra Rillo, os dois lenços ficavam iguais.

“Onde havia o lenço branco,
Brota um rubro, de sol pôr.
Se o lenço era colorado,
O novo é da mesma cor.”

De tempos em tempos, Júlio de Castilhos gostava de demonstrar que ele era o poder e, para isso, utilizava da violência; e os caudilhos que o apoiavam eram a ponta de lança que estocava seus opositores. Pela região da Campanha e Fronteira Oeste, diversos eram os pequenos exércitos paramilitares comandados por estancieiros. Sabendo que um vizinho tinha posição política contrária, um estancieiro adepto de Júlio de Castilhos não pensava duas vezes para agir. Com isso, estâncias eram invadidas, mulheres eram estupradas, casas eram pilhadas, desafetos políticos perseguidos e mortos. Tudo sempre era feito sob as vistas grossas das autoridades locais, todas adeptas ao castilhismo. Tais ações foram criando um cenário de brutalidade e revanchismo constante entre estancieiros e apoiadores de ambos os lados.

“Era no tempo que os morto votava,
E governava os vivo até nas eleição.”

Em Bagé, no inverno frio de 1892, José Bonifácio da Silva Tavares, conhecido como Zeca Tavares, fazendeiro conhecido na região, recebia em sua estância, a Estância do Limoeiro, a visita de três homens que eram ameaçados de morte pelos Pica-paus de Júlio de Castilhos. Sabendo dos riscos de hospedá-los, resolveu levar os três para Bagé, para a casa de um conhecido, enquanto isso, sua esposa Umbelina, ficaria sozinha cuidando da estância.

Durante a noite, diversos homens liderados por outro estancieiro, Maneco Pedroso, vindo de Piratini, cidade vizinha, invadiram a Estância do Limoeiro. Nada fizeram com Umbelina e as crianças, no entanto, depredaram o que puderam, roubaram pertences e animais, quebraram coisas e, por fim, mataram um porco. Numa sala da casa grande, o escritório, havia uma cadeira onde Zeca Tavares gostava de sentar ao final do dia para falar de política e pensar nos seus afazeres. Nela, Maneco ordenou que colocassem o porco sentado, morto, degolado. Na cabeça do porco, colocaram um chapéu que era de Zeca Tavares e estava pendurado num chapeleiro. Com o sangue do porco, na parede do escritório ao lado, escreveram a seguinte frase: “A tua cabeça será nossa.”

Umbelina, apavorada, enviou telegramas para diversos jornais, denunciando a barbárie a que fora submetida sua família. No Rio de Janeiro, o Jornal do Brasil publicava um de seus telegramas: “Forças de Pedroso continuam perseguindo meu marido, Zeca Tavares. Minha fazenda Limoeiro foi arrasada. Levaram gado, cavalos e ovelhas. Casa e móveis estragados. Pergunto a quem devo fazer responsável por tais atos de vandalismo?”

Pronto. Estava firmado em sangue, na parede, o contrato de ódio entre duas famílias, o clã dos Tavares e o clã dos Pedroso: Zeca Tavares, um maragato, e Maneco Pedroso, um Pica-Pau, eram a definição do ódio. Um ano depois, em 1893, os maragatos, cansados da violência castilhista, iniciaram uma guerra para retirar do poder Júlio de Castilhos e todos seus apoiadores.

Antes da Revolução ter seu início, Zeca Tavares teve que deixar a família e fugir para o Uruguai. Estava jurado de morte pelos Pedroso. Permanecer em Bagé era colocar em risco a Estância do Limoeiro e sua família.

O irmão de Zeca era o General João Nunes da Silva Tavares, o Joca Tavares, ex-combatente da Guerra do Paraguai e da Revolução Farroupilha. Por sinal, naqueles anos, a maioria dos homens adultos já haviam participado de alguma guerra, boa parte começava cedo, seja no Rio Grande do Sul, Paraguai, ou no Uruguai e Argentina. Por isso, com intuito de aumentar o efetivo de homens, tanto os Maragatos quanto os Pica-paus, contratavam soldados mercenários nestes países. A mão de obra era farta.

“Era no tempo das revolução,
Das guerra braba de irmão contra irmão,
Do lenço branco contra os lenço colorado,
Dos mercenário contratado a patacão.”

Zeca e Joca Tavares, sabendo da necessidade de organizar forças para a Revolução Federalista, ao retornarem para a região de Olhos D´Àgua, localidade aos arredores de Bagé, começaram a recrutar pessoas para compor seu exército. E não era difícil encontrar alguém disposto a aderir ao exército maragato, cujo um parente não tivesse sido assassinado ou tivesse tido a propriedade saqueada pelos Pica-paus. A maioria das pessoas que se alistava não ingressava nas forças maragatas por ideais ou questões políticas, alistavam-se mesmo era por vingança e ódio contra àqueles que lhes fizeram mal. Zeca e Joca já haviam organizado um bom exército na região de Bagé e contavam também com a ajuda de Adão Latorre.

Adão era major no exército federalista, um homem negro e livre, homem de confiança e também capataz das estâncias dos irmãos Tavares. Nascido no Uruguai, Latorre já havia participado de várias batalhas, desde os 16 anos de idade, quando se alistou no exército do Partido Blanco. Nas guerras uruguaias, lutou junto com Aparício e Gumercindo Saraiva. Aprendeu táticas de guerrilha e se destacou na cavalaria ligeira. A cavalaria ligeira era caracterizada por ter homens capazes de ficar o dia inteiro no sol, cavalgando com lanças e espadas, eram bons no tiro e ótimos no manejo do “ferro branco”, facas e facões. E no trato com os cavalos eram especialistas, não se importando em dormir em qualquer lugar, na chuva, na lama, no frio, sempre ao lado dos seus animais.

“Era no tempo dos combate a ferro branco,
Que fuzil tinha muy pouco e
Era escassa a munição.”

Adão Latorre era o típico gaúcho do século XIX. Hábil com a faca, sabia carnear qualquer tipo de bicho e o lombo do cavalo era extensão do próprio corpo. Habitava o pampa como se nele não houvesse nenhum aramado, cruzando de um lado para o outro das fronteiras como se elas não existissem. Assim, dominava o portunhol, sem ter frequentado escolas, pouco sabia de ler e escrever. Por ser pobre e mestiço, descendente de escravos, Adão Latorre sabia, desde jovem, a importância da sobrevivência.

Durante o século XIX, a sina de uma criança pobre no Rio Grande do Sul e Uruguai era pender ou para a lida do campo, trabalhando como peão de estância, aprendendo o manejo da faca e do cavalo, ou para a lida militar, pois guerras, assim como o gado, também não faltavam para se trabalhar. Adão Latorre conseguiu sobreviver em tempos de guerras e também nos tempos de paz. No Brasil, depois das lutas pelo Exército Blanco no Uruguai, trabalhava na lida do campo, como capataz de estância em Bagé e era tido como um membro da família Tavares, sempre que chegava na Estância do Limoeiro, as portas estavam abertas. Tinha em Olhos D’Àgua uma chácara onde morava com a mulher, o pai e uma filha. Dizem que certa feita, quando Adão andava com os irmãos Joca e Zeca Tavares, tropeando bois para o Uruguai, seu rancho foi invadido por um grupo de soldados Pica-paus. A casa foi saqueada, a filha e a mulher foram estupradas diante dos olhos de seu velho pai. Salvo a amizade de Adão pelos irmãos Zeca e Joca, talvez esse acontecimento também tenha contribuído para que ele se alistasse junto aos Maragatos.

Sempre que podiam, Adão, Zeca e Joca destruíam trilhos da ferrovia para evitar que munição e armas fossem enviadas para a cidade de Bagé, onde estavam as tropas comandadas por seus desafetos, Maneco Pedroso e seu irmão, Antero.

Em outubro de 1893, depois de assumir o comando da força castilhista, o Marechal Isidoro Fernandes resolveu ir para Bagé. Com ele foram soldados, cavalos, canhões e armas. Isidoro queria fazer da cidade de Bagé um reduto para os lenços brancos, já que ali estava o maior foco das tropas maragatas. Dominar a região de Bagé seria um grande trunfo para a vitória dos Pica-paus.

Isidoro decidiu repartir as forças em três locais diferentes. Os irmãos Maneco e Antero Pedroso ficariam junto com Isidoro, dando proteção a estação férrea Rio Negro (hoje no município de Hulha Negra). Outra parte dos soldados ficaria em Bagé e uma terceira parcela ficaria na região do Quebracho Grande, sob liderança do Capitão Bento Gonçalves da Silva Filho, descendente do líder farroupilha, General Bento Gonçalves.

Os irmãos Joca e Zeca Tavares fizeram diversas investidas contra o grupo da estação Rio Negro, foram enfraquecendo lentamente os Pica-paus. Num dia, Maneco Pedroso tentou sair com um pequeno grupo para pedir ajuda para o restante das tropas que estavam em Bagé ou Quebracho Grande, mas não conseguiu passar pelos lanceiros maragatos e teve de voltar. Antero, irmão de Maneco, tentou convencer o irmão a fugir durante a noite, visto que Joca e Zeca estavam em grande vantagem. Foi em vão. Maneco disse que jamais abandonaria seus soldados ali. Antero partiu sozinho, enquanto Maneco, depois do Marechal Isidoro Fernandes se render, ficou isolado com seus soldados.

“Era no tempo do inimigo não se poupa,
Prisioneiro era defunto,
E se não fosse era exceção.”

O Marechal Isidoro, não se sabe se por falha ou má-fé, condicionou a rendição: queria que todos os oficiais militares fossem poupados e recebessem tratamento digno. Maneco não era um oficial de carreira, seus soldados não eram militares. Eram civis, peões, trabalhadores, uns eram argentinos, outros uruguaios, uns eram mercenários que haviam sido contratados para lutar ao lado de Maneco. Todos foram deixados para trás pelo famoso marechal.

Maneco e seus soldados foram presos e colocados na mangueira de pedra. O triste e famoso “Potreiro das Almas”. Zeca Tavares e Maneco Pedroso, dois dos maiores desafetos da Revolução Federalista, enfim, estavam postos um na frente do outro.

Zeca, mesmo diante da negativa do irmão, ordenou que a degola começasse. Queria que alguém de confiança fizesse o trabalho, alguém que honrasse o ocorrido na Estância do Limoeiro. Chamou Adão, seu major, capataz e amigo. Adão Latorre, até então, jamais havia sido associado ao triste assombro da degola, mas como peão que era, cumpriu a ordem do patrão. O primeiro a ser retirado da cerca de pedra foi ele, Maneco.

“Quem mata chamam bandido,
Que morre chamam herói.
O fio que dói em quem morre,
Na mão que abate não dói.”

Na lenda que se reza, diz-se que houve um diálogo entre Adão, o degolador, e Maneco, o degolado. Uma conversa feita entre dois gaúchos, homens que em nome da política lutavam de lados opostos e que em vida moravam lado a lado, campereando pelos mesmos pastos e sorvendo mates da água dos mesmos rios e sangas.

– Adão, quanto é que vale a vida de um homem valente e de bem? Perguntou Maneco, ainda em pé diante de Adão.
– Valente, sim. De bem, não sei.  Respondeu Adão, com sua faca de cabo de prata em mãos.
Depois de um tempo, Adão prosseguiu:
– A vida de um homem vale muito, mas a tua não vale nada, tanto é que ela está aqui no fio da minha faca, não há dinheiro que pague.
– Então degola! Vai, degola, negro filho da puta!

Maneco, irritado com a ofensa, teria dado um soco em Latorre, que logo em seguida deu um tapa com o dorso da mão na cara de Maneco, derrubando o chapéu do coronel no chão.

– Para onde tu vais, não vais precisar de chapéu. Sentenciou Latorre.

Os relatos desse dia dão conta que não houve mais nenhuma fala, nenhum pedido de clemência por parte de Maneco. Ajoelhado, posto diante do degolador, levantou o queixo, como que tentando facilitar o trabalho de Latorre.

“Botavam nele a gravata colorada,
Que era o nome da degola
Nesses tempos de leão”

Os Pica-paus foram sendo retirados do curral de pedra, uns eram laçados e puxados para fora. Os gritos, as orações, as súplicas, nada fazia diferença. Dizem que entre os degolados, Adão encontrou os homens que visitaram sua Chácara em Olhos D’Àgua, eram os mercenários correntinos que estupraram sua filha e esposa.

A faca de Adão Latorre, de acordo com Joca Tavares, degolou 26 homens naquele dia. A imprensa castilhista divulgou que foram mais de trezentos os homens degolados. Os corpos, tão logo parassem de se mover, eram empilhados num canto, depois foram jogados nas águas da Lagoa da Música. Nunca se soube de fato quantos foram mortos naquele dia de novembro na Estação Rio Negro.

Adão Latorre foi alçado pelos jornais governistas ao posto de maior vilão da Revolução Federalista, embora outros degoladores tenham feito pior e matado muito mais pessoas, mas eles não eram negros como Adão. Em 05 de abril de 1894, no Boi Preto, perto de Palmeira das Missões, o Coronel Pica-pau, Firmino de Paula, fez 370 maragatos como prisioneiros. Enquanto rumava com todos amarrados em direção a cidade de Cruz Alta, foi degolando aos poucos e enfileirando os corpos ao longo da estrada. Chegou em Cruz Alta sem nenhum prisioneiro. Antes, Firmino já havia feito pior, 800 maragatos prisioneiros, crianças, velhos e mulheres. Quase todos degolados.

Depois de 1895, já com sessenta anos, Adão voltou para a sua chácara. Depois de perder um filho e esposa, viveu como um homem do campo normal, casou de novo, criou os filhos, viu os netos, carneou ovelhas, tomou chimarrão. Evitava falar dos tempos de guerra e, sobretudo, evitava os olhares revanchistas no bolicho da vila. Adão sabia que muitos queriam lhe matar, mas poucos tinham coragem de tentar.

Em 1923, Adão Latorre estava com 88 anos, montava seus tordilhos com facilidade e conseguia ainda empunhar uma espada, por isso ele não pensou duas vezes em participar da Revolução de 1923. Não passava pela sua cabeça ficar em casa, enquanto seus companheiros maragatos estavam numa batalha. O Coronel Adão Latorre foi cavalgando em seu tordilho em direção a Dom Pedrito. Lá estava o exército dos antigos Pica-paus, agora conhecidos como Chimangos e duas de suas lideranças republicanas: Oswaldo Aranha e o coronel José Antônio Flores da Cunha, intendente de Uruguaiana.

O frio que fazia em 15 de maio de 1923 nas margens do Rio Santa Maria Chico era tamanho que recebeu até menção no diário de batalha de Flores da Cunha, escreveu ele que do lado Chimango as patas dos cavalos quebravam o gelo da geada cada vez que se movimentavam. Do outro lado, os jovens maragatos se embebedavam para combater o medo e mascarar o frio. Muitos não entendiam o que Adão estava fazendo ali, na véspera de uma batalha. Aquele velhote de corpo franzino, face gorda e barba branca deveria estar na beira de um fogão a lenha. Adão Latorre estava quieto, debaixo do seu poncho, pronto para o dia seguinte.

Mal a geada havia desaparecido e as metralhadoras governistas fuzilaram os jovens maragatos. Muitos fugiam enquanto a saraivada de tiros ia varrendo tudo. Adão e seu tordilho permaneceram em posição, na tentativa de motivar os que ainda não sabiam o que fazer. A modernidade tinha chegado e a guerra já não era mais a mesma de antes. Os maragatos ainda acreditavam nas guerras feitas no lombo do cavalo, com facas, rifles e espadas. Já Borges de Medeiros tinha armado a Brigada Militar com metralhadoras e os novos Mausers.

O tordilho de Adão jamais voltou para chácara em Olhos D’Àgua. Foi morto a tiros. Latorre, caído no chão, entre os sons de tiros e os gritos dos feridos, ainda tentou seguir pelejando, ao pegar outro cavalo, mas foi novamente atingido por tiros de rifle. Morreu aos 88 anos, com uma espada na mão e com um lenço vermelho no pescoço, lutando pelos maragatos.

Em Olhos D’Àgua, no alto de uma coxilha, perdido no meio do pasto alto, ainda resiste o seu túmulo, erguido em 1926. Nilson Mariano, autor de “Um tal Adão Latorre: A degola na Revolução de 1893”, visitou o local, encontrou uma lápide quebrada, talvez por uma marretada. Adão até na morte seguiu nas terras dos Tavares.

A Estância do Limoeiro ainda existe e segue pertencendo a família Silva Tavares. Firme com suas construções antigas, seus móveis e sua arquitetura espanhola. Dentro da Casa Grande, até hoje está a cadeira onde Zeca Tavares viu um porco morto com seu chapéu. A estância é patrimônio cultural do Estado, tem museus e uma pousada onde recebe visitantes.

E eu, no calor de novembro em Uruguaiana, olho para o céu azul do pampa que tantos olharam pela última vez, vejo suas nuvens lentas, as marrecas voando no vento quente em direção as lavouras de arroz. Estendo o meu braço e agarro a minha faca de bom corte, passo a lâmina lentamente na carne e retiro um pedaço da costela de ovelha que repousava sobre a brasa de espinilho. Sem antes, é claro, aumentar o volume do meu toca-discos para ouvir novamente a voz de Mário Barbará cantar ela: “Colorada”.

Indicação de livros: Para os que gostariam de saber mais sobre a Revolução de 1893, além das diversas teses e dissertações sobre o tema, indico as obras de Nilson Mariano, “Um tal Adão Latorre. A degola na Revolução de 1893” e o recente livro de Ricardo Ritzel, “As cinco tumbas de Gumercindo Saraiva e outras histórias de guerras gaúchas”.

 

Roger Baigorra Machado é formado em História e com Mestrado em Integração Latino-Americana pela UFSM. Foi Coordenador Administrativo da Unipampa por dois mandatos, de 2010 a 2017. Atualmente trabalha com Ações Afirmativas e políticas de inclusão e acessibilidade no Campus da Unipampa em Uruguaiana. É membro do Conselho Municipal de Educação, do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB e do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico do Município de Uruguaiana e é conselheiro da Fundação Maurício Grabois. Em 2020 passou a compor o Centro de Operação de Emergência em Saúde para a Educação, no âmbito do município de Uruguaiana/RS. No resto do tempo é pai do Gabo, da Alice e feliz ao lado de sua esposa Andreia.
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A CHACINA DOS QUATRO A’S: O MEDO COMO FERRAMENTA POLÍTICA por ROGER BAIGORRA MACHADO https://redesina.com.br/a-chacina-dos-quatro-as-o-medo-como-ferramenta-politica-por-roger-baigorra-machado/ https://redesina.com.br/a-chacina-dos-quatro-as-o-medo-como-ferramenta-politica-por-roger-baigorra-machado/#respond Fri, 03 Sep 2021 13:56:14 +0000 https://redesina.com.br/?p=15923 Uma crônica de Roger Baigorra Machado Neste mês de setembro, mais precisamente no próximo dia 24, completaremos 71 anos da chacina de quatro pessoas nas ruas de Sant’Ana do Livramento-RS, quatro vidas assassinadas entre pincéis, tintas e tiros. Abatidos no chão da Praça Internacional, mortos na Fronteira da Paz que divide as cidades de Rivera …

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Uma crônica de Roger Baigorra Machado

Neste mês de setembro, mais precisamente no próximo dia 24, completaremos 71 anos da chacina de quatro pessoas nas ruas de Sant’Ana do Livramento-RS, quatro vidas assassinadas entre pincéis, tintas e tiros. Abatidos no chão da Praça Internacional, mortos na Fronteira da Paz que divide as cidades de Rivera (Uruguai) e Livramento. Mas qual o motivo de falar sobre mortes de 71 anos atrás?

É que a chacina de Livramento é atual. Ela se deu em nome de um medo que ainda hoje sobrevive entre nós, medo que é alimentado constantemente por atores políticos que só se mantém na política através dele. O medo de um inimigo imaginário que nunca mata, só morre. E sem perceber, somos jogados numa espécie de jogo de tabuleiro repetitivo, colocados frente a frente, peças desproporcionais em força, feito torres e peões, para um enfrentamento desleal.

O JOGO E O MEDO.

Nesse jogo, uma boa parte do dogma do medo se transformou num roteiro que nem sentido mais consegue fazer. No Brasil, muitas pessoas que se acreditam liberais, defensoras da democracia e da liberdade, adotam, conservadoramente, um tipo de “jornada do herói” nas suas falas, defendendo um enredo de medo para legitimar erros, onde sequer um herói existe, pois na jornada só importa a existência do inimigo.

Um inimigo que deve provocar uma histeria moral e, principalmente, que seja irracional, servindo como ferramenta política de manutenção do medo e multiplicação de votos. E na contabilidade política, o medo é um passivo valioso para os que nada sabem propor.

O medo é assim, um cabresto intelectual que decide o voto e faz o voto ganhar a eleição. O medo é ofuscante, feito uma lanterna apontada na cara de alguém. Ele pode estar em qualquer lugar e se vestir de qualquer coisa, até em bandeiras e camisetas de seleção. O medo não anda, ele desfila.

E assim, num tipo de “vale à pena ver de novo” eleitoral, de tempos em tempos, o medo vai para a rua e o comunismo vira o vilão dessa história tragicamente repetida. E também viram “comunistas” todos aqueles que se negam a acreditar no discurso do medo.

Comunistas, todos aqueles que se negam em crer num messias incapaz de qualquer milagre. Tornam-se comunistas todos os que recusam fechar os olhos para a tragédia econômica e política que sangra o povo na pobreza. Comunistas, estes todos que insistem em justiça social, universidade pública e em agricultura familiar forte.

Transformam-se em comunistas àqueles que insistem em defender a democracia para além do liberalismo messiânico. Comunistas, todos os que não se comovem diante de rompantes ditatoriais de pretensos patriotas ansiosos por entregar a nação aos desmandos de homens e suas fardas.

E mesmo sem nunca ter sido responsável pela gestão do país, o medo do comunismo afirma que eles, os comunistas, é que são os responsáveis por qualquer crise, responsáveis pelas péssimas gestões daqueles políticos que não são comunistas.

O discurso do medo diante dos comunistas é antigo. Olhando para o passado dá para ver a trilha das pegadas por onde ele andou, tão logo a Revolução de 1917 se tornou notícia no mundo, todos os que tinham privilégios acima do normal, diga-se, grandes riquezas, heranças, propriedades, muito dinheiro, títulos de nobreza, todos se sentiram ameaçados.

Nas sociedades capitalistas, quando os detentores do poder econômico se sentem ameaçados, geralmente, uma das estratégias é recorrer à violência do fascismo como tática de autopreservação. Assim aconteceu com Getúlio Vargas e Eurico Gaspar Dutra, assim foi nos anos de ditadura civil-militar no Brasil. Assim ocorreu nos anos de Guerra Fria e seguirá acontecendo até o dia em que as nossas sociedades compreendam o engodo do roteiro desta farsa que se repete como história e usa o medo como arma e tática política.

E aqui nas nossas cidades da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, o medo do comunismo tem esse mesmo uso, espraiado como discurso, ou melhor, como uma prática política que sustenta grupos no poder há muitas décadas.

Para compreendermos como esse jogo começa e como quatro corpos vão sangrar em Sant’Ana do Livramento, precisaremos, inevitavelmente, olhar para o passado numa rápida digressão.

O TABULEIRO É UM PAMPA.

Nas cidades fronteiriças é comum as distâncias excessivas entre uma cidade e outra. Imagine, por exemplo, um triângulo entre Uruguaiana, Alegrete e Livramento. Se você saísse de Uruguaiana até Alegrete, e de lá fosse para Livramento e retornasse novamente para Uruguaiana, a soma das distâncias entre as três cidades é de aproximadamente 579 quilômetros, quase a distância de Uruguaiana até Porto Alegre. A distância também é um instrumento da política. A distância evita o diálogo, destrói a comparação entre realidades distintas e sustenta o medo daquilo que se desconhece.

E nessas distâncias fronteiriças existem grandes extensões de terras que dramaticamente invadem o horizonte, uma invasão sem vida humana aparente, escondendo no verde do pasto, muitas vidas amedrontadas. Nestes espaços verdes, existem dezenas de propriedades rurais, as mais antigas, fruto de doações de terras, coisa lá do tempo do Império, estâncias que deram início aos povoados que hoje são cidades. As propriedades mais novas, resultado do investimento de novos sujeitos no cenário econômico local.

Em relação ao surgimento das estâncias através das doações de terras, cabe lembrar que elas foram uma estratégia, ou melhor, uma tentativa portuguesa, durante o século XIX, para demarcar o território brasileiro, colocando enormes extensões de terras sob os cuidados de ex-militares e afiliados políticos da nobreza, ex-combatentes ou degredados que acabaram ficando na região após os períodos de guerras. As estâncias foram se formando sem maiores planejamentos, tendo como papel frear as constantes tentativas espanholas de tomar conta do território onde hoje é a Fronteira Oeste.

Seguiu-se ao processo de demarcação territorial, a necessidade da domesticação de gado selvagem que ficou no pasto depois das guerras jesuíticas, assim como, houve uma política de extermínio das populações indígenas que ainda habitavam as suas próprias terras, o território gaúcho. Depois, veio a subordinação do “el gaucho” – o filho da índia estuprada pelo europeu – , aos interesses dos grandes estancieiros. Surgia assim a figura dos gaúchos changueadores, viventes que habitavam o pampa, morando em qualquer lugar, com o sangue mestiço no braço e levando a vida sobre o próprio cavalo. Trabalhando ora aqui, ora acolá. Pois os changueadores também foram domesticados, feito gado, e ao se aliarem aos interesses dos caudilhos, foram assumindo um novo papel no tabuleiro verde, servindo como força paramilitar, uma milícia rural utilizada pelos caudilhos, tanto para cuidar dos rebanhos, quanto para demarcar através força novas fronteiras para as estâncias.

Os pequenos ranchos nas beiras dos rios, os vilarejos, as vendas, as pequenas propriedades, todos deveriam estar em acordo com os interesses dos estancieiros. Se um caudilho tivesse medo de algo, todos ao redor deveriam ter medo também, o medo virava um valor dominante e que tem finalidade política. E em nome desses interesses dominantes é que se deu, por exemplo, a chamada “Revolução Farroupilha”, esse evento bélico que tanto orgulha o nosso Estado em cada mês de setembro. “Revolução” que envolveu em suas lutas, pobres, mestiços, negros, peões e que, ao seu término, não revolucionou absolutamente nada, pois manteve a mesma ordem social: os proprietários das terras no topo, os peões e seus farrapos na base.

Logo, a região da Fronteira Oeste se tornou um terreno fértil para a agricultura do medo. Os medos dos privilegiados se constituíram numa ideologia, cobrindo a vida de todos os desprivilegiados, um pensamento dominante que sustentou práticas persecutórias contra os que questionavam os privilégios dos caudilhos.

O pampa é este amálgama de interesses e medos, onde as elites políticas e econômicas se atribuíram o controle da vida de todos que orbitam as grandes propriedades rurais, cabresteando todos num mesmo rebanho.

Neste tabuleiro verde, onde nossas cidades cresceram e onde a lógica fundiária estabeleceu os marcos de um desenvolvimento econômico baseado nas atividades pastoris, o peão tem papel fundamental na efetivação da sociedade como a conhecemos, não só como o “peão de estância”, mas também como peão proletário e urbano.

E mesmo que no centro do tabuleiro estivessem as torres, os donos das terras, os donos do poder político e econômico, a maior parte do tabuleiro sempre foi ocupada por peões, o problema é que a quantidade de peões é inversamente proporcional ao poder político e econômico que possuem.

E nesse xadrez imaginado, a ideia de um xeque-mate sempre esteve presente na vida dos peões da Fronteira Oeste. E é aqui que o comunismo surge como um conjunto de ideias capaz de aterrorizar os donos do poder, ao ponto de fazê-los recorrer à violência e ao medo.

A TORRE.

Durante o século XIX, a pecuária, prática tão comum na Campanha gaúcha, quando posta em termos industriais, não passava de uma atividade econômica secularmente desorganizada e voltada hegemônicamente para o mercado do couro e do charque. Somente no início do século XX é que os estancieiros começaram a buscar na comercialização da carne processada ou congelada uma atividade com maior retorno de capital. Mas para isso, era preciso um mercado consumidor maior e, é claro, um parceiro de negócios com potencial de investimento e que soubesse processar e distribuir a carne.

Em 1917, não era só na Rússia que uma revolução começava. Na fronteira do Brasil com o Uruguai, iniciou-se uma transformação que mudaria a história da cidade de Sant’Ana do Livramento. Foi nesse ano que uma empresa estadunidense, da cidade de Chicago, chegou e ergueu no tabuleiro uma nova Torre: era um frigorífico chamado Swift Armour.

A Armour era uma empresa de investidores americanos ansiosos por fazer multiplicar seus dólares nos campos do sul do Brasil e no Pampa argentino e Uruguaio. Em 1917, assim como com a cidade de Pelotas, Sant’Ana do Livramento era um centro de abate de animais. Milhares de cabeças de gado sendo levadas para os frigoríficos. Logo, não tardou para que outra Companhia estadunidense se estabelecesse na cidade: a Companhia Wilson.

Os frigoríficos da Armour e da Wilson impactaram profundamente a economia santanense, pois buscavam, além da matéria-prima farta, também a mão de obra barata, e Livramento tinha os dois em abundância. Brasileiros e uruguaios passaram a trabalhar nos frigoríficos das duas empresas, a cidade experimentava quase que um pleno emprego, pois ao redor dos frigoríficos também surgiram dezenas de pequenas empresas e indústrias ligadas ao setor secundário.

Surgia em Livramento um grande número de pessoas assalariadas, uma nova classe de peões, peões operários, com sentimento de pertencimento comum e objetivos partilhados. Uma classe.

Mas não tardou para que a elevada jornada de trabalho, os baixos salários, as condições insalubres, os dedos cortados e as mãos amputadas fizessem com que estes operários se organizassem e, como os peões do tabuleiro, enfrentassem a torre.

Ocorre que ao enfrentar organizadamente os dois frigoríficos, os peões enfrentavam também os interesses dos grandes produtores rurais que vendiam o gado para o abate e posterior exportação. Ao se organizarem diante das empresas estadunidenses, os peões operários teriam de enfrentar também o discurso do medo da elite pecuária local, o medo do comunismo, ainda e mesmo que a maioria dos operários não fosse comunista.

Na base dessa organização sindical proveniente dos frigoríficos estavam, além dos comunistas, também socialistas, liberais, anarquistas e todo um ideário que punha em dúvida as reais intenções das duas empresas americanas e dos estancieiros, estes, os fornecedores de carne, que lucravam muito enquanto a desvalorização da mão de obra local se impunha como regra inevitável na cadeia produtiva.

OS PEÕES.

Em 13 de março de 1919 as ruas de Livramento e Rivera (Uruguai) presenciaram um evento único, mais de 1.000 trabalhadores dos frigoríficos cruzando a fronteira, com faixas e bandeiras em punho, exigindo que as empresas americanas aumentassem seus salários e melhorassem as condições de trabalho.

Pessoas sem os dedos, sem as mãos, cortadas pelas serras dos frigoríficos, erguiam os braços mutilados exigindo algum tipo de indenização. Entre os grevistas, não apenas trabalhadores, mas familiares deles também, todos exigiam que as empresas americanas fossem responsabilizadas. Na passeata havia dois jovens, um se chamava Abdias e o outro Aladim, dois dos homens que seriam mortos pelo medo alguns anos depois. E ambos, junto com comunistas, liberais, anarquistas e socialistas tentavam enfrentar, armados apenas de ideias, duas torres gigantes. Um dos líderes desta greve se tornou uma das figuras mais importantes dos movimentos sindicais e dos movimentos comunistas da Fronteira Oeste, ele se chamava Santos Soares e era a liderança que indicou por vários anos o caminho a ser seguido por milhares de operários.

E os anos foram passando pelo tabuleiro verde e os peões do proletariado santanense seguiam cada vez mais combativos. Após a “Revolução de 30” os mandatários locais sentiam-se ainda mais confortáveis para ditar as regras e os salários para os trabalhadores. Nacionalmente, os comunistas, organizados em partido político, depois de 1935, passaram a ser perseguidos, perdendo seus direitos políticos e vivendo sob a sombra da violência, virando o alvo de um período ditatorial getulista que era só o início do discurso do medo como conhecemos hoje.

Getúlio, com o seu “Estado Novo”, usava o medo frente ao comunismo como ferramenta política para se manter no poder – qualquer semelhança com o presente é mera coincidência –, era o velho jeito caudilho de fazer política e tornar inimigos todos os que contrariavam seus interesses. Ainda assim, mesmo na clandestinidade, os comunistas estiveram presentes em quase todos os movimentos, sindicatos e greves operárias do período.

Em 1943, Getúlio Vargas vendo que as relações trabalhistas poderiam ser o foco de um grande incêndio nacional, resolve mediar as relações trabalhistas no país, tentando equilibrar interesses de patrões e de empregados, e assim surge a Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT.

Quando Eurico Gaspar Dutra assumiu a Presidência, o que era ruim ficou ainda pior, pressionado por interesses internacionais, Dutra optou por colocar os comunistas novamente na ilegalidade, promovendo uma perseguição tão brutal quanto a que fez Getúlio. No entanto, mesmo marginalizados, os comunistas seguiram lutando por melhores condições de vida para os trabalhadores, em Livramento isso não era diferente.

Em 1947, os trabalhadores do frigorífico da Armour não receberam o abono de Natal, seguiam perdendo os dedos nas lâminas e queimando a pele dos seus corpos no gelo das câmaras frias. Pouca coisa havia mudado, as torres seguiam fortes e os peões seguiam insatisfeitos.

Em 1949, uma outra greve ocorre no Frigorífico da Armour e a empresa deixa de lucrar por dias. A Torre estava sendo submetida novamente pelos peões. Os trabalhadores seguiam reclamando dos baixos salários e das péssimas condições de trabalho, o que deixava a empresa numa situação difícil, pois demitir funcionários que reclamassem não adiantava, havia um espírito de classe que permeava tudo, inclusive, o novo funcionário.

Em 1950, a empresa americana fechou contratos com o governo dos EUA para vender carne enlatada para as forças armadas. Os contratos previam que a Armour deveria abastecer os soldados na Guerra da Coreia com a carne de seus frigoríficos, e o frigorífico de Livramento também deveria fazer isso. Logo, a produção não poderia parar sob hipótese alguma, cortem-se os dedos, as mãos ou os braços dos trabalhadores, desde que os anéis fiquem nos bolsos dos patrões e rentistas.

E sabendo que não poderia reprimir os grevistas/comunistas com violência, a Armour faz uma jogada de mestre. Como reprimir um funcionário que está inconformado com seu salário e com as condições insalubres de trabalho? Ora, usando as forças repressoras do país do próprio trabalhador.

A gestão do presidente Eurico Gaspar Dutra, alinhada com a Doutrina Truman, era ainda mais brutal do que a experiência getulista, caindo como uma luva sobre os interesses estadunidenses e das oligarquias locais. A Armour utilizaria o aparato estatal para lhe servir, através de policiais, militares e políticos de Santana do Livramento. Além de Dutra, a política entreguista do Partido Social Democrata colocava também a sua doutrina diretamente no Estado, pois tinha no governador do Rio Grande do Sul, Walter Jobim, outro de seus representantes.

Quase um ano após a última greve no frigorífico da Armour, os ânimos seguiam exaltados e as eleições eram agora o foco do país. Getúlio Vargas tentava ser presidente novamente e os comunistas tentavam ganhar espaço político depois de anos. Muitos trabalhadores, que eram militantes comunistas em Livramento, adotavam a prática das pichações como expressão política, colocavam textos com o nome dos candidatos que apoiavam e que eram contrários à exploração feita pelos frigoríficos americanos.

Em Livramento, haviam dois progressistas que eram candidatos a vereador, os “candidatos de Prestes”, Lúcio Soares Neto e Sólon Pereira, tidos como comunistas pela polícia política de Dutra e que eram apoiados pela militância comunista local.

Ao entardecer do dia 24 de setembro de 1950, um grupo de pessoas estava reunido na Praça Internacional, na divisa entre Rivera e Livramento. Eram os comunistas santanenses se preparando para pichar os nomes de seus candidatos. Estavam prontos para ir até as ruas Rivadavia e Andradas, queriam também distribuir santinhos e fazer campanha política, sem perceber que, de longe, eram observados pela polícia.

Enquanto estavam escrevendo num tapume, onde era construído o prédio do Palácio do Comércio, foram abordados pelo delegado de Livramento, Miguel Zacarias e outros policiais. No entanto, mesmo com a presença policial, ninguém parou de pichar, o que deixou o delegado enfurecido, ele chutou uma lata de tinta contra as pessoas e em seguida deu um tiro no rosto de um homem, era Ari Kulmam.

Ari Kulmam era dono de um restaurante na cidade, uma pessoa querida pelos moradores, foi o primeiro dos A’s que caiu sangrando e morto. Depois disso, chegaram mais soldados do exército, pistoleiros contratados por latifundiários locais, o comandante da Brigada Militar, Eleú Gomes da Silva, Ciro de Abreu, que era o comandante do Exército, um advogado chamado Mário Cunha e o inspetor de polícia, Ário Castilhos. A desproporção entre as peças do tabuleiro era clara, a desproporção é uma das regras do jogo.

E o tiroteio tomou conta do centro das duas cidades fronteiriças. Era o início da chacina. Naquela noite de 24 de setembro de 1950, além de quase uma dúzia de feridos, foram assassinados também: Aladim Rossales, um funcionário da Armour, liderança local desde a greve de 1919, que morreu abraçado num poste. Aristides Leite, dono de uma livraria, que tinha como única arma, numa das mãos, um pincel, morreu sobre ele. Abdias da Rocha, também foi executado. Abdias era um agricultor, lutando longe da lavoura, morreu caído na calçada.

Um agricultor, um dono de restaurante, um dono de livraria e um funcionário da Armour. Ari, Abdias, Aladim e Aristides: os “Quatro A’s”. Assim como na Coréia, onde os soldados americanos comiam as carnes de Livramento, no centro da cidade gaúcha os comunistas também eram tratados com medo e tiros. E assim, quatro pessoas foram assassinadas por questões exclusivamente políticas. Foi sobre estas quatro pessoas que o discurso do medo foi jogado, pesado, ignorante e violento.

Os comunistas, ao representarem uma posição crítica dentro do tabuleiro verde da Fronteira Oeste, colocaram em risco a posição de poder que historicamente era ocupada pelas “torres”, pelos detentores do poder econômico e político, com isso, tornaram-se os peões que não poderiam se mover livremente pelo jogo. Assim, os interesses dos donos dos bois imperavam novamente por sobre os interesses dos peões, trabalhadores que só queriam salário justo e condições mínimas de trabalho digno.

Este texto é sobre várias coisas, sobretudo, é sobre o medo como retórica política. É sobre Sant’Ana do Livramento, onde houve um tempo em que os peões se organizaram de tal forma que deixaram as torres morrendo de medo. Este texto é sobre o paradoxo de se falar de um frigorífico num país onde a maioria das pessoas não tem dinheiro para consumir carne, sobre o paradoxo de se culpar o comunismo num país que nunca teve um presidente comunista.

Este texto é sobre os políticos que insistem em usar o medo como plataforma de campanha e fazer da política o quintal de sua família. Escrever sobre os “Quatro A’s” – Abdias, Aristides, Aladim e Ari – , talvez, seja tentar lutar contra a repetição política de uma tragédia histórica que novamente está aqui, repetida na tela do celular, na TV, no rádio e nas redes sociais.

Uma tragédia histórica que vai estar nas ruas de nossas cidades, novamente, no dia 07 de setembro, uma farsa, desfilando de verde e amarelo, roubando as cores e se apropriando da bandeira de um país inteiro em nome do medo compulsivo e irracional.

Este texto é sobre como o poder econômico e político recorre ao fascismo como forma de combater aquilo que pode colocar em xeque seus privilégios. É sobre como os presidentes brasileiros utilizam o medo como ferramenta política para sugerir golpes de Estado e atacar suas instituições.

No próximo ano teremos eleições, novamente. Uma nova oportunidade de buscar transformações que fujam do discurso do medo ao comunismo, medo ao que é diferente, do medo irracional e que só tem como métrica computar votos. Não tenhamos medo.

Já é tempo dos peões se organizarem novamente, senão para um xeque-mate em busca dos direitos trabalhistas e previdenciários que foram cortados pelas lâminas do mercado, ao menos, para uma jogada estratégica, que possibilite a retomada de um país com perspectivas de crescimento sustentável e direitos básicos garantidos. Um país sem medo, com educação, vacinas e democracia para todos. Não tenha medo.

Como dicas de leitura sobre a chacina dos comunistas de Livramento, há o trabalho de mestrado de Oneider Vargas de Souza, “As lutas operárias na fronteira: A chacina dos quatro As (Livramento / RS 1950)”, dissertação defendida na UFSM. Também o ótimo trabalho de doutoramento de Marlon Gonsales Aseff, “No portão da fábrica: Trabalho e militância política na fronteira de Santana do Livramento/Rivera (1945-1954), tese defendida na UFRGS. Sobre o frigorífico e sua relação com a cidade de Livramento, o trabalho de Michele Nunes da Silva, “Frigorífico da Armour: Poder e influência em Sant’ana do Livramento”, monografia defendida na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

 

Roger Baigorra Machado é formado em História e com Mestrado em Integração Latino-Americana pela UFSM. Foi Coordenador Administrativo da Unipampa por dois mandatos, de 2010 a 2017. Atualmente trabalha com Ações Afirmativas e políticas de inclusão e acessibilidade no Campus da Unipampa em Uruguaiana. É membro do Conselho Municipal de Educação. Preside o Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB e é membro do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico do Município de Uruguaiana. É conselheiro da Fundação Maurício Grabois. Em 2020 passou a compor o Centro de Operação de Emergência em Saúde para a Educação, no âmbito do município de Uruguaiana/RS. No resto do tempo é pai do Gabo, da Alice e feliz ao lado de sua esposa Andreia.
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01/07 – QUINTA-FEIRA – 19H – DIVERSIDADE FEMININA – 44ª ED. – AS (RE)PERCUSSÕES DO NÃO DITO E DAS INVISIBILIDADES https://redesina.com.br/01-07-quinta-feira-19h-diversidade-feminina-44a-ed-as-repercussoes-do-nao-dito-e-das-invisibilidades/ https://redesina.com.br/01-07-quinta-feira-19h-diversidade-feminina-44a-ed-as-repercussoes-do-nao-dito-e-das-invisibilidades/#respond Wed, 30 Jun 2021 11:08:47 +0000 https://redesina.com.br/?p=15214 01/JUL | QUI | 19h00 Diversidade Feminina |  AS (RE)PERCUSSÕES DO NÃO DITO E DAS INVISIBILIDADES Programa semanal – 44ª Edição Apresentação e Produção de Helaysa Pires Convidadas: Taci Nunes Rodrigues e Atena Beauvoir Roveda Transmissão em : https://www.facebook.com/redesina https://www.youtube.com/redesina Nesta quinta-feira, 01 de Julho, a 44ª edição do Diversidade Feminina traz o tema AS …

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01/JUL | QUI | 19h00

Diversidade Feminina |  AS (RE)PERCUSSÕES DO NÃO DITO E DAS INVISIBILIDADES

Programa semanal – 44ª Edição

Apresentação e Produção de Helaysa Pires

Convidadas: Taci Nunes Rodrigues e Atena Beauvoir Roveda

Transmissão em :

https://www.facebook.com/redesina

https://www.youtube.com/redesina

Nesta quinta-feira, 01 de Julho, a 44ª edição do Diversidade Feminina traz o tema AS (RE)PERCUSSÕES DO NÃO DITO E DAS INVISIBILIDADES na Live Ao vivo às 19h. Durante esse percurso de 44 lives aqui na Rede Sina aprendi sobre o quanto é desafiadora para mim mulher, branca, diplomada, inteligente, informada e formada em Ciências Sociais incluir em todas as lives mulheres negras e, confesso que não me esforcei muito para procurar alguma mulher trans. Então, a grande maioria das lives foram feitas por mulheres mais privilegiadas. E certamente, algum crítico agudo (desafio para um duelo com a minha crítica interna) pode dizer com a boca cheia que encontrou muitos preconceitos e descuidos nas minhas falas e nos próprios temas trazidos. Sim, eles estão lá para todo mundo ver e é muito importante que se veja, e que se ouça. Por isso, encerro esses ciclos com as (re)percussões do não-dito e das invisibilidades. Primeiro, por que comecei a usar percussões para iniciar cada live e chamar a mulherada para se permitir como nossa convidada Taci Nunes faz. Segundo, a repercussão dessas minhas limitações me deixam insatisfeita comigo mesma antes de mais nada. Terceiro, por que imaginei que poderia ser possível uma interlocução feminina com a diversidade deste encerramento e eu só estou conseguindo expressar neste momento. Sim, preconceitos existem e estão em todos nós! No intuito de lutar por dentro e por fora é que apresento as convidadas desta quinta para partilharem suas experiências e saberes de mulheres diversas. Confira abaixo e agende-se.

Apresentação e Produção: Helaysa Pires

O Programa Diversidade Feminina surgiu como uma parceria entre a Rede Sina e o Comitê Cultura do Grupo Mulheres do Brasil. Nosso intuito é compartilhar saberes e experiências sobre os diversos desafios que as mulheres encontram para serem protagonistas. A apresentadora, Helaysa Pires, é  Mestre em Ciências Sociais(UFSM), fundadora da Joana D’Arc Consultoria e Líder do Comitê Cultura do Núcleo de Santa Maria do Grupo Mulheres do Brasil.

Transmissão: Rede Sina

REDE SINA é uma plataforma digital que produz conteúdo e jornalismo nos mais variados setores. Respeitando a pluralidade de olhares sensíveis às causas sociais, a cultura e política – no Brasil e no mundo.

O Programa Diversidade Feminina é um espaço de trocas entre mulheres sobre temas relacionados às ações realizadas por elas e seus efeitos num nível comportamental que, numa perspectiva antropológica, espelha e cria aquilo que chamamos de cultura.

 

CONVIDADAS

Taci Nunes Rodrigues 

Com 23 anos ela é percussionista, idealizadora/fundadora do Bloco Te Permite Mulher – BLOCO TPM e Afro percussa com Taci Nunes, membra do Projeto Batucá, percussionista do projeto Duar – Música preta em movimento e membra do coletivo de mulheres negras Dandaras.

 

Atena Beauvoir Roveda

Educadora, Escritora, Editora, Palestrante, Consultora e Brizolista conforme @atenaroveda

 

PRÓXIMO PROGRAMA A PARTIR DE SETEMBRO

CONTATOS

Email:joanadarcconsult@gmail.com

Telefone: 55 – 9 8170-9745


“Aproprie-se do saber que sua história carrega!”

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24/06 – QUINTA-FEIRA – 19H – DIVERSIDADE FEMININA – 43ª ED. – MAGIA E CICLICIDADE DA VIDA: CRIANÇA, MÃE & AVÓ https://redesina.com.br/24-06-quinta-feira-19h-diversidade-feminina-43a-ed-magia-e-ciclicidade-da-vida-crianca-mae-avo/ https://redesina.com.br/24-06-quinta-feira-19h-diversidade-feminina-43a-ed-magia-e-ciclicidade-da-vida-crianca-mae-avo/#respond Wed, 23 Jun 2021 11:08:46 +0000 https://redesina.com.br/?p=15111 24/JUN | QUI | 19h00 Diversidade Feminina | MAGIA E CICLICIDADE DA VIDA: CRIANÇA, MÃE & AVÓ Programa semanal – 43ª Edição Apresentação e produção de Helaysa Pires Convidadas: Andrea Leandro dos Santos e Gabriela Irigaray Yasoha Transmissão em : https://www.facebook.com/redesina https://www.youtube.com/redesina Nesta quinta-feira, 24 de Junho, a 43ª edição do Diversidade Feminina traz o …

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24/JUN | QUI | 19h00

Diversidade Feminina | MAGIA E CICLICIDADE DA VIDA: CRIANÇA, MÃE & AVÓ

Programa semanal – 43ª Edição

Apresentação e produção de Helaysa Pires

Convidadas: Andrea Leandro dos Santos e Gabriela Irigaray Yasoha

Transmissão em :

https://www.facebook.com/redesina

https://www.youtube.com/redesina

Nesta quinta-feira, 24 de Junho, a 43ª edição do Diversidade Feminina traz o tema  MAGIA E CICLICIDADE DA VIDA: CRIANÇA, MÃE & AVÓ na Live Ao vivo às 19h. Na 34ª edição falamos do impacto das cores na nossa vida e desse encontro surgiu otema deste encontro, por que as cores são percebidas através da luz solar e a primeira forma que nós seres humanos achamos de contar o tempo foi através dos ciclos solares que nos dão as conhecidas estações. Agora nós estamos no inverno e depois vem a primavera, verão e outono. Viver os ciclos dados pelos movimentos do planeta nos faz criar celebrações, ritos e mitos que nos auxiliavam a marcar a passagem do tempo antes de desenvolvermos a contagem numérica, cronológica e mais tarde inserirmos o tão utilizado calendário gregoriano. Além desses ciclos dados pelo ambiente do planeta onde podemos estar, existem os ciclos ligados ao nosso desenvolvimento corporal. Nascemos e somos bebês, crianças e há várias formas de perceber isso sendo a infância uma nomenclatura dada para esse período. Depois de passarmos pela liminar crise da adolescência vamos chegar no período adulto quando a maternidade e paternidade se tornam potenciais. Independente da concepção de filhxs próprios, passaremos por esse lugar de criadores, educadores dos menores de alguma forma. Considerando aqui uma visão ampla e coletiva de transmissão de costumes, comportamento e valores: as questões geracionais. Por fim, nosso corpo começa a perder mais líquidos e as experiências vão sendo elaboradas (ou não) e se chega à maturidade, ao lugar de avós, ou anciãos. Como esse programa é voltado para o público feminino elegemos esses três lugares: criança, mãe e avó.Três papéis sociais impactantes para todos nós. Confira abaixo mais informações e agende-se para conversar conosco através do chat.

Apresentação e Produção: Helaysa Pires

O Programa Diversidade Feminina surgiu como uma parceria entre a Rede Sina e o Comitê Cultura do Grupo Mulheres do Brasil. Nosso intuito é compartilhar saberes e experiências sobre os diversos desafios que as mulheres encontram para serem protagonistas. A apresentadora, Helaysa Pires, é  Mestre em Ciências Sociais(UFSM), fundadora da Joana D’Arc Consultoria e Líder do Comitê Cultura do Núcleo de Santa Maria do Grupo Mulheres do Brasil.

Transmissão: Rede Sina

REDE SINA é uma plataforma digital que produz conteúdo e jornalismo nos mais variados setores. Respeitando a pluralidade de olhares sensíveis às causas sociais, a cultura e política – no Brasil e no mundo.

O Programa Diversidade Feminina é um espaço de trocas entre mulheres sobre temas relacionados às ações realizadas por elas e seus efeitos num nível comportamental que, numa perspectiva antropológica, espelha e cria aquilo que chamamos de cultura.

ANFITRIà

Andrea Leandro 

Administradora com especialização em Planejamento Estratégico de Recursos Humanos e atualização pedagógica. Criadora e educadora do Projeto Meditando com a Gurizada. Consultora em Harmonização de Espaços. Ministra cursos de Reiki e coordena projetos voluntários de Reiki. Terapeuta floral membro da ArtFlor. Na Rádio Imembuí 101.9 FM possui o quadro Harmonização de Espaços desde 2006. Coautora de 2 livros sobre Práticas Integrativas e Complementares (PICs). Especialista do Site Personare. Blogueira, Palestrante e Facilitadora de Círculos de Paz.

CONVIDADAS

Gabriela Irigaray Yasoha

Consultora e Mentora Consciencial – investigação, restauração e orientação.  Especialista em Terapia Floral FACIS – IBEHE – SÃO PAULO

Helaysa Pires

Filha de um não-casal de bancários, Técnica em Administração, Bacharel e Mestre em Ciências Sociais, Mãe de uma jovem de 14 anos, Consultora Comercial, Terapeuta Reikiana, Pesquisadora do tipo etnográfica, Líder do Comitê Cultura do Núcleo de Santa Maria do Grupo Mulheres do Brasil, Apresentadora deste programa, fundadora da Joana D’Arc Consultoria e Palhaça Comunicadora.

 

PRÓXIMO PROGRAMA:

01/07/2021 | Quinta-feira | às 19h | DIVERSIDADE FEMININA | O NÃO-DITO & AS INVISIBILIDADES: QUESTÕES LBGTQIA+

CONTATOS

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